História Nictofilia - Pilot

Nictofilia

Capítulo 19 — Piloto

 O inferno não era um mar de enxofre, chão de espinhos e poços de lava com almas sofrendo. Era só sombrio e depressivo, com um castelo enorme no meio da praça, fora isso, nada demais. As almas pagavam seus pecados fazendo a reforma inacabável do castelo, ou vendo repetidamente os pecados que cometeram, eram regras bem simples de serem seguidas, mas elas não seguem. Andávamos pelo castelo — eu ainda não sei o porque de um castelo, é muita prepotência — a procura da sala do velhote, ChanYeol andava meio distante desde que tínhamos chegado, Namjoon estava tranquilo, como sempre. Eu só estava preocupada em encontrar a praga da minha vida, sinto que ele ainda não esqueceu o que aconteceu uns cinco anos atrás.

 Quando chegamos na porta, entramos sem bater — o que já era um costume nosso —, Ravi olhava uns papéis e nem se importou quando fizemos isso. Sentamos nas cadeiras a sua frente e esperamos ele falar alguma coisa. Enquanto isso não acontecia, fiquei olhando as coisas em cima da sua mesa e notei algo novo, uma foto dele e da Sayuri. Poucas pessoas sabiam da existência do relacionamento deles, eles não podiam ficar realmente juntos, era contra as regras. Mesmo que as coisas tenham mudado, ainda era proibido o relacionamento entre humanos e demônios, assim como anjos e humanos e anjos e demônios. E vejo que Hana e ChanYeol irão enfrentar esse problema, porém, se tudo der certo de acordo com meu plano, tudo irá acabar bem.

 — Acho que vocês devem saber o porque de estarem aqui. — Não falamos nada, não sabíamos. — MAMA está voltando, como vocês sabem. Com isso, as dimensões estão estáveis, a qualquer hora pode haver uma fenda dimensional em qualquer dimensão e é isso o que a MAMA faz, traz o desequilíbrio do universo. E o Reino das Fadas está cobrando uma atitude nossa. — Parou de olhar os papéis e nos encarou seriamente. —  Desde que a Byun morreu parte da chave sumiu. — ChanYeol abaixou a cabeça e eu olhei para Nam, que mantinha-se também de cabeça baixa. — Achem a outra parte da chave que nós fechamos o portão da dimensão dela e tudo acaba. — Assentimos e nos levantamos. — Você fica Loretta. — Voltei a me sentar, confusa.

 Eles saíram e um silêncio estranho pairou sobre nos. 

 — O que foi que aconteceu? — Perguntei.

 — Você sabe que o feitiço que a Kim lançou não vai durar muito tempo, não é? 

 — Sei. — Abaixei a cabeça e olhei para minhas mãos. — Provavelmente isso tudo vá acabar quando tudo isso terminar, eles ainda precisam de mim. 

 Ele suspirou. Eu sou um caso perdido, sei disso perfeitamente. Dramaticamente, ele colocou a mão na cabeça e acenou com a outra para a porta. Ri e me levantei, correndo até a porta. Andei até o final do corredor os encontrei encostados na parede. 

 — Vamos a nossa caça ao tesouro? — Namjoon falou cansado.

 — Ânimo, talvez a gente ache algo legal na busca. — Dei leves tapas em suas costas e empurrei os dois. 

 Rimos e eles começaram a andar normalmente, sem a minha ajuda. Eu sabia que não restava muito tempo, eu precisava andar rápido e agir mais rápido ainda.

 -X-

 A pequena loira andava pela floresta, seus cabelos eram ondulados nas pontas, formando cachos dourados perfeitos. Seus olhos mudavam de cor as diferentes exposições de luz, ela tinha uma baixa estatura, o que fazia ela parecer mais jovem do que já era. O sorriso feliz e alegre davam vida ao seu rosto. Ela era simplesmente perfeita ao meu ver. Ela estava procurando um coelho que fugira e ele viera para essa parte da floresta. Ela não sabia, mas eu a observava a muito tempo, o suficiente para dizer que a amava, mas com a minha situação, eu sou somente um mero inimigo que ela jurou fazer o que fosse possível para proteger as pessoas de mim. Tão irônico.

 A segui de longe, até o coelho sumir da minha vista e da sua. Ela ficou desesperada, olhando para todos os lados e procurando o coelho. 

 Senti algo macio roçar na minha perna. Olhei para baixo e vi o pequeno animal de pelagem marrom ali, peguei-o no colo e andei até a garota perdida, ela estava a poucos metros de cima de mim. Toquei em seu ombro, chamando a sua atenção.

 — Está procurando isso? — Indiquei para o bichinho nos meus braços. Ela assentiu com a cabeça diversas vezes, sorrindo exatamente do jeito que eu amo. 

 — Obrigada! — Exclamou feliz quando eu entreguei o coelho. — Sou Samantha Hensel. — Se apresentou.

 — Sou Hyuk. — Sorri enquanto estendia a minha mão.

 — Seu alemão é muito bom para um coreano. — Elogiou-me. Sorri orgulhoso, mantendo o olhar nos seus olhos verdes. 

 — Eu sei. — Gabei-me.

 — Bom, eu preciso voltar para a cidade. Você vai ficar aí? — Perguntou-me.

 — Não. Posso ir com você?

 — Claro! 

 Passamos a andar lado a lado, conversando como um dia eu imaginei. Tudo estava acontecendo como eu queria, ela nem desconfia de quem eu sou. Era o meu momento perfeito, algo só meu e dela.

 -X- 

 — Por que tem uma casa no meio da floresta negra? — Perguntei quando paramos a poucos metros de distancia do sobrado. Eu ainda estava nas árvores e Natasha ainda parecia brava comigo. Acho que deve ter sido por acordar ela no meio da madrugada, a arma que eu escondi, o esquilo no colchão e entre outras coisas.

 — JungKook, você deve se lembrar que a MinSoo casou com um lobisomem então, obviamente ela moraria numa floresta. — Elizabeth me respondeu.

 — Casada ela não é, até hoje ele não pediu ela em casamento. — Natasha retrucou sarcástica. — No dia em que ele pedir ela em casamento o mundo acaba. — Terminou com um riso sarcástico. 

 Voltamos a andar e rapidamente estávamos de frente ao sobrado, o chão estava revirado, como se tivesse ocorrido uma batalha aqui. 

 — Entramos do jeito convencional ou do nosso jeito? — Perguntei apontando para a porta de madeira.

 Recebi olhares cumplices e corri rapidamente até uma janela aberta, a da cozinha, Minnie estava lá, cozinhando de costas para a janela. Entrei com a minha velocidade de vampiro e a abracei, tirando-a do chão. Durante todo o meu treinamento, ela tinha me ajudado, assim como as outras. Ela era como uma irmã para mim.

 — Mas o quê? — Ela disse enquanto eu a abraçava. A soltei e a coloquei no chão. — JungKook?! — Sorriu.

 — Não só ele. — Natasha e Elizabeth falaram juntas enquanto entravam no cômodo. 

 MinSoo pulou nelas e abraçou-as também. Senti o cheiro de lobo característico do namorado dela. Fiquei em alerta, olhando para a sala. Ele desceu em seguida, correndo e assim que me viu, travou e ficou me olhando da escada. Ao mesmo tempo, a porta da frente abriu e eu vi dois adolescentes passarem e um trio de anjos. 

 "Pronto, agora ferrou tudo. "

 — O que está acontecendo aqui? — Um dos anjos falou.

 Por que eu não bati na porta antes?