História Nictofilia - Magicae

Nictofilia

Capitulo 9 – ​Magia

 Terminamos de almoçar, com Namjoon nos fazendo companhia. Tudo parecia calmo demais, o que me assusta. Não teve uma piadinha, implicância, nada. Estavam agindo extremamente civilizados. Talvez seja a presença da minha tia aqui. Pelo olhar que eles lançavam a ela, deduzi que seria medo, mas ela não é assustadora.

 Subo para o meu quarto assim que termino de comer, para analisar novamente o livro em latim. Algo me dizia que naquele livro havia as respostas que eu tanto procuro. Procurei-o em meu quarto, mas só o achei debaixo da cama – sendo que eu não havia deixado ali – enfim, depois de tentar entender como ele tinha chegado ali, peguei meu celular do carregador e abri no aplicativo do Google.

 Comecei a traduzir palavra por palavra, no entanto, mal tinha terminado a primeira folha e já tinha se passado quase uma hora que eu estava fazendo isso. Do jeito que o livro é grande, levaria um mês fazendo isso. O jeito é pedir para alguém que saiba, mas quem em sã consciência sabe falar latim fluentemente nos dias de hoje? 

 Jogo o meu celular em cima da cama, cansada. Ele quica um pouco e depois para. Começo a ler a tradução do que eu já tinha digitado, que é até a metade da folha.

 No início, havia duas forças antagônicas, uma delas era o bem e outro o mais puro mal. Com o passar dos anos, o bem prevaleceu, criando coisas boas e enchendo o universo, antes vazio, com criaturas alegres e do bem. O mal ficou com inveja do poder de criar que seu irmão tinha, pois ela sendo a destruição, não poderia fazer isso.

 E foi assim que surgiu a inveja.

 O bem, já satisfeito com a sua imensa criação, resolveu fazer algo ainda melhor, com a mesma capacidade de gerar vida, os humanos. E assim os fez, seus anjos os protegeram durante muito tempo, até o mal descobrir sobre eles serem seres fracos, em comparação as outras criaturas. Então ela resolveu que iria destruir tudo aquilo, mas precisaria de ajuda.

 Havia também uma coisa existente no universo, a magia. Ela fora criada para os seres se protegerem do mal, assim, os anjos não teriam tanto trabalho, os próprios se utilizavam disso. Então o mal conseguiu de algum jeito manipular essa magia, criando assim seres extremamente fortes, os demônios.

 O primeiro de todos os demônios foi o causador da corrupção da dimensão onde os humanos viviam, ele também foi o primeiro a descobrir que quando as almas humanas são torturadas, acabam virando demônios também, se adicionadas magia negra em sua essência. Criando assim, seu exército de criaturas malignas. 

 Depois disso, o universo entrou em desarmonia.

 Os seres apelidaram o mal de MAMA, aquela que é imutável, insensível e controladora.

 Soltei o celular novamente, com as mãos tremendo. Peguei o livro, escondendo-o na minha gaveta. Eu não iria mais ler, não iria tentar saber de mais nada e nunca mais pegaria nesse livro novamente.

 Eu estava com medo, muito medo.

 Algo me dizia que não iria gostar do resto da história e nem iria tentar gostar. Me joguei na cama, por cima do celular que estava quente pelo tempo de uso, mas não me importei.

 Minha mente começa a processar todas as informações de maneira confusa, eram muitas pontas soltas e espaços em branco imensos, me impedindo de criar algo descente. Só tinha uma coisa que eu não entendia.

 Por que justamente eu? Eu estava envolvida em tantas coisas, sem nem ao menos saber de algo.

 Sou tirada de meus pensamentos por batidas na porta do meu quarto. Levanto e vou abrir a porta, onde Loretta me olhava sorrindo.

 - Se arrume, vamos conhecer uma amiga minha.

[...]

 Então, caso eu esperasse algo normal vindo da amiga de Loretta, tudo acabou quando eu vi que ela tinha me levado para a parte sombria do bosque.

 Girei meus calcanhares, pronta para sair dali. Nem morta eu entro nisso!

 Mas ChanYeol segurou os meus braços, sorrindo de canto. Abaixou-se até onde sua boca ficasse na altura do meu ouvido

 - Está com medo? – Sussurrou no meu ouvido, me irritando profundamente.

 Pisei no seu pé, empurrando-o com meus ombros para trás e o olhando com o olhar mais assassino que eu pude fazer.

 - Eu estou com vontade mesmo é de esfregar sua cara no asfalto e depois mergulhar em ácido. – Disse debochada. Confesso que nem eu sei de onde saiu tanta coragem para enfrenta-lo desse jeito.

 - Ela é tão... – BaekHyun começou, me olhando com olhos arregalados.

 - Agressiva? – Loretta diz dando ombros. – Eu diria que ela só está de mal humor. – Talvez seja isso mesmo.

 Junmyeon ri e JongIn se afasta de mim, já que com o impulso para empurrar o ruivo, eu acabei indo um pouco para frente, onde ele se encontra.

 - Ela me lembra de você quando está de mal humor. – Namjoon, que até agora eu não tinha notado, ficou ao lado de Loretta, sorrindo nostálgico.

 - Podemos ir logo, por favor? – Supliquei impaciente.

 Essa floresta me dá arrepios, as árvores são estranhas, o ar é pesado, até o vento é gelado. Em pleno verão.

 Adentramos a floresta com BaekHyun iluminando o caminho. Pelo o que Junmyeon me contou, essa floresta é mágica e impede que qualquer magia de teleporte passe por ela, como um escudo. Mas acho que nem precisa, pessoas sensatas e lúcidas não entrariam em uma floresta com árvores com troncos pretos, folhas negras e uma névoa, creio eu.

 Seguimos por uma trilha escura e o caminho era uma terra cinza por entre as árvores, até que do nada, começa a ficar iluminado e as árvores se tornam verdes. Pisquei os olhos diversas vezes até aceitar que realmente a floresta havia mudado, chegando a me dar mais medo ainda.

 Paramos em um campo verde, onde tinha uma enorme pedra no meio. Acho que eu fiquei de boca aberta com tudo aquilo, por que ChanYeol começou a rir de mim.

 - Surpresa? – Arqueou uma sobrancelha com aquela risada que eu odeio. – Você não viu nem trinta por cento.

 Suspirei fundo, bem fundo mesmo. Por algum motivo, eu estava de mal humor e sem paciência para aturar aquelas piadas do Park. Será que a proposta de esfregar a cara dele no asfalto ainda dá certo? Meus punhos fecharam-se com tanta força que a palma da minha mão ficou branca.

 Acalmei-me e olhei para frente, esperando alguma coisa extraordinária acontecer.

 E aconteceu.

 Um lobo enorme e preto surgiu por entre as árvores, saltando, com seus olhos vermelhos ardendo como uma chama. Ele parou em cima da pedra, olhando-nos. Dei um passo para trás, com medo. Eu sabia que não deveríamos vir aqui. Segurei a respiração por algum tempo, mas o que mais me surpreendeu foi ninguém fazer absolutamente nada. Senti as mãos de JongIn segurarem os meus ombros, olhei para cima e percebi que ele sorria.

 Acenou com a cabeça para frente e eu percebi que os olhos selvagens de antes foram substituídos por um olhar... bondoso?

 Loretta correu até o lobo e quando estava chegando perto, ele se transformou em uma pessoa. E então eles se abraçaram.

 E então me lembrei de uma criatura sobrenatural que eu já ouvira falar, lobisomem.

 A grega se separou dele, puxando-o pelo pulso até nós, sorrindo alegremente.

 - Quero que você conheça uma pessoa. – Falou para ele, puxando-o por entre os anjos e demônios até parar na minha frente.

 Agora que eu percebi, ele estava sem camisa, só com uma bermuda jeans. Seus olhos são castanhos claros e seus cabelos são loiros e desarrumados, ele tinha bochechas um pouco grandes e se mantinham coradas ao ver que tinha uma menina ali. Seu rosto parecia a de um bebê, mas isso se destruía com o resto do corpo musculoso dele.

 - Oi. – Disse simplista, acenando com uma das mãos. – Podemos sair daqui agora? – Perguntei apontando para a trilha atrás de mim.

 Eles começaram a rir, menos o lobisomem, que soltou um riso baixo, muito fofo por sinal.

 - Nunca vi uma pessoa reagir tão bem quanto você, sério! – Namjoon ria escandalosamente.

 Somente dei ombros.

 - Loretta me disse a mesma coisa. – Disse. – É sério, esse lugar me dá arrepios, vamos sair daqui.

 - Eu disse que seria uma ‘amiga’. – Destacou a palavra amiga.

 - Vamos ter que andar mais adentro? – Perguntei temendo a resposta.

 O lobisomem acenou com a cabeça e eu soltei um gemido frustrado, com minhas pernas cedendo lentamente até meus joelhos tocarem o chão.

 Só que esse drama não adiantou de nada, por que lá estávamos nós, andando em fila indiana por uma trilha verde. Com JongIn atrás de mim e ChanYeol na minha frente. Observei por um instante suas costas, me senti relativamente baixa com meus 1,73 de altura. Para piorar a situação, JongIn também é bem mais alto que eu.

 A tristeza me atingiu em cheio. Até abaixei a cabeça.

 - O que foi, Hana? – O anjo me perguntou, percebendo meu estado.

 Olho para trás, observando sua feição levemente preocupada.

 Uma coisa que eu não tinha percebido, JongIn é bem atencioso. A lista de quantas vezes ele já me perguntou se eu estou bem é imensa. Ele é uma boa pessoa, gosto disso.

 - Hum? – Tento disfarçar, torcendo para que ele não leia a minha mente. – Eu estou bem, só estou pensando mesmo. – O que de fato, é meia verdade.

 - Se é só isso. – Sorri abertamente, me fazendo sorrir também.

 Ouço um resmungo de ChanYeol, que eu não sei o motivo.

 Decido importuna-lo.

 Um sorriso que talvez ao meu ver seja demoníaco brota em meu rosto. Se não era asfalto, então vai na agressão física mesmo.

 “Você está com uma aura levemente demoníaca, o que pretende fazer? ” A voz do anjo ressoa harmoniosamente na minha cabeça, nunca parei para pensar o quanto suas vozes são absolutamente lindas.

 “Nada, só perturbar um pouco o ChanYeol” falo totalmente tranquila, imaginando mil e uma formas de irritar o ser trevoso a minha frente.

 “Eu te ajudo” nem precisei me virar para saber que ele estava com um sorriso no rosto.

 “Eu vou beliscar ele, finge que está conversando comigo” e assim ele começa a falar sobre qual tipo de frango era melhor e perguntando a minha opinião. Realmente, bem aleatório.

 Eu belisquei as costas do ruivo e me virei rapidamente, começando a andar para trás, encarando o anjo e respondendo suas perguntas. Eu sabia que o Park sabia que tinha sido eu, essa é a intenção. Senti seu olhar raivoso nas minhas costas e segurei o riso, JongIn também segurou, mordendo o lábio inferior. Depois de um tempo assim, decidi parar, por que eu queria fazer de novo – e eu também estava com medo de tropeçar e cair lindamente no chão – fiz novamente e me virei rapidamente.

 Basicamente, foi toda a trilha assim, até que depois de uns cinco minutos chegamos a uma casa bem bonita com um pequeno jardim em frente a ela. Tinha as paredes brancas e dois andares, com janelas grandes com cortinas esvoaçando.

 Sinceramente, eu esperava uma casa mal-assombrada.

 Uma menina, provavelmente da minha idade, se encontrava na porta, com um menino ao seu lado. Eles sorriram e correram até nós, percebi que o menino tinha uma camisa nas suas mãos. Ela abraçou Loretta fortemente.

 - Angeli! – Ela disse bem alto, abraçando o pescoço da anja. Rapidamente, provavelmente o namorado dela, a separou de Loretta.

 - Minha vez. – Disse assim que as separou com seu braço e abraçou Loretta. – Sentimos sua falta. – Ele disse quando se separou dela.

 - Também senti. – Disse Loretta.

 Todos pareciam entender o que se passava ali, menos eu. Tombei a cabeça para o lado.

 - Sério, alguém me explica o que está acontecendo.

 Então, depois que entramos, eles começaram a me explicar o que estava acontecendo. MinSoo, que é uma feiticeira, é a amiga de Loretta – obviamente – e irá me ajudar no ritual. Minseok, que foi o primeiro lobisomem que eu vi, é o líder (Alfa) de uma matilha que habita a floresta e JongDae é um dos integrantes dela, JongDae também é o namorado de MinSoo. Loretta e eles se conhecem a muito tempo, quando ela veio a Coréia a muito tempo atrás.

 O mais bizarro fato que eu descobri é que Loretta e Namjoon tem mais de cem anos de idade, ChanYeol mais de cem também, assim como BaekHyun e Junmyeon, somente JongIn tem oitenta. MinSoo tem vinte e quatro, junto com JongDae e Minseok tem vinte e seis. O mais engraçado, é que todos eles não aparentam ter essa idade.

 - Caramba... – Foi o que eu disse depois de saber desses fatos.

 Sentia-me uma criança no jardim de infância, juro.

 Eles riram da minha reação e voltaram a conversar normalmente, eu participava dessa conversa também. Eles contavam histórias sobre algo que acontecera com eles, eu ria das suas façanhas, mas tinha algo que me incomodava.

 O ritual que MinSoo explicou detalhadamente para mim. Eles farão um círculo com letras rúnicas, depois eu iria automaticamente recitar alguma coisa em latim e assim se daria início ao ritual. De acordo com a feiticeira, eu receberia uma marca, assim como ela, que era três pássaros feitos da sombra de uma meia lua localizados no seu ombro. É muito bonito, tinha que admitir. Depois disso, ela não quis me contar mais nada, alegando ser surpresa.

 Após um bom tempo, fomos para casa. Entretanto, ChanYeol tinha que falar alguma coisa, mas o falar dele, é ameaçar mesmo.

 - Não pense que suas provocações passaram despercebidas por mim. – Sussurrou em meu ouvido.

 Engoli seco, passando o resto do caminho totalmente imersa em meus pensamentos e com medo, é claro.

 Minha tia voltava da cidade, ela estava preparando o ritual e foi pegar um livro de runas na cidade, não me pergunte com quem ela pegou isso. Tenho até medo disso.

 O ruivo não me atentou pelo resto da tarde e dormi tranquilamente sem ele me olhando. Confesso que fiquei um pouco chateada com isso, mas depois nem liguei muito.

 E então dormi.

~/~

 Eu realmente estava ficando louco. Seus olhos não saiam da minha mente, me hipnotizaram de um jeito incrível. Eu já tentei esquecer, mas não dá.

 É como se estivesse impregnado nos meus neurônios, o cheiro dela havia ficado em minha memória. A pele macia, os lábios finos e rosados, até mesmo o jeito que ela me enfrentou e me encarou. Tudo, simplesmente tudo, não saia da minha mente.

 Eu sentia vontade de ir vê-la sempre, eu queria saber como é som de sua risada, o jeito que respira, tudo.

 Eu pareço um maníaco pensando nisso, mas era exatamente assim que eu me sentia. Principalmente quando meus pés me levaram até a sua casa, em plena meia noite. Sim, meia noite, foi quando eu tomei coragem e resolvi fazer essa loucura. Peguei o meu carro e dirigi até a sua casa, que é fora da cidade, na floresta. Confesso que foi bem fácil de achar, só bastou seguir por uma estrada única

 Não consegui subir até a varanda dela, também não estava louco o suficiente para invadir a casa dela, o jeito é esperar o próximo dia de aula para vê-la.

 Voltei para o meu carro, onde bati a minha cabeça contra o volante.

 No que eu estava me tornando? Por causa de uma garota?

 Mas Hana não é qualquer garota, é totalmente diferente de todas que eu conheci.

 Quem diria que o tão famoso, Leo, que não tem sentimentos fazendo essas loucuras por uma garota.