História No game, no life. - Ruins

17 de Fevereio de 2017. Monte McKinley, Alaska.

Sakura pov’s

Midnight estava tão ofegante quanto eu, dessa vez o inverno havia sido bem mais rigoroso que o anterior e a neve estava se demonstrando persistente sob nossos pés. O lobo parecia reconhecer os uivos a distancia e por um momento eu me perguntei se ele ainda se lembrava dos momentos que passou naquele laboratório e se ele se lembrava dos demais filhotes que foram criados junto consigo, os mesmos filhotes que foram soltos nas florestas pouco povoadas e a milhas de quilômetros longe da civilização.

- Estamos quase chegando. – Disse e alguns minutos depois reconheci a porta de entrada. Mal havíamos chegado a entrada quando ela simplesmente deslizou para o lado.

Caminhando pelos mesmos corredores de alguns anos atrás não levou tanto tempo até eu reencontrar a primeira pessoa que conheci quando também cheguei aqui.

- Seja bem-vinda de volta Sakura, você cresceu bastante. – Disse Rebecca me abraçando levemente, um abraço que logo correspondi.

- Pois é os anos fazem muita diferença para uma adolescente. – Respondi dando um leve sorriso.

Logo em seguida voltamos a caminhar e o lugar estava praticamente o mesmo, com as mesmas pessoas, fazendo o mesmo tipo de serviço. Várias delas me reconheceram e até acenaram para mim, outras já olhavam Midnight com certo medo e até admiração.

- Tia Sakura! – Ouvi uma voz doce e um minuto depois algo agarrou minha cintura.

- Oi lindinha. – Disse me agachando para dar um beijo no topo de sua cabeça. - Meu Deus como você esta grande. – Falei enquanto deslizava os dedos pelos longos fios escuros da menina.

- Você veio ficar um pouco com a gente tia? – Ela perguntou enquanto se separava de mim e ia até Midnight, que logo passou a abanar o rabo e a lamber suas mãos enquanto ela tentava deslizar os dedos pelo focinho do lobo.

- Um pouquinho. – Respondi e seu sorriso perdeu um pouco seu brilho. – Mas prometo brincar bastante com você, eu e o Mid.

- Olha só quem finalmente voltou a dar as caras. Realmente quem é vivo sempre aparece um dia. – Disse Nina se aproximando com um sorriso maroto, porém ela logo desviou sua atenção para o lugar onde Mid rolava no chão ao receber um afago na barriga. – Você já terminou sua lição de casa, Sue?

- Sim mamãe! – A menina disse em meio a uma gargalhada ao receber lambidas no rosto. -. Posso brincar agora?

- Claro meu amor.

Assim que Nina respondeu, Sue apenas voltou a correr pelo lugar de onde veio com Mid logo em seu encalço. Sue era realmente uma cópia quase perfeita da fisionomia de Steve, os longos cabelos lisos e pretos e as pernas longas esquias, porém o rosto bem desenhado, os olhos e a bondade neles eram completamente de Nina.

- Ela cresceu muito. – Disse.

- Nem parece que já se passaram seis anos. – A ruiva voltou a dizer com um longo suspiro, porém de orgulho. – A cada dia que passa mais ela me lembra ele, infelizmente ela não puxou toda minha beleza.

- Convencida você. – Falei com graça e então começamos a rir.

- Venha, precisamos conversar um pouco.

Enquanto Sue brincava com Midnight, eu e Nina nos esgueiramos pelos corredores até cairmos na área de refeições. Mal havíamos chegado quando um cheiro de nós moscada preencheu meu trato olfativo, e nem precisei perguntar para saber quem estaria na cozinha a essa hora da tarde.

- Como estão as coisas? – Nina perguntou assim que ela trouxe duas xícaras de chocolate quente. – Você sumiu por algum tempo sem me dar nenhuma noticia desde o ano passado.

- Markias esta me treinando. – Respondi enquanto agarrava a xícara com ambas as mãos para que meus dedos esquentassem um pouco.

- Porém você não estava com o braço quebrado? – Nina questionou.

- Estava, mas basicamente realizei o treino com um braço só por enquanto, meu verdadeiro treino irá começar assim que eu voltar para a Inglaterra.

- Verdadeiro treino? Como assim? – A ruiva levantou a sobrancelha quando largou sua xícara para me encarar.

- Eu vou aniquilar os Visards Nina, irei acabar com todos eles, e o Markias irá me treinar para isso. – Falei enquanto girava a xícara em mãos antes de olhar para si.

- É isso mesmo que você quer Sakura? Sasori não iria querer que você fizesse isso sozinha...

- Sasori iria querer fazer isso junto comigo, porém ele esta morto Nina, então devo seguir em frente sozinha. – Falei a cortando.

- Por favor Sakura, cuide de si mesma, ta bom?

- Não pretendo morrer antes de concluir meu objetivo ou pelo menos antes de Mid, pretendo e cuidar dele até o fim, tenho muito com que debitar com ele.

- Fico muito feliz em ver que você de certa forma esta seguindo em frente, estou rezando para que um dia seus olhos deixem de ser opacos e voltem a ser aquele mesmo par de esmeraldas brilhantes de antes. – Sorri um pouco para si e então uma figura agora já uns anos mais velha surgiu pela porta e sorriu imensamente quando me viu, os anos haviam lhe caído bem e a senhora de traços orientais limpava as mãos no avental antes de vir até mim com lágrimas nos olhos. – Já faz algum tempo não é mesmo Sra. Miura?

E com conversa de um lado para outro, voltamos todos a nos reunir, e no final da tarde nos encolhemos em grossos cobertores para jogar conversa fora e pela primeira vez em um longo tempo eu voltei a me sentir em casa, porém, sabia que isso logo iria acabar, e minha nova jornada iria se iniciar. E em segredo fiz minha despedida porque algo dentro de mim sabia que aquela reunião seria talvez um adeus.

[...]

25 de Agosto de 2020. Bogotá, Colômbia.

Sakura pov’s

Sasuke havia sumido desde a hora que eu mandei ele se arrumar. Despreocupada comecei a vagar entre as ruas, vendo as pessoas dançarem como se literalmente o fim do mundo fosse amanhã. Com fome parei em uma barraquinha e pedi um espetinho de carne, sorrindo ao ver as crianças correrem um atrás das outras com bastões coloridos.

Não sabia exatamente quanto tempo havia passado ali sentada, porém algumas mulheres logo se aproximaram de mim e me puxaram para dançar. Eu tentei negar, porém elas não entendiam o que eu falava, e me sentindo ignorada cansei de lutar contra a vontade delas e passei a imitar alguns passos de dança, rindo junto com todas quando eu errava algum passo ou me atrapalhava em outros.

Enquanto dançava acabei me descuidando e bati com o braço em alguém. Quando me virei para pedir desculpas, dei de cara com um par de olhos ônix me fitando, e por alguma razão acabei engolindo em seco, o Uchiha matinha o semblante sério ao olhar para mim.

- Você sumiu. – De tudo que eu poderia dizer, essa foi a única coisa que saiu da minha boca.

- Eu precisava espairecer um pouco. – Ele disse enquanto deslizava sua mão do meu antebraço para a base do meu pulso. – Fica esperta que por você ser estrangeira e mulher tem uns caras te observando de uma maneira não muito amistosa.

- Você acha que eu não sou capaz de me proteger? – Perguntei com uma sobrancelha arqueada.

- Tsc, que você é capaz de se proteger eu sei disso já a um bom tempo, prezo mais mesmo é o nossa discrição por aqui. – Ele respondeu e então logo nos sentamos em um lugar mais afastado das pessoas e o Uchiha voltou a adquirir o mesmo rosto sério e pensativo de antes.

- Sasuke? – O chamei. – Por que você esta assim ultimamente? Aconteceu alguma coisa?

- Não.

- Você tem certeza? – Insisti e dessa vez ele olhou para mim com certa raiva.

- Por que você quer saber?

- Porque você esta conturbado. – Disse e então desviei o olhar para a parede ao lado o impedindo de olhar meu rosto completamente. – Um dos motivos pelo qual eu aceitei te treinar porque eu vi em você algo que também havia em mim Sasuke.

- E que seria? – Ele perguntou dessa vez com um tom de voz mais brando.

- Confusão e um tremendo conflito interno. – Respondi.

- Tsc, que seja. – Sasuke respondeu seco e virou para o lado oposto.

- Aproveitando, deixa eu te contar um dos motivos porque eu fui contra de trabalhar em equipe novamente, que é exatamente o que esta acontecendo agora. – Falei em tom sério. – Eu não consigo prever ou controlar aquilo que pode ou não afetar meu parceiro de equipe, e a falha de um significa a própria morte ou a morte de algum companheiro. Eu não quero mais saber o que aconteceu com você, eu te perguntei dezenas de vezes, te dei todas as oportunidades, mas você não quis e apenas me ignorou. Acho que você não percebeu isso ainda Sasuke, mas eu me importo com você e estou me esforçando ao máximo para que você saia vivo e consiga ter sua vida normal de antes, mas se você não estiver concentrado e nem sequer estiver falando comigo eu não vou conseguir te ajudar, eu não vou conseguir te proteger. Então é por isso, como líder eu tomei minha decisão, amanhã de manhã estarei te enviando de volta para Los Angeles, você esta deportado da missão. – Dei meu decreto e então o deixei para trás.

Cansada de festa, apenas voltei a caminhar pelas ruas, tentando observar o lugar e sua beleza, porém minha cabeça estava ao mesmo tempo que lotada também estava vazia. Sasuke Uchiha realmente sabia me tirar dos eixos de uma maneira que eu nem entendia como, maldito seja ele, suas poucas palavras e seu jeito fechado. E caminhando com um praguejamento e outro não vi quando atravessei por entre outro mar de pessoas que dançavam, agora presa naquele circulo e sem escapatória me senti uma completa inútil.

Parada quem nem um poste ali no meio, não vi quando um casal que dançava se aproximou até que fosse tarde de mais e estes acidentalmente se chocassem contra mim. Sem outra alternativa e nenhum amparo, cai de joelhos contra o asfalto. Sentindo que deveria realmente ter ficado no hotel me levantei e refiz meu caminho. Na volta os mesmos caras que o moreno havia dito caminhavam da outra direção, o primeiro até assobiou para mim e fez gestos obscenos com a língua enquanto o segundo disse alguma coisa, coisa que apenas pelo tom de voz soube imediatamente que eram palavras sujas.

Eu juro que tentei ignorar e seguir em frente, porém na hora que passei por eles o que assobiou não deteve esforços em me empurrar contra a parede de tijolos, meu rosto se chocou com força contra a parede quando ele empurrou minha cabeça com ainda mais força ao tentar enfiar a mão imunda dentro da minha saia, e eu já estava pronta para revidar quando de repente minha cabeça foi solta e dessa vez o mesmo cara já estava no chão.

- Você é um imã para atrair problemas. E isso que eu avisei. – Disse Sasuke enquanto puxava as mangas da camisa social do outro braço.

- Não me fala nada que o único que esta em débito com alguém aqui é você. – Falei me recompondo.

- Que seja. – Ele respondeu dando de ombros e sem desviar a atenção dos caras que começaram a gesticular e o xingar. - Sei que antes eu falei que estava preocupado com a nossa discrição, porém eu não gosto nem um pouco de ver filhos das putas como esses agindo assim com mulheres. – O moreno disse enquanto sorria um pouco. – Você escolhe, quer o da direita ou o da esquerda?

- Esquerda. – E mesmo com o rosto doendo, sorri também, feliz em poder descontar um pouco da minha raiva.

Sasuke pov’s

Quando chegamos no hotel a rosada não disse nada, e dessa vez quem estava se sentindo incomodado com o silêncio era eu. Suspirando caminhei até a bagagem de mão, procurando um kit de primeiros socorros que a Haruno sempre carregava consigo. Se ela havia se machucado, aquilo havia sido por minha culpa, ela queria me ajudar, e eu neguei sua ajuda. Ela queria saber o que se passava comigo e eu bloqueei qualquer iniciativa de conversa. Eu assisti aquele vídeo mesmo sob as orientações de Kakashi para não fazê-lo. Eu sabia o que poderia encontrar e mesmo assim achei que saberia lidar com o resultado depois. Uma ação que levou a outra, e que se eu não colocasse um basta nisso, coisa muito pior que um arranhão poderia vir a acontecer durante esta missão.

- Vem senta aqui, vou limpar seu machucado. – Indiquei e ela de primeira apenas franziu o cenho para mim. Revirando os olhos caminhei até si e empurrei alguns objetos para o lado antes de sem avisar a pegar pela cintura e a colocar sobre o criado mudo, surpreso em ver que ela era mais leve do que julguei ser.

- O que deu em você? – Ela perguntou sem nenhuma outra reação além de completa confusão.

- Fica quieta um pouco. – Disse e então passei o algodão com antisséptico, fazendo seu rosto se fechar em uma careta de dor.

- Mão leve a sua, por que não pega uma lixa? Da no mesmo. – Reclamou e então apertei um pouco mais o ralado do seu joelho a fazendo trincar o maxilar com força para conter um gemido de dor. – Você é um desgraçado.

- Para de reclamar e me deixar limpar seus machucados, bicho irritante. – Pedi, e ela logo desfez sua careta para um biquinho de quem não se sentia confortável em receber ordens e logo em seguida morder o lábio inferior quando o antisséptico voltou a entrar em contato com o machucado do outro joelho. E se tinha uma coisa que eu realmente odiava em Sakura era essa maldita capacidade em mudar da água para o vinho em questão de nanosegundos, saindo de um ar, digamos, que até fofo para um nada fofo. - Você tem um dom natural para me confundir Sakura.

- Hum? – Ela perguntou e logo neguei com a cabeça como se dissesse “esquece”, e olhei para o ralado que estava em sua maçã do rosto. – Nem vem.

- Vou limpar e se reclamar limpo duas vezes. – Falei e ela até tentou levar o rosto para o mais distante de mim, no entanto apenas puxei seus joelhos para a frente, a trazendo para mais perto de mim de forma que nossos narizes roçassem um no outro. Surpresa ela não disse nada e apenas fechou os olhos quando limpei o último dos seus ferimentos.

Quando terminei ela abriu os olhos e ficamos nos olhando por alguns segundos, era praticamente uma batalha para ver quem iria ceder primeiro, uma batalha entre preto e verde, e ali procurei qualquer indício do mesmo olhar sádico e predador do vídeo, porém não encontrei nada. Nenhum indicio de maldade ali. Contendo um suspiro, a coloquei no chão e joguei o algodão no lixo.

- Você estava certa, e eu te devo desculpas. Eu agi como idiota, mas se essa é a sua ordem como líder e eu devo voltar para L.a, então  eu irei obedecer. – Falei enquanto sentia minhas bochechas esquentarem um pouco ao admitir minha culpa. – Eu vou voltar a me concentrar.

- Se você acredita que irá conseguir se concentrar eu vou dar meu voto de confiança para você. – Disse a rosada ao entortar a cabeça para o lado e me olhar diretamente nos olhos.

 E enquanto nos arrumávamos para dormir, decidi que não voltaria a pensar naquele vídeo, pelo menos não enquanto eu não soubesse qual era aquela missão e o porque Sakura parecia uma máquina assassina. Até lá eu não iria mais procurar sobre seu passado.

❄ ❄

Com os olhos cansados de tanto ler, coloquei o diário um pouco de lado à medida que ouvi passos suaves subindo as escadas. Não precisei olhar para o lado para saber quem era, apenas estendi a mão esquerda e afaguei sua cabeça, deslizando meus dedos pelos longos pelos a medida que meu rosto era lambido.

- Eu estou bem. – Disse para si, e então voltei a pegar o diário surrado em mãos, me preparando psicologicamente para continuar lendo, não apenas mais sua história mas também como seu ponto de vista, me preparando, principalmente, para dessa vez voltar ao ponto da história onde tudo entre nós passou a mudar. Onde tudo começou a ser arruinado.