“Querido Arthur, gostaria tanto de saber onde está, se está bem, e se não está sozinho sei muito bem que não gosta de ficar sozinho principalmente em situações como essas, por favor não sinta medo tudo isso irá passar não durara para sempre, tenho certeza que a guerra já está prestes chegar a seu fim, e quem sabe logo estaremos juntos outra vez.
Não queria ter brigado com você naquele dia mas não conseguia imaginar ver você partir sem ter certeza se voltaria pra casa, infelizmente tive que voltar a França e me alistar no exército não pude evitar, espero que possa me perdoar por isso , espero também que esteja seguro, e não esteja sentindo frio ou doente, espero que esteja comendo direto, e descansando sempre que possível, por favor não quero que se preocupe com o que irá ler em seguida, não lhe escrevi nos últimos anos pois não sei onde está, você não me disse para onde seria mandado, a carta será enviada para nossa casa em Londres, espero que encontre quando voltar, eu preciso desabafar, e me livrar desta angustia que estou sentindo nesses últimos dias.
Fui mandado junto com outros soldados para um lugar que chamam de trincheiras. São valas fundas, e extensas, cheias de ratos, e lama, há corpos em decomposição em todos os cantos, e o cheiro e insuportável, há muitas doenças, e pouca comida, e a água que resta está contaminada, nos deram mascará de gás que são muito apertadas e sufocantes, pois os alemães começaram a nos atacar com o gases químicos, faz pouco tempo que estou aqui e já vi vários soldados morrerem sufocados por esses gases. Quando chove mal conseguimos andar por causa da lama, e sentimos muito frio pois nossos uniformes fica ensopados. Não conseguimos dormir e nem descansar, precisamos ficar sempre atentos com os ataques que podem acontecer a qualquer momento. Se me visse hoje não me reconheceria meus cabelos estão muito curtos os cortei com um canivete graças a uma infestação de piolhos*, tenho vários arranhões e machucados pelo corpo, uso um uniforme azul desbotado sujo, e pesado, Sempre ando com um rifle de cano longo em minha mãos, e as vezes me ocupo cavando trincheiras junto a outros soldados, isso quando não estamos nos ocupando com o inimigo. Nunca imaginei que mataria alguém, quando acertei um jovem alemão pela primeira vez foi horrível, senti náuseas e pensei que fosse desmaiar, já hoje e como se não fosse nada me sinto vazio, oco por dentro a guerra me mudou, quando voltar para casa tenho medo que se assuste pois não sou mais o mesmo Francis que você conheceu, e caso eu não volte quero que me perdoe por tudo o que aconteceu, quero que perdoe por ter brigado com você, e por ter me metido nisso tudo, eu não queria que as coisas fosse assim, se não voltar siga em frente sem mim você vai conseguir, e vai continuar sendo mesmo Arthur amável que eu conheci em Paris em 1909, quero que se lembre de quando a vida era boa com a gente, quando não tínhamos que nos preocupar com granadas caindo sobre nossas cabeças ou gases mortais, sei que nunca fui muito religioso mas todas as noite peço a Deus para que você fiquei bem e para que consiga voltar pra casa e te ver novamente, espero que você encontre esta carta, e lembre-se aconteça o que acontecer eu sempre te amei’’.
Francis Bonnefoy, 23 de agosto de 1917
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