História No Metrô - Capitulo 2.

Louis olhava alternadamente para Lottie e Oliver, apenas lembrando-se de como as coisas vinham sendo difíceis pros três e também de como eles juntos eram fortes. Corria os dedos pelos cabelinhos claros do filho e bocejava de vez em quando, sonolento por estar deitado na maca junto ao filho... já que há algum tempo não dormia propriamente.

"Lot, está com fome?" Perguntou a irmã adolescente em um tom de voz baixo, pra não perturbar o pequenininho agarrado a si. Recebeu apenas uma confirmação com a cabeça e então apontou para a mochila preta que deixara em um dos cantos do sofá. "Pegue um dinheiro na mochila, desça na cafeteria e compre algo pra comer".

Mandou porque era quase mãe de Lottie também. Os dois não foram criados com o pai por perto e quando Louis tinha 20 e Charlotte 16,a mãe dos dois falecera em um acidente de ônibus, voltando para casa depois de um dia longo de trabalho. A partir daquele dia então Louis passara a tomar conta da família, tivera que arranjar um jeito de pagar as contas, a escola da irmã mais nova, o aluguel da casa, comprar comida, entre várias outras despesas e fora assim que entrara no mundo da prostituição.

Não escondia nada de Lottie porque sabia que mentiras tinham perninhas curtas e a garota era muito esperta, em breve descobriria a verdade e por esse motivo resolveu não mentir. O dinheiro que ganhava não era suficiente, às vezes pagava alguma coisa e deixava de pagar outra pra que os dois pudessem comer e as coisas pioraram ainda mais quando descobriu que estava grávido.

O namorado da época não quis saber de responsabilidade alguma e sumiu no mundo, Louis nunca mais o vira e sinceramente, fora melhor assim. Lottie passara todos os momentos ao seu lado e aquilo fora o suficiente. Iam as consultas juntos, compraram as poucas coisas do enxoval do bebê juntos, sofreram juntos quando Louis teve dores, sentiram juntos os primeiros chutes do nenê, sorriram juntos quando descobriram que teriam um menininho correndo pela casa e choraram juntos e encantados quando ele nasceu. Foram momentos maravilhosos e os compartilharam juntos como irmãos.

Recusava-se a permitir que sua irmãzinha trabalhasse porque queria que ela apenas estudasse, se esforçasse e se tornasse uma pessoa melhor e diferente do que ele era. Não queria que Lottie acabasse tendo que vender o corpo pra criar algum filho sem pai,não queria que a irmã sofresse tudo o que ele sofria... Queria parar, mas não podia... Pensava todos os dias em dar um jeito de trocar de vida mas como faria? Se nada sabia fazer, se não era inteligente e muito menos bonito.

Todavia todo o esforço que fazia pela irmã e pelo filho era valido. Quando os sorrisos brotavam sobre os lábios de ambos, quando Lottie trazia notas boas pra casa, quando Oliver aprendia a fazer algo diferente, quando ganhava abraços e beijos carinhosos as coisas se compensavam. Acordou dos pensamentos distantes quando escutou um gemidinho do bebê que dormia sobre seu peito, acompanhado por um apertão das mãozinhas pequenas no dedo indicador.

"Acordou meu amor? Não precisa chorar, estou aqui com você" Beijou os dedos fininhos do filho e o aninhou ao perceber a careta que ele fez pra forçar um chorinho manhoso. Ajeitou-se sobre a maca e tomou um susto ao perceber que Charlotte já voltara quando a viu sentada sobre poltrona branca, com a boca lotada de comida.

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Charlotte fora para casa mais cedo tomar um banho e vestir o uniforme porque não podia perder o dia letivo, tinha prova e precisava esforçar-se ao máximo para orgulhar seu irmão. Louis agora tentava lidar com alguns problemas... Oliver estava melhor e tivera alta do hospital sem maiores problemas, porem precisava seguir tomando alguns antibióticos. Esses remédios geralmente eram bem caros e como faria para comprá-los? Mal teria dinheiro pra pagar o aluguel e comprar comida aquele mês. Merda.

Esfregou os olhos com a ponta dos dedos e engoliu a vontade de chorar, para depois então pegar a criança no colo depois de tê-la agasalhado bem com um casaco grosso e um gorrinho azul. Oliver estava cansado e ferido por causa das agulhas, por isso cooperou, deitando a cabecinha pequena no ombro do papai enquanto chupava a chupeta enfeitada por alguns porquinhos.

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"Vamos pra casa?" Perguntou beijando as mãozinhas cobertas por luvas quentinhas antes de entrar no vagão do metro, lotado. "Papa não vai trabalhar hoje e ficará o dia todinho com o beby Oli, agarradinho e esperando a titia Lot chegar da escola". Conversava bastante com o filho para estimula-lo, mesmo sabendo que tudo o que o pequeno podia responder até o momento era 'papa 'Lot'ou 'Oli'.  Oliver  às vezes soltava uma das três palavras, mas era uma criança tímida, quase não chorava e raramente sentia-se a vontade perto de estranhos, era silencioso.

Agarrou-se ao corpinho do filho e ajeitou a mochila nas costas antes de segurar-se a estrutura metálica com a mão livre. Odiava metrôs, odiava transportes públicos em geral, mas sabia que nem economizando para o resto da vida conseguiria comprar um carro. Infelizmente não haviam assentos vagos e as pessoas ali pareciam não ter educação... Nenhuma alma viva moveu-se do lugar, mesmo vendo claramente que ele tinha problemas carregando a mochila pesada e o bebê doentinho no colo.

"Oi!" Olhou pra baixo ao sentir o leve toque no antebraço. O homem que o chamara tinha os cabelos relativamente cumpridos, escuros e cacheados, também tinha um par de olhos esverdeados lindos.

"Sim?"

"Sente-se aqui com o bebê" Ofereceu o lugar que antes ocupava, levantando-se devagar e trocando de lado para que o outro pudesse sentar. Os lábios finos transformaram-se em um sorriso lindo, bem branquinho e gentil.

"Ah nã-na... Obrigado" Sorriu, tirando a mochila das costas e ajeitando o filho no colo novamente.

"Ele parecia pesado e as pessoas são muito mal-educadas..." O estranho comentou, ajudando Louis a arrumas as coisas no chão e usando os próprios pés como apoios para mantê-las no lugar. Estava encantado com a cena diante de seus olhos... Com o garoto de cabelos curtinhos e lábios finos, olhos azuis e também com o bebê novinho, que tinha as bochechas avermelhadas por causa do frio.

Louis morrendo de vergonha tentava distrair-se e não olhar muito para o moreno de pé que brincava com Oliver já acordado, fazendo gracinhas e caretas para alegrar o pequeno. Os olhares passeavam sem ter muito destino e pararam ao encontrar os panfletos coloridos que o maior carregava nos braços fortes.

"Como ele se chama?"

"Oli' Louis até se engasgou ao ouvir a vozinha fina deixar os lábios entreabertos do filho, enquanto ele apoiava as mãozinhas em seus ombros e forçava as perninhas para equilibrar-se de pé no colo do papai.

"Oliver Tomlinson" Respondeu o nome coreto do filho, ainda impressionado pelo bebê ter falado e com um completo estranho. "Você esta procurando empregados?" Perguntou tímido apontando pros panfletos na mão do outro.

"Sim! Eu abri um café agora e preciso achar alguns funcionários logo... você tem interesse? Eu posso pegar o seu numero? Sabe...para uma entrevista de emprego" O maior dos dois perguntou afobado, revirando os dois bolsos da calças jeans até encontrar o celular para pegar o numero do menor. Louis sorria constrangido com a animação do estranho, apertando os braços em volta do filho, equilibrando-o para que não caísse. Oliver nunca ficava tão animado assim e parecia gostar da companhia do moço que fazia caretas.

"Qual o seu nome?"

"Louis, 032-887-4312" Ia ser bom tentar não é? Poderia trabalhar no café e diminuir a quantidade de horas com os programas... Teria dois empregos e as coisas melhorariam não é? Esperava que sim.

"Obrigado Louis!. E muito prazer, eu sou Harry, Harry Styles". O mais alto em momento algum sentiu-se constrangido por parecer tão interessado. Não acreditava que a conversa no metrô que no momento parecia-se mais como uma lata de atuns fosse algo do destino, mas ficou animado apenas com a possibilidade de ver o menino e o bebê novamente. Talvez não num lugar como aquele... Talvez em um restaurante ou mesmo em seu café.

Fora tirado dos próprios pensamentos ao observar Louis levantando-se com Oliver no colo. Tratou de ajudar o menor com a mochila, ajeitando-a em um de seus braços enquanto o outro sorria demonstrando o quanto estava agradecido pela educação do maior.

"Obrigado por ter nos oferecido o lugar, Harry. Eu definitivamente espero sua ligação" Disse acenando como podia por causa de todo o peso que carregava, acabou seguindo o fluxo de pessoas com um sorrisinho bobo nos lábios e saiu carregando o filhinho animado no colo.

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"LOOOOOOOOU! ESTOU COM FOME" Lottie entrara em casa gritando enquanto folgava a gravata e abria dois dos botões da camisa branca do uniforme. Sorriu logo ao ver o sobrinho sentadinho sobre o colchão na sala, brincando com algumas pelúcias coloridas e alguns carrinhos enquanto o irmão mais velho preparava algo na cozinha.

Os três moravam em uma casinha pequena e simples em Londres, e dividiam um lugar apertadinho com apenas uma cozinha, um banheiro e a sala que servia de quarto onde todos dormiam juntos em colchões. Largou a bolsa carteiro em um dos cantos e deitou-se próximo do pequeno, enchendo as bochechas gordinhas e gostosas de beijinhos e mordidas carinhosas. "Que saudade do gordinho da titia."

"Eu já te disse pra não deitar no colchão quando chega sujo da rua Lot! Muito menos perto do Oliver que acabou de sair do hospital. Vá tomar banho enquanto eu termino a comida"

"Certo mamãe".

"hun.., O que aconteceu com a sua boca Lottie?" Lavou as mãos na água corrente antes de tocar os lábios arroxeados da irmã com os polegares, fez uma daquelas caras de horrorizado e a mais nova riu, encolhendo os ombros.

"Dei uns beijos por ai...".