História No More Tears - Capítulo Único

Lágrimas…

As lágrimas rolavam quentes, trilhando seu rosto pálido enquanto olhava para aquela figura a sua frente.

Morte… A triste o consumia. Por quê? Mil e uma respostas, mil e uma perguntas… Não aceitava, não iria aceitar. Como aceitar ver quem mais ama morrendo a sua frente? Não… Não… Não… Se recusava a aceitar tal fato, iria repara-lo… Com as próprias mãos.

- Espere… Clear… Ainda não terminou… - Sussurrou, consciente de que aquelas palavras não estavam sendo mais ouvidas. Ao menos tinha uma esperança… Ele não era humano… Talvez pudesse repará-lo…

Pudesse? Não… Tinha que conseguir.

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- Clear… Por que você continua tão ausente… - Suspirou olhando em volta. Seu quarto continuava o mesmo… Sua vida, monótona e rotineira… Não conseguira reparar Clear com suas próprias mãos como havia prometido, mas entregara-o nas mãos de quem talvez pudesse salvá-lo. Se sentiu impotente tantas vezes… Mas a esperança continuava viva em seu coração.

- Quero vê-lo… - Murmurou para si mesmo, empurrando as cobertas. Assim que saiu da cama, imediatamente olhou para seu allmate e sorriu, ligando este.

- Aoba…

- Bom dia, Ren. – Falou um pouco mais animado.

- Continua triste…? - Perguntou o pequeno cãozinho peludo e azul-escuro. Sua linguinha de fora era algo peculiar e muito fofo.

- Hm, estou bem… Será que conseguiram arrumar o Clear… - Perguntou com o olhar vago.

- Logo ele estará bem. Não desanime. – O allmate tentou animar o dono que lhe deu um sorriso.

- Sim, você tem razão… Vou me arrumar, tenho que ir trabalhar… - Disse calmamente, deixando o quarto. Foi no banheiro e fez sua higiene matinal com calma. Continuava pensando em Clear… Como fora descobrir que o amava tão… Tarde. Sentia tanto sua falta. Tanto que haviam essas noites em que chorava… a dor da perda era uma muita. Mesmo tentando seguir em frente, continuava pensando nele… Talvez mais e mais…

Voltou para o quarto e pegou a mochila, colocou Ren lá dentro e desceu as pressas. Já estava um pouco atrasado para a Henbou e o velho Haga-san provavelmente não gostaria disso. Pegou duas torradas com geleia que já estavam prontas ali, esperando por ele. Sua avó havia saído cedo… Para onde? Talvez ver como andavam as reparações em Clear… Sentiu-se um pouco esperançoso.

Tudo foi muito comum, a mesma rotina de sempre… Mas nesse dia seus pensamentos estavam cheios com o albino, não entendia o porquê. Sempre pensava nele, nas coisas boas que passaram juntos, como foram seus últimos momentos juntos… Isso o fazia derramar algumas lágrimas… Nunca mais fora capaz de se tocar… Sempre que tentava a dor o consumia. Não queria imaginar-se sendo tocado por ele… Queria ser tocado por ele. Torturante…

Até mesmo as três pestinhas haviam ido lhe perturbar mas acabaram tendo que fazê-lo se animar um pouco, o que fora uma surpresa. O dia foi tranquilo, isso era algo aliviante.

Ao final da tarde tinha terminado seu trabalho, finalmente poderia voltar para casa… Mas, assim que abriu a porta para sair, algo o fez ficar estático. Estaria louco? Ah, não… Talvez estivesse alucinando ou ouvindo coisas… Suspirou pesado.

- Clear… - Levou a mão ao peito, abanando a cabeça. Vira um vulto que passou tão rápido, mas se parecia tanto com ele… Uma lenta tortura… alimentada pelo seu desejo incessante de ver o amado uma vez mais.

Tentou ignorar o fato e seguir para casa. Assim que chegou estranhou o fato de estar tudo as escuras e a primeira coisa a fazer foi chamar pela avó. Não demorou a notar que estava ali sozinho. Aonde teria ido? Talvez cuidar de algum paciente na vizinhança.

Deixou esse pensamento de lado e subiu para o quarto, deixando o allmate sobre a cama e se sentou ali, olhando para ele.

- Aoba… - Este falou assim que foi ligado.

- Ren… Será que estou alucinando? Eu podia jurar que era ele… – Suspirou.

- Você parece mais triste que o normal… Aconteceu algo? – Perguntou o cãozinho.

- Eu tenho pensado muito no Clear hoje… Eu queria que ele est…. – Nesse momento ouviu uma melodia, parando de falar, repentinamente… Uma melodia a tanto tempo conhecida… Quem estaria cantando? Estava ouvindo coisas também?

Uma canção…

Uma canção de ninar… Soava como isso.

- Aoba? – O allmate estranhou a reação do dono.

- Jellyfish… - Murmurou pulando da cama e abrindo a porta que dava para a sacada, rapidamente irrompendo nela.

Reconheceria aquela canção em qualquer lugar, assim como a voz de Clear. E agora sua esperança crescia, enquanto olhava em toda a parte. O sol estava se pondo dando uma tonalidade alaranjada ao horizonte e a tudo a sua volta.

Seus olhos reviraram as redondezas, olhando em toda a parte até que… Não muito longe, uma figura lhe chamou a atenção. Estava sobre um telhado, de costas, segurando um guarda-chuva. Uma lágrima solitária rolou pela sua face enquanto enchia seus pulmões para gritar o nome dele. Ele continuava cantando, soava tão transparente, gentil… Poderia ouvi-la a vida toda sem se importar…

- CLEAR!!!! – As lagrimas começaram a rolar calmamente, enquanto a canção cessava e agora aquela figura se virava como que em camara lenta.

- Ouvi sua voz, por isso eu vim… Aoba-san… - Ele falou calmamente, com aquele sorriso gentil e caloroso de sempre. Meu coração começou a bater descompassado enquanto ele descia dali e se aproximava, pulando para a sacada dessa forma tão… Surpreendente.

Assim que ficaram cara a cara, o albino segurou as mãos de Aoba e beijou cada uma delas. O menor tentava conter as lagrimas, inutilmente.

- Suas memórias… Elas estão… - Balbuciou olhando-o com um sorriso pintando seu rosto manchado por lágrimas.

- Estão bem guardadas… Aqui… - Levou a mão do outro ao seu peito, do lado esquerdo, aonde fica o coração.

- Clear… - Finalmente ganhou coragem para pular em seus braços, o abraçando com força. Tanta fora essa que o albino ficou confuso por um instante, mas logo retribuiu aquele abraço, o aninhando contra si.

- Eu estou aqui… Aoba-san… - Falou docemente, levando uma mão ao rosto alheio e acariciando, aproveitando para limpar o trilho de lagrima cristalinas.

- Clear… - Aoba tentou… Mas não conseguia falar nada… A felicidade lhe arrancou as palavras, estava demasiado emocionado para conseguir construir frases. Ainda o tocava, querendo ter certeza que não era apenas um sonho.

- Aoba-san… Eu quero te beijar. – Sua voz soou meiga, sincera. Tão pura como ele.

- O que está esperando? – Finalmente o dono daqueles cabelos azuis conseguiu proferir alguma coisa e, nesse momento, sentiu aqueles lábios macios e mornos tocarem os seus. Fechou os olhos, apreciando aquele contato.

Clear segurou-o pela cintura, mantendo-o próximo enquanto espalhava selinhos naqueles lábios semicerrados. Demorou um pouco para invadir a boca alheia, finalmente lhe arrancando o sabor.

Aos poucos as línguas iam bailando, ao som dos corações palpitantes. Tão fortes, em uma sincronia perfeita. Aoba passou os braços ao redor de seu pescoço, e não se importava com mais nada a sua volta.

Aos poucos o negro da noite tomava conta do local, mas os dois estavam tão distantes, em seu próprio mundo… Não queriam se separar. Mas a falta de ar obrigava… Aos poucos abandonaram os lábios um do outro, juntaram suas testas, se olhando com sorrisos cúmplices.

- Senti tanto sua falta… - A voz de Aoba soou baixa, porém, arrancou um sorriso gentil de Clear.

- Eu também… Muita… - O albino falou calmamente enquanto apreciava aquele momento.

Ah, saudade…

Ela foi esmagadora por tanto tempo, mas finalmente estavam nos braços um do outro. Lentamente, pé ante pé, Clear guiou o menor para dentro e fechou a porta atrás de si. O quarto estava as escuras, mas não se importou realmente.

- Clear… - O garoto de cabelos azuis sorriu, olhando para aquele par de olhos avermelhados que há tanto tempo não via.

- Hm? – Perguntou suavemente, com seu tom caloroso de sempre. O tom carmesim no rosto do menor não podia ser notado naquele escuro, isso o tranquilizava um pouco, afinal, estava bem embaraçado.

- Eu te amo… - Sua voz saiu um sussurro quase inaudível.

- Hm? Não ouvi? Poderia repetir?

- Eu disse que te amo… - Disse em um pequeno resmungo que fez o maior rir divertido. Aoba acabou estufando as bochechas um pouco emburrado.

- Aoba-san…

- O que foi? – Perguntou um pouco chateado. Em seus lábios poderia se ver um biquinho formado se as luzes não estivessem desligadas.

- Eu. Te. Amo. – Falou pausando, sincero, mas um pouco divertido pelo menor ser um bobinho… Que amava mais do que tudo.

- Eu queria tanto te falar isso… Eu te amo… Não me deixe mais…

- Não… nunca mais. Prometo. – Sorriu o garoto de cabelos brancos e voltou a beijar o menor. Tateou o caminho até a cama, enquanto sua língua se enroscava na língua alheia, lhe sugando com certa força.

O beijo passou de carinhoso e apaixonado a arrebatador e intenso. Aos poucos alcançaram a cama e o menor sorriu entre lábios, arrancando um sorriso também do maior.

- Me ame… Agora… Clear…

- Sim… Aoba-san… Meu mestre… Meu tudo…

O clima esquentou dentre aquelas quatro paredes. Suor misturado com gemidos, em uma temperatura escaldante aonde dois corpos se perdiam entre o amor e o prazer. A felicidade de estar juntos novamente… Finalmente poderiam ser um… Eternamente… Enquanto durar.