História No Ordinary Love - Reescrita - Não posso esconder meus sentimentos sobre você

Christopher | 16 anos

E os dias se passaram com o Nicholas fugindo de mim, se distanciando cada vez mais. O que o Pedro foi fazer? Ele não sabe o quanto isso machuca? O único tempo que eu passei com ele foi fazer as coisas do trabalho, mas às vezes nem isso, pois Nicholas me dispensava para que eu pudesse ir treinar. Eu nem me interesso mais em treinar tanto assim, estou pouco me lixando para a competição. Porém hoje, depois de uma semana inteira, ele disse que daria uma pequena pausa. Eu espero que ele vá assistir o treino com alguns outros alunos que também assistem de vez em quando. Nem imaginei que daria tanto trabalho assim, mas ele é perfeccionista como ele me disse, então teve mais tempo que deveria. Torço eu para que ele vá assistir o treino ao invés de ir pra biblioteca, para o prédio da irmãzinha dele – nós conversamos muito enquanto fazemos o trabalho (pelo menos nós falávamos), ele me contou tanta coisa sobre ele... – eu queria que nada tivesse mudado. Droga, Pedro. Droga, eu mesmo.

-Nicholas, sua vez. – o professor de Música anunciou. Os alunos estavam apresentando seus trabalhos de fazer um cover de alguma música que tivesse alguma nota que não consigo me lembrar de qual era, eu só me apresentarei semana que vem uma vez que existem muitos alunos para uma aula só.

-Certo. – Nicholas se levantou e colocou o instrumental na lousa digital. Olhou para baixo, com vergonha e começou a falar sobre a música – A música se chama “There’s Too Much Love” de Belle & Sebastian.

Ele começou a cantar, mas foi interrompido pelo professor que o mandou levantar a cabeça e endireitar o corpo. E então recomeçou. A batida da música é tão boa, parece trazer uma nostalgia de algo...

“I could hang about and burn my fingers

I’ve been hanging out here waiting for something to start

You think I’m faultless to a ‘t’

My manners set impeccably

But underneath I’m the same as you”

Ele balançava a cabeça levemente para um lado e para o outro, seguindo o ritmo da música, dando um leve sorriso.

“I could dance all night like I’m a soul boy

But you know I’d rather drag myself across the dance floor

I feel like dancing on my own

Where no one knows me, and where I

Can’t cause offense just by the way I look”

Eu não consigo parar de olhar para ele, dou um suspiro sem perceber e continuo a olhar aquela obra de arte cantando como um anjinho.  Ele dança com as mãos, fazendo gestos com elas, indo de um lado para o outro, se soltando.

“And when I come to blows

When I’m numbering my foes

Just hope that you’re on my side, my dear”

Ele olha rapidamente para Oliver e o mesmo responde com palminhas inaudíveis. Eu rapidamente volto minha total atenção para o raio de sol que estava na frente da classe. Nicholas começou a andar um pouco pela frente, ele mexia o corpo suavemente, encantando todos assistindo.

“But it’s best to finish as it started

With my face head down

Just staring at the brown formica

It’s safer not to look around”

Ele voltou até o meio.

“I can’t hide my feelings for you now

There’s too much love to go around these days”

Ele olhou para mim. Ele cantou aquele verso para mim. Deu um sorriso e continuou a música. Eu queria levantar nesse momento e lhe dar um beijo.

“You said I’ve got another face

That’s not a fault of mine these days

I’m brutal, honest and afraid of you”

Olhou para baixo, interpretando a música, se tornando a música.

“It’s safer not to look around

There’s no hide my feelings from you now

But there’s too much love to go around these days

You said I’ve got another face

That’s not a fault of mine these days

I’m honest, brutal and afraid of you”

Eu não tenho palavras. Esse Nicholas nunca para de me surpreender.

Nicholas | 16 anos

Nervosismo. Eu me tornei o próprio sentimento de nervosismo. Eu amo essa música, quando eu a escuto, me sinto bem. E foi isso que me ajudou a me soltar durante a apresentação. Achei que fosse virar pedra ali no meio, mas eu consegui. E meus colegas gostaram. Não pararam de me aplaudir até que eu me sentasse e o professor os mandasse pararem.

-Você canta muito, Nico! – Oliver me elogiou. Eu corei.

-Você acha? – perguntei e ele assentiu. – Obrigado. – sorri.

A aula de Música então acabou e agora seria Anatomia. Essa matéria é tão odiada pelos outros da sala, mas eu até compreendo um geral da matéria. Ela anunciou que hoje ela passaria o conteúdo da prova e Caio protestou.

-Mas já?!

-Se você me deixar explicar... O conteúdo será sobre o crânio humano. Têmpora, maxilar, tudo.

-Ah, meu Deus. – Christopher bufou. Eu sei o quê ele quer, mas queria não saber. Vou ceder... Só por hoje, vou perguntar o que ele precisa.

-O quê?

-Eu não sei quase nada sobre essa matéria. Eu vou estar ferrado na prova.

-Você quer uma ajuda? Podemos estudar juntos, se você quiser.

-Se não for muito incômodo... – ele disse e eu dei um sorriso, negando com a cabeça – Tudo bem, obrigado. A prova é daqui duas semanas, então temos tempo. Uma semana antes da prova, ok?

-Ok. – sorri.

[...]

Já que hoje estou livre de fazer o trabalho, posso ir com Saphira e Lokine até o treino dos meninos. Saphira quem me convenceu, não queria ir. Não quero torcer para Pedro, Gabriel e Edward. Mas ao mesmo tempo quero passar mais tempo vendo Christopher, um pouquinho mais de tempo com ele. Eu gosto tanto dele, mas estou com tanto medo de me aproximar. Tenho medo do que Pedro e os outros meninos podem me fazer e fazer com ele.

A temperatura está nos matando, dez graus?! Todos levam seus casacos, moletons, qualquer blusa de frio. Christopher tem ido com um moletom num tom de azul bebê delicado. Chegamos à quadra e nos sentamos na terceira fileira da arquibancada. Dara já estava lá, junto com Oliver, Rafael, Guilhermo, Mara e outros alunos. Saphira levou um pacote de batatinhas para ela e para Dara.

-Obrigado. – Oliver disse, tentando pegar uma batatinha.

-Sai fora, é para Dara! – deu um tabefe no ombro do menino que deu risada – Estou brincando, pode pegar.

-Olhem, eles vão fazer um gol! – um aluno gritou de outra fileira. Agitamos-nos, torcendo por eles. Acho que era Christopher que estava fazendo o gol, então fiquei ainda mais feliz. É, Saphira e Lokine tinham razão, é divertido vir aqui às vezes.

O tempo passou e eu nem vi, o treino deles tinha acabado. Pulei para a cerca que divide a arquibancada e o campo, levando uma garrafa d’água para Christopher, pois ele havia me pedido.

-Ótimo jogo! – sorri para ele.

-Obrigado! Foi muito bom te ver aqui, então te agradeço duas vezes. – sorriu, bebendo água da garrafa.

Houve um pequeno tumulto de alunos comemorando, fazendo estratégias para a competição, porém logo a multidão se dissipou, só sobrando eu e Michael, que guardava as coisas que foram usadas, como a rede e a bola. Andei um pouco pela quadra e vi o moletom azul de Christopher em cima de uma das extremidades da cerca. Ah, droga, preciso correr se eu quiser alcançá-lo. E foi isso que fiz, mas percebi que ele já havia ido embora. E hoje é sexta-feira, para ajudar. Fui até a saída e encontrei meu pai no carro. Pulei dentro e perguntei se ele podia me levar até a casa dele, mas recebi um ‘não’. E agora, o que eu faço? Ele não atende minhas ligações e nem visualiza minhas mensagens. Tudo bem, relaxa. Ele não vai ficar maluco por causa disso. Eu posso entregá-lo segunda-feira.

E então chegamos em casa, fiz tudo que eu tinha que fazer, já eram onze da noite. Mas obviamente eu não consigo dormir. Encaro o moletom azul bebê em cima da cadeira do meu computador e tenho uma ideia. O visto. Sinto o cheirinho de Christopher ainda nele e com isso, consigo finalmente dormir.