A manhã na escola seguira como de costume. Um professor em pé ditando informações para cinquenta alunos sentados. Valentina falando com Leo para irritar Esmeralda. Isabella puxando a amiga para longe de confusão e "o namorado da amiga" com cara de paisagem. Nada que mereça narrações detalhadas. Como combinado na manhã anterior, os quatro passariam a tarde na casa dos irmãos. Isa dissera, apenas, que queria comer doces com a melhor amiga. No caminho de volta, começaram a discutir sobre o seminário de sociologia que teriam na semana seguinte. Leo, obviamente, fora encaixado no grupo dos três.
Ao chegarem a casa, Lilian não estava lá realmente. E também não deixara almoço pronto.
— Macarrão com carne crua? - perguntou Leo.
— Ainda bem que eu estou aqui. - Respondeu Mário. Se você for depender da comida da sua irmã, vai morrer de fome.
Os dois homens foram para a cozinha e começaram a abrir os armários, enquanto as meninas arrumavam a mesa. Leia-se arrumar a mesa como por o jogo de pratos , o copo no canto superior direito, o garfo do lado direito do prato e a faca do lado esquerdo, com a ponta virada para dentro.
Ao terminarem, as meninas foram tomar banho e colocar roupas largas, enquanto eles terminavam de por a jarra de suco de manga sobre a mesa.
— Enquanto a gente ralava, as madames foram tomar banho?
— Irmãozinho, tome banho depois do almoço.
— Quer que eu tenha um choque térmico?
— Vaso ruim não quebra.
— Mas pode rachar.
— Até parece que vocês gostam de banho. - Disse Isa.
Depois de um almoço regado de paz e harmonia, as meninas foram lavar a louça, já que eles haviam cozinhado.
— Você realmente acha que a Valentina está de olho no seu irmão?
— Dois pontos. Ela seria a primeira a ficar com o aluno novo/gato e ainda me atingiria como bônus. Então eu creio que sim.
— E aí?
— Não há nada que eu possa fazer caso ele decida ficar com ela, realmente. Que argumento eu teria?
— Que você a conhece melhor do que ele e está abrindo os olhos.
— Abrindo os meus olhos pra quê?
Leo entrara na cozinha secando os cabelos na toalha. O peito nu ainda brilhava.
— Parece que alguém não morreu.
— Acabei de chegar. Não vão se livrar de mim tão fácil.
Quando ele foi estender a toalha, Mário chegou com a sua amarrada na cintura, mas ficara presa num ganchinho da porta e caíra, fazendo Isa e Esmeralda arregalarem os olhos ao verem a sua... bermuda?
Mário gargalhava. "Vocês realmente acharam que eu sairia só de toalha?".
— De você, amor, eu não duvido nada.
— Vamos jogar ou não?
— Jogar o quê? - Pergunta Esmeralda.
— Opa. Acho que dei um spoiler.
Os quatro sentaram em círculo no chão da sala. Havia doze envelopes, cada um com um número, e dois dados.
— Leo chegou ontem, vocês dois ainda não se conhecem muito bem. Então eu, maravilhosa, resolvi ajudar.
— Obrigada?
— Ah, miga. Vai ser divertido. Joga os dados pra cima.
Esmeralda obedecera. O primeiro dado caiu com quatro pontos e o segundo com três. Isa pegou o envelope número sete e entregou para a amiga, que tirou o papel de dentro e leu a pergunta para Leo.
— Qual seu livro favorito?
— Harry Potter.
— Por isso interagiu tão bem com o professor ontem.
Ele sorrira. "E o seu?".
— Eu não sei.
— Como não sabe?
— Geralmente eu gosto do último que li. Está mais fresco na minha cabeça, então é o meu favorito até ler o próximo.
— Atualmente é Clarice, então?
— Sim. Embora eu não tenha entendido o final.
— Ninguém entende Clarice.
Esmeralda colocou o envelope de lado e Leo jogou os dados. Número oito. "Qual a data do seu aniversário?".
— Dois de novembro.
— Quinze de abril.
— Ai minha nossa. Você é o meu escravo astral.
— O quê?
— Áries é escravo astral de escorpião.
— Escorpião? Você ataca com o rabo?
— Às vezes.
Os dados foram jogados novamente por Esmeralda. Número três. "Alguém já descobriu alguma mentira sua?".
— Nunca.
— Duvido.
— Eu cresci com dezenas de outras crianças. Facilmente alguém levava a culpa no meu lugar.
— Que maldade.
— Sobrevivência.
— Você colocava sua culpa nos outros.
— A culpa é minha e eu coloco ela em quem eu quiser. Vai que alguém tentava colocar a culpa em mim, também.
— Você atacava primeiro para evitar ser atacado.
— Não tente usar Thomas Hobbes comigo.
— O homem é o lobo do homem.
— Eu não assinei nenhum contrato social. Talvez ainda seja um lobo.
— Vocês dois podem me explicar que maluquice é essa?
— Você saberia se prestasse atenção nas aulas de filosofia.
— Mas eu quero enfermagem. Tô nem ai pra esse Thomas.
— Joga os dados, Leo, antes que eu bata nela.
Número oito. Já foi. Ele repetiu a jogada. Número cinco. "Doce ou salgado?". Os dois responderam "doce" ao mesmo tempo e riram.
— Ei, moça. Você não respondeu a outra pergunta.
— Quê?
— Se faça de sonsa não. Já te pegaram na mentira?
O interfone tocou. Esmeralda atendeu e o porteiro disse que era Charles.
— Acabaram de pegar.
— Quem tá aí? - Isa perguntou.
— Charles.
— Ele disse que vinha?
— Ele perguntou o que eu ia fazer hoje e eu disse que ia sair com você.
— Por que você não me avisou? Postei um Snapchat seu.
— Eu esqueci.
— Quem é Charles? - Perguntara Leo, finalmente.
— Um rolo.
— Ah.
Esmeralda abrira a porta e um menino alto, de cabelo cortado nas laterais, mas sem moicano, entrara com três sacos de Finny.
— Parece que desistiram de sair.
— Bom. Ainda estou com a Isa.
Quando Charles fez menção de ir cumprimentar o casal, viu Leo sem camisa, segurando os dois dados.
— Ah! Desculpe. Eu não sabia que tinha mais alguém.
— O quê? Ah, não. Leandro é o meu irmão.
— Eu tenho cara de idiota, Esmeralda? Você é filha única. Eu não deveria ter vindo sem avisar.
— Quantas vezes eu vou ter de contar essa história que sou adotado? Esmeralda, quantas pessoas você conhece?
— Algumas. - Ela sorriu.
— Adotado? Certeza que vocês arrumam uma desculpa melhor.
Ela fechou a porta.
— É sério. Ele chegou ontem. Minha mãe adotou o Leo. Somos irmãos.
— Ah!
— Espero que a sua vontade de me espancar tenha passado. - Riu Leo.
— Eu não sou uma pessoa violenta.
— Seus pulsos ficam fechados tão rígidos assim mesmo?
Esmeralda sentara de volta e Charles a seguira. Colocara os doces no meio da rosa, enquanto ela jogava os dados. Número doze. Várias perguntas se seguiram. Descobriram a cor favorita, as fobias, os animais que seriam se pudessem, Marvel ou DC... Até que só restou o único envelope que nunca seria sorteado, uma vez que havia dois dados. O envelope número um. Leo pegara o papel de dentro e lera a pergunta.
— Qual sexo fora inesquecível?
— Eu faço dezessete anos daqui três meses. Quantas vezes você acha que eu transei?
— Só vou saber se você contar.
Isa estava contendo o riso. A cara de incredulidade do Charles era impagável. Ela sabia que a amiga só havia ficado com ele e, anteriormente, com o menino que tivera há primeira vez onze meses atrás numa viagem a Porto de Galinhas com a mãe. Escrevera a pergunta para ouvir a resposta de Leo. Crescera rodeados de adolescentes na mesma casa. Deve ter algo engraçado para contar. Esmeralda fulminava Isabella com os olhos.
— O primeiro.
Charles levantara e fora para a cozinha. Ao notar, ela continuou rapidamente.
— Por pior que tenha sido, foi a minha primeira experiência. Creio que terei setenta anos e ainda vou me lembrar do barulho do mar na janela da pousada.
— Que romântico.
— Foi com o garçom de lá.
— Você o viu de novo?
— Só na hora o chek-out. Ele estava encostado na porta me olhando ir embora com a minha mãe.
— Ah.
— E o seu?
— Na cozinha do orfanato com uma garota nova.
Esmeralda se engasgara com o Finny de morango que mastigava.
— Ela era linda, mas estávamos para ser adotados pela mesma família, então sob o medo de virarmos irmãos, paramos de ficar.
— O que aconteceu?
— Ela encontrou alguém. Eu fiquei sozinho.
Isa e Mário não notaram, mas Leo concluíra a frase olhando para Charles, que voltava para a sala com um copo d'água.
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