Era uma segunda, ou quinta, na verdade, não importava, o dia havia começado agitado, justo porque Lyanna havia esquecido de colocar o celular para despertar mais cedo, o resultado foi que acordou numa confusão de “que horas são?”, “onde estou?”, “quem sou eu?”, ou quase isso. Vestiu-se às pressas, mal engoliu o café da manhã e saiu, pegou um táxi e foi até um bairro nobre do Rio de Janeiro, no caminho, rezava para que o professor estivesse em casa, realmente era importante mostrar seus últimos escritos para ele, porque afinal, a universidade estava em greve, mas os estudos não. Estava teoricamente no sexto semestre do curso de Ciências Sociais e participava de um grupo de estudos orientado pelo professor Ulisses, que foi seu professor no primeiro semestre do curso e era seu orientador e quase guru também. Já tinha estado diversas vezes na casa do professor, que por ser boêmio, mantinha o hábito de convidar os amigos e alunos para constantes rodas de conversa, que poderia englobar os mais diversos temas, indo de filosofia á astrologia, sempre organizava saraus e nunca faltava vinho. Por mais familiarizada que estivesse com aquela casa, nunca deixava de se admirar com o tamanho da propriedade e o conforto que ela tinha por dentro. Quando finalmente chegou, pagou o táxi e dirigiu-se até a porta da casa, tocou a campainha que logo foi atendida pela empregada.
— Oi menina, entra.
— Oi.
Lyanna adentrou e a empregada fechou a porta, em seguida se afastou e ela ficou olhando sem entender nada, resolveu ir atrás dela.
— Tiana, espera, o professor...
Quando cruzava a sala viu que alguém descia as escadas, parou para ver imaginando que fosse o professor, mas para sua total surpresa, era outro homem. Ele desceu e a olhou, eles se encararam e Tiana voltou à sala.
— O senhor deseja tomar o café aqui dentro ou lá fora?
Ele virou-se para responder e quando sua boca se abriu, o belo sotaque português se fez ouvir.
— Lá fora, por favor.
Tiana assentiu e saiu, parecia ter esquecido que havia outra pessoa ali. Por falar em pessoa, Lyanna começava a achar que tinha entrado na casa errada, algo de errado não estava certo ali. Ele continuou a olhando e então sorriu.
— Bom dia.
— Bom dia. – ela demorou meio segundo para responder, mas conseguiu, e reparou que ele sorria, lembrou-se de fazer o mesmo. — É, eu, o professor Ulisses, está?
— Ah, não. Ele saiu.
Tiana voltou e avisou que tudo estava pronto lá fora, ele agradeceu e olhou para Lyanna que estava parada mordendo o lábio inferior numa tremenda confusão mental. Ele reparou que ela carregava vários livros nas mãos, percebeu também o quanto ela era bonita, mesmo sem usar quase nada de maquiagem. Sorriu para ela e chamou.
— Me acompanha?
— Han? – Lyanna surprendeu-se, afinal, como assim ele estava lhe convidando?
— O professor me avisou que você viria e pediu para lhe fazer sala.
Ela deixou a boca escancarar. Aquilo não podia ser real!
— Ele, pediu isso?
— Sim. – o homem sorriu mostrando a perfeição de seus dentes. Lya mordeu o lábio inferior pensando na insanidade daquilo que parecia estar acontecendo. Por fim, limitou-se a sorrir e a acompanhá-lo até o deck onde Tiana terminava de arrumar a mesa do café.
Sentaram-se e ele começou a se servir, Lya o olhava sem entender nada daquilo tudo, ele a olhou, sorriu e perguntou.
— Como se chama?
— Lyanna Sampaio. Mas pode me chamar de Lya. – ele sorriu e esticou o braço para cumprimentá-la.
— É um prazer. – ele voltou a se servir e pediu que ela se servisse também, ela aceitou afinal tinha comido apenas três bolachas e um copo de leite, tamanha foi a pressa com a qual saíra de casa. Enquanto comiam, ela o olhou e ergueu uma sobrancelha perguntando.
— E você, como se chama? – ele a olhou sorrindo, mas ao perceber que ela estava séria, ficou incrédulo.
— Sério?
— Sim. – ele bufou e sorriu.
— Era suposto que eu soubesse quem você é? – Lya perguntou.
— Ah, bem... Meu nome é Cristiano Ronaldo. Agora isso te diz alguma coisa?
— Hum hum. – ela balançou a cabeça negativamente enquanto mastigava uma torrada. Ele pareceu confuso por alguns segundo, depois desatou a rir.
— Sou jogador de futebol.
— Ah! Bem, não me diga que é um novo contratado do Flamengo?
— Não. Sou do Real Madrid.
— Ah. Olha, desculpa, é que eu não acompanho muito futebol. Era bem viciada quando criança, depois, acho que perdi um pouco do interesse. – ela deu de ombros. Ele sorriu compreensivo.
— Tudo bem. Então Lya,você é aluna do professor Ulisses?
— Já fui. Agora sou orientanda dele.
— Você parece ser muito estudiosa. – ele comentou apontando os livros que estavam na mesa.
— Eu tento.- eles sorriram.
— Onde o professor foi?
— Ele saiu com uns amigos que vieram comigo de Madrid. Eu estava um pouco cansado e quis ficar, então ele me falou que viria uma aluna e disse que ela era uma moça muito boa e me pediu para fazer um pouco de companhia a ela. – Lya corou sem saber ao certo o porque, enquanto ele lhe sorria.
— Então, ele chega logo?
— Sinceramente não sei. Ele apenas me pediu para fazer companhia, não disse se demoraria, mas arrisco dizer que não.
— Ah. – ela pareceu um pouco triste mas a verdade é que se sentia um pouco em pânico com aquela situação. Resolveu conversar para se acalmar.
— Eu sei que o professor tem muitos amigos, mas não sabia que isso incluía jogadores de futebol internacionais.
— Nos conhecemos há muito tempo. Eu sou natural da Ilha da Madeira, uma vez ele foi passar as férias lá e foi assim que minha família o conheceu. Gosto muito dele, Lya, o professor é um homem muito bom.
— É sim. Ele é maravilhoso. – eles sorriram e o português a observou longamente. Lya se remexeu na cadeira tentando controlar aquele sentimento que o olhar intenso dele lhe provocava.
— Você falou na Ilha da Madeira, aconteceu um enorme incêndio lá, recentemente né. Foi tão triste, um lugar tão lindo!
— Lá é lindo sim, um paraíso. Já esteve lá?
— Não, só conheço por fotos em revistas e na internet.
— Ah sim. Fiquei muito triste com o incêndio, tentei expressar minha solidariedade. – Na verdade, ele não quis comentar que havia enviado ajuda financeira para a região atingida.
— Espero que as pessoas possam recuperar tudo logo.
— Sim. – ele sorriu e voltou a olhá-la, Lya desviou o olhar e terminaram o café. Caminharam em volta da piscina e sentaram-se nas cadeiras que estavam na borda. Conversaram sobre algumas amenidades, sobre os saraus que o professor Ulisses preparava.
— Veio a passeio?
— Sim. Algumas semanas de descanso.
— Que bom!
— Que curso estuda, Lya?
— Ciências sociais.
— Você deve ser mesmo muito inteligente, linda, estou vendo que é e muito. – ela corou e o olhou sem saber o que falar, ele cheirava tão bem, não só o perfume, mas o cheiro da loção pós barba ou sabonete ou algum hidratante se fazia sentir mesmo a uma certa distância. E os olhos claros dele, dificilmente se afastavam dos dela. Ele era lindo e parecia ser muito agradável, não foi estranho que as horas passassem tão depressa enquanto ficaram ali conversando amenidades. Quando por fim, viu que já estava perto da hora do almoço e nada do professor, Lya anunciou que iria embora e começou a se comunicar pelo whatsapp com o serviço de táxi.
— Já está aqui na porta, o táxi. – anunciou depois de alguns minutos.
— Lyanna, o professor fará um jantar hoje à noite, em homenagem aos seus convidados. Gostaria muito que você viesse.
— Ah, eu não sei. Eu...
— O que foi? Tem algum compromisso?
— Na verdade não, é que... – ela estava em pânico, pois com certeza não teria uma roupa adequada. Suspirou e decidiu verbalizar sua aflição.
— É que eu não tenho certeza se tenho roupa para a ocasião.
— Não se preocupe, só estaremos nós aqui. Seria muito bom se você viesse. – ela não conseguia imaginar que diferença sua presença faria ali para ele, mas sorriu e disse que iria ver.
— Pode me dar seu número de telefone? O professor comentou que havia perdido alguns contatos... – ele sorriu e ela teve quase certeza de que não era verdade, mas não conseguia entender porque ele iria querer seu número, mesmo assim deu e ele anotou.
— Até às 21 horas.
— Não sei se venho...
— Esperarei que sim. – aproximou-se e deixou um beijo em sua bochecha, afastou-se um pouco e disse.
— Foi um prazer, Lyanna.
— Foi um prazer, Cristiano. - ela virou-se e foi embora, sem entender o que tinha acontecido ali.
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