História No Ritmo das Ondas (yaoi) - Capítulo 0 - Sexta-feira (19022016)

A música ressoava alto por todo o bairro, garantindo que qualquer morador das redondezas a conseguisse ouvir sem qualquer dificuldade, incomodando quaisquer vizinhos de sono leve que estivessem a tentar dormir aquela hora, não que isso tivesse muita importância. Os adolescentes, quando se querem divertir não se deixam impedir nem por vizinhos mal-humorados. Era uma sexta-feira à noite e ninguém estava com vontade de ficar em casa sozinho.

Dentro da casa número 74 da rua Sweet Chino na grandiosa cidade de Sweet Falls, aonde a nossa história acontece, a confusão estava instalada na forma mais agradável possível. Com muito barulho, sem controlo de adultos e com muita bebida.

Uma mistura de música pop com eletrônica saia pelas enormes colunas espalhadas pela casa, acompanhada de fortes luzes coloridas que piscavam e moviam-se de formas aleatórias iluminando as casas e ruas naquela noite escura. Embora na rua estivesse o típico frio de Fevereiro, dentro da casa reinava o calor proveniente dos adolescentes que saltavam e abalançavam o corpo numa suposta dança (que muitas vezes parecia tudo menos uma dança), libertando o tão conhecido calor humano junto daquele cheirinho de suor abafado pelo cheiro a álcool, perfumes e colónias que se misturavam ali numa essência que fazia qualquer um dos presentes agradecer o facto de já ter bebido o suficiente para o ignorar.

Balcões, mesas, cadeiras, parapeitos de janelas, sofás, chão, havia jovens espalhadas por todo o lado, até mesmo uma rapariga sentada em cima de uma televisão das antigas que havia naquela casa, havia coisas partidas, lixo espalhado, bocados de bebidas e inclusive, num dos cantos, alguns adolescentes tentavam limpar e abafar o vômito de algum outro que havia bebido demais.

Em suma, nada de novo, apenas mais uma típica festa para aliviar o stress da semana e das aulas. Com um copo na mão, Alexy, o nosso protagonista de cabelos azuis por altura dos ombros e roupa colorida,  passava pelos casais que se "comiam" no meio dos corredores, sem se preocuparem com a falta de privacidade, tentando não chocar contra ninguém e afastando-se do grupo de pessoas que dançavam feitos loucos, regressando ao sofá aonde uma rapariga de cabelos castanhos avermelhados e óculos abanava os braços e cantava a música que dava com a sua voz desafinada e alegre. Alexy aproximou-se, tapando-lhe a boca e sentando-se ao seu lado de ar entediado.

-Ash, vê se-te acalmas, não quero ter que pagar pelos vidros partidos.

-Que cruel Lex! Nem me posso divertir! Vá lá, esta é a única música minimamente decente que eles puseram até agora! - A rapariga protestou, fazendo um bico com os lábios e deixando-se escorrer pelo sofá e colocar os pés no colo do rapaz. - Onde esta a Bia?

-Ficou na casa de banho.

-Deixaste-a lá sozinha?

-Tenho cara de quem iria gostar de a ver vomitar por ai?

-O Armin ficou com ela?

-Não, virou-lhe costas e foi ter com a Irís depois da Bia de ter roçado nele. Ela ficou destroçada.

-Toma, cabra! Para aprenderes a não te meteres com o que é meu!! - A rapariga proclamou para o ar, numa atitude animada, pegando no copo de Alexy e dando um golo na bebida.

-Quantos copos já bebeste? - Alexy perguntou, tirando-lhe o copo da mão e dando um golo na bebida que era nada mais nada menos que cerveja. Alexy não bebia demasiado a maior parte das vezes, especialmente porque Ash costumava exagerar e algum deles tinha que levar o outro para casa. Assim, Alexy ficava com a sua adorada cerveja e Ashley provava as esquisitas misturas de bebidas alcoólicas que alguns iam fazendo. Não resistia em provar uma dessas "bombas" de álcool.

-Uns... Três,... Quatro copos? E mais umas coisas quaisquer que me deram a provar. - É, ela já não estava em si. Alexy sorriu, ajeitando os cabelos azuis que lhe iam para a frente dos olhos rosados e olhou em volta.

-Não falta aqui alguém?

-Ele foi buscar mais bebidas. - Ashley comentou soltando risinhos baixos e animados, de uma forma um tanto infantil.

-Não devias beber mais.

-Provavelmente não. Mas hoje é dia para celebrar.

-Sorte a minha que não sou eu quem te vai levar a casa. Dispenso o meu carro a cheirar a vomito outra vez. - Alexy comentou fazendo uma careta de nojo e levando um pequeno murro de Ashley.

-És mesmo cruel para mim. Nem sei como és o meu melhor amigo!

-Pergunta óbvia, não? - Alexy comentou, aproximando-se lentamente do rosto de Ash que o olhava sorridente sem se desviar. - Eu sou divo! - Beija a bochecha dela e afasta-se de novo a rir.

- Mas aconselho-te a ires andando. As casas de banho estão imundas e os quartos completamente ocupados. A não ser que o queiras fazer no meio de vômito ou junto de outras pessoas. Nesse caso, as casas de banhos e os quartos são os locais perfeitos.

-Dispenso! - Ashley ri, levantando-se numa questão de segundos e beijando a ponta do nariz de Alexy. - Vou procura-lo. Vais para casa?

-Vou procurar o Armin e depois vou.

-Então amanhã falamos. - Ajeita os óculos e acena em despedida, misturando-se com o grupo de pessoas que dançava e andavam de um lado para o outro.

-Não te esqueças do preservativo! - Gritou ao ver a amiga desaparecer entre o grupo se pessoas, vendo-a mostrar-lhe o dedo do meio antes de desaparecer totalmente.

Alexy riu e afundou-se no sofá. Tinha três andares apinhados de pessoa por onde procurar o irmão. Isto que ele não estivesse num quarto com alguma rapariga. Bufou em frustração, divo ou não, a preguiça de procurar o irmão era muita, apenas queria ir para o carro e sair dali, deixando o gémeos para trás, mas aparecer em casa sem o irmão seria igual a levar um sermão de fosse descoberto. Não valia a pena arriscar. Às vezes apetecia-lhe ser filho único. Era um trabalho a menos

Obrigou-se a levantar-se do sofá para iniciar a sua longa busca pelos andares em festa. Rezava mentalmente para que o encontrasse rapidamente, não lhe apetecia ficar ali a olhar o nada. Sem Ash ao seu lado, as festas perdiam o seu encanto. A não ser, claro, que ele estivesse um pouco bêbado, o que não era o caso. Pegou no seu copo, acabando de beber a cerveja de uma vez e voltou a afastar-se dos que dançavam e a passar pelos corredores cheios de casais. Evitou olhar para eles. Não achava propriamente divertido ficar a olhar aquele tipo de coisas. Se quisesse assistir a isso, compraria porno.

Procurou por todo o primeiro andar sem ver em lado nenhum um rapaz de cabelos negros e olhos azuis-claros e de rosto e estrutura física igualzinha à sua. Havia até regressado à casa de banho aonde deixara a Bia a vomitar. Já nem ela ali estava mas o cheiro era completamente insuportável, pelo que Alexy não ficou ali muito tempo.

Dirigiu-se ao segundo andar, pondo-se à escuta em algumas portas. Desejava não ter que abrir alguma dessas portas e ter que ver cenas que dispensava muito bem ver. Pegou no telemóvel, ligando ao irmão, rezando para que, por algum milagre, por baixo de toda aquela música, o irmão conseguisse ouvir o telemóvel e atendesse. Claro que o mundo não é uma máquina de desejos. Suspirou numa momentânea depressão, certo que teria que o procurar nos quartos. Fez uma cara de desgosto. Ver uma rapariga e um rapaz a fazerem sexo era a última coisa que desejava.

Segurou a maçaneta da porta mais perto de si, respirando fundo e desejando mentalmente para que não visse nenhuma cena traumatizante. Girou a maçaneta e abriu um pouco a porta olhando para dentro. Deixou os olhos passarem pelo quarto. As luzes estavam apagadas pelo que a luminosidade vinha da janela e agora pela porta pelo que Alexy não pode distinguir muita coisa. Mesmo assim foi capaz de avistar dois corpos sobrepostos em cima da cama junto à parede. Conseguiu distinguir bem duas coisas. Armin não estava ali. E nenhum dos corpos pertencia ao de uma mulher. Aquilo que viu fê-lo corar completamente.

Deitados sobre uma cama estavam dois rapazes, um de cabelos claros, provavelmente prateados, pareciam brilhar com a luz. A pele também era clara e tinha um corpo delicado e magro livre de quaisquer roupas. Pela sua boca escapavam suaves gemidos que de forma sensual provocavam o rapaz por cima deste. Também este possuía cabelos claros, mas a pele era mais escura. Alexy não conseguia ver muito mais deste que não fosse o seu corpo nu, muito bem definido, que reluzia levemente com a luz proveniente da janela.

Alexy deixou-se observar por longos segundos, paralisado no mesmo lugar, enquanto observava, de olhos abertos de surpresa e talvez até certa vergonha, o rapaz de pele mais escura penetrar com um membro bem ereto o rapaz de pele mais clara fazendo com que este último soltasse um suspiro mais alto que pareceu agradar ao outro e virar o rosto para a porta do quarto... Por onde Alexy os observava. Foi uma questão de segundos até que ambos se apercebessem da sua presença e o olhassem. A reação de Alexy foi épica. De rosto totalmente vermelho, fechou a porta com força, provocando barulho suficiente para que algumas pessoas que passavam por ali o olhassem, tentando descobrir o que se passara, mas apenas se deparando com uma porta de um quarto e o lugar vazio onde outra hora Alexys estava.

O rapaz agora corria apressado por entre as pessoas, de volta ao primeiro andar, desejando nunca ter aberto a porta daquele quarto. Que erro fora. E ainda por cima fora apanhado a observar!! O que as pessoas iriam pensar dele? Certamente achá-lo-iam o pervertido que ele não era. Aonde estava Ash quando ele precisava dela.

-Alexy! Por onde te metes-te? - Armin aparece de repente, segurando-lhe no braço e deparando-se com um irmão corado e com a respiração acelerada. Armin, de cabelos negros, olhos azuis-claros e estrutura física igual à de Alexy, sorriu maroto, observando ainda mais atentamente o irmão. - Ihihih, olhem me só o maroto! - Proclamou no meio de pequenas gargalhadas, aproximando-se do rosto de Alexy, o suficiente para lhe segredar ao ouvido. Cheirava a álcool e a vômito, o que não era uma mistura agradável, provocando uma careta em Alexy enquanto escutava as palavras do irmão. - Sabes, não é muito aconselhável andares por ai pelo meio das pessoas com uma ereção entre as pernas.

Alexy corou novamente, quase que imediato, baixando o rosto e segurando o braço de Armin, puxando-o.

- E-ei!!! Para onde vamos??

-Para casa.

-Mas a festa ainda agora começou!

-Não importa!

Armin ainda soltou uns resmungos, mas cedeu facilmente, acompanhando o irmão sem oferecer qualquer resistência. Até porque, como gémeo de Alexy, ele foi capaz de pressentir o quão desejoso este estava por ir embora. Envolveu o irmão com um braço com cima dos ombros, puxando-o para si com um sorriso no rosto enquanto saiam da casa em direção ao carro.

-És o melhor irmão do mundo, sabias Lex?

-Eu não vou nem dar-te banho nem lavar as tuas roupas por ti. Para a próxima não fiques bêbado.

-Não estou bêbado!!!

-Então repete: "um tigre, dois tigres, três tigres, tragam uma taça de trigo".

Armin abriu a porta do carro, tentando pensar sem muito sucesso no que Alexy dissera. - Isso não vale, sabes que sou horrível com essas brincadeiras.

-Não te vou ajudar na mesma.

No final, quando chegaram a casa, Alexy ajudou Armin a tomar o banho e ir para a cama antes que este fizesse alguma asneira ou demasiado barulho e acordasse os pais de ambos. Deitou-se pouco depois, feliz por estar demasiado cansado para pensar no que quer que fosse.