História Noah? - Capítulo 10

Capítulo 10

[Allen]

O primeiro a sair sou eu, e logo em seguida as outras duas vem atrás de mim. Ela se surpreendem ao ver onde estávamos, pois nunca haviam visto tal cômodo da Arca.

Estávamos na sala do Neah, ou no caso o Músico, que seria eu. Continuava igual desde quando ele morreu, pois não mexi em nada além do piano. Ele diz que posso deixá-la da maneira que quiser, pois agora é minha, mas prefiro não mudar nada, está bom assim. Tão branco quanto meu quarto, o que me fez pensar o motivo de Neah gostar tanto dessa cor.

Suspiro me jogando no sofá, e me afundando no mesmo. Logo vejo as outras duas se aproximarem mais, observando admiradas o local. Até mesmo Lulubell estava um pouco surpresa com aquilo, achava que conhecia completamente a Arca, tanto a nova quanto a antiga, que era onde estávamos. É, parece que ela estava totalmente enganada, essa sala é especial e completamente diferente das outras. Além de que sozinho, um humano jamais conseguiria entrar. Na verdade, apenas eu conseguia abrir a porta para tal sala.

- Nem o próprio Conde tem conhecimento desse local. – digo e vejo Road me encarar incrédula.

- Você não contou pra ele?! – ela pergunta surpresa. Ela sabia que eu confiava no mesmo e nunca mantinha nenhum segredo. Até agora.

- Na verdade, confesso que até esqueci-me dela... sorte que consegui me lembrar a tempo de nos trazer aqui... – respondo fechando os olhos, aproveitando o sofá confortável. Sinto o olhar de Road em mim, mas ignoro, até que ela dá de ombros e se deita no sofá, com a cabeça em meu colo, olhando melhor todo o lugar. Até que vê o piano. Noto sua surpresa de imediato.

- Um... piano?! Tinha um piano aqui?! – ela definitivamente não esperava por isso, ao que parece.

- Sim... do Neah. – respondo sem me importar muito. – Nunca usei muito... só uma vez ou outra, mas apenas para tocar normalmente, para espantar o tédio.

- Você sabe que... consegue controlar a Arca se tiver um piano e a melodia da música, assim como conseguir tocá-la, não sabe? – ela realmente estava preocupada com aquilo?

- Sim. Eu sei, e também sei que não é qualquer um e que apenas precisa saber a música e saber tocar, apenas eu e o Conde conseguimos. – respondo simples, finalmente abrindo meus olhos, vendo que ela me olhava curiosamente. Procuro Lulubell pela sala e vejo ela perto do piano, o avaliando calmamente. – Sabe tocar?

Ela me olha e nega com a cabeça. Sorrio gentilmente e me levanto, fazendo Road reclamar disso, já que para ela estava ótimo daquela forma. Me aproximo mais tanto de Lulubell quanto do piano, e sinto uma grande nostalgia ao vê-lo. Toco-o carinhosamente com um sorriso nada discreto no rosto, feliz por vê-lo finalmente. Amava todo e qualquer piano, ou instrumento aleatório, mas aquele era especial para mim. Era único, e eu realmente gostava e muito dele. Tocá-lo era uma sensação maravilhosa.

- Quer que eu lhe ensine? – pergunto. – Você também, Road.

- Siiim!! – ela responde de imediato animada, e Lulubell também assente com a cabeça.

- Nesse caso, quando acabarmos essa missão, voltaremos frequentemente aqui para que vocês aprendam. – digo sorrindo calorosamente, vendo Road sorrir contente e me abraçar, dessa vez, normalmente. Retribuo o abraço ainda sem desfazer meu sorriso, feliz. Eu certamente, amava e muito, a minha família... podiam até serem estranhos, sádicos e assustadores as vezes, mas sabiam ser gentis, legais e carinhosos outras. Os amava mais do que qualquer outra coisa que possa existir. Eram tudo para mim. Sempre foram, e sempre serão. Simples assim.

- Estou esperando ansiosamente! – diz Road animada.

- Ótimo, será divertido! Mas agora, temos que nos concentrar em nossa missão. Vou nos levar até perto do hotel, onde iremos voltar para o nosso quarto e iremos dormir. Amanhã mesmo vou procurar falar com o William, o mais cedo possível, antes que os Exorcistas tenham essa mesma ideia. Por mais que tenho certeza quase absoluta de que agora que sabem o que é a Inocência, e que eu conseguiria tocá-la, irão se preocupar em protegê-la. Iremos fazer eles agirem assim. Pressionaremos eles ao máximo, para que não fiquem confiantes ao ponto de terem coragem de sair daquele lugar. Fazê-los acharem que não é seguro deixar apenas um, ou dois cuidando da harpa enquanto os outros procuram o usuário. – digo-lhes adquirindo uma postura séria, mas logo fico com um enorme e cruel sorriso. – Vamos prender todos eles dentro daquela sala, e então conseguiremos eliminá-los sem nenhum problema, com isso ficando extremamente fácil de destruir a Inocência!

Vejo Road sorrir travessa enquanto Lulubell apenas assente com a cabeça, aprovando o plano, e isso me deixa satisfeito. Era uma boa estratégia, pois não teríamos chance nenhuma de falhar, em outras palavras, nós destruiríamos essa Inocência, de uma forma ou de outra. A missão, já tinha sido cumprida antes mesmo de seu fim. E obviamente, o lado vencedor não era ninguém mais ninguém menos do que o do Conde. O dos Noah’s. A Ordem iria perder aquela guerra, não importa o quanto se esforcem, o final da batalha já está decidido, e iria ser bom... para nós, é claro. Para os Exorcistas, e demais membros da Ordem Negra, seria horrível. O mundo iria se despedaçar, lentamente. E apenas nós, do lado vencedor, não pereceríamos. Confesso que estava deveras ansioso para isso acontecer. Sabia que isso não iria demorar, a guerra não demoraria a começar para valer. E mal podia esperar para isso acontecer, e sairmos vencedores, para podermos nos juntar todos na mesa e jantar mais uma vez, uma grande refeição, conversando, brincando e rindo, como nunca.

Fecho os olhos e concentro-me em apenas um pensamento simples, mas que nos ajudaria a voltar para o hotel.

“Hotel Queens. Brighton, Inglaterra.”

Vejo uma porta toda branca materializar-se bem na minha frente, surpreendendo as outras duas que me olhavam curiosas. Sorrio e abro a porta, mostrando a rua movimentada da cidade. Entro sendo seguido por elas duas, que estavam admiradas com aquilo, já que era ainda mais útil do que a habilidade de Road, mesmo as duas sendo inegavelmente semelhantes, a minha tinha um maior alcance, podendo cruzar o mundo inteiro apenas atravessando uma porta, já o maior alcance do dela era de um continente.

Assim que saio agora na rua, as outras duas Noah’s logo vem atrás, e ao saírem, Lulubell fecha a porta com cuidado, vendo ela se desmaterializar assim que fechada. Ponho novamente meu capuz, que havia caído quando me joguei no sofá, e começo a caminhar em direção ao hotel, que estava logo do outro lado da rua. Olho para todas as direções, vendo se conseguia encontrar algum Akuma por aí, e por sorte, vejo um que tinha como forma humana uma criança. Uma criança pequena, de uns 7 anos de idade. Fico um pouco triste em pensar que uma mera criança havia perdido alguém extremamente importante para si, e com isso virou um Akuma. Mas ignoro aquele sentimento, precisava do auxílio do Akuma no momento.

“Akuma.” – chamo e vejo que ele ouviu, já que pareceu se surpreender, e logo virou-se em minha direção, com uma pequena reverência de respeito. Apenas ignorei isso e me preocupei em falar com ele.

“Preciso de seus serviços.” – prossigo e ele me olha curioso.

“O que gostaria, Mestre Noah?” – ouço na minha mente.

“Quero que você vá até o bairro amaldiçoado, como é conhecido, e que vá até a Igreja, a única do local. Lá você encontrará três Exorcistas e talvez alguns Finders. O meu pedido é que você os vigie, me passando todas as informações. Porém tome cuidado, um deles, os dois, ou os três, não tenho certeza, têm o poder no nível de um General. Por isso mesmo quero que faça isso com o maior cuidado possível. Entendeu?” – pergunto. Sorte que era um Nível 4. Acho que o Conde previu que poderíamos precisar, pois é raro encontrar algum deles por aí sem motivo nenhum.

“Como quiser, Mestre Noah.” – ele responde e sorrio com isso.

“Obrigado, Akuma.” – agradeço feliz. Aquilo ajudaria e muito.

“Apenas seguindo ordens, senhor.” – ele responde com outra reverência, antes de sumir, indo em direção aonde pedi.

- A-ah... me desculpem, estava falando com um Akuma... – digo ao ver que as duas me olhavam confusas, e então Road sorri, orgulhosa.

- Hee, então você já aprendeu a comandar Akuma? – ela pergunta.

- À um tempo, na verdade... tive muito tempo para praticar. – respondo dando de ombros. – Vamos.

Volto a andar tranquilamente, sendo seguido pelas outras duas, que agora nem mais se preocupavam em esconder seus rostos. Apenas eu, que como não tinha sido visto, tinha minha identidade desconhecida pelos Exorcistas.

Assim que alcançamos o hotel, entro sem nenhuma cerimônia, e vejo a recepcionista sorrir em minha direção, educada. Sorrio também e aceno com a cabeça, vendo ela assentir logo em seguida. Logo entro no elevador, junto às outras duas, que me seguem. Não demora muito para chegarmos ao nosso quarto, o qual eu tranco com a chave, me certificando de fechar tanto as janelas quanto as cortinas, deixando apenas a luz artificial iluminar o cômodo.

Mesmo tendo fechado, como havia visto o céu antes disso, sabia que estava anoitecendo, então aproveito para me jogar na minha cama, enquanto observo as outras duas se organizarem pouco antes de também se deitarem, cada uma em sua cama. E, a última coisa que consigo ver, é Lulubell se deitando lentamente, até perder completamente minha consciência.