Era oficialmente um mendigo.
Não, Yamaguchi não tinha mais casa - alem das ruas, guetos e pontes servindo como teto. Já fazia um certo tempo, não contava muito bem as datas por passar o dia dormindo e a noite acordado. Entretanto, os pelos faciais e seu cabelo tinham crescido consideravelmente. Não que ele se importava com aquilo no momento.
Havia confessado aos seus pais que é gay. Gay da pontinha dos pés a cabeça. Gay em cada célula em seu corpo. Descobriu isso depois de anos achando estranho a sensação de indiferença em relação as meninas. Não se sentia nervoso perto delas, não sentia desejo, não imaginava como ficavam sem roupas, não achava o sorriso delas de tirar o fôlego. Não sentia nada.
Era seu aniversario de 18 anos em que revelou a verdade. Pensou que no seu aniversario, seus pais não tomariam medidas drásticas. Estava enganado. Cortou um pedaço de bolo - o primeiro foi para os pais -, abriu alguns presentes e deu um abraço em todos que compareceram a festa. Quando todos foram embora, ele desabafou.
"Pai, mãe, sou gay". E fechou os olhos esperando gritos. Ouviu um estalo e seu rosto começou a arder, já esperando os gritos que ainda não haviam aparecido. Ouviu um soluço. Sua mãe chorava e ao abrir os olhos, se deparou com o pai o olhando decepcionado, como se tivesse criado algum tipo de monstro.
"Pegue suas coisas e vá viver sua imundice em outro lugar". A voz do seu pai estava rouca, segurando o choro que Yamaguchi sabia que estava preso.
O moreno assentiu sem dizer uma palavra. Foi ao seu quarto, desorientado, e juntou as coisas mais importantes e jogou na mochila. Não hesitou em pegar o violão e saiu em passos curtos da casa, sem antes olhar para trás para ver a porta da sua (antiga) casa fechando-se pra si.
E agora estava na rua com seu violão, sendo iluminado pela lua, algumas estrelas e a iluminação da cidade urbana. Tocava Nobody's Home com uma latinha de ervilhas vazia ao lado, contendo algumas moedinhas.
Não que ele esperasse receber mais dinheiro a essa horas, oras, já passava da meia noite. No entanto, tocar era a sua única salvação no momento, a única coisa que o mantinha são, o que o impedia de cometer alguma loucura.
Não percebeu quando uma pessoa aproximou-se de si e sentou-se ao seu lado. Assustou-se por um instante com o movimento repentino, porém, não parou de tocar.
O moreno viu uma mão incrivelmente branca o estendendo algo. Olhou para a pessoa que parecia-lhe um jovem e provavelmente loiro, já que seus cabelos eram incrivelmente claros. Com a sua mão, ele segurava um copo de um café ali do bairro.
Pensou se deveria ou não aceitar a oferta do estranho. Bem, o que mais eu posso perder?, pensou.
Parou de tocar e aceitou a oferta. Lentamente, levou a bebida a boca e surpreendeu-se ao perceber que a bebida estava quente. Ele fez isso agora?, questionou-se. Bebeu o achocolatado quente e sentiu vontade de resmungar. Doce demais, pensou.
Não percebeu o leve sorriso que formou nos cantos de seus lábios. O achocolatado estava quente - esquentando todo seu corpo e sua fé. Tinha gosto de algo carinhoso, feito especialmente pra confortar. E se era essa a intenção do loiro ao seu lado, ele tinha conseguido.
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