História Norton - Revelações

Ela acordou. A visão estava embaçada enquanto tentava identificar que lugar era aquele. Uma lâmpada de luz amarela estava acesa, o ambiente parecia um quarto com as paredes já gastas pelos anos. 

Em meio à penumbra, enxergou a silhueta de uma pessoa e tentava reconhecer, foi então que percebeu sua condição: amarrada com cordas grossas a uma cadeira. Resolve então sair da sombra a tal figura humana: era Lola Sena. Não disse nada. Tragava um cigarro enquanto os olhos frios permaneciam pousados sobre Helena e esta falou com voz fraca:

- Lola... Lola é você? Está tudo bem? Por que eu estou amarrada? Pode me tirar daqui?

- É claro! Mas antes – P03 caminhou em direção à sua amiga e deu um forte tapa em seu rosto – Aah! Agora sim. Me sinto bem melhor. 

- Mas o que deu em você? Por quê me bat... – antes que terminasse de falar recebeu outro tapa.   

- Cala essa boca. Não deixei você falar. – com um meio sorriso continuou – você deve estar se perguntando por que tudo isso não é? – puxou os cabelos de Helena pra trás – Nós temos muito o que conversar, vou sentar aqui com você e te contar muitas historinhas. Garanto que vão doer mais que os tapas que te dei.

- Mas o que foi? Usou alguma droga? Quem é você? Cadê a Lola? Minha melhor amiga que eu conheço a tantos anos. 
Recebeu outro tapa. 

- Cala essa boca. Lave a boca para falar o meu nome e mesmo assim não deve, sua ordinária. Relaxa, vamos ter muito tempo para conversar.

Tragou o cigarro e soltou a fumaça no rosto de Helena fazendo – a tossir.

- Por que Lola? Quem é você afinal? Mas que droga! Eu estava cercada por cobras esse tempo todo e não percebi? Não é possível. Diz que é mentira, Lola. – dizia com lágrimas nos olhos.    
Ouviu uma risada maligna. 

- Aí, Helena como você me diverte. Mas sabe, vou te dar um tempo para pensar. Não, na verdade não. Você não tem capacidade para usar o cérebro direito. Vou te dar essa informação exclusiva. 

- Não enrola, garota. O que quer que seja fala de uma vez! Eu não agüento mais não saber das coisas. Eu sempre fiz as coisas direito. Por que eu? – dizia chorando. 

- Não se faz de vítima, sua idiota! – gritou - Escuta a historinha! Preste atenção. Sabe Helena, pode não parecer agora, mas eu gosto muito de você entende? Tanto que... – ficou com o rosto bem próximo ao da agente N01 olhando em seus bem em seus olhos – tanto que eu mandava alguém na sua casa apenas para arrumá-la e deixava um recado para você, tanto que a deixei sem armas no meio da floresta só para você provar sua força. 

Os olhos de Helena se abriram assustados enquanto Lola continuava agora rindo: 

- Ah como é ótimo ver sua reação, Helena Mendes. Você nem reparou em mim não é? Nem quando eu tentei te ajudar a conquistar o Rodrigo. Que absurdo. Ainda por cima, você foi muito mal educada amassando meu último bilhete tão bem escrito, entregue em um... envelope... preto. 

- SUA DESGRAÇADA! – gritou N01 agitada na cadeira – VOCÊ ME TRAIU, SUA MALDITA! COMO TEVE CORAGEM? COMO? VAI SE ARREPENDER, LOLA SENA. JURO QUE VAI! EU NÃO VOU DEIXAR BARATO. 

Levou dois socos no rosto, um no estômago, seguido de um chute na altura do peito que a fez cair junto com a cadeira. 

- Tá revoltada, Helena? Como se sente? Olha aqui, olha bem pra mim – forçou-a a olhar pegando em seu queixo – Como se sente nas mãos da pessoa que mais te odeia? Ah, é! Me desculpa, você não sabia certo? Até ontem, eu era sua melhor amiga! Que situação. não? - dizia irônica.  

- Me diz por que? Eu tenho direito de saber. 

- Huum. Vai saber na hora certa. Por enquanto, durma.

Recebeu um soco no queixo e desmaiou.  

Acordou horas depois. Olhou para o teto. Ainda estava no mesmo quarto. Queria que tudo aquilo não passasse de um pesadelo, uma ilusão criada por sua mente e que logo iria acabar. Olhou para frente e viu quem não gostaria: Lola Sena comendo um hamburger, com expressão indiferente. Ambas se encaravam: 

- O que foi? Admirando minha beleza? - disse P03

- Não. Apenas sua cara de pau que não vai te levar a lugar nenhum. 

- Que interesante. - mordeu seu lanche - Não quero saber o que uma idiota como você pensa.

- O que você quer de mim? 

- Não quero saber nada de você. Só quero sair daqui e dar um belo soco na sua cara. 

- Você sempre foi abusada. Mas aqui vai fazer as coisas querendo ou não. E não vai escapar tão facilmente. - falava P03 com uma tranquilidade assustadora. 

- Você deve saber muito bem que quando eu coloco algo na cabeça dificilmente alguém consegue tirar, não é? 

- Tá. Agora cala a boca e escuta. - pegou uma cadeira e sentou-se de frente, bem perto de N01. - Primeiro: Eu sou a chefe da Norton. 

Helena ficou boquiaberta, desacreditada no acabara de ouvir, então retrucou: 

- Mentira. A Norton jamais seria comandada por alguém como você. 

- É, você tem razão. Antes, não era eu. Mas agora, acredite ou não, eu comando isso aqui! Agora eu tenho uma charada para você. Adivinha quem é foi o criador e chefe da Norton todo esse tempo? 

- Não faço ideia e nem quero saber. 

- Ora, não se faça difícil. Você sempre tece curiosidade de saber. Vamos Helena! Estou te uma informação única. 

- Ah - suspirou Helena - Quem é? Fala de uma vez! 

Lola aproximou-se do ouvido de Helena e sussurrou: 

- Seu avô. 

A agente N01 ficou sem reação.