Helena Mendes e Lola Sena agora estavam no avião indo para Belo Horizonte, era o vôo das cinco da manhã e a viagem iria durar pouco mais de uma hora. Ambas estavam cansadas, mal dormiram, chegaram ao hotel e cochilaram por pouco tempo, pois logo estariam prontas a partir para o aeroporto. O agente A00 foi quem as levou e o mesmo ficou com o dinheiro que seria repassado para Norton, cujo uso era destinado a ajudar projetos sociais e auxiliar na manutenção dos equipamentos, pelo menos era isso que diziam.
Recostadas naquelas poltronas, as duas amigas faziam coisas diferentes: Lola dormia profundamente e falava coisas engraçadas durante o sono, já Helena lia tranquilamente um livro, preocupada com algumas coisas de seu trabalho e refletindo sobre a frase da noite anterior que a deixou um pouco instável, procurava um por que. Logo a aeronave começou a descer, BH as esperava.
No saguão do aeroporto Tancredo Neves, as amigas caminhavam em direção à saída e foram pegar o táxi, era hora da despedida:
- É, nós conseguimos mais uma vez não foi? – disse Helena com olhar sereno
- É, conseguimos quase tudo, eu ainda preciso dormir. – respondeu Lola.
-Mas você dormiu praticamente a viagem toda.
- Só uma hora e meia. Isso não é suficiente. Preciso de no mínimo oito horas de sono, para não dizer doze.
Helena ria enquanto entrava no carro, cuja a porta Lola fechou ficando do lado de fora e conversaram pela janela do veículo:
- Precisamos estar no escritório à tarde. Não vá se ausentar.
-Eu estarei lá. Morrendo, mas vou. – disse Lola sorrindo.
-Então, até logo. – despediu-se Helena.
- Até. – E o táxi partiu, deixando Lola para trás à procura de outro que a levasse para casa, pois elas moravam em lados opostos da cidade.
Às 13:00, a agente da Norton N01 se encontrava no elevador que tinha como destino o terceiro andar do prédio em que trabalhava. Chegou com meia hora de antecedência porque ficou entediada em seu apartamento, ainda mais por não conseguir dormir direito.
“Queria ter o sono pesado como você, Lola.”- pensou ela.
As portas do elevador se abriram, permitindo que a moça percorresse o corredor à sua frente, o qual possuía diversas salas nos dois lados, uma delas pertencia ao chefe daquele departamento e de lá, com um sorriso amargo, saiu Lola andando em direção a sua companheira Helena chegando próximo a ela, quando mudou sua expressão facial para irritadiça e começou a falar:
- Como eu odeio esse cara, você não tem noção do quanto odeio.
- Calma. O que houve? – Disse Helena tentando conter a risada daquela reação.
- Ele me deu mais trabalho. Mais, Helena! Uma montanha de papelada para revisar. Antes de irmos para São Paulo, não estava assim.
- Ele é o chefe, moça. E, aliás, o trabalho é para nós duas, você não vai fazer sozinha, então vamos trabalhar.
Voltaram a caminhar rumando agora para o escritório que dividiam. Lola ainda continuava reclamando:
- A Norton bem que podia pagar a gente. Nós arriscamos a vida para desmanchar os tais esquemas e...
- Fala baixo, Lola. – foi repreendida por Helena – Quer que descubram a gente?
- Ei, calma garota. Só estou comentando. A organização sempre fica com a grana das negociações, é muito dinheiro, bem que podiam dar um pouquinho para os agentes, falam que é para projetos sociais mais eu não sei não.
- Concordo. Também queria ganhar uma graninha, mas você tem precisa lembrar que todos aqueles equipamentos não caíram do céu. E eles fazem as doações sim, fiz a Senhora Sales realizar uma na minha frente uma vez e o dinheiro não foi desviado.
Chegaram ao local de trabalho, era a última porta à esquerda, entraram e se acomodaram. Cada uma tinha uma escrivaninha, colocadas uma de frente para a outra. O diálogo continuou:
- E você confiou na Senhora Sales? – indagou Lola já lidando com os papéis.
- Claro. Eu trabalho com ela por que não confiaria? Nós ajudamos pessoas, talvez não da forma mais correta, mas de algum jeito, ajudamos.
- Eu sei.
- Às vezes me pergunto por que entrou na Norton.
Neste momento, a agente P03 ficou pensativa, sua mente viajou para longe como se estivesse em outro lugar, porém foi acordada com o chamado de Helena:
- Lola, o que foi?
- Ah, nada não.
- Você ficou estranha de repente.
- Estava pensando... na resposta para sua pergunta.
- Por que você entrou na Norton?
- Foi por você, oras – disse ela já sorridente – não podia te deixar sozinha. E também por conta das viagens, de chutar o traseiro dos caras, de inventar uma desculpa para o chato do nosso chefe e sair daqui... e eu gosto de uma boa aventura, você sabe.
- Sei, sim. – falou a outra rindo. – e sua irmã ficou bem enquanto estávamos fora?
- Ficou sim, mandei ela ficar com nossos tios no interior. Volta hoje. Coitada, deve estar doida para sair de lá.
- Deve estar assim. A Carina é agitada, não se encaixa no interior.
Assim foi aquele dia até o fim do expediente.
Lola achava-se deitada no sofá da sala, em casa, assistindo a televisão. Era por volta das oito da noite quando recebeu uma ligação, o nome na chamada era N01, ela atendeu:
- Você não cansa de mim mesmo, heim. Já passamos o dia todo juntas...
- Lola... meu apartamento. – disse a voz um pouco alterada do outro lado da linha.
- O que tem ele?
- Está... destruído. Completamente destruído. Atearam fogo nas minhas lembranças, fotos de família... presentes. – relatava enquanto andava pelo local – os móveis estão... todos quebrados, restaram poucas coisas.
- Calma, fica tranqüila. Procura alguma coisa, uma pista, qualquer coisa que dê um sinal sobre quem fez isso.
- Tá bom. – Helena começou a vasculhar a casa, não encontrou nada pela sala, chegou ao quarto que também estava despedaçado, mas em cima da cama havia um envelope preto. – Achei uma coisa aqui. É um envelope, tem um bilhete dentro.
- O que diz?
- “Espero que tenha gostado da surpresa. Foi feita com carinho. Uma lembrança especial para você. Seja bem vinda à nova casa Helena, ou devo chamá-la Agente N01?”
O silêncio reinou por alguns minutos na ligação, Lola estava estática com o que ouviu, sua amiga corria perigo, não só ela, como toda a organização. Logo se manifestou:
- Helena me escuta. Se sobraram roupas suas façam uma pequena mala e me espera. Estou indo te buscar. Você precisa sair daí o mais rápido possível!
Depois disso, a ligação encerrou.
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