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História Nós Ossos Que Aqui Estamos, Pelos Vossos Esperamos - O Começo do Fim


Escrita por: TheWiseOak

Notas do Autor


Odeio essa cena. Me quebra em pedacinhos toda vez.

Capítulo 1 - O Começo do Fim


Chamas se erguiam contra o céu frígido de inverno, devorando por completo a mansão, longe de quaisquer olhos, longe demais da cidade, e elas se erguiam alto, mais alto que as árvores, criando uma onda de calor que atingia a menina com força. 

Mas ela não tinha notado a diferença na temperatura.

Seus olhos estavam fixos, cheios de angústia, o azul devorado vivo pelo reflexo das labaredas. Seu coração soava tão alto quanto o rugir do fogo, e ela caminhava de um lado para o outro, alternando entre choque e desespero.

“Não... Não! Joker, pai!”

Mas seus chamados não alcançavam seus lábios, fechados com força, a mente confusa demais para articular os comandos certos.

Os olhos de Doll se arregalaram de repente, quando, através do fogo, ela viu uma silhueta negra se aproximando. Escura como aquela noite triste sem estrelas, parecia que os portões do inferno haviam se aberto na terra, e agora demônios  vinham para regozijar nas almas dos vivos.

A pobre boneca mal sabia o quão trágica – e ironicamente – certa ela estava.

Na verdade, ela até se permitiu um momento de esperança, pensando que Joker havia sobrevivido, e estava voltando para ela, sua pequena irmãzinha. 

E justamente por isso, um sorriso que estava começando a se formar desmoronou – tragicamente – quando a pequena boneca viu Black e Smile surgindo da parede de chamas. No entanto, seu coração deu um salto estranho, o mesmo que ela sentia toda vez que via Smile, um que ela não podia descrever como ruim. 

E, no entanto, dessa vez, algo mais a atingiu, uma sensação gelada, cortante, que a pequena ingênua descartou como sendo apenas o vento frio daquele inverno cruel. 

Ela correu até eles, completamente ignorando as estranhas – e caras – roupas que os dois vestiam, agarrando-se a Smile afobada, despejando sobre ele uma corrente de perguntas, todas laçadas de preocupação e desespero, o que deixava sua voz – geralmente tão suave para a de uma jovem garota – aguda demais.

— Smile! O que aconteceu?! Onde estão os outros?! – Ela puxou a capa do pequeno menino com dedos trêmulos, registrando sem pensar como o tecido era mais suave do que qualquer coisa que ela já tinha tocado antes.

Mas ela, a doce tola, inocente como era, só percebeu que algo estava errado quando o tapa da mão enluvada, o anel – tão brilhante – no dedo, a atingiu em cheio, fazendo-a recuar, o som do golpe ecoando de forma sobrenatural naquela noite vazia. 

— Não me toque tão facilmente! – Smile chiou, semicerrando seus olhos de um profundo azul para ela.

Ela na mesma hora recuou, a mão rejeitada apertada fortemente sobre o peito.

— Eles estão mortos, temo eu. – A voz de Black soou, e um calafrio mórbido tomou conta de Doll, não só pela fala do outro, mas também pelo tom.

Ele não soava humano.

— C-como? – Ela debilmente gaguejou, sem tirar os olhos de Smile. – O que aconteceu?

Black sorriu, e as chamas brilharam em seus olhos, queimando mais forte, até se unirem, deixando para trás um tom absurdamente vermelho.

Doll recuou mais um passo, intimidada pela criatura obscura que mostrava suas verdadeiras cores em meio à escuridão daquela noite de mau agouro.

— Nós investigávamos a série de raptos de crianças, sob as ordens de Vossa Majestade, a rainha. – O homem de negro agora mostrava suas presas a cada palavra, o sorriso gelado ainda plastificado no lugar, à medida que sua voz parecia sibilar, rastejar, espalhar sombras.

A faca afiada da traição atingiu Doll fortemente, e tremendo, embora não mais de frio, e sim de pavor, ela recuou mais um passo, seus grandes olhos azuis congelados em desespero.

— Você... Vocês realmente estão com a Yard? – ela disse, sua voz suave. – Vocês vieram nos prender?

Ela segurou seu manto firmemente sobre o corpo, tentando impedir suas mãos de tremerem mais, lentamente recuando à medida que a verdade a atingia com mais força que o tapa.

Então o demônio sorriu, um sorriso frio que era nada mais do que uma antiga arma, mas velha que a própria Inglaterra, forjada do sofrimento mortal.

— Não, de forma alguma. — Black disse, seus olhos refletindo o vermelho de sua alma. — Nós viemos apaga-los.

Doll inspirou com força, as palavras se acumulando em seu coração como espinhos, antes escondidos em rosas de mentiras.

Sentindo o terror dela, o monstro que jazia ali em seu jogo ancestral concluiu seu discurso afiado, regozijando com o espetáculo deplorável que se desenrolava diante dele:

— Em nome dos Phantomhive, os cães de guarda da rainha.

— Cão de guarda da rainha... – Ela murmurou, incrédula. – Phantomhive...

Doll então se virou para Smile, e perguntou, seu coração na corda bamba como nunca antes estivera:

— Smile... Isso é verdade? Você é o Phantomhive?

O olhar de Black não fazia nada para esconder seu divertimento à medida que ela continuava, sentindo-se cada vez mais vazia.

— Então foi tudo mentira?! – Doll perguntou por fim, sua voz estridente.

Mas então, como o golpe final na esperança que ainda crepitava em suas palavras, o jovem nobre disse, sua voz impassível e cruel:

— É verdade. Meu nome é Ciel Phantomhive, e minha única função é dispersar as preocupações da rainha.

E foi assim que a menina trapezista, que tinha cruzado as alturas sem jamais cair, viu seu coração despencar em uma queda sem retorno, viu sua esperança e seu futuro esmagados.

E por ninguém menos que a respeitável nobreza britânica.

Pelos cães de guarda da gentil rainha.

Mas ele não tinha terminado.

Ciel Phantomhive tinha que fincar a faca mais fundo, terminar o que tinha começado, como um bom cão, que mata até a última raposa.

— E por isso eu os matei. Kelvin e Joker... – e então ele que estivera de olhos fechados até aquele momento, a ignorando, ergueu seu olhar gelado para Doll, antes de enterrar a adaga da verdade até o cabo. – Eu matei ambos.

Foi então em que ela viu, diante de seus olhos como se acontecesse naquele momento, a memória de quando Joker a havia nomeado Doll.

“Nossa fofa irmãzinha.” Ele dissera, para a diversão de todos os outros.

E mesmo que ela tivesse se irritado com aquilo, algo bom havia queimado em seu peito também.

A sensação de pertencer. 

Entre aqueles que como ela tinham sido rejeitados por suas falhas, por suas deficiências, ela tinha encontrado um lar.

Uma família.

E naquele momento ela sentiu seu coração atingir o solo, e se quebrar em mil pedaços como vidro, cortando tudo em seu caminho.

Foi só então que as lágrimas vieram.

Cheias de amargura, raiva, desespero.

Ela caiu de joelhos sem sequer registrar a grama fria sob seus dedos, sem se importar com o monstro que a observava com olhos ávidos, ou com o nobre de coração negro que a olhava com desprezo mal contido.

Doll chorou alto, de uma forma que raramente tinha feito antes, e então, ela juntou os cacos de seu ser e os uniu numa lâmina fina de ódio, de raiva, e ela gritou para que até os mortos ouvissem, e se lembrassem da verdade em suas palavras, em seu juramento:

— Você vai pagar! – ela socou o solo, se erguendo. – Você vai pagar!!

E foi sem mover um músculo que Ciel Phantomhive observou a boneca quebrada pegar uma adaga do manto surrado, e tão pequena, tão inútil, correr na direção deles, a lâmina brilhando sob a luz das chamas.

Ao invés disso, ele apenas decretou sua resposta diante daquele sofrimento cru, tão final como poderia ser:

— Sebastian.

E assim não havia nada mais para Doll, apenas escuridão.

E olhos vermelhos como seu sangue.

 

***

 

Num lugar que não existe em lugar nenhum, entre luzes de fada e folhas de luz, sob o zumbido da canção do vento, havia uma mulher.

Ela estava ali a tempo demais, se recusando a atravessar, decidida a fazer o caminho contrário.

E entre as raízes de Yggdrasil, ela observava tudo que acontecia, os olhos da cor da prata presos na cena, frios com cálculos e uma dor mais antiga que o próprio tempo.

E embora ela não regozijasse na morte da menina, ela ardia de antecipação diante da oportunidade que o destino lhe dava.

— Finalmente... – ela sussurrou, vendo as imagens no lago à sua frente. – Finalmente você cometeu um erro, e que assim comece o fim.

“O fim de nossas miseráveis existências.”



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