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História Nossa história - O primeiro dia do resto de nossas vidas


Escrita por: JessJesschan

Notas do Autor


O tão esperado momento final dessa novela mexicana chamada "Karin está grávida, e agora, Sasuke?" ...(ง ͠° ͟ل͜ ͡°)ง

Capítulo 18 - O primeiro dia do resto de nossas vidas


Fanfic / Fanfiction Nossa história - O primeiro dia do resto de nossas vidas

Pensou que os dias passariam como sempre, um dia se misturando rapidamente ao outro, mas não foi o que aconteceu. Os dias se arrastaram, implacáveis. Fazia duas semanas desde a missão com o objetivo de salvar a vida do Senhor Feudal, segundo notícias ele seguia se recuperando bem.

Só não podia dizer mesmo de si própria.

Sakura passou a escova nos cabelos olhando-se no espelho do banheiro de sua sala, o reflexo era de dar pena. Não faltava muito para amanhecer, tentou tirar um cochilo durante o sobreaviso, mas foi inútil, os olhos estavam um pouco inchados e com olheiras arroxeadas.

“Eu realmente sinto muito.”

Não aguentava mais se lembrar, não aguentava mais visitar aquela noite desastrosa e humilhante. Nem se deu o trabalho de tentar entender. Porque as coisas sempre acabavam de forma tão desastrosa entre eles. Porque tinha a sensação que sua história com Sasuke nunca teria fim, que chegaria aos 90 anos se perguntando o que diabos havia de errado com eles.

O retorno para casa tinha sido penoso. Não se olharam. Não se falaram. Eram dois estranhos, dois completos estranhos. A todo momento se sentia sufocada, a ponto de quase gritar por socorro, a dor, a confusão, o desespero pareciam nunca ir embora.

Era impossível acreditar que Sasuke a beijou, mais impossível ainda acreditar que nem pensou duas vezes antes beijá-lo de volta. Desejou a atenção dele, por tudo o que era mais sagrado, desejou ser tocada por ele, por mais que quisesse culpá-lo. Assumiu que se aproximar dele fora um erro, um erro gigantesco. Como fora tola ao achar que poderia sair inteira de um embate com seus sentimentos.

A única forma de se proteger era nunca mais vê-lo, nunca mais entrar em contato com ele, nem visual, não voltaria a se aproximar dele, se fosse preciso conversaria com o Rokudaime para nunca mais designar missões com o Uchiha. Sua vida tinha que começar a andar para frente, por Deus, tinha que se livrar daquela história de uma vez por todas.

Ao menos sabia que Sasuke estava longe, por enquanto.

Depois de relatarem ao Hokage sobre a figura misteriosa dos olhos de sangue por trás do ataque ao Daimyou, Kakashi revelou que vieram pedidos de socorro de países menores. Se tratava de um grupo intitulado Trovão Negro que estava aterrorizando algumas vilas. Sasuke partiu imediatamente em busca de deter a facção e descobrir sua relação com os desaparecimentos dos shinobi de Konoha, depois disso não soube mais dele.

Jogou água no rosto para espantar o sono, e quando terminou de se enxugar, ouviu o estrondo de explosões ao longe, o tremor reverberou por toda a sala.

***

Intrusos haviam conseguido passar pelas barreiras interiores da vila. Ao chegar nos portões, Sakura encontrou os ninjas do Time de Barreira e as outras equipes tentando contê-los. Foi difícil enxergar em meio à confusão, as explosões causaram incêndios, em consequência havia muita fumaça. De repente, um homem foi lançado em direção a Sakura, ela conseguiu se esquivar, mas viu quando o corpo muito ferido se desfigurou e explodiu bem diante dos seus olhos.

Tudo ficou claro e escuro, no segundo seguinte a mão gigante de Chouji passou voando acima de sua cabeça, depois ouviu claramente a voz de Ino gritando em desespero:

— É um dos nossos! Yamete kudasai!

Sakura correu entre a confusão de pessoas e gritos, então reconheceu um dos shinobi de Konoha que havia desaparecido. Ele saltou cambaleante para atacá-la, e Sakura o mandou para longe com um soco. Alguns intrusos explodiram outra vez, obrigando todos a recuarem.

— Hinata! Use o byakugan para ver se estão sob genjutsu! — Sakura disse ao se aproximar da Hyuuga.

— Não... isso é um tipo de chakra diferente! — respondeu ela.

— Certo! Escutem todos! Se os ferirmos eles vão explodir! — Sakura gritou para Naruto e os outros. — Vamos distraí-los! Hinata, Shikamaru, sabem o que fazer!

Então, todos atraíram os oponentes, Shikamaru os prendeu com suas sombras para Hinata imobilizá-los, atingindo-os nos pontos de chakra.


 

Ino ainda soluçava baixinho. Quando a loira desmaiou, Sai a levou nos braços para o hospital e não saiu do seu lado desde então. Um dos desaparecidos que morreram naquela manhã turbulenta era um primo seu do clã Yamanaka. Ela tentou salvá-lo mas não houve tempo.

— Eu lamento, querida. — Sakura sussurrou para a amiga e apertou sua mão inerte.

— Ela está bem? — perguntou Sai, apreensivo. Apesar da sua falta de jeito, Sakura sabia o quanto ele se importava com Ino.

— Claro, seus sinais estão perfeitos. Só está cansada e muito triste com o que aconteceu. Garanta que ela descanse e vai melhorar.

Ele acenou.

— Sakura-sama! Precisa descer lá embaixo! — uma enfermeira entrou na sala, anunciando.

 

 

 

A voz de Sakura ficou presa na garganta.

Karin estava deitada em um leito, um pouco pálida, com as mãos sobre a barriga enquanto chorava, inconsolavelmente. Juugo e uma enfermeira tentavam acalmá-la sem êxito.

— Miyako-senpai, o que houve? — Sakura se dirigiu ao médico-parteiro que fazia suas anotações no prontuário.

— Sakura... o meu bebê... — Karin pranteou ainda mais quando a viu entrando.

— Ah, aí está você, criança. — o médico puxou-a pelo braço para longe de Karin. — Esta jovem deu entrada se queixando de dores, nós fizemos todos os exames, o bebê está bem, ela está bem. Nenhum risco de eclâmpsia, pressão normal, nenhuma complicação, já foi medicada de qualquer forma, mas está em completo estado de desespero. Não parou de chamar por você desde que chegou.

Apesar de já ter idade para se aposentar e ser um senhor excêntrico, Miyako era o melhor médico-parteiro do país. Sua palavra ela lei no hospital quando se tratava de gineco-obstetrícia. Sakura olhou rapidamente para Karin.

— Pobre moça, faça alguma coisa para acalmá-la. Foi um dia agitado, preciso ir em casa alimentar meus pássaros e voltar para cá, tenho três cesarianas antes da meia noite!

— Mas Miyako-senpai...

— São apenas os hormônios da gestação, criança! Os hormônios da gestação! Até mais tarde. — gritou ele, desaparecendo pela porta.

Completamente atônita e rígida, Sakura prendeu a respiração e, lentamente se aproximou da cama onde a ruiva soluçava e pegou seu prontuário. Suas mãos tremiam e seu coração estava acelerado, não quis nem parar para ver o quão improvável e assustadora era aquela situação.

— Por favor, Sakura... Por favor, como ele está? Diga-me... diga-me a verdade...

— Karin, fique calma, tem que se acalmar, pelo amor de Deus. — Juugo suplicou.

Juugo e Sakura trocaram olhares, e pôde ver claramente que ele implorava por sua ajuda. Por um segundo achou que não ia conseguir, estava olhando para a pessoa que ocupou seu lugar, que arruinou seus sonhos. Queria apenas sair dali correndo e se esconder em algum lugar até aquele dia horrível acabar.

Mas o temor cravado nos olhos da ruiva a destroçou e dilacerou sua alma. Imaginou-se no lugar dela. Não era uma amiga ou inimiga naquele leito, era uma paciente, uma jovem mãe angustiada.

— Karin...

A Uzumaki piscou, encarando-a com uma expressão dolorosa. Sakura foleou os laudos que tinha nas mãos.

— Estou com os resultados dos seus exames. Altura uterina, ok. Hemograma, ok. Glicemia, ok. Urina e urocultura, ok. Fibronectina fetal, ok. Ultrassom morfológico, ok. Cardiotocografia, ok. Nenhuma infecção. Pressão arterial, ok, só um pouquinho acima do normal pois você está muito nervosa.

Karin a ouviu atentamente.

— Tem que ficar calma, sua agitação pode afetar o bebê.

— Não quero fazer mal a ele. — a ruiva choramingou.

— Eu sei, então tente relaxar. Respire fundo, faça isso comigo agora. Inspire e expire. Use o diafragma. Outra vez. Inspire e expire...

Karin repetiu o exercício com Sakura por alguns minutos até finalmente parar de chorar.

— Estou com medo, estou com tanto medo.

— Eu sei, e isso é absolutamente normal. Você está carregando uma vida aí dentro, sua maior riqueza, é o que você mais ama, é claro que está com medo. Mas não vai acontecer nada. Você e o bebê estão muito saudáveis, estão ótimos. Aquele velhinho é o melhor parteiro que eu conheço, ele nunca deixaria vocês se tivesse qualquer dúvida sobre o quadro de vocês.

— É mesmo?

— Dou minha palavra, ele nunca erra.

— Ouviu isso? Você vai ficar bem, ne. Estou aqui, não precisa ficar assustado, daijoubu... — uma lágrima escorreu pelo canto do rosto da ruiva.

Sakura sentiu os olhos úmidos, estava lutando contra suas emoções acumulando tudo em um “armário” para que pudesse lidar com elas quando tirasse uma folga. Mas ainda era difícil, por Deus, era difícil estar ali e ter que fazer aquilo.

— Me desculpe, Sasuke-kun disse para chamar você se alguma coisa acontecesse. Quando comecei a sentir dor fiquei assustada, pensei no pior.

— Pode ser a dilatação ou o bebê se acomodando, isso também é normal. Mas fez bem em vir, agora sabe que não tem nada errado. — Sakura explicou mais uma vez. — Seu corpo está se preparando para algo grande.

— Sim, sim. — Karin suspirou. — Eu não sei como te agradecer por hoje.

— Agradeça a Miyako-senpai, que foi quem cuidou de vocês.

— Sim, mas o que você fez hoje... obrigada. Eu... me sinto muito mal. Juugo esteve ao meu lado todo esse tempo, mas tem sido muito difícil para nós, para mim e o bebê. Queria tanto que seu pai estivesse aqui. — disse ela, à beira de lágrimas novamente.

Um sabor metálico invadiu a boca de Sakura. Engoliu em seco.

— Sasuke-kun está em missão, tenho certeza que vai voltar logo.

— Sasuke-kun? Oh... não... — a ruiva abaixou e balançou a cabeça com os olhos fechados.

— Karin. — Juugo falou, como um aviso. — Isso não diz respeito a você.

— Nunca concordei com isso, Juugo. Ela tem que saber.

De repente o clima ficou pesado e Sakura olhou para ambos sem fazer a menor ideia do que estava acontecendo. Se sentiu no meio do fogo cruzado.

— O que eu tenho que saber? — A Haruno ouviu-se perguntar.

— Não faça isso. — Juugo falou novamente.

— Karin, Juugo, por favor, me digam o que está acontecendo aqui. — Sakura deu um ultimato.

— É Suigetsu. Suigetsu é o pai do meu filho, não Sasuke.

***

Karin continuou falando, mas não ouviu direito. Sakura estava entorpecida, de alguma maneira ainda em pé. Piscava, mas não via nada. Deu dois passos para trás, zonza, aérea. A ruiva pronunciou uma série de pedidos de desculpas.

— Nós nunca tivemos qualquer envolvimento. Fui apaixonada por Sasuke naquela época, mas isso ficou pra trás. Eu e Suigetsu, nós somos complicados, desde que o conheci. Nós brigávamos o tempo inteiro, mas sempre estivemos juntos, principalmente depois do time Hebi e isso nunca mudou. Quando a guerra acabou ficamos mais próximos, de uma forma diferente, e eu acabei engravidando.

“Esses hormônios malditos da gravidez me deixaram louca, eu não sabia o que estava acontecendo comigo, ficava furiosa com ele por bobagem, até o perfume dele passou a me incomodar. Então um dia nós tivemos uma briga feia, eu disse coisas horríveis, coisas que não são verdade, e no dia seguinte ele foi embora. Eu o mandei embora e ele foi, simplesmente sumiu. Um mês depois descobri que estava grávida. Esperei que voltasse, mas não voltou, Juugo tentou encontrá-lo, tentamos, foi inútil. Então só me restou vir aqui pedir ajuda a Sasuke-kun. Porque preciso de Suigetsu agora mais do que nunca.

Sakura cambaleou, instável e encontrou apoio nos braços de Juugo.

— É melhor se sentar. — disse ele.

Se deixou cair sobre a cadeira ao lado da cama e trançou os dedos para acalmar o tremor em suas mãos. Um exame de abelhas atacou todas as suas terminações nervosas.

— Na noite em que você chegou lá e ele inventou essa história imbecil... eu juro que não sabia de nada. Ele só mentiu pra você e me usou. — Karin engoliu.

— Por que Sasuke me faria acreditar que você espera um filho dele?

— Isso nós não sabemos. — disse Juugo, com cautela — Talvez devesse perguntar a sua mãe.

— O que minha mãe tem a ver com essa história?

— Tudo que sei é que a senhora Haruno esteve com Sasuke antes de eu e Karin aparecermos. E Sasuke não pareceu muito bem falando sobre isso.

Alguma coisa dentro de Sakura estava se dilacerando e parecia medo, feriu-a como o terror e tinha gosto de pânico. Seu corpo ficou ensopado com um suor frio e seu cérebro, nadando em ondas de angústia. Sentiu o sangue todo correndo para a cabeça, as pernas e braços eram como dois blocos de concreto.

— Com licença, e-eu preciso...

Levantar e caminhar exigiu muito esforço. Seus pés se arrastaram, avançando para fora da sala, pelo corredor e finalmente para fora do hospital. Seus lábios permaneceram fechados pois nunca haveria palavras para aquele momento.

Não soube por quanto tempo andou até chegar em casa.

Piscou os olhos diante da mãe na cozinha.

Oka-san. — seus olhos começam a lacrimejar.

—Oh, querida. Como estão as coisas? Fiquei tão preocupada, tentaram invadir a vila. Estão todos bem?

— Mãe... — inspira, expira, inspira... — Sim.

— Sakura, você tá pálida, ne, sente-se. O que foi? — Vou fazer alguma coisa pra você beber, por Deus. Parece em choque!

Oka-san, o que foi que disse a ele? — pronunciou palavra por palavra, pausadamente, diante da mãe.

— Como assim? Disse a quem? Não estou entendendo, querida.

— Sasuke-kun. A senhora falou com ele? Por favor, não minta pra mim.

***

Conhecia muito bem a filha.

Mebuki sabia de sua obstinação, afinal, puxou isso da mãe, ela não desistiria daquele rapaz. Sua menina preciosa. Havia se tornado uma grande kunoichi, além de ser a melhor ninja-médica da sua geração sendo ainda tão jovem. Tinha um futuro promissor e reservado a muitas conquistas à frente, ter sido nomeada para administrar o Hospital foi apenas o início.

Mas o que poderia acontecer caso se envolvesse com aquele rapaz problemático? A vida dele estava marcada com muita escuridão, tinha pena do que acontecera com sua família, mas não podia permitir que sua filha fosse tragada junto com ele para sua escuridão. O jovem era um criminoso assassino, não queria nem pensar no seria da reputação de Sakura, unindo-se a um pária como ele. Não queria mal ao garoto, muito pelo contrário, esperava sinceramente que fosse capaz de reconstruir sua vida, mas não com Sakura. O destino de sua menina era de alegrias e vitórias, não tinha nada a ver com histórias trágicas. Estava disposta a fazer qualquer coisa para que o caminho da filha continuasse sem percalços. Por isso estava ali na casa de Uchiha Sasuke, àquela hora da noite, decidida a fazê-lo compreender a situação.

Você? disse ele, ao abrir a porta, com um olhar curioso.

Sim. Precisamos conversar. — disse ao rapaz.

Ele a analisou, muito desconfiado.

— Entendo. Sente-se, posso pegar algo para beber, se quiser. — ele deu espaço para que Mebuki pudesse passar, pegou a camisa que estava jogada no ombro e a vestiu.

Não precisa. Isto será rápido.

Ele caminhou até o sofá e se sentou, indicando o outro lado para ela.

É uma boa casa. disse ela, fiscalizando o cômodo.

Obrigado.

Mebuki sorriu brevemente, respirou fundo e disse:

Sabe, Sakura foi nomeada a chefe do Hospital de Konoha hoje, e estou muito feliz. Ela realmente é uma menina prodígio.ela suspirou, visualizando a filha sobre um pedestal. Todos nessa vila a respeitam e têm orgulho dela. Imagine o quanto batalhou para chegar onde chegou, apesar de a minha garota ser muito inteligente, teve que se dedicar muito para conquistar seu lugar. Só eu sei as noites que ficou em claro estudando, todo aquele tempo treinando com Tsunade. Não ouso dizer que foi fácil. Passar por tudo o que passou, cercada de lendas, à sombra de ninjas poderosos como você e Naruto-kun. A vida inteira Sakura sempre foi subestimada, classificada como inútil, mas o engraçado é que isso só a encorajou ainda mais.

Ele prestava atenção nela.

Não vou me fingir de boba, eu sei que vocês tem uma ligação, uma amizade a muito tempo. Mebuki sorriu rapidamente. Isso tem perturbado Sakura anos, desde que o conheceu na academia. Mas a minha maior preocupação é até aonde isso pode prejudicá-la.

Prejudicá-la. Sasuke assinalou, olhando agora fixamente para o chão.

Sim, Sakura é muito abnegada e sensível, ela se envolve completamente com as dores dos outros. Sua vida não tem sido fácil, meu rapaz, você fez parte de um passado muito doloroso. E é exatamente por isso que me pergunto o quanto os seus traumas podem afetar a vida de Sakura, se ela estiver envolvida com você, entende o que eu digo? Sakura não pode consertar você, não cabe a ela essa tarefa.

Ele balançou todo o corpo para frente e para trás em resposta.

E querendo ou não, ela precisa manter a reputação limpa, sem manchas. Você foi preso.... desculpe, não quero constrangê-lo. Pode parecer cruel, mas é assim que as coisas funcionam. Você é um jovem inteligente. Olhe para mim, querido.

Sasuke a obedeceu, seus olhos negros a encararam sem nada expressarem.

Se você não a ama, não tem por que ficarem juntos, mas se a ama realmente, então vai pensar no que é melhor para ela e fará o que é certo. Posso ter sua promessa?

Ele voltou os olhos para o chão, e ficou silêncio por alguns segundos, até dar sua resposta final.

Não se preocupe quanto a isso. Vou resolver tudo.disse ele.

Mebuki respirou aliviada, torcendo para que a conversa tenha sido decisiva.

***

— Então ele lhe contou. — Mebuki balançou a cabeça em negativa, decepcionada.

Sakura respirava fundo, com todas as suas esperanças pelo chão, seus órgãos se reviravam dentro do corpo. A expressão no rosto da mãe, reconheceu claramente o significado dela. 

— O que disse a ele, mãe? — sua voz soou triste.

— Querida...

— Por favor, oka-san.

— Eu fui até até a casa do Uchiha e disse que se ele não te amava, não havia razão para continuarem com essa bobagem que só fazia mal a você. — disse ela com calma — Eu não me arrependo. É bom que finalmente saiba a verdade.

A Haruno ficou presa naquele milésimo de segundo, piscou, conteve a respiração.

— Um dia vai entender o que uma mãe é capaz de fazer por um filho. Vai entender que eu estava certa o tempo todo. 

Balançando a cabeça em negação deixou a cozinha e foi para o quarto. Com um impulso latente em cada veia de seu corpo, Sakura pegou a maior mochila que tinha e enfiou várias peças de roupa dentro. Seu coração acelerado não deixava dúvidas. Saiu do quarto indo direto para a porta da sala, Mebuki estava com os braços cruzados, ao lado do sofá.

— Aonde vai?

Voltou até a mãe e, olhando-a no fundo dos olhos, falou:

— Eu poderia esperar isso de qualquer pessoa, menos de você. Não acredito que manipulou minha vida dessa maneira. Você costumava ser a minha heroína, mas agora eu não sei mais quem é, eu não te reconheço. Não posso ficar nem mais um minuto nessa casa.

Sakura saiu antes que a mãe pudesse fazer qualquer coisa.

***

Era como se alguém estivesse rasgando sua pele, separando-a do corpo.

Contou os segundos de cada minuto.

Números pares, números ímpares, múltiplos de dez. Contou os tics do relógio contou os tacs do relógio, contou as linhas entre as linhas de uma folha de papel. Contou as batidas desreguladas de seu coração, contou sua pulsação e suas piscadas e o número de tentativas necessárias para inspirar oxigênio suficiente para os pulmões. Permaneceu assim até a sensação sumir. Até as lágrimas pararem de jorrar, até os punhos pararem de tremer, até o coração parar de doer.

Parecia não haver números suficientes para fazer o tempo passar.

De volta ao escritório no Hospital, e provisoriamente sua nova casa, quis sentar no chão e chorar por dias, meses, chorar convulsivamente o oceano alojado na garganta.

***

— Ei, e aí? Como estão as coisas? — Naruto perguntou.

Sakura lançou um sorriso raso para a amigo.

Fazia um mês desde a invasão, um mês completo morando no Hospital. Na semana anterior Kakashi havia reunido a todos para dizer que finalmente recebera uma mensagem. Sasuke informou que capturou Chino e Nowaki, os verdadeiros responsáveis pelos sequestros e estava mandando a dupla sob custódia de uma equipe ANBU para serem julgados na vila. Avisou que tinha um assunto para resolver e só então retornaria.

— Estou... indo. Não foi bem uma mudança, já passava a maior parte do tempo aqui mesmo. — deu de ombros.

— Sakura-chan, isso não é bom, ficar aqui sozinha.

— Eu nunca fico realmente sozinha. — justificou ela.

— Sabe que não foi o que eu quis dizer.

— Vou alugar um apartamento, só preciso de tempo. Vi alguns com Hayato antes dele e minha tia irem embora, mas ainda não decidi. Enquanto não decido, posso morar no trabalho, é muito prático.

— Não é um lar.

— Lar... — Sakura observou, pensativa. Sentia muita falta de casa, mas quando se lembrava do que a mãe tinha feito a ideia de voltar era impossível.

— Quantas vezes Mebuki-san veio aqui falar com você?

— Algumas.

— E?

— E?

— Sakura-chan...

— Ainda não consigo. Não posso falar com ela.

— Um dia vocês vão ter que conversar.

— Eu sei o que ela vai dizer, Naruto. Ela não se arrependeu do que fez, disse isso com todas as letras.

— Já passou um mês, como sabe que ela não se arrependeu se não conversaram?

— Vamos conversar, mas agora não.

— É compreensível. Não foi nada justo com você e com o Sasuke.

— Isso é cansativo, até pra mim. — Sakura se recostou no sofá-cama, e levantando as mãos em rendição. — É oficial. Eu desisto.

— Tenha paciência, quando Sasuke chegar vocês vão conversar e as coisas vão se resolver. Tia Mebuki vai te pedir perdão, vai aceitar Sasuke e pronto. Vai dar tudo certo, tebayo!

— Não sei se existe alguma coisa para resolver.

— Você o ama.

— Amor... Amor... É amor quando é tão fácil dizer adeus? Quando se desiste antes mesmo de tentar? É amor quando se rouba uma parte do outro? É amor quando só choramos, choramos e choramos? Sempre conheci os meus sentimentos, mas nunca tive nenhuma certeza sobre Sasuke, sobre como realmente se sente sobre ele mesmo ou sobre mim.

— Sakura-chan, ele disse antes que queria ficar você.

— Certo, se queria então por que me deixou? Acho que Sasuke não tem certeza de nada, talvez tenha ficado tão confuso que resolveu deixar pra lá e viu uma boa oportunidade de fazer isso quando Karin apareceu. É típico dele, ele nunca é consistente. É gentil e carinhoso comigo, diz e faz coisas que me deixam sem ar, e depois é horrível, me abandona e me magoa de novo. Ele pode me amar, mas também pode ser que não. Eu não sei, eu nunca sei, entende? E não posso viver em função dessa dúvida a vida toda.

— Por um lado você tem razão... mas...

— Nada de "mas". Cheguei no meu limite. — encerrou.

— Foi aquele cara, não foi? Ele colocou isso na sua cabeça, eu sabia. Se eu encontrar esse baka na rua...

— Que cara? Ficou maluco?

— Nem adianta disfarçar, eu vi vocês dois almoçando juntos.

— Hayato? Ah, não vem com essa. — Sakura sorria. — Ele já foi embora.

— Não gostei nada disso.

Sakura jogou o corpo para trás, seu ombro chacoalhava de tanto rir e zombar do ataque de ciúme de Naruto.

Mal sabia o amigo que os primeiros dias seguintes à viagem com Sasuke tinham sido massacrantes, sentia-se emocionalmente arrasada o tempo todo, não quis falar sobre o episódio com nenhum amigo próximo, todos estavam preocupados com os desaparecimentos. De repente, se viu isolada e solitária.

Uma noite, depois do jantar em casa, Hayato foi até ela e perguntou o que tinha acontecido. Claro que não disse nada, mudou de assunto, nunca falaria sobre Sasuke para o primo enxerido. Da conversa, Sakura descobriu que ele era mesmo muito convencido e depravado, mas também era engraçado e mais inteligente do que aparentava. Estava estudando engenharia, queria viajar pelo mundo, ter novas experiências, mas o pai não saía do seu pé para que fosse administrador do pequeno negócio local da família.

Conversaram até Mebuki mandar os dois para cama, como se fossem duas crianças. Naquela noite ele a convidou para almoçar no dia seguinte, e quando Sakura viu, já tinha dito “sim”.

Almoçaram juntos uma vez, ele foi vê-la no Hospital duas vezes depois que ela rompeu com a mãe e saiu de casa. Tentou convencê-la voltar e ela ameaçou jogá-lo pela janela se tocasse no assunto de novo.

Acabaram se aproximando, compartilhando suas desventuras um com o outro, Sakura até sentiu liberdade de chamá-lo para dar uma olhada em alguns apartamentos e foi uma tarde divertida. Já estava acostumada à sua companhia quando ele disse que faltava apenas dois dias para ir embora. Como uma despedida a convidou para irem ao Mercado.

O Mercado de Konoha era um aglomerado de bancas montadas, toda tarde na praça central da vila. Atrás de cada uma delas havia alguém vendendo todos os tipos imagináveis de iguarias. Geleias, bolinhos doces, salgados, frutas cristalizadas, petiscos de carne, pães, castanhas e nozes açucaradas, bebidas quentes e frias a perder de vista. Comprou para si e para Hayato bolinhos com cobertura de mel e ameixas secas, seus doces favoritos. Caminharam pelo mercado enquanto comiam, depois assistiran a uma apresentação de dança de um grupo de idosas.

— Isso é sua cara. — Hayato disse, e a empurrou de leve com ombro.

— Engraçadinho. 

— De verdade, quando você ficar velha vai vir dançar aqui na praça, toda noite. 

— Aham, tá.

— Falando sério, você dança bem! Vi naquela noite, no festival.

— Eu não danço tão bem assim, não precisa exagerar.

Ne, você é muito teimosa!

— Sou mesmo. — ela o empurrou de volta.

— Foi um elogio, garota. Veja, veja como é simples: Eu digo “Você dança bem, Sakura-chan” e você diz “Oh, obrigada, Hayato-kun, que gentil!”.

— Cerrrto. — ela resmungou — Obrigada, foi muito gentil.

Banzai! Eu sabia que você era capaz.

O que Sakura ainda não tinha contado para ninguém, nem para Ino, foi que algo que nem em um milhão de anos pudesse prever aconteceu naquela noite. Pouco antes de chegarem ao Hospital, Hayato se antecipou e parou na sua frente.

— Ei! — reclamou ela.

— Espera, é... na noite do festival, eu ia te falar uma coisa mas não tive a oportunidade. — disse ele, olhando em seus olhos.

Sakura ficou curiosa.

— Sim, eu me lembro, você gritou alguma coisa mas eu não ouvi por causa da música alta. Diz agora, então. — ela incentivou.

— Bom, eu só ia dizer que você é linda.

Sakura sentiu o rosto esquentar e arregalou os olhos, boquiaberta. Hayato ainda estava encarando-a com aquele sorriso atrevido.

— Não só isso, quer dizer, olha só pra você, é uma garota e tanto. Eu queria ter a sorte desse cara. — ele falou, obviamente se referindo a Sasuke.

A Haruno prendeu a respiração quando o primo resumiu o espaço entre eles e a beijou delicadamente. Os lábios dele eram tranquilos e confortáveis, durou apenas um segundo.

— Até outro dia. — Hayato se despediu e partiu na manhã seguinte.

Ficou pensando no episódio por vários dias, primeiro com raiva mas depois apenas sorrindo ao lembrar de como era descarado. Tão diferente de... dele.

Uma palavra de Sasuke e ela se desmontava caindo aos pedaços, bastava um toque dele e sua pele acendia inteira. Sentir seus lábios era como tomar um gole de Sol, vivo, ardente e perfeito.

Jamais imaginou que conheceria a forma de outro beijo, a experiência fora surpreendente. Talvez pudesse gostar de Hayato, ou de qualquer outro rapaz. Talvez. Independente do que acontecesse, estava certa de que nunca mais mendigaria o amor de ninguém para ser feliz.

***

Sasuke ainda se lembrava dos olhos sangrentos de Chino, furiosos, cheio de lágrimas e ódio. Viu naquela criatura atormentada a mesma pessoa que fora um dia. Alguém que vivia apenas para o propósito de causar dor, alguém vazio e sedento por vingança.

Estava investigando sobre o Grupo Trovão Negro quando os encontrou, Chino e Nowaki, que aparentemente pareciam duas crianças tímidas, contudo, não passava de um truque. Chino pertencia ao extinto Clã Chinoike, e estava determinada a se vingar das Grandes Nações pela perseguição e extermínio de seu clã há muitos anos. Ela possuía o ketsuryūgan, um poder ocular muito poderoso com aspecto sangrento, com o qual manipulava qualquer pessoa. Estavam por trás dos sequestros, do atentado ao Daymiou e do mais recente ataque a Konoha. Eles o atacaram mas Sasuke os rendeu facilmente, sendo então obrigados a revelar seu plano.

— Tudo o que eu tinha foi roubado de mim! Eu e Nowaki não temos uma aldeia, não temos família, não temos ninguém para amar! Fomos jogados fora, esse mundo só me ensinou o que é ódio! Como posso ter esperança? Diga-me, maldito Uchiha! — Chino gritava — Por que continua lutando por Konoha?

Não pôde negar as palavras dela, suas histórias se cruzavam em vários pontos, mas uma parte era diferente. Sasuke nascera em um lar e conheceu pessoalmente estes laços, cresceu e viveu com eles até serem arrancados dele. Chino nem mesmo sabia como era o rosto dos pais, não experimentou seu calor e a força de um vínculo de uma família. Como Naruto.

“Você nunca teve uma família! Você estava sozinho desde o começo! Não pode entender como eu me sinto!” Mesmo quando atacou Naruto com aquelas palavras duras ele não desistiu de alcançar seu coração.

“Sasuke-kun, não vá embora! Eu prometo que se você ficar comigo eu vou fazer todos os seus dias felizes!” Sentiu o peito inchar e doer, era como se o par de olhos verdes estivesse bem na sua frente.

— Há algo que me liga a Konoha, pessoas que se importam comigo, eles arriscaram suas vidas por mim. Essas pessoas me mostraram que não importa o que o mundo fez, os nossos laços nos mantém fortes para suportar a dor porque nós compartilhamos a dor um do outro. Eu luto por eles, eu vivo por eles.

Do topo de uma pedra Sasuke observou a vastidão de um verde profundo que se estendia em todas as direções a sua frente. Estava pronto e dessa vez não teria medo. Estava decidido a assumir a verdade sobre seus sentimentos mesmo que isso não significasse um final feliz para ele.

— Suigetsu, vamos.

Respirou fundo e saltou.

***

Uzumaki Karin entrou em trabalho de parto espontaneamente com 39 semanas e dois dias de gravidez. O primeiro estágio do parto durou 9 horas, o segundo 45 minutos, e o terceiro, 15 minutos. Sakura estava lá e segurou a mão de Karin até o último minuto. O menino de 3,198 gramas foi amamentado de imediato após o parto. Os sinais vitais da mãe e do bebê estavam normais, não houve nenhuma complicação pós-parto e receberam alta no terceiro dia.

A ruiva convidou Sakura para ir visitá-la na casa de Sasuke, como ainda não tinha notícias dele, sempre que podia passava por lá para vê-los. Soube que Karin precisaria de ajuda quando viu que Juugo tinha medo até de segurar o recém-nascido.

E não foi sacrifício nenhum, muito pelo contrário, adorava ficar com ele. Era tão fofo e dorminhoco. Fazia de tudo para mantê-lo acordado, mas ele praticamente desmaiava em seus braços e só acordava para mamar.

— Seu menino preguiçoso. — disse bem baixinho no ouvido dele, embalando-o de um lado para o outro. — Você é preguiçoso sim.

Karin achou graça sentada na cama dobrando uma pilha de roupas em miniatura.

— Eu pisquei e ele já tem uma semana de vida. — ela falou. — Há sete dias eu nunca pensei que estaria tão cansada. E feliz.

— Eu imagino. Ele é lindo. — Sakura o colocou como cuidado no pequeno berço em forma de cesta perto da cama. — Já decidiu o nome? Gosto de Katsuo.

— Também gosto, mas não posso decidir até Suigetsu chegar. — Karin fungou.

Sakura se sentou na cama junto a ela.

— Claro, ele vai chegar logo.

— Estou começando a achar que aconteceu alguma coisa com quele idiota.

— Não, Karin, não pense assim. Sasuke foi atrás de Suigestu e vai encontrá-lo. Não fique pensando bobagem.

— Eu vou tentar, mas é difícil.

— Vai dar certo.

Karin fez que sim com cabeça e Katsuo resmungou do berço.

— Parece que o dorminhoco está fome de novo.

 

 

Poucos dias depois Sakura foi recebida aos berros por Karin. Estava radiante e eufórica com um papel na mão, uma mensagem de Sasuke dizendo ter encontrado Suigetsu e que já estavam voltando. Sakura respirou aliviada e feliz por ter notícias. O semblante da ruiva mudou completamente, ficou animada e nem parecia mais uma mãe exausta a várias noites sem dormir. Percebeu como realmente Karin sentia falta dele, não apenas por ser pai do seu filho, mas porque o amava.

Mas Suigestu não chegaria sozinho. Sasuke estava voltando também, não seria nada cômodo dar de cara com ele em sua casa. Isso não podia acontecer. Sakura pediu desculpas e explicou a Karin que continuaria indo lá mas que depois daria um tempo, inclusive para dar privacidade a eles.

— Depois que tudo isso acabar, quero que volte. — disse a ruiva.

***

Sakura subiu para o escritório, massageando os próprios ombros. Tomou banho, escovou os dentes, depois colocou o pijama com estampa de gatinhos, o único ainda limpo. Tinha que mandar suas roupas para a lavanderia do Hospital o quanto antes, na correria mal sobrava tempo para cuidar disso. Pela primeira vez em semanas estava indo dormir às 10 da noite como uma pessoa normal.

Pegou alguns artigos recentemente publicados sobre doenças autoimunes para dar uma lida e se deitou em seu sofá/cama improvisada, porém ouviu um barulho fraco, do lado de fora da janela na pequena varanda. Levantou-se para ver se algum bicho tinha caído por lá, ao se aproximar o terror tomou conta dela.

— Sakura, sou eu.

Seu coração se partiu em dois.

S-Sasuke...

Era como um fogo se enfurecendo dentro dela, um incêndio de esperanças dizimadas. Estava tão ferida, chocada e queimando de indignação. Ele não falava e Sakura começou a se desesperar, sem saber o que pensar ou fazer. Seus olhos estavam piscando rápido para conter a ansiedade, as mãos, hesitantes, o coração, cheio de expectativa. Quase foi até ele para tocá-lo, para saber se era mesmo real. Tinha deixado apenas a luz do abajur ligada, o resto da sala era um breu mal iluminado pelas luzes de externas. Seu rosto saiu das sombras quando ele deu um passo:

— Naruto foi a primeira pessoa que conseguiu tocar meu coração. E você foi a primeira a me lembrar que ainda tenho um. Apesar dos meus esforços, você o atingiu. Não sei se um dia poderemos ter mais do que já tivemos, eu não sei, especificamente depois do que eu fiz, se você iria querer algo mais de mim. Não tem que me perdoar, não tem que dizer “sim”, a menos que queira, é claro. Mas se tudo o que tiver for um “não” ainda ficarei satisfeito por ter sido honesto com a única pessoa que tem sido honesta comigo.

Ele tomou fôlego, depois continuou:

— Eu menti. Não sou o pai daquela criança, nunca sequer encostei em Karin, ou em qualquer outra. Você viu o que eu queria que visse. Criei uma situação para simplificar as coisas entre nós dois, para ter uma boa razão para você me odiar e me excluir da sua vida.

Sakura levou uma mão trêmula à boca.

— Mas eu falhei. Tentei me afastar de você e falhei miseravelmente. Sinto muito pelo que aconteceu. Não foi minha intenção desrespeitá-la na mansão do Daymiou, entretanto, não posso dizer que me arrependo, eu quis estar com você naquela noite tanto quanto quero agora. Nada do que fiz é justificável, e hoje só tenho certeza de uma coisa: seja o que a vida me oferecer, o que o futuro me reservar, eu sempre vou amar você, Sakura.

Sakura permaneceu em pé, de alguma forma, sustentou-se, apertando os olhos, paralisada, presa no olhar da figura à sua frente. O peito arfando com força e os lábios prontos para formarem palavras, porém sem conseguir falar. Seus olhos eram dois grandes lagos verdes.

— Uma palavra sua e juro que nunca mais a importunarei, mas se ainda existe alguma chance, por mínima que seja, eu imploro, me diga, e prometo que viverei todos os meus dias para recompensá-la.

"...eu sempre vou amar você, Sakura..."

Ele olhava direto para ela e isso a desarmou. Seu olhar era pesado, muito profundo. Absorveu a expressão de agonia no rosto dele e entendeu, de forma muito nítida, que ele não estava mais se esforçando para esconder suas emoções. Ele estava de peito aberto, sem escudos, totalmente vulnerável.

Ele permaneceu parado. Alto, impassível, à espera de uma resposta. Sasuke era o tipo de garoto que só foi ensinado a ser um homem, que foi orientado a apagar o conceito de infância das suas expectativas de vida. Seus lábios não ousavam sorrir, sua testa não se enrugava com preocupações. Fora ensinado a esconder o que sentia, esconder os pensamentos do mundo e não confiar em nada nem ninguém. A conseguir o que quiser independentemente dos meios necessários.

No entanto, o Sasuke na sua frente era uma outra pessoa.

Aquele era seu melhor amigo e companheiro de equipe. Aquele que a encorajou quando se sentiu inferior. Aquele que entrou na sua frente para protegê-la durante uma batalha. Aquele que apertou sua mão enquanto gritava de dor, e a quem parou com um abraço quando marcas de uma maldição ameaçavam roubar sua alma.

Não lhe restou dúvidas de que o amava, nunca tinha deixado de amá-lo e nunca deixaria. Nada a fazia mais forte do que o frágil coração de Sasuke. Estava com medo, se perguntou como poderia dar certo se estava com tanto medo, mas olhando-o ali na sua frente, sozinho, todas as suas dúvidas sumiram de alguma forma.

— Sim. — sua voz falhou.

A expressão dele se estreitou, como se não tivesse ouvido. A distância entre eles despareceu pela metade.

— Eu digo sim, e diria outras mil vezes, Sasuke-kun. Sim, sim, sim...

O planeta parou de girar quando ele achou o rosto de Sakura, seus olhos se encontraram um dentro do outro. Ele passou a respirar mais depressa, inclinando-se para ela, descansando a testa em meu ombro, os braços dele em volta em sua cintura. Sakura o correspondeu, abraçando-o de volta por cima dos ombros, abraçando para afastar a dor, abraçando para afastar o medo. Sasuke a beijou do pescoço aos lábios, indo e vindo, até sentirem o sabor de lágrimas. Toda vez que se recusaram a ceder aos seus sentimentos no passado fez com que aquele beijo valesse todo o sacrifício que fizeram. Valia a pena todas as lágrimas, todo o sofrimento, toda a dor, toda a espera.

— Eu não mereço você. — ele confidenciou.

— Não diga isso.

Sakura entrelaçou juntou as mãos com as de Sasuke e entrelaçou os dedos nos dele para não soltar nunca mais.

***

Estavam deitados no sofá/cama, ele com um braço ao redor do pescoço de Sakura. Sasuke pareceu mortificado quando lhe disse que já sabia de tudo, sobre o que a mãe fez e a discussão horrenda entre as duas que culminou na sua saída de casa. Pediu que ele contasse em detalhes o que a mãe tinha falado, mas ele educadamente se recusou. Disse que teriam muito tempo para conversarem sobre o que aconteceu. Depois ficou em silêncio, pensativo.

— Sente raiva dela? — Sakura perguntou.

— Não a culpo mais do que a mim. Ela quis proteger a única pessoa com a qual se importa.

Sakura se virou para ele, correu a linha de seu rosto com o dedo indicador, passou a mão nos cabelos totalmente escuros, pensando como o mundo pôde ser tão cruel com uma criança tão doce. Sussurrou em seu ouvido:

— Eu te amo.

E então ele abriu um sorriso.

O sorriso que o transformou em alguém que Sakura não estava acostumada a ver. Era o sorriso capaz de derrotar reinos e domar mares violentos. Nunca desejou tanto manipular o tempo, para parar, voltar e repetir o segundo exato em que ouviu o som da risada dele. Os olhos estavam meio fechados por causa do sorriso, e tinha covinhas. Sasuke tinha covinhas. Sem dúvida, a coisa mais bonita que já viu.

Então seus olhos mudaram, tornaram-se ávidos, ansiosos. Ele colocou a mão livre aberta contra o centro de sua barriga, apenas para descê-la pelo seu corpo, devagar, muito devagar, e Sakura ofegou. Conforme os dedos dele não tinham pressa ao subir por suas costas, ombros e descer pelos seus braços, os músculos de Sakura ficavam mais tensos e rígidos. Sua pele aqueceu a mil graus, e nem percebeu que se apertou contra ele até sentir o contorno de seu corpo sob as camadas de roupa. Deslizou levemente a mão por baixo da camisa dele pelas costas e sentiu a mudança em sua respiração. Olhou para ele e viu seus olhos fechados e contraídos, seus traços presos e, de repente, ele a estava beijando, se inclinando para ela, tomando fôlego e voltando a beijá-la.

— Eu não consigo nem respirar sem você... — ele falou.

Cada osso, cada músculo, cada nervo do corpo de Sakura se desfez com o poder daquelas palavras, e o abraçou, segurando-se a ele para salvar sua vida. Nunca se sentiu tão forte, tão corajosa, porque em meio a tanto ódio, eles escolheram amar.


Notas Finais


Então esse é o fim... ¯\_(ツ)_/¯

Mas tem um capítulo extra, curto, mas necessário.



** Toca a playlist: https://www.youtube.com/playlist?list=PLHphoCAZ2OqW4QvrgdUc0-MqaAjR7SIic


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