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História Nostalgia - Atentado ao pudor.


Escrita por: lovetomez

Notas do Autor


VOLTEI DEMOREI PORQUE TAVA VENDO SERIE DESCULPA

opa alo voces ai
como vao na madrugada?
gente eu tenho essa sensação de que já fiz tanta coisa nessa historia, fico pasma quando conto os capitulos mds so tem 16

enfim
trouxe um capitulo que precisávamos ler
espero que surtem

Capítulo 16 - Atentado ao pudor.


Verônica

- Vou ali na praia, me dá a bicicleta.

- A praia não é logo ali, Verônica. E, sinto muito, mas eu ainda não estou bem contigo saindo sozinha depois do que acabei de escutar.

- Dan, eu sei que é terrível, mas infelizmente, eu não posso e nem vou parar de viver por causa disso. Aquele homem naquele lugar estava fora de si. Eu sou sua irmã mais velha, sabe que sempre tomo cuidado.

- Mas eu te amo e me preocupo com você.

- Eu sei. Isso é lindo, eu amo e me preocupo com você também. Mas como eu disse, não vou parar de viver porque quase fui violentada. Onde tá a bicicleta?

- No quintal, nos fundos. Leva o celular, me liga qualquer coisa. Eu vou atrás de você em qualquer lugar se precisar.

- Ok, Dan.

Poucos minutos depois eu pedalava em direção à praia. Acho que precisava de um banho de mar pra desintoxicar e relaxar, estava muito tensa com a coisa toda da peça se aproximando e tudo mais. Mesmo sabendo que daria tudo certo.

Luísa me pediu mil desculpas por causa do acontecido, obviamente eu desculpei, porque não era culpa dela ter um louco lá dentro. Quando perguntei como ela saiu de lá, a resposta foi “ainda quero lembrar como”.

Pelo menos ela está bem.

Eram uns vinte minutos pedalando. Pedi pra guardar minha bicicleta (do Daniel) e minha mochilinha num pequeno quiosque ali, onde trabalha um amigo meu da época da faculdade, Régis.

A praia estava quase completamente vazia, até porque o sol não estava muito receptivo e o fim da tarde se aproximava.

Deixei com Régis minhas roupas e minha sandália também e fui correndo dar um mergulho. A água bem gelada despertou meu corpo de uma forma maravilhosa, e eu me senti revigorada.

Foram uns segundos sem pensar em absolutamente nada.

Daí minha mente lembrou-me da Paola. Desejei que ela tivesse calma e discernimento pra o momento que ela tá vivendo. Quase me repreendi por ser egoísta, mas queria muito que ela ficasse comigo. E queria mostrá-la porque deveria.

Com esses pensamentos, dei mais um mergulho, concluindo algo: vir à praia hoje foi a decisão mais certa que tomei essa semana.

Ao longe, avistei uma mulher linda, sentada na areia, vestindo calça jeans e camiseta, e observando o mar, pensativa. Os cabelos negros balançavam ao vento e sua expressão era tranquila, de onde eu podia ver.

Paola?

Paola

Depois da conversa com minha mãe, do almoço e de mais conversa forçadamente descontraída, não aguentei mais ficar lá.

Me despedi, peguei o carro e comecei a dirigir pela cidade. Decidi parar na praia, estacionei e fiquei do lado de fora do meu carro, olhando o mar e sentindo a maresia.

E ainda que odiasse encher o carro de areia depois, resolvi caminhar na praia. Tinha muita coisa pra pensar.

Na minha mãe. Que havia ido morar no interior, formado outra família, tido um filho (biológico) que agora tem cinco anos e ficaria sem mãe como eu, mas não por culpa dela.

Ela teve câncer, descobriu tarde, e a metástase foi descoberta semanas depois do tratamento iniciar. Estava em suas últimas semanas de vida, não tinha mais o que fazer.

Mas pelo menos ela estava em paz. Havia se redimido, se arrependido e consertou o que fez. Ela ia morrer em paz, com dignidade.

Doeu pra caralho em mim, afinal, todas as minhas boas lembranças da infância a contém. Mas eu ainda poderia vê-la algumas vezes, ela disse. Queria conhecer minha namorada, caso eu me resolvesse com ela. Foi um pedido.

Perguntei se por acaso ela não poderia ficar entre nós até a próxima sexta. Ela achou graça. Mas eu pedi pra que ela pudesse ir à peça do meu livro. Ela ficou muito feliz pelo convite e disse que estaria lá, caso a morte não a pegasse de surpresa.

Sim, a minha mãe tinha um senso de humor maravilhoso, antes da gente se distanciar. E eu quis ter isso como lembrança.

Percebi uma lágrima em meu rosto enquanto meus pés afundavam na areia fofa. Eu sentiria saudades dela como já sentia normalmente, mas agora seriam saudades reais. Carregadas de melancolia.

Ela quer conhecer a minha namorada. Que namorada? 

- Bella.

- Oi Paola. – a voz dela chegou aos meus ouvidos, me deixando mais calma por ela não soar chateada. – Tudo bem?

- Não muito. E com você?

- Tá tudo meio estranho sem você aqui comigo. Sabendo que… não tem você, eu tô um pouquinho... desnorteada, sabe?

- Você pediu um tempo pra nós.

- Sim, e estou percebendo que, além de ter sido burra e vacilado feio com você, me acostumei a te ter e estou sofrendo sua ausência. Morrendo de saudades. – fiquei um pouco sentida, mas não pude evitar ser sincera.

- Eu estou percebendo que preciso ficar sozinha, um tempo. Por isso te liguei. Não quero te dar falsas esperanças. – ela suspirou.

- Você tem certeza?

- Sinto saudades também, não me leve a mal, Bella. Mas acabei de entrar num momento meio delicado e é difícil me situar emocionalmente nisso.

- Pode me responder uma coisa?

- Sim. – e eu sabia que era sobre a Verônica.

- Você está confusa com seus sentimentos por mim e pela Verônica, não é?

- Estou. – suspirei. – E é bom que saiba disso. Nunca escondi as coisas de você durante o nosso relacionamento. E não fiz nada com a Verônica. Apenas preciso me escutar e me compreender. Entende, né?

- Entendo, claro. Paola, eu te amo, ok? Estou aqui pra você. Se precisar de mim, pode ligar.

- Certo. O mesmo aqui. – desliguei. Mesmo que eu não contatasse mais Isabella, seu nome estaria na lista de convidados pra peça e eu com 80% de certeza a veria lá. Ela adora teatro.

Terminar meu segundo relacionamento já foi melhor que terminar o primeiro, ainda bem.

Joguei minhas sandálias na areia e sentei em cima delas como se isso adiantasse e eu fosse me sujar menos.

Fiquei observando aquela menina no mar, mergulhando e se divertindo sozinha. Linda de corpo, os cabelos molhados davam um destaque a mais a sua figura.

Ok, acho que eu estava louca. Porque aquela menina com certeza é Verônica.

Se eu estou vendo ela em lugares que não tem ela… melhor procurar um profissional. Tratar da cabeça.

Ou ela poderia estar ali.

Agora, que foda, universo. Eu vim ficar sozinha e a Verônica tá aqui. Obrigada por mais esse sinal.

Desviei o olhar e pedi mentalmente que Verônica viesse falar comigo. Ela viria, se me enxergasse. Eu poderia conversar com ela.

Verônica era a que sabia de tudo e esteve lá na pior e na melhor parte.

Verônica

Quando me aproximei, Paola não estava tão tranquila. Mas ela estava tentando relaxar.

Abaixei, dei um beijo na testa dela e fui buscar minha mochila. Voltei me enxugando com a toalha, depois a estendi na areia e sentei.

- E aí, Pá? O que tá rolando?

- Muita coisa. – ela disse, reparando no meu corpo ainda úmido. Suspirou e desviou o olhar para a bela paisagem à frente.

- Só em algumas horas que a gente não se viu?

- Pois é. – me olhou. – A minha mãe voltou. – imediatamente uma revolta se instalou em mim. Tentei ignorar isso.

[Flashback On]

No dia seguinte, com a Paola nos meus braços depois daquela noite horrível que terminou com o pedido de namoro dela, eu estava feliz, mas preocupada.

Mesmo que fosse mãe adotiva, que direito ela teve de fazer isso com a Pá?

Que coisa horrível.

Ela parecia dormir tranquila, ainda bem.

Ao pedir a minha mãe pra buscar a Paola, tive que assumir o que estava sentindo por ela. Minha mãe me acolheu, me ajudou e disse que conversaríamos melhor depois.

Suspirei.

Paola estava acordando. Me apertou mais forte contra seu corpo.

- Posso acordar todos os dias sentindo seu cheiro sem problemas. – falou contra meu pescoço.

- Eu queria que dormisse comigo todos os dias. – queria que Paola não tivesse mais que voltar pra casa e sofrer.

- Não quero ir pra casa.

- E eu não quero que você vá.

- Amo seu jeitinho de me proteger.

- Você sempre fez isso comigo. Lembro dos seus conselhos pra ter cuidado porque eu andava aérea na rua, quando ainda éramos apenas conhecidas que se cumprimentavam nos corredores.

- Na verdade, Vero, eu tenho vagas lembranças suas de enquanto ainda era primeiro ano, e você sempre andou aérea em qualquer lugar.

- Eu sempre tô pensando e viajando em coisas inúteis. – dei de ombros, arrancando um riso dela. – De uns tempos pra cá, é viajando e pensando em você. – ela ficou tímida. – Como conseguiu me deixar tão apaixonada desse jeito?

- Se eu soubesse, nunca diria a você. Vai que resolve não gostar mais de mim.

- Gostar desse jeito de você foi uma das melhores coisas que eu fiz na minha vida. E ficar com você foi de longe a melhor decisão que já tomei. – beijei sua testa.

- Que bom que você é minha namorada. Não sei como lidaria com isso se ficasse comigo e depois seguisse em frente.

- Segui em frente com meu sentimento por você.

- Isso foi maravilhoso.

- Não é como eu pudesse conter alguma coisa que sinto. Nunca pude e acho que nunca vou poder. Posso conter impulsos, mas… não meu coração e minha mente que devaneia o tempo todo.

- Isso é lindo, porque você soa como um poeta.

- Você é a que sabe se expressar com palavras, transforme em poesia.

- Nosso amor já é poesia, Verônica. Você é pura poesia. É como vejo você. Uma poesia a ser lida e interpretada, em forma de menina-mulher.

- Uma poesia dedicada a você. – falei e a abracei com força. 

[Flashback Off]

Eu não queria lembrar disso, queria lembrar da recepção nada calorosa que a mãe dela fez quando voltamos. Foi extremamente grossa e não respeitou nenhuma de nós (eu e a minha mãe), por termos “levado a filha dela”.

Ela só não sacou que eu e Paola estávamos namorando porque eu estava usando vestido e sapatilha. Sim, isso realmente aconteceu, ela nem desconfiou porque eu estava toda uma patricinha. Entrei de mãos dadas com a Paola, e só não fui condenada e apontada pela mãe dela porque não estava “vestida a caráter”. Quando ela soube que era eu, ficou mais louca ainda. (e obviamente me apontou julgou e discriminou também)

Como se existisse algo como “O Manual da Lésbica” e fosse rigoroso, tipo “se você não segue alguma dessas regras, não é lésbica e ninguém vai te tratar como tal”.

Aliás, esse negócio deveria existir.

Mas não pra ditar regras, claro.

E sim pra ensinar à gente coisas importantíssimas, de utilidade pública e lições de vida, tipo: “como não se apaixonar por héteros”, “como flertar com uma mulher”, “como ter certeza que ela é e quer sem chegar beijando”, “como não machucar a parceira com a unha”, “como dosar a possessividade”, “como tirar ela do armário sem que ela perceba”, “como ter paciência com machos ridículos que não entendem o sexo lésbico e sua superioridade e perguntam ‘não sentem falta de nada?’”, “como explicar pra sua passiva/ativa que você quer inverter os papéis”, “como lidar com o tesão por gente inalcançável e/ou comprometida”, “como provocar”, “como resistir a provocações”, “como fazer um bom lap dance”, “como lidar com os dramas constantes de um relacionamento lésbico”, “como não cair em tentações estando comprometida”, “como superar a ex”, “como lidar com a ex não superada”, “como lidar com aquela sua amiga que quer pegar sua ex que você disse ter superado (mas é mentira)”, “como transar gostoso”... enfim, essas coisas que a gente passa, ninguém nasce sabendo e aprende sozinho, com a prática e/ou observando os outros.

Tem gente que não aprende nunca e nem vai aprender.

Eu mesma não sei quase nada. Espero saber transar gostoso e flertar, no mínimo. Mas todo mundo pode notar que tudo que envolve ex eu não sei mesmo.

É, o Manual da Lésbica seria inútil. Só serviria pra dar um aviso que estaria próximo a “olha moça, se você é sapatão, tem 99% de chance de passar por tudo isso. Sentimos muito porque sapatão só sofre”.

- Voltou pra que? – perguntei depois de toda essa loucura aí que eu tinha pensado, enquanto Paola estava em silêncio. – Pra atacar mais ainda?

- Não, pra pedir perdão.

- Isso é bom. E como você se sente?

- Não sei se bem ou mal. Acho que um pouco dos dois.

- Quer me contar?

- A minha mãe vai morrer, Verônica. Ela veio porque está morrendo. Se estivesse bem, não aprenderia o que aprendeu e não viria. – fingi que não me surpreendi.

- O que ela tem?

- Câncer. Descobriu meio tarde pra tratar. – achei muito triste mas me segurei firme para oferecê-la apoio e não deixei meu queixo cair.

- E o que ela aprendeu?

- Que toda a forma de amor é válida e bem-vinda, afinal, é amor. Amor faz bem. Ela conseguiu enxergar isso ao conversar com outra paciente com a doença dela, uma adolescente que tinha uma namorada. Essa namorada ia visitá-la todos os dias depois do almoço, a beijava e contava como foi o dia na escola, até que um dia não tinha mais pra quem contar. – esse tipo de história sempre me sensibilizou bastante. Dessa vez não foi diferente, mas, outra vez, eu não deixei transparecer. – Minha mãe ficava lembrando de mim quando a via, do fato que ela não sabia se eu estava viva ou não, e se sentiu a pior pessoa do mundo. Isso a fez voltar.

- Você a perdoou?

- Tive que perdoar, não podia fazer outra coisa. Sinto falta dela e ela está morrendo. Preciso desses últimos tempos com ela. Perto dela.

- Ela foi boa pra você, hoje.

- Como não é há muitos anos. E eu vou sentir muito a falta dela. – Paola estava emocionada. – Ela tem um filho, de cinco anos, o Rodrigo. Me mostrou fotos dele. Um garotinho lindo, a cara dela. E está louco pra conhecer a “irmãzona” dele. – no caso, ela – Um amor. Que vai ficar sem mãe, e vai se adaptar provavelmente melhor e mais equilibrado emocionalmente do que eu.

- Paola, só aconteceu de ser uma semana conturbada pra você. Mas estavam acontecendo coisas boas contigo. Sua vida não estava de pernas pro ar.

- É, agora eu sinto que está.

- É só uma sensação. O mundo não está ao contrário. Olha esse mar. Como a natureza é perfeita e está aí, toda pra nós. Deixe que isso entre na sua mente e relaxe você, porque tudo vai se ajeitar, aos poucos. – falei, me apoiando nos braços e respirando fundo, de olhos fechados.

Dois minutos e eu não conseguia mais ficar de boa porque Paola estava com os olhos no meu corpo. Eu conseguia sentir o olhar dela. Abri um olho só pra checar e estava certa. Paola me secava.

E eu só conseguia me sentir mais molhada.

Como proceder?

Paola

Por que tão gostosa?

Quando ela saiu do mar eu só pude olhar seu corpo. O biquíni azul escuro, a pele levemente bronzeada, as pernas lindas e definidas, a barriguinha lisa mas não sarada, os peitos...

Eu não deveria ficar olhando assim.

Verônica me deu um beijo na testa e meio que foi embora, me dando chance de ver sua bunda. Desde que voltamos a nos falar, eu sabia que ela estava mais gostosa, mas eu nunca havia me permitido olhar.

Não desse jeito, por inteiro, perdendo bons segundos pra reparar.

Porque quando eu olhava Verônica, antes, eu realmente olhava. Perdia tempo, minutos, horas, só olhando.

Eu já havia pego o olhar dela na minha bunda algumas vezes. Mas eu não sabia se era porque ela pensava em mim de outra forma ou porque simplesmente gosta de bundas.

Ela gosta de bundas, claro que eu sei disso.

Conversamos um pouco e ela terminou me dizendo pra aproveitar o que a natureza poderia me oferecer, porque, na verdade, eu não tinha problema nenhum. Ela estava certa. Nessa hora o sol até abriu um pouco mais. Verônica fechou os olhos, apoiada nos braços, e eu temporariamente esqueci de tudo e voltei à minha questão quando a vi.

Por que tão gostosa?

Por que ela ficava tão perfeita aos meus olhos?

Vero não era nada feia, nadinha mesmo, pelo contrário, já nasceu linda e sempre foi acima da média, mas não no quesito corpo. Não que isso fosse importante pra mim, não me apaixonei por isso, mas o corpo dela sempre mexeu muito comigo. É perfeito, atraente e convidativo demais, quase de um jeito enlouquecedor, pra mim.

Isabella tem um corpo lindo. Bem gostosa, sempre foi, aos olhos de todos. Quando ela passa, todo mundo olha duas vezes. É isso que quero dizer. O corpo dela é maravilhoso. E me atrai também.

Mas não como o corpo da mulher ao meu lado.

Não sei se porque eu já estive mais com Verônica, mas o corpo dela tem detalhes. Tem curvas particulares. E consegue me atrair exatamente nesses detalhes. Ela tem uma cintura fina e linda, por exemplo. Tem covinhas nas costas, outro exemplo. Tem umas pintas pelo corpo que a deixam muito sexy, como aquela ao lado do seu osso saliente da bacia, que o biquíni não me deixava ver, mas eu sabia que estava lá.

O corpo dela é como se fosse uma obra de arte, se olhar rápido, perde a perfeição oculta nos detalhes.

- Eu consigo sentir que está me olhando. – balde de água fria.

- Sinto muito por isso.

- Por me desejar? – não respondi – Não é desse tipo de peça que você gosta? Eu estou seminua, claro que você vai ser atraída e olhar. O problema não é esse.

- E qual é?

- É que eu consigo sentir seu olhar. É que você parou de pensar em tudo e resolveu olhar pra mim. Isso não me deixa confortável, principalmente vindo de você.

- Seu corpo me distraiu de toda a loucura que acontece. É esse o problema?

- E também que eu não posso fazer nada enquanto você me olha. Nem te impedir, nem querer alguma coisa.

- E eu posso? – não é meio engraçada, essa situação?

É algo como: ambas sabemos que queremos dar uns beijos e isso está mais do que aberto e claro. Mas temos medo de estarmos querendo coisas diferentes depois desses beijos, e algo forte (a força de todo o universo, parece) nos puxa pra perto, e outra coisa, fraca, mas não insignificante, ainda nos repele. O medo do que acontecerá depois.

- Pois é.

- Teoricamente, Verônica, eu posso. Não te contei, mas estou solteira. – ela apenas me olhou e levantou uma sobrancelha. – Já sabia, né?

- Sabia. Te vi sem a aliança, estava esperando que me contasse.

- Isabella deu um tempo na gente por causa de você.

- O que?

- É, eu a chamei de Verônica sem querer.

- Não me diga que foi na hora do sexo. – acabei rindo.

- Se eu fizesse isso já estava morta. Fui repreendê-la, estávamos numa pequena discussão, e simplesmente falei seu nome. Foi sem querer. Eu nem sei no que tava pensando, pra poder dizer que tava pensando em você. Não acho que estava.

- Eu tentei de tudo e usei de cada recurso ao meu alcance pra não interferir no seu relacionamento, vocês terminam e você me conta que a menção do meu nome causou isso?

- Quero te contar o que aconteceu. Você não teve nenhuma interferência, a verdade é que Isabella já queria isso e procura isso faz tempo. Tudo o que eu fiz foi me chatear, pela primeira vez, e transformar o tempo num término de verdade.

Verônica

Paola me contou tudo e eu fiquei meio nervosa.

Ok, Isabella agiu como uma idiota, não importa, mas… Por que eu era aquele porto seguro pra ela desabafar?

Tudo bem que não planejamos isso, mas Paola me contava tudo. Eu sabia de tudo. Percebi que era realmente uma amiga dela. Estava parecendo que eu fiquei presa na friendzone (e em parte por minha escolha).

Isso me deixou deveras incomodada.

- Estamos certas, não é? – perguntei.

- Como assim?

- Estamos certas nos relacionando. Digo, sendo amigas. Não é?

- Não sei, Verônica. É difícil pra mim. E parece que somos difíceis pro universo também, porque eu vim aqui por acaso, buscando ficar sozinha, pensar e relaxar. E você tá aqui.

- Quer que eu... ? – gesticulei na direção da rua.

- Não, foi maravilhoso conversar com você. Sempre é, Vero. Você é maravilhosa e eu queria fazer por você pelo menos metade do que já fez por mim durante toda a minha vida.

- Você nem sabe o que fez pra mim, né?

- Verônica, vamos encarar que não foi praticamente nada.

- Enfia essa sua mania de se subestimar no cu, pode ser? – Paola me olhou meio “tá louca?” – Porque pra falar contigo tem que ser assim. Paola, eu não fazia ideia de que gostava de mulher até você chegar. E eu amo mulher. Gosto mesmo, gosto demais, adoro. É porque não existe uma maldita máquina de possibilidades ainda. Alguém precisa inventar isso.

- Pra quê? – ela riu.

- Pra você ver como seria a minha vida sem você nela. Se a gente nunca tivesse namorado. Você ia ver. – Paola gargalhou.

- Provavelmente, você seria mais certinha. – apertou meu nariz.

- Certinha? Pra começar, eu estaria namorando com o menino que destruiu nosso namoro.

- O que? – ela não ficou feliz.

- Sim, Paola, já te expliquei que tínhamos algo, só nunca marcamos pra ficar. A gente se dava muito bem, namoraríamos por anos, provavelmente.

- Eu estaria sozinha e sem pegar ninguém.

- Isabella ficaria contigo. Outra pessoa me diria que eu deveria virar atriz ou eu mesma descobriria, já que não estaria apaixonada e lerda. – Paola riu. – Eu faria a faculdade feliz, talvez lá eu ficasse com alguma menina e questionasse minha sexualidade pela primeira vez. Acho que terminaria meu namoro da época do colégio por lá.

- Eu então seria chutada pela minha mãe, sofreria mais, já que não haveria você, escreveria meu livro, talvez com uma Melissa menos Verônica e mais Isabella, me formaria, meu livro viraria peça... E você faria tudo o que você fez até chegar na audição da peça.

- E aí eu conheceria você?

- É. – ela sorriu. – Se não esbarrássemos antes, no parque. – ri.

- E depois? – eu me apaixonaria por Paola, claro. Destinada a ser trouxa.

- Tenho certeza de que eu… me apaixonaria por você. – fiquei sem palavras.

- Paola!

- O que foi? – ela riu. – Na máquina de possibilidades, é tudo hipotético. Mas eu realmente acho que a gente aconteceria de uma maneira ou de outra, seríamos atraídas, apaixonadas, sei lá. Tudo. Ou qualquer coisa. A gente teria que passar na vida uma da outra.

- Por quê? – ela deu de ombros.

- Já sentiu alguma vez que alguém é sua alma gêmea e nunca vai acabar?

- Sim.

- Pois é.

- Você me fez sentir isso. – dissemos juntas. 

Silêncio total.

Paola deu uma risadinha.

Quis enfiar a cara na areia.

Eu do nada me senti meio exposta, não por estar de biquíni e ela de calça, mas por estar nua emocionalmente e ela ainda coberta, porque Paola tinha aquilo de ir e voltar, sem se entregar diretamente e completamente.

E, naquele caso, eu não tinha certeza se ela se entregava ou não, ou era só uma nostalgia desse tempo. Se fosse só isso, eu estava fodida, porque estava entregue e sentia saudades dela. Não saudades do que vivemos.

Saudades da Paola.

- Esse pôr-do-sol... – a ouvi dizer. – Você me deixaria beijá-la, Vero? – do nada

- Não. – imediatamente respondi. – Mas se você simplesmente beijasse, eu te beijaria de volta.

- Por quê? – dei de ombros.

- Tenho medo. Vai que tudo o que você sente é saudade do que vivemos, como eu fico?

- O que você sente? – e ela me queria mais exposta ainda.

Quem tá na chuva é pra se molhar mesmo.

- Sua falta. Saudades de você. O que a gente viveu já passou. Eu pedi pra você voltar pra minha vida pra que eu deixasse de sentir sua falta. E eu continuo sentindo. Agora já sei porque. – eu não queria viver tudo de novo, queria viver tudo com ela de uma maneira diferente. Melhor.

Eu faria com que fosse melhor.

- E seria por quê?

- Não me sinto segura pra falar. – seria entregar meu coração remendado pra ela de novo. Não era algo que eu queria fazer agora.

- Saiba que eu deixei de sentir o que sentia por você. Quer dizer, acho que deixei. Até que esbarramos, e eu fiquei muito nervosa. Desestabilizada. Eu perdi o controle das coisas dentro de mim. E me encantei por você de novo. Completamente. Talvez até de uma maneira mais forte.

Que fosse mais forte mesmo.

- Não sinto saudades. Sinto vontades, Verônica. – se eu tombei?

- Que vontades?

- Não é pra sacanear, mas… não me sinto segura pra falar. Tenho medo do que aconteça e de estar me precipitando.

- Eu sei. Você não conseguiu pensar ainda.

- Não é que não consegui pensar. – não conseguiu decidir. – Pensar, eu pensei… até demais, até quando não podia, devia ou queria. Pensei sim. – ela disse que vem pensando em mim.

Sem saber o que dizer, assenti e ela voltou a olhar o pôr-do-sol que estávamos perdendo. Voltei a me apoiar nos braços, e olhei pra ela.

O rosto dela é lindo. Paola é tão bela. O exterior dela reflete e transmite tudo de bom que há no seu interior.

Ela quem é pura poesia, pensei comigo mesma, resolvendo finalmente observar a paisagem. O sol estava quase completamente escondido, e o céu parecia uma pintura. Sorri, me sentindo bem pela influência de uma visão tão linda.

Meu sorriso foi interrompido pelos lábios da Paola nos meus.

Paola

Saudades de mim. Verônica queria poder viver um relacionamento comigo.

Não era uma recaída, da parte dela.

Era a proposta de um recomeço.

Eu não sabia bem, com certeza, se eu realmente estava pronta.

Mas quando olhei pra ela e ela olhava pro céu com um sorriso, eu desliguei. Desliguei os botões de “reservas e medos”. Apenas atentei para o fato de que nunca a vi tão linda, e nunca quis tanto tê-la nos meus braços sem poder.

Então, querer se tornou poder.

Segurei seu rosto e selei nossos lábios. Ela não esperava, e levou um segundo ou dois pra reagir. Sua reação foi afastar a boca da minha. Abri os olhos com a falta de contato, ela me olhou confusa.

Tirei minha mão do seu rosto, mas não me afastei. Colei a testa na dela, rocei nossos narizes. Meu coração estava acelerado, e eu não conseguia dizer nada, mas fazia um pedido silencioso.

Por favor, Verônica.

Como se me escutasse, ela segurou meu queixo e acabou com o centímetro que separava nossas bocas. Vero entreabriu os lábios e deixou que encaixássemos para o próximo passo, beijar de língua. Minhas mãos encaixaram-se em sua cintura.

Quando minha língua tocou a dela, ela gemeu baixinho na minha boca e segurou na minha nuca, transformando completamente o beijo.

Era um novo velho beijo, cheio de saudades, sentimentos e um desejo de que fosse interminável. Um novo primeiro beijo. Dessa vez, eu tomei a atitude nessa porra.

Beijar alguém que você queria pra caralho faz desse beijo o melhor, ou um dos melhores. Há semanas quero dar esse beijo na Verônica. 

Semanas nada, anos. Desde sempre. Vivi pra dar esse beijo nela.

Quando me faltou o ar, diminuí o ritmo. Verônica mordeu o meu lábio inferior e ambas suspiramos na boca uma da outra em seguida. Entre nós, fazia 40 graus. Ou mais.

- Porra. – ela disse, passando a outra mão pela minha nuca e me segurando ali.

Como ela usava os braços como apoio, descemos. Ela deitou na areia e eu fui puxada. Caímos já no segundo beijo, sem se importar.

Claro, estava gostoso pra caralho e tudo no meu corpo parecia comemorar e gritar o nome dela. Mordi e chupei o lábio inferior dela pra minha boca, ela fazia carinho no meu cabelo.

Verônica gemeu e deu tapinhas no meu ombro.

- O que? – perguntei, ofegante e já sentada. Ela sentou de novo e voltou a me beijar, dessa vez quase me empurrando na areia.

Será possível estarmos nos pegando como duas adolescentes cheias de hormônios?

Resposta: sim.

E eu parecia mesmo uma adolescente cheia de hormônios, pelas coisas que estava sentindo.

- Verônica... – sei lá depois de quanto tempo, eu me senti sufocada com aquelas roupas, excitada, beirando à loucura. Ela estava quase no meu colo, e beijava meu rosto, descendo pro pescoço.

- Porra, você é tão cheirosa. – cheirou meu pescoço, mordendo de leve.

Eu vou morrer...

Verônica

Eu congelei por um segundo, sem acreditar naquilo.

Paola, me beijando?

Ela estava claramente confusa há minutos atrás, então a afastei. O suficiente. Só que ela não saiu.

Colando a testa na minha, roçando o nariz no meu, ela pedia um beijo, com carinho, praticamente me coagindo a beijá-la.

E eu beijei, agradando a todos os meus órgãos (forçando alguns a trabalhar um pouco mais inclusive), todos os meus instintos, e molhando o meu biquíni de outro líquido. Perdi completamente o controle.

Eu e meus extremos. Me controlo há tempos, e agora que ela me fez perder o controle, nada sobrou dele. Ou, talvez, eu gastei tudo pra sair do beijo de manhã cedo.

Quando percebi, estava deitada na areia (na toalha), Paola “amassando” minha boca daquele jeito maravilhoso. Até que ela mordeu meu lábio inferior e chupou. Puta que pariu.

Me fode bem aqui, Paola.

Quando percebi no que pensei, a mandei sair de cima.

- O que? – ela perguntou. A boca entreaberta, vermelha e convidativa. Ela lambeu os lábios e tentou controlar a respiração ofegante. Só faltava dizer meu nome pra eu gemer bem ali olhando aqueles lábios.

Não consegui me conter e ataquei a boca dela novamente.

- Verônica... – foi meio gemendo, uma delícia. Eu beijava quase seu pescoço, morrendo de vontade de sentar em seu colo e rebolar. E me livrar dos malditos tecidos molhados no meu corpo.

- Porra, você é tão cheirosa. – respirei fundo e a mordi. Chupei, deixei marquinha provavelmente. Mas nem atentei pra nada disso, desde que nossas línguas se encontraram de novo, eu fazia o que sentia vontade.

Paola apertou minha cintura com as duas mãos e me puxou mais perto, como quem chamasse pra sentar nela.

Só então percebi o que estava fazendo.

- Caralho. – saí de uma vez do beijo, só que ela havia acabado de morder meu lábio inferior, daí me machuquei no movimento brusco. – Ai!

- Te machuquei? – lambi os lábios, gostinho de sangue. Claro, porque eu não podia sair ilesa de um amasso com a Paola depois de todo esse tempo.

- Só um pouquinho. Mas foi porque eu saí de vez, desculpa. Precisei fazer isso. É que tem uma lei que diz que não podemos transar em público. – o queixo de Paola caiu.

- Transar? – ela ainda estava um pouco atordoada.

- Você sabe o que aconteceria se eu sentasse no seu colo. – ri, mas de nervoso. – Sinto muito, Pá, perdi completamente o controle.

- Eu beijei você. Eu quem perdi o controle.

- Mas eu quem fiquei muito... – tive que deixar a frase morrer antes que falasse merda. – Deixa pra lá, tá escuro, vamos sair daqui. – levantei, pegando minha mochila pra vestir minha roupa.

- Verônica. – ela segurou meu braço. – Não quero parar. – o olhar dela dizia “sente no meu colo e acabamos com isso aqui”, eu só pensava que não podia ser presa, mas que estava sim querendo não ter mais nenhuma sanidade.

- Na verdade, você não quer deixar que acabe pra não ter que pensar nisso. Estamos no mesmo barco. – vesti minha blusa, desamarrando a parte de cima do biquíni e tirando, como se tira sutiã sem tirar a blusa. – Odeio estar fazendo isso. Mas uma hora teria que acabar. – peguei meu short, vesti e fiz a mesma coisa com a parte de baixo do biquíni, desamarrei e tirei.

Com um pouco mais de dificuldade, claro.

Guardei as peças molhadas num saquinho dentro da minha mochila.

- Você vai sem calcinha e sem sutiã pra casa. – falou como quem faz um diagnóstico.

- Aham. – falei. Eu trouxe uma calcinha, mas decidi não vestir pra não arruinar. Paola passou as mãos pelo rosto, meio que desesperada. – O que foi?

- Como você quer que eu me sinta?

- Bem. – ela riu.

- Eu não consigo broxar. – pensei em quanto Paola poderia estar excitada e em mim entre suas pernas. Morria de saudades do gosto dela.

Também não consigo não.

- Ficou excitada? – fingi que pra mim não foi nada.

- Você tá toda melada, eu tenho certeza. – levantou de uma vez e me puxou pela cintura, me deixando presa, e a outra mão já no meu cabelo pra eu não sair mesmo.

Quem quer sair de uma pegada dessas?

- Não, essa pegada não… Sua escrota.

- Eu posso sentir e ver que isso te agrada, Verônica. – ri nervosa, encostando minha cabeça no ombro dela. Paola mordeu minha orelha. Que filha da puta.

Olhei pra ela, que estava com o tesão estampado até no rosto. Eu deveria estar do mesmo jeito.

- Como a gente apaga esse maldito fogo sem cometer um crime? – atentado ao pudor.

- Meu carro. – ela disse contra meus lábios.

- Eu preciso pegar a bicicleta do meu irmão. – lembrei dessa merda agora.

- A gente pega e bota lá no carro. Vamos logo. – guardei minhas coisas, ela calçou os pés e fomos. Tudo escuro, já. E as ruas cheias. Seis da tarde.

Quanta gente não deve ter visto a gente se pegar...

Ok que eram boas semanas de tesão reprimido pela Paola, mas eu não acredito que estava enlouquecendo assim com uns beijos e ia mesmo fazer isso, correndo o risco de se arrepender e as consequências não serem boas. Paola tá descontrolada e eu tô pior ainda.

Fomos andando de mãos dadas até o Régis pra pegar a bicicleta do Daniel.

Sentindo nossas mãos juntas, eu lembrei: ela já foi a melhor e a pior pessoa com meu coração nas mãos. Ela me deu os melhores orgasmos da minha vida, porque eu estava sempre morrendo de tesão como agora. Nunca houve na minha vida inteira uma pessoa com quem eu fosse tão conectada como sou com Paola.

Quer saber? Não somos estranhas e a coisa tá bem difícil em todos os sentidos. 

Tenho mais é que dar sim.


Notas Finais


desde que comecei a revisar esse capitulo to ouvindo closer porque closer é uma musica que me lembra essas duas

até mais, amo vocês


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