1. Spirit Fanfics >
  2. Nostalgia >
  3. Em Nome do Amor.

História Nostalgia - Em Nome do Amor.


Escrita por: lovetomez

Notas do Autor


OLALALALALAÔ NÃO TEM TERROR NÃO TEM CAÔ

oi pessoal e aí?
voltei! desculpa ter demorado, culpa dos estudos e não da preguiça

mas oq importa é que voltei e poxa, esse capítulo é mó grande
bem gostosinho
boa leitura!

Capítulo 7 - Em Nome do Amor.


Verônica

Tinha o livro da Paola em mãos.

Não pesava quase nada, mas na minha cabeça, tinha muito do que eu queria distância ali. Então, pesava pra caralho. Me entende?

Li o resuminho de trás.

“Melissa é uma garota otimista, mas acaba de sofrer uma grande perda. Ela sente muita falta do seu grande amor, e perde grande parte da sua alegria de viver e otimismo. Mas a descoberta de uma nova e completamente inesperada paixão a coloca em uma situação difícil. Em Nome do Amor, ela vai superar o passado?”

A parte em destaque era o título do livro, que tinha uma capa bonita, a silhueta de uma menina de cabelos longos numa praia ao pôr-do-sol.

Naquele dia das cartinhas, do shopping com o Daniel e do encontro com Mariana, prometi a mim mesma que começaria a ler logo, enquanto entocava as cartinhas dela num lugar escondido qualquer. E comecei no mesmo dia, antes de dormir. Achei que seria um livro bem dramático, mas eu estava rindo bastante, gargalhando, às vezes.

Era um livro maravilhoso!

Melissa era incrível, muito engraçada, alto-astral e linda. Na minha cabeça era linda. Ela perdeu o namorado. Ele era do exército, estava recluso lá, e no dia em que voltaria, sofreu um acidente de carro e morreu. Obviamente, foi um puta baque pra ela.

Ela fica tentando sair dessa com piadas (inteligentíssimas) muito boas, seu otimismo nato, e a ajuda da melhor amiga dele, que desconfio estar a fim dela. Sei lá, eu sou gay, ela faz meu gaydar apitar. As duas fazem.

Mas estou na metade do livro, então não sei. Se você leu, não me conte.  

Paola realmente conseguiu me entreter. Eu estava voltando a ser uma fã da sua escrita, e queria dizer a ela que escrevesse mais livros, imediatamente.

Sei que pensei sobre esquecer Paola e todo mundo sentiu isso. Mas a palavra não era esquecer.

Era superar.

E superar o nosso término. Encarar, aceitar e superar.

Pensava nisso enquanto encarava o livro, que eu queria ficar lendo, e queria falar com Paola assim que terminasse minha leitura compulsiva. Mas tinha aquela audição, eu precisava ir.

Como eu morava perto do teatro (e de praticamente tudo), fui de bicicleta, ia chegar às 14h30 certinho, na hora marcada, mas me desequilibrei com a bicicleta na chegada e atrasei dois minutos pela quase queda, precisei me limpar, porque usei as mãos pra restaurar o equilíbrio. Então, precisei ir ao banheiro lavá-las.

Entrei afobada, mas me ajeitei assim que vi mais pessoas perto do palco, lá embaixo. Ok, vai ficar tudo bem, é só descer e arrebentar nesse caralho, pegar o papel e pronto. É simples.

- Verônica, certo? – disse o homem com cara de diretor.

- Sim.

- Está atrasada.

- Só três minutinhos. Tive um probleminha com a bicicleta.

- Que problema? – checando se eu estava mentindo.

- Quase caí na rua. – os presentes deram risada. – Acontece. – ri sem graça.

- Você é ótima. – ele disse rindo. – Sente ali na primeira fileira com as meninas. – assenti e me juntei às meninas que provavelmente disputavam o meu papel.

Sim, estou confiante. Atitude.

Nem sei o que é que vou interpretar, mas preciso trabalhar.

O cara começou a falar, disse que o nome dele era Rob, ou qualquer coisa assim, e falou do espetáculo e do que esperava pra ele. Contou que seria a adaptação de um livro, e levantou o exemplar que estava repousando em cima do palco.

Gelei da cabeça aos pés.

- “Em Nome do Amor” foi um sucesso há alguns anos, e eu resolvi transformá-lo numa peça de teatro, com a parceria da autora... – meu queixo caiu bem nessa hora aí.

Eu estava numa audição pra um papel na peça do livro da Paola. Que eu estou lendo.

OK UNIVERSO, EU JÁ ENTENDI, EU E A PAOLA TEMOS ASSUNTOS INACABADOS PRA RESOLVER QUE NÃO PODEM ESPERAR PARA A PRÓXIMA ENCARNAÇÃO, EU COMPREENDO E ME RENDO.

Não vou aceitar nada nesse caralho se eu não for interpretar a Melissa.

- Ela confiou em mim para selecionar vocês e escolher os definitivos, então, com exceção das Melissas – apontou pra mim e as meninas ao meu lado, agradeci internamente, eu sou a Melissa. – nenhum de vocês vai ter o juízo de valor da autora disponível. As Melissas ficam aqui, o resto de vocês sobe pras fileiras lá em cima.

Ele foi obedecido por todos. E parou na nossa frente, nos dando um pequeno texto.

- A Melissa é obviamente a protagonista, é a mais importante e a preferida da autora. Claro que eu adoraria que ela dissesse isso a vocês, mas… enfim, preciso adiantar, vão pras coxias e treinem o texto. Vocês têm alguns minutos. Interpretem da maneira que acharem melhor. Já chamo vocês. Boa sorte.

- Hey, vocês sabiam qual era o papel? – perguntei a elas quando entramos nas coxias.

- Óbvio né. – disse uma delas. Ih, nojenta.

- Eu não sabia não. Seja lá quem falou comigo, falou muito rápido e eu não entendi muito bem. – uma morena muito linda me disse. Assenti, aconteceu o mesmo comigo.

- Nem eu. – depois disso, fui observar o ambiente e ler meu texto. Era um dos parágrafos iniciais do livro e um do clímax, provavelmente. Pelo menos não tinha nenhum spoiler pra mim, que ainda estava lendo o livro. Se eu for bem nessa audição, volto pra casa e termino esse livro ainda hoje.

Trabalhei um pouco a entonação e logo decidi que faria o mais simples. Eu sentia que Melissa estava próxima de mim mesma. Me identificava com ela um pouco, durante a leitura.

- Finalmente, a Paola! – ouço o tal Rob dizer, e meu sangue esquenta. Ninguém me avisou que eu ia ver a Paola. Eu não estou pronta pra isso. Não tô.

Mas eu quero vê-la. 

Paola

- Ah, já eu acho que vai ser bem legal. Só vai levar alguns minutos. Uma hora, talvez.

- Ainda bem que é você quem tem que fazer então, amor. Eu acharia um saco. Gosto de teatro, mas sempre odiei toda a agonia por trás de uma peça. Sou apenas uma espectadora, mesmo. Admiradora.

- Hm… Bella, posso perguntar algo? – falei, sentando na última fileira de assentos do teatro. As luzes estavam bem acesas, pois, lá embaixo, nas primeiras fileiras, estava o pessoal da produção. E uma boa quantidade de atores sentados.

- Claro que pode. – eu fui chamada para julgar as audições.

Pois um diretor e alguma empresa patrocinadora ficou com interesse em transformar o meu livro numa peça teatral, como eu já havia comentado. Aceitei, fui totalmente a favor, ia adorar. Inclusive a volta do meu livro me fez querer escrever mais novamente. Ainda não produzi nada, mas estava empolgada.

Pude participar da organização do roteiro, e das audições agora, com atores previamente escolhidos pelo diretor e sua equipe, que se pareciam com os meus personagens.

Mas eu não quis me meter, apenas opinar na escolha da Melissa, minha protagonista.

- Se eu ficar nesse ramo e escrever um musical, você estrelaria? – imagina que lindo. Eu escrevo e Isabella vai lá maravilhosa, atua e canta com o meu roteiro.

Relationship goals.

- Não sei, Paola. Canto por diversão. Mas se a história fosse muito boa, e você me julgasse como boa atriz, além da voz bonita, por que não né? Dizem que devemos tentar de tudo na vida. E eu quero tentar tudo o que puder.

- É bom ouvir isso. – o diretor percebe que eu cheguei e estou desperdiçando tempo no telefone. Acena pra mim e me chama, aceno de volta. – Tenho que ir. Beijo.

- Beijo, amor.

Desliguei e desci as escadas, indo até a primeira fileira. 

- Finalmente, a Paola!

- Ah, Rob, não estou tão atrasada assim. – ele riu e apertamos as mãos.

- As meninas já estão aí, vamos começar?

- Claro, bora. – sentei na primeira fileira ao lado dele, que reparei ter pego um microfone sem fio.

- Podem entrar as meninas para o papel de Melissa. – entraram quatro meninas.

- Não eram cinco? – perguntei.

- Parece que uma já desistiu. – a mais próxima das coxias disse, olhando pra lá. – Ela tá nervosa. – falou, rindo. – Nem consegue entrar. – riu mais, sendo acompanhada pela concorrente ao lado. Achei maldoso. Já não queria elas interpretando a minha preferida.

- Não desisti, não! – gelei com a voz. A quase desistente entrou no palco, só pra que eu confirmasse. Suspirou. – Estou aqui. – e sorriu, confiante.

Verônica.

Fazendo mais uma aparição inesperada na minha vida. Sem nem ter me deixado superar o intenso esbarrão no parque, semana passada.

Apenas querendo estrelar a peça do meu livro.

De cabelos presos num rabo de cavalo meio desconjuntado, vestindo um short jeans acinzentado e camiseta verde.

Acho que não consegui evitar a cara de “que merda!”, porque a Melissa, minha personagem, querendo ou não, era parecida com Verônica. Porque era inspirada nela. Não queria que ela soubesse disso.

Eu não pude evitar que acontecesse, era profundamente apaixonada por ela, mesmo que meu livro só tivesse saído depois que terminamos, e eu estivesse muito magoada, ainda continuei amando Verônica por um bom tempo.

E agora ela é atriz. Não sei como vou me sentir se ela passar na audição e interpretar a personagem inspirada nela.

- Vamos começar?

Eu fiquei, como da primeira vez, imersa em lembranças e uma bagunça emocional, mas consegui assistir, mais ou menos, a todos os testes.

A primeira foi maravilhosa. A segunda foi péssima. A terceira foi medíocre, a quarta foi boa. E a quinta foi… a Verônica.

E eu não lembrava que Verônica era atriz. Ela me fez lembrar. Pisou em todas as outras. Arrasou. Rob a aplaudiu de pé.

Eu também a aplaudi, só não cheguei a levantar, talvez por nervoso pela sua presença, porque ela merecia, foi Melissa ali no palco. Simples e genuína. Não acharíamos melhor. Ela sorriu e sentou na beira do palco, pulando para o chão em seguida.

Bem na minha frente, a menos de cinco metros de distância.

Poderia ter usado as escadinhas do palco.  

Resolvi, por ora, largar todas as minhas inseguranças sobre os dias que viriam e sobre ela, porque, porra, ela foi tão boa.

- Isso foi lindo, Verônica. – tive que comentar.

- Foi mesmo, menina. – disse o Rob.

- Obrigada. – ela se curvou novamente para agradecer, sorrindo. – Oi Paola. – agora sorria pra mim, se aproximando devagar, toda feliz por ter se saído bem.

Sabia que ela queria um abraço. Tava nos olhos dela e na expressão corporal.

Decidi deixar pra lá e aceitar que ela ia sim aparecer mais vezes na minha vida.

Parece brincadeira como isso se deu, mas a Verônica está de volta. A mim só restava aceitar.

E eu estava feliz pelo seu desempenho.

Assim, inesperadamente, tomei a iniciativa do abraço, ela me apertou pela cintura, forte. E suspirou, deixando escapar um pequeno gemido de satisfação. Apertei ela e a soltei em seguida. Ela tomou ar e sorriu de novo, ao perceber que eu a observava.

- Só fiquei sabendo que era a peça do seu livro cinco minutos antes de entrar. Até travei um pouco, pela surpresa. Eu não fazia ideia, parabéns. – sorria sempre, só que perto demais dessa vez.

Espero que eu tenha conseguido retribuir, em vez de olhar aquela boca.

- Podem ir, meninas, ligaremos para vocês. – disse o Rob. Ele disse isso mesmo? Verônica foi a única aplaudida de pé, óbvio que ela ia ser Melissa.

Eu queria muito que fosse.

Sim, eu não sabia como ia proceder, mas depois da audição dela… se ela não for Melissa, não me envolvo mais.

- Que legal a gente estar conseguindo se ver, né? Ainda que por coincidência... – ela diz, meio tímida. Fofa. Daí solta e  ajeita o cabelo, prendendo minha atenção e parece, durante esses segundos, estar me seduzindo.

- Concordo, Vero. – ouvi sua risadinha, aí notei que a chamei por um apelido. Pigarreei. – São… interessantes, esses encontros. Inesperados.

- Acho meio estranho. Sinto que, de alguma forma, algo está nos forçando à aproximação novamente. – sim, exatamente isso. Por mais louco que pareça.

- Só diga isso se passar no teste. – sorri.

- Ah sim. Estou confiante, serei sua Melissa. – ela sussurrou, inclinando-se na minha direção.

- Por mim, o papel já é seu. – fiz o mesmo, notando um leve nervosismo dela com a minha proximidade. Verônica riu pra disfarçar, e mexeu no cabelo de novo. Resolvi falar algo. – Por onde anda a Juliana?

- Depois daquele dia, não nos falamos mais. Terminamos mesmo. – ela deu de ombros. – Mas você ter aparecido foi muito importante para o modo como as coisas se deram, obrigada. – ela mordeu o lábio. – Ela não apareceu mais no consultório, né?

- Não. Mas eu já esperava que isso fosse acontecer, depois daquele episódio.

- E o Apolo, como está?

- Está bem, lá em casa. Ele... – fui interrrompida por Rob dizendo que se quiséssemos conversar, que fosse lá fora.  Ri.

- Quer sair? – essa pergunta me fez voltar a vários episódios do nosso namoro.

Eu preciso parar.

- Claro, vamos, estou livre pela tarde. Mas pra onde?

- Primeiro saímos, depois decidimos. – riu e saiu andando depois de pegar a pasta.

- Me espera lá fora, vou falar algo com o Rob. – ela assentiu e foi. Toquei ele no ombro, chamando sua atenção. – Rob, essa menina é a Melissa. Total. Tem que ser a Verônica.

- Vão achar que você favoreceu ela, já que é sua amiga.

- Não importa, eu digo que você escolheu. É ela ou não? Tem que ser.

- Eu aplaudi a menina de pé, não quero perder essa preciosidade de jeito nenhum. Claro que é ela. Mas ela só vai ficar sabendo amanhã ou hoje à noite, então não conte.

- Obrigada! – abracei ele. Nem sei porque estava tão feliz por Verônica conseguir o papel. Talvez pela minha personagem, que estaria perfeitamente representada.

- Ela é sua amiga, né? – ri.

- Não. É minha ex também.

- Tão bom quando relacionamentos acabam e fica tudo bem.

- Terminamos péssimas. Não se engane. Acho que estamos reparando esse passado. Ou, pelo menos, tendo uma chance de fazer isso. Enfim, só quis ajudá-la, e ela é uma atriz impecável.

- Sim, maravilhosa. Agora sai que preciso trabalhar, bora.

- Obrigada, Rob. – o abracei e saí.

As audições continuariam e eu também poderia continuar ali, mas eu só estava interessada em escolher a Melissa mesmo, desde o início confiei no Rob para selecionar o resto.

E agora, tinha mais um motivo pra sair: Verônica.

Verônica

Surpreendentemente, ao ver a Paola, eu quis me apresentar logo. Quando comecei, em seus olhos havia um brilho de empolgação e ansiedade semelhante ao de uma criança, o que me motivou.

E eu estava louca para que ela me assistisse, como no ensino médio. Lembrei que, há muito, adorava se ela estivesse na plateia. 

Pelo jeito, continuava adorando.

Acabei aplaudida de pé pelo diretor. Paola sorria sem parar, também me aplaudindo, quando curvei-me em agradecimento. Sorri de volta e sentei na beira do palco, pulando para o chão em seguida.

Meus calcanhares reclamaram, mas ignorei, foi apenas um incômodo.

Estava de frente para Paola.

Aquilo em seus olhos era um brilho de orgulho? 

- Isso foi lindo, Verônica. – ela disse.

- Foi mesmo, menina. – disse o diretor.

- Obrigada. – curvei-me novamente, agradecendo a ambos. E dirigi o olhar para ela, novamente. – Oi Paola. – eu ainda era só emoção. Queria que ela me abraçasse, passasse pra mim no abraço o que sentiu me vendo no palco.

O brilho nos olhos dela pareceu mudar. Paola abriu um sorriso, e os braços.

Leu a minha mente?

Contive meu impulso de saltar em sua direção e esperar que me segurasse. Contentei-me em apertar seu corpo, mas não contive o som de satisfação. Ela me apertou mais forte depois disso. E aí soltou.  

- Só fiquei sabendo que era a peça do seu livro cinco minutos antes de entrar. Até travei um pouco, pela surpresa. Eu não fazia ideia, parabéns. – resolvi dizer. Paola sorriu, por um segundo ou dois olhando pra minha boca enquanto eu falava. Quis cobrir o rosto. Ela não pode olhar pra mim desse jeito. Não hoje.

Mas nem isso tirou o sorriso satisfeito do meu rosto. Eu estava radiante.

Rob disse algo sobre ligar pra nós, e eu reparei na cara das meninas de “aff”, porque eu fui a única aplaudida de pé, provavelmente. Ou elas notaram a empolgação dele em relação a mim.

- Que legal a gente estar conseguindo se ver, né? Ainda que por coincidência... – soltei meu cabelo e o ajeitei, ainda mentalmente sofrendo efeitos da secada que ela deu na minha boca. A expressão dela mudou, para algo mais atento.

- Concordo, Vero. – tive que rir. Paola me chamando de Vero? Ok, realmente temos um avanço aqui. Vai ver ela já aceitou que eu vou estar no elenco da peça. Ela teria que me engolir, então já tratou de fazer isso logo. Ótimo. – São… interessantes, esses encontros. Inesperados.

- Acho meio estranho. Parece que, de alguma forma, algo está nos forçando à aproximação novamente.

- Só diga isso se passar no teste. – sorriu pra mim, eu ri.

- Ah sim. Estou confiante, serei sua Melissa. – sussurrei, inclinando-me levemente na direção dela.

- Por mim, o papel já é seu. – imitou meu movimento. Não tô mais acostumada à cara da Paola perto da minha. Ela riu (provavelmente de mim) e mudou o assunto. – Por onde anda a Juliana? – e claramente não tinha assunto melhor pra puxar.

- Depois daquele dia, não nos falamos mais. Terminamos mesmo. – dei de ombros. – Mas você ter aparecido foi muito importante para o modo como as coisas se deram, obrigada. Ela não apareceu mais no consultório, né?

- Não. Mas eu já esperava que isso fosse acontecer, depois daquele episódio. – assenti. Ela não parecia ligar de ter perdido uma paciente, ainda bem, porque a culpa teria sido minha.

- E o Apolo, como está?

- Está bem, lá em casa. Ele... – foi interrompida pelo berro do diretor, sugerindo que conversássemos lá fora, pra não atrapalhar.

- Quer sair? – e aí isso saiu da minha boca.

Provavelmente eu ainda estava muito feliz, e, dominada pela emoção, convidei Paola a passar mais tempo comigo.

Ela sorriu antes de responder.

- Claro, estou livre pela tarde. Vamos pra onde? – e aceitou!

- Primeiro saímos, depois decidimos. – peguei minha pasta.

- Me espera lá fora, vou falar algo com o Rob. – assenti e saí, pra ficar do lado de fora do teatro. Senti vontade de tomar sorvete, lembrei da sorveteria ali perto. Poderia ir lá agora.

Enquanto pensava, a ficha caiu: Teria eu dado um passo maior que a perna?

Mas ela aceitou e foi simpática, então, eu provavelmente não excedi nenhum limite. Ou pelo menos nenhum que ela não quisesse.

Mesmo assim, quis inventar alguma desculpa e ir embora, temendo que ficasse desconfortável em algum momento. Com certeza ficaria.

- Pronto, voltei. – sorriu, ajeitando a camiseta que usava. Ela estava casual e simples, de camiseta e calça. Imaginei que fosse um dia de folga do trabalho. – Onde vamos?

Não dava mais tempo de dar uma desculpa. Então, deixei pra lá.

- Andando. – falei. Ela me acompanhou, e fomos caladas por um minuto ou dois, lado a lado. Eu pensava em tudo, menos em “estou com a Paola do meu lado”.

- Quer dizer que você entrou para as audições da peça sem saber qual era a peça? – puxou assunto. Ainda era estranho o fato da gente conversar e ela puxar assunto e ela estar ali e sorrir e me olhar.

- Não, me ligaram pra convidar. E se falaram a peça, eu não prestei atenção. O homem falava rápido demais e eu nem peguei que era um teste para a protagonista. Eu entendi que tinha tudo para ser de boa bilheteria. Fiquei interessada e precisava trabalhar, saí de cartaz já tem uns meses.

Entramos na pequena sorveteria, eu adorava aquele sorvete dali. Eu adoro sorvete de qualquer lugar.

- Sorveteria. Por que não estou surpresa?

- Velhos hábitos. Ainda sou louca por sorvete. – ela sorriu.

- Mas um pouco melhor, né?

- Não faço ideia. Talvez pior.

Sentamos à mesa. Ela à minha frente.

- Então, você estava em cartaz?

- Sim, com aquela peça adolescente que esgotou em todos os finais de semana.

- Ah, fiquei sabendo, acho que vi falando na TV. Arrasou. – ri. – Você é uma atriz maravilhosa. Sério. 

Paola

- Estou no início da carreira ainda. – ela corou. Meu coração até apertou um pouquinho, ela ainda cora com qualquer elogio.

- Então é muito promissora. Daqui a pouco está nas novelas, ou até em Hollywood. – ela gargalhou.

- Você sempre uma comédia, Pá. – fiquei calada diante do apelido, dito mais uma vez sem que ela percebesse. Quando percebeu, pareceu arrependida. Me senti culpada pela carinha triste que apareceu. Ela estava tão feliz. – Desculpa. Esqueço que você não gosta...

Como dizer que não ligo para o apelido, e só de estar ouvindo-o é bom, por estar ao lado dela, pertinho do seu sorriso? Sem que soe estranho.

- Não, você… pode dizê-lo, sem problemas.

- Sério? Você não se importa?

- Com você, sim. – fui sincera. Queria saber como ela se sentia.

- Quis dizer com o apelido... – ela disse, corando.

- Ah… não, você pode me chamar assim.

- E agora? Como eu faço quando quiser te irritar? – falou rindo, quebrando o gelo e me fazendo rir, o que agradeci mentalmente. Esse apelido costumava me irritar, mas no fundo eu adorava.

Falando a verdade, não tinha coisa mais fofinha do que Verônica fazendo sua birra e me chamando de Pá.

- É melhor não me irritar. – falei, engrossando a voz.

- Várias lembranças. – ela sussurrou, mas eu ouvi e mentalmente concordei. Talvez eu não fosse a única “sofrendo” com essas coisas do passado voltando. – Ei, lembra quando a gente competiu quem tomava mais sorvete? Eu ganhei de lavada. – rimos.

- Lembro sim, eu vomitei depois. – ela gargalhou.

[Flashback On]

- Então, já que é assim, vamos apostar. Quem ama mais sorvete aqui é quem consegue comer mais sem parar.

- Verônica, isso não é saudável. – falei, rindo.

- Você me desafiou, agora aguente. Meu irmão vai acabar comigo pelo sorvete dele, mas eu não tô nem aí. – ela tirou dois potes de sorvete de um litro do freezer e pôs na mesa. – Ímpar.

- Par.

- Ganhei. Quero de flocos. É meu mesmo. – pegou o pote de flocos e foi buscar colheres pra nós duas.

- Eu com certeza vou tomar mais. Você é pequena. – alfinetei.

- Você está me provocando. – ela empurrou o outro pote na minha direção. Era de morango. Merda, prefiro flocos. – Esse pote é do Daniel, ou seja, você vai tomar, você vai pagar.

- Ah, Verônica!

- Tô nem aí.

Não sei o quão idiota foi isso, mas passamos os próximos vinte minutos tomando sorvete sem parar e olhando pra cara uma da outra. Eu dei língua pra ela, que riu.

Riu porque estava ganhando. Eu não aguentava mais, me sentia pesada e enjoada de tanto morango.

- Ok, chega, Vero. – tirei a colher da boca e larguei tudo na mesa.

- Você nem chegou na metade.

- Eu tô cheia. – deitei a cabeça na mesa. Ouvi a gargalhada da minha namorada. Fechei os olhos, tudo girou, levantei.

- O que foi? – ela ainda não tinha parado de comer. E ria da minha cara.

- Tô passando mal.

- Sério?

- Sim, Vero, tô passando muito mal, vou vomitar. – falei, suando frio. O sorvete voltou e eu corri pro banheiro.

Até agora Verônica não acreditou que eu passei mal.

[Flashback off]

- Foi bem engraçado, mas eu fiquei super preocupada quando você correu pro banheiro, achei que fosse brincadeira.

- Eu estava ofegando, tipo “Vero, tô passando mal”, e você rindo.

- Foi mesmo! – gargalhou novamente. Estava bom, aquilo de fazê-la rir.

- É difícil tentar tomar de vez um pote de sorvete de morango. Odeio sorvete de morango desde esse episódio.

- O meu foi de que mesmo?

- Flocos. Era pra eu ter pego o de flocos.

- Você perdeu no par ou ímpar. E vomitaria de qualquer jeito, não pode comer muito doce de vez. – fico enjoada mesmo. E se eu insistir, passo mal de verdade. Descobri isso naquele dia.

- É mesmo.

- Eu fui a campeã e ainda sou a menina que mais toma sorvete que você conhece, tenho certeza. – assenti. – Falando nisso, vou buscar uma bola pra mim. – levantou, ajeitando o short curto folgadinho que vestia. As pernas.

- Você só não é mais menina. – pensei alto, ela sorriu, tímida, olhando pra trás enquanto se afastava. Ela ouviu.

Verônica voltou com duas bolas de sorvete.

- Não ia ser uma?

- Não consegui decidir. A de cima é coco, a de baixo é chocolate amargo.

- Acho que vou buscar uma pra mim.

- Que é isso, Pá, toma comigo. Tem quase o meu peso em sorvete aqui. – ri do exagero, apesar das bolas de sorvete serem mesmo grandes.

- Verônica, você está dividindo sorvete comigo? É isso mesmo?

- Sim. Pessoas mudam. Aqui, trouxe outra colher pra você. – peguei a colher, trazendo um pouco de sorvete de coco para a boca. Eu, dividindo sorvete com a Verônica.

Se alguém me falasse hoje mais cedo que eu faria isso, eu riria na cara da pessoa.

- Então escolheu dois sabores propositalmente.

- Não, eu realmente não consegui decidir. E pra não dividir e ficar sem tomar os dois, coloquei junto e você divide comigo, porque nem com o meu olho enorme eu vou conseguir tomar esse tanto de sorvete sozinha.

- Você conseguia, pelo que me lembro.

- É, mas enjoei um pouco de sorvete. Passei por um período que tomava todos os dias, uns três potes por semana. Daqueles de um litro.

- Nossa, quanto tempo durou esse período?

- Uns meses. Depois que eu obviamente engordei, fiquei viciada em exercícios, e depois em livros estrangeiros, especialmente franceses, não pergunte.

- Parece que estava muito triste ou estressada e passou bastante tempo canalizando esse sentimento em outras atividades de maneira compulsiva.

- Aham. Era exatamente isso. – disse e parou por uns segundos, olhando para o nada. Não pude deixar de associar com o nosso término, as coisas que ela disse. Verônica não toma mais sorvete como tomava antes por minha causa. Me senti mal. – Mas deixa pra lá. O que importa é o agora e agora estamos aqui, tomando sorvete. – suspira. – Várias lembranças. – sussurrou outra vez, e novamente eu escutei.

- Sim, muitas. Felizes. De risadas e bobeiras. Por exemplo, quando eu praticamente enfiei sua cara no pote de sorvete depois que vomitei aquele dia. Aquilo foi bem idiota, mas foi engraçado.

- Foi muito engraçado! – rimos e um breve silêncio se fez, no qual observei-a levar uma pequena quantidade de sorvete de chocolate à boca, de lábios vermelhos e molhados.

Tive breves recordações de beijos que roubei dela em momentos como esse, quando a olhava por segundos que se estendiam. Eu simplesmente não me continha e a atacava.

Mas ela sempre amou isso.

Verônica

Paola tinha seus olhos grudados em mim, e eu só conseguia lembrar de que, quando ela fazia isso, eu deveria me preparar para um ataque.

Um ataque fofo.

Um beijo na boca, no rosto, um abraço forte ou até mesmo uma mordidinha carinhosa. Eu não estava esperando nada disso, óbvio, mas não pude deixar de pensar.

Quando olhei pra ela novamente, e não fui imediatamente derrubada pela intensidade do seu olhar (claro que não, porque estava sentada), ela sorriu pra mim, suavizando toda a tensão que eu estava começando a sentir pairando no ar.

Tomei mais sorvete, repentinamente sentindo a garganta seca. Ela também tomou, e foi a minha vez de olhar. Quando ela olhou para a entrada da sorveteria, fazendo-me observar seu perfil, a primeira coisa que pensei foi:

- Seria uma foto perfeita. – e verbalizei, sem querer.

- Que foto? – fiquei envergonhada mas resolvi dizer.

- Esse momento seu, agora. Se eu estivesse com uma câmera, teria tirado uma foto que seria perfeita, ainda que simples. Você saboreando sorvete. – ela sorriu de lado.

- Tira fotos, agora?

- Não, é só um passatempo bobo.

- Soou como se tivesse um talento. Qual foi a última foto que tirou?

- Uma do meu pé, mas foi de brincadeira pra mandar pra a Bi. – Paola gargalhou, de jogar a cabeça pra trás. Os cabelos eram tão bonitos e pareciam tão macios.

- Falo assim, enquanto praticava seu hobby.

- Fui a um museu e tirei foto de uma escultura que não percebi até olhar a foto, mas se tratava de religião e modernidade, com uma lembrança futurista.

- Posso ver essa foto?

- Sim, algum dia. Não tirei no meu celular. Preciso mostrá-la na minha máquina. – ela assentiu. Observei-a provar o sorvete mais uma vez. Suspirei.

- Claro que você fotógrafa tem uma câmera profissional.

- Sim, foi um presente. – ri. Pequeno silêncio se fez, e eu resolvi dizer o que passava pela minha cabeça. –  É bom estar nesse momento com você. Tão bom quanto é louco.

- Por quê?

- Ah, Paola. Antes de saber que você havia me perdoado, eu me sentia diminuída perto de você. Agora estou aqui, dividindo sorvete contigo e quase tomando tudo sozinha. E rindo com você, coisa que não imaginei fazer de novo.

- Passa o sorvete pro lado de cá. – ela puxou o copinho pro lado dela, sob protestos meus. – Sem reclamar, só tem que esticar o braço um pouquinho pra pegar. – estiquei o braço, ela pegou o copinho e segurou próximo ao rosto, inalcançável a não ser que eu me debruçasse sobre a mesa.

- Que saco, Paola. Não brinca com meu sorvete! – gargalhou.

- Calma, Vero. – ela disse, rindo e colocou na mesa novamente, dessa vez me permitindo pegar. – Melhor? – agora ríamos as duas.

- Bem melhor. – sorri, ela olhou para os lados, limpou a garganta e olhou pra mim, depois pra mesa, pro sorvete, para as mãos. – O que foi? O que quer perguntar? – ela parece surpresa por eu ter “adivinhado”. É só observar.

- Não… é que… por que se sentia diminuída por mim?

- Não é óbvio? Você me odiava. – ela negou com a cabeça.

- Para de falar isso, eu não te odiei nem por um segundo. Nunca consegui me convencer de que sentia algo ruim por você. Já te disse isso.

- Você me odiava, pelo que mostrou pra mim. Eu não podia enxergar o seu íntimo. – ela assentiu, parecendo desconfortável, mas eu já tinha começado a falar. – Você me disse bastante coisa, me fez sentir como um lixo de ser humano. E eu nunca tinha namorado, era a primeira vez, você realmente me mostrou o que era o amor, como era amar, como era mágico viver um amor. Terminar daquele jeito foi horrível, traumático. – ela se limitou a assentir. – E o pior é que ainda acho que, e desculpa falar, se você tivesse me escutado e não feito o que fez, estaríamos juntas até hoje, sem enjoar uma da outra. – Paola murmurou que concordava. Ela tava chorando? – Você foi minha primeira em tudo, Paola. E não mediu o tamanho disso antes de sair da minha vida, senão não teria saído como saiu.

- Sinceramente, sem querer soar ridícula ou te irritar, eu tomei conhecimento disso há pouco tempo. Eu não tinha noção do que tinha feito a você até um dia desses, as consequências, no caso. E sei que nunca vou pedir desculpas suficientes, mas espero que me perdoe. – eu acho que ela estava chorando, mas ela não me olhava, então eu não sabia.

- Também espero que me perdoe. Esperei tanto tempo... – meus olhos estavam cheios de lágrimas porque falar dessa desgraça sempre me deixa uma merda. E Paola tinha a mão na frente da boca para disfarçar que chorava, mas agora eu estava vendo suas lágrimas discretas.

Ela levantou de súbito.

E eu, por um segundo, achei que Paola iria embora, mas ela simplesmente puxou sua cadeira até ficar ao lado da minha e me abraçou pelos ombros, fungando baixinho. Eu já chorava meio que sem controle, e me agarrei a ela, chorei em seu ombro, com o rosto na sua blusa.

- Posso pedir algo? – ela sussurrou, limitei-me a assentir, soluçando. – Nunca mais fala que eu odeio ou odiei você. Machuca muito. – suas mãos entravam e saíam do meu cabelo, tão carinhosa.

- Sentir isso machucou muito, também. – falei baixinho. Paola suspirou, deixando de fazer carinho em mim.

- Tudo bem, desculpa. Vou te respeitar. – me deu um beijinho na testa. Saí do ombro quentinho e cheiroso dela, mas ainda recostava lá minha cabeça.

A proximidade não parecia intimidadora. E sim necessária.

- Eu quero você de volta na minha vida. De alguma forma. Eu não quero mais que você vá. – falei, decidida. Era o que eu queria, lá do fundo. – Não quero mais pensar em você, em como deve estar e não saber, pra logo ficar pensando em nossos momentos bons e aí nos ruins, nas suas burradas. Mesmo que eu não seja inocente na história, não sou. Eu já perdoei você e te quero de volta na minha vida. O que quero é lembrar de você e pensar só em coisas boas de novo, o que ainda não consigo. – falei tudo de uma vez, e continuaria, mas ela afagou meu ombro, demonstrando que tinha entendido meu pedido.

Senti um peso enorme sair das costas. O peso da negação, porque eu não podia negar mais que Paola me fazia bem. Mesmo depois de tudo, vinte minutos com ela já me fizeram um bem enorme. Chega de negar.

- Tudo bem, Verônica. Eu voltarei para a sua vida. – me abraçou mais forte, eu já não chorava, mas ainda estava grudada nela. Por uma questão de proteção e saudades.

- Está falando sério? – larguei-a só pra olhar seu rosto.

- Claro que estou, pequena. E vou fazer tudo ao meu alcance para não decepcioná-la novamente. – não queria que ela falasse coisas que pode não cumprir, mas ela já havia dito.

E eu, boba, já havia acreditado. 

Paola

Ouvir aquilo dela me deixou feliz, apesar de estar chorando um pouco. Eram sentimentos proibidos pra nós. Nenhuma das duas gostava de falar sobre a outra e o passado, por isso o excesso de emoções.

De certa forma, apesar de ser doloroso, eu estava feliz por trazer à tona nosso passado. Eu fui feliz. Deu errado, mas esse fato não deve anular todas as lembranças boas.

Não pode anular nenhuma delas. 

[Flashback On]

- Então você acha que a hidrografia brasileira é babaquice, segundo ano? – perguntei a ela com meu caderno aberto.

- Acho besteira, terceirão. – deu de ombros, ficando deitada de bruços. Já vi que eu não iria estudar, Verônica não tinha nem um caderno perto dela nem parecia querer pegar um.

- Eu também acho. – ela riu. – E acho pior ainda que eu seja obrigada a estudar isso. Só quero dar risada com você, ser feliz e beijar na boca.

- Dar risada comigo, ser feliz comigo e me beijar na boca? – quero.

Fui pega de surpresa. Ela realmente esperava uma resposta.

- Ahn… não, não.

- Não? – sorriu meio maliciosa.

- Eu quis dizer… quero rir com meus amigos e beijar na boca. Outras pessoas. – o sorriso sumiu.

- Entendi. – um grande silêncio se fez, no qual eu fingi que estudava. Sendo que Verônica não saía da minha cabeça um segundo há algum tempo, e eu estava louca pra beijá-la, sonhando com isso e o escambau.

Faz uma semana que eu estou querendo contar pra ela, mas não via uma forma de trazer o assunto. Resolvi aproveitar o momento, que eu já havia deixado passar, mas e daí, né? Melhor falar de vez, a minha decisão já estava tomada, de qualquer forma.

Fechei meu caderno, atraindo sua atenção, que já estava sendo dedicada a me olhar, já que nem estudando ela estava.

- Vero… eu preciso te falar uma coisa.

- Ok, fala.

- Não sei se vou ser bem interpretada, ou se aceita, mas eu preciso ficar um tempo longe de você. Não totalmente distante, mas um pouco mais longe. Menos grudada.

- Como assim? Quanto tempo? Por quê? – ela se exalta.

- É só por um tempo. Porque… eu estou gostando de você mais do que deveria. – ela cruzou os braços e fez uma cara. Uma cara de “você está maluca, eu não vou fazer isso”. Mas eu continuei falando mesmo assim. – Não quero atrapalhar sua vida com isso. Por essas e mais outras, quero um tempo.

- Não acho isso o mais correto. E que “mais outras” são essas? Eu sou tão chata assim?

- Não Vero, claro que não. Escuta, eu realmente estou gostando bastante de você. Muito. De uma forma que uma menina hétero como você se incomodaria. Eu preciso me livrar disso, entende?

- Não precisa não, eu não vou me incomodar. Não sou como as outras, não mesmo. – imediatamente ela retrucou. Duas frases, cinco negações e mesmo assim eu não me convenci, estava 100% decidida.

- Vai sim, Verônica. Eu sei que vai. Não quero perder nossa amizade maravilhosa, mas realmente está um pouco difícil ficar perto de você.

- E você acha que se afastar é a melhor opção?

- Sim, espero que me entenda.

- Entender, eu até entendo, mas… não compreendo. Por que não dá uma chance?

- Como assim, uma chance?

- Uma chance de viver isso. Se entregar, só um pouquinho. Não se afastar de mim. – ela sentou mais próxima. Não acreditei no que escutei.

- Verônica… você é hétero, e eu não. – ela negou com a cabeça.

- Eu gosto de você, e eu quero. Deixo você ir aonde quiser se não gostar, mas saiba que eu tenho pensado em você, e quero que fique. Quero você. Pode até sair da minha vida depois, não olhar na minha cara, qualquer coisa assim. – disse olhando nos meus olhos e se aproximando ainda mais.

Eu nunca conseguiria dizer coisas assim desse jeito, com essa segurança e força, principalmente se relacionadas a meus sentimentos.

Se Verônica não estivesse prestes a corresponder, eu estaria completamente fodida. Porque, se eu já não estava apaixonada antes (estava), eu acabei de me apaixonar agora. Pela sua coragem, seu olhar firme e sincero, sua força e sua sensualidade, porque aquelas frases foram muito boas aos meus ouvidos e ao meu cérebro.

Eu, normalmente, não achava Verônica um poço de sensualidade. Mas naquele momento, era sim.

- Eu não conseguiria fazer nada disso… Não dá pra ficar longe de você. – sua mão acariciou meu rosto, seu polegar tocou meu lábio inferior. Estava hipnotizada.

Abri a minha boca para perguntar se ela realmente faria aquilo, mas fui calada com seus lábios macios sobre os meus.

E atingida por um arrepio quente, um turbilhão de sensações diferentes no meu corpo. Enquanto queria beijá-la com toda a minha vontade, apertando seu corpo no meu, puxá-la pro meu colo e tocá-la em todos os lugares, queria também parar o beijo e pular de alegria, queria sorrir na sua boca.

Ela fez aquilo, sim.

Verônica sorriu na minha boca e eu tive de puxá-la pro meu colo. Ela deu um gritinho surpreso quando o fiz, e sentou no meu colo de lado.

Iniciamos um beijo profundo, lento, calmo e quente. O toque da sua língua na minha estava me deixando em ebulição.

- Você é tão boa nisso. – disse, depois de descolar nossas bocas.

- Em beijar? – ainda bem, porque eu não era lá muito experiente não.

- Sim. Nisso e em me deixar louca, aparentemente. – contornou meu lábio inferior com o polegar.

- Então gosta de mim também?

- Faria isso se não gostasse? – neguei com a cabeça, mas ela me beijou novamente pra que eu não tivesse dúvida. Um selinho demorado e uma mordida no lábio inferior. – Ainda acha que não gosto de você? – sussurrou contra meus lábios. – Eu gosto muito de você. – mordeu de novo.

Ela também pode ter dito “eu gosto muito de morder”. Mas meus ouvidos gostaram mais da outra frase.

- Que loucura, Verônica! – ela gargalhou, linda. – Eu não imaginava que fosse recíproco.

- Também não imaginava gostar de meninas, antes. Mas você é tão… você. Está na minha cabeça há dias, confundindo tudo, e me fazendo pensar muito em beijar sua boca. E... wow, melhor decisão que pude tomar.

- Pode beijar mais, se quiser. – rimos, trocando mais um beijo, esse um pouquinho mais molhado, desesperado e muito mais gostoso.

Acho que estava viciada.

[Flashback off]

- Paola?

- Hm?

- No que estava pensando? – no nosso primeiro beijo.

- Nada demais, só desliguei por um momento.

- Nosso sorvete derreteu uma boa parte.

- Que merda.

- Não ligo, vou tomar mesmo assim. – ri, claro que sim. – Me conta, a Juliana faz muita falta no seu consultório? – pergunta num tom irônico, que me faz rir.

- Na verdade, a saída da Juliana me dá mais tempo pra correr com o Apolo. Então, tá ótimo.

- Ah, você corre com ele à tarde, né? – assenti. – Então eu estou atrapalhando?

- Não, tudo bem. Posso correr no final de semana, pra compensar.

- E a atenção que tem de dar à sua namorada?

- Ela tem que entender. – Verônica deu um sorrisinho de lado. – Ainda sobre a Juliana, espero que ela tenha encontrado outra psicóloga.

- Também espero. Vou procurar uma pra mim, alguma indicação? Além de você mesma.

- Tenho alguns nomes.

- Você pode ser minha psicóloga? – tô fora.

- Talvez eu possa, mas somos amigas, prefiro não. – nem somos amigas, mas... parece uma amizade, isso. – E ainda por cima, ex-namoradas. – ela parou e olhou pra mim.

- Eu nunca olho pra você e penso “ela é minha ex-namorada”. Olho e vejo apenas a Paola. Vejo nosso passado também, mas não associo você à palavra ex-namorada. Não sei o porquê.

- Ah, nem eu consigo. Acho que porque fomos nossas primeiras.

- Talvez seja por isso. Ou talvez não seja... – ela falou a segunda frase num tom muito mais baixo, mas eu escutei.

- É, talvez. Só disse aquilo porque realmente somos ex-namoradas, usando e sentindo a palavra ou não.

- Você tem razão. Tenho de aprender a usar essa palavra. Você é minha ex-namorada.

- Exatamente. Ex. – repeti.

- Bom, preciso ir. Foi muito legal fazer isso com você, Pá. Mesmo com as lágrimas e tal. De novo. – riu. Peguei meu celular, vendo que já estava ali há certo tempo, e precisava ir também.

- Ok. A gente pode... trocar o telefone? – ela riu de novo.

- Caramba, você nunca foi tão tímida comigo. Quer dizer, já sim. Mas era antes da gente se beijar.

- Pois é... – eu devo ter corado.

- Desculpa te constranger. E sim, podemos. Com licença? – pegou meu celular, digitou nele e devolveu. – Caso queira me ligar ou mandar uma mensagem, é meu número. Se puder me manda algo hoje só pra eu salvar seu número. Pode ser?

- Claro. Quer carona pra casa? – levantamos da mesa.

- Não, tô de bicicleta. E moro aqui perto. Pode relaxar e poupar combustível.

- Não vai porque não quer. – voltamos andando até o teatro. – Ei, quanto te devo?

- Pelo que?

- O sorvete.

- Me poupe, nada. Pode relaxar quanto a isso também. Por favor, não me venha com uma discussão sobre dinheiro. – disse quando eu ia argumentar. Levantei meus braços como em rendição, ela riu e me abraçou.

- Eu tenho que pagar a próxima.

- Você é um saco. – ri. 


Notas Finais


hummm olha as duas já aí se tocando

aiai só quero ver oq vai dar

até mais, amor pra vocês!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...