História Not Gonna Die - Season 1 - You stay

Pov. Reyna Dixon

   — Socorro! Por favor, socorro. 

   Uma voz ecoou por toda a floresta. A pessoa parecia estar desesperada e aflita. Isso era comum naqueles dias, mas depois de tanto tempo, nunca vi alguém parecer tão desesperada pedindo socorro, sendo que sabe que a qualquer hora pode morrer e virar uma daquelas coisas. 

   — Nós temos que ajudar. — disse Carl após perceber que o grupo inteiro ficara parado. 

   — Provavelmente já está morta. — respondi ao garoto abaixando a cabeça em seguida. 

   — Não saberemos se não checarmos. — Cassie gritou já correndo para a direção de onde a voz estava vindo. Carl a seguiu sem hesitar, consequentemente, todos correram atrás deles. 

   Logo vimos um homem, um padre para ser mais exata, em cima de uma pedra tentando, inutilmente, chutar uma meia dúzia de Walkers que tentavam pegá-lo. Ele estava aterrorizado, gritava de todas as maneiras todas as palavras possíveis de misericórdia. Aquilo era estupido, com toda certeza. 

   — Hey, por favor, me ajudem. — pediu ele assim que botou os olhos em nós.

   Cassie não hesitou em correr na direção de um dos Walkers e fincar sua faca na cabeça do infeliz. Carl fez o mesmo, e eu já estava pronta para me aproximar e atirar uma das flechas, quando Daryl me ultrapassou e colocou seu braço em minha frente.

   — Você fica. — disse ele em um rosnado. Ergui minhas sobrancelhas em sua direção, o que foi em vão já que ele nem se importou em me olhar antes de correr até os Walkers. 

   O resto do grupo correu para ajudar os que já estavam lutando. Observei a cena toda calada, me segurando para não correr e me juntar à brincadeira. Pensei no pedido de Rick. Melhorar antes de me arriscar. Confesso que estava sendo um tanto difícil. 

   Os pensamentos se esvaíram da minha mente no momento que vi um Walker próximo de meu irmão. Ninguém o havia visto, inclusive Daryl. O filho da puta estava a um passo de colocar os lindos dentes podres na carne de meu irmão. Estava, porque minha flecha acabou sendo mais veloz. Ela atravessou a carne decomposta da cabeça, e ele caiu como uma fruta amadurecida. Daryl olhou para o cadáver aos seus pés antes de desviar o olhar para mim. 

   Caminhei até ele e me abaixei para recuperar a flecha. Arranquei-a da cabeça do Walker e a ergui diante dos meus olhos. Estava inteira, maravilha. Limpei o sangue podre e escuro nas próprias vestimentas rasgadas do cabeça oca, antes de colocá-la em seu devido lugar na aljava. 

   — Está bem? — perguntei sem desviar meu olhar para o dele. 

   — Sim. — Daryl respondeu em um grunhido antes de se virar e se afastar, como sempre. 

   — Fiquem atentos. — Rick gritou para o grupo, olhando para todos os lados, certificando-se de que o perigo havia acabado, por ora.

   Rick ajudou o padre a descer da pedra. Ele estava completamente aterrorizado, e seu olhar não mudou ao observar as armas que todos carregavam. Ele parecia estar com ânsia, mas segurou tempo o bastante para ouvir a pergunta do líder.

   — Você está bem? Foi mordido?

   O padre até tentou puxar um pouco de fôlego para falar, mas sua ânsia voltou. Ele ergueu o dedo indicador e jogou tudo para fora. Foi uma cena um tanto desagradável de se assistir. Virei meu rosto para o lado enquanto revirava os olhos. Aquilo foi patético. Qual é, com todo esse tempo de apocalípse já teria dado para se acostumar, não? 

   — Oh, me desculpem. — disse ele depois de limpar sua boca. Olhei para meu irmão e vi que ele coçava a cabeça, entediado. — Estou bem, obrigado. Meu nome é Gabriel. — Ele estendeu a mão para Big Grimes.

   — Você tem armas? — Rick perguntou sem se importar com cumprimentos. Gabriel parecia um tanto nervoso e desesperado.

   — Eu pareço ter armas? — perguntou com um sorriso amarelo. 

   — Se quiséssemos saber com o que você se parece, teríamos perguntado. — disse Abraham, ele parecia se divertir com tudo isso. Gabriel o olhou assustado.

   — Não. Não tenho armas. — disse ele. — Deus é a única proteção de que preciso. — Fiz uma careta inconformada.

   — Não parecia. — disse junto com Daryl em uníssono. Desviei meu olhar para ele por alguns poucos segundos.

   — Pedi ajuda à Deus. E ele mandou. — Ah que ótimo, um religioso que não sabe lutar. Era só o que nos faltava. — Vocês têm algum... Acampamento? — perguntou ainda com o semblante nervoso. Judith reclamou no colo de Tyreese por alguns instantes. — É linda, a criança. — Gabriel disse sorrindo na direção da pequena. 

   — Não temos abrigo. Por um acaso você tem? — Rick perguntou.

   — Tenho uma igreja. 

   Rick o encarou por longos segundos antes de olhar para mim e fazer um sinal com a cabeça para que eu me aproximasse do padre. Já havia entendido de cara o que ele queria que eu fizesse. Revirei os olhos enquanto passava o arco pelo meu tronco. 

   — Levante as mãos acima da cabeça. — pedi um tanto grossa. Ele assim o fez. — Vai responder tudo o que ele perguntar. — Gabriel assentiu, ainda nervoso. 

   — Quantos Walkers já matou? — Rick perguntou enquanto eu revistava seu tronco. 

   — Nenhum. — O padre respondeu com a voz trêmula. Passei para sua perna.

   — Quantas pessoas já matou? — O líder continuou o questionário. Senti Gabriel tencionar os músculos.

   — Nenhuma... Por que pergunta isso? 

   — Você só responde, padre. — Interrompi sua fala passando para sua outra perna. 

   — Por quê? — Rick fez a última pergunta.

   — Porque Deus abomina a violência. — respondeu ele, estufando o peito. Rick me olhou assim que acabei de revistá-lo.

   Fiz um aceno com a cabeça indicando que o sujeito falava a verdade. Rick pediu para que o padre nos levasse até a tal igreja, para pelo menos passarmos a noite e comermos alguma coisa. O caminho até lá passei perdida em pensamentos. A única coisa que ouvi foi Gabriel fazendo alguma piada, que acabou não caindo bem com o momento.

   Mas enfim, voltando aos pensamentos, venho cogitando a ideia de falar com meu irmão. Estava um inferno conviver com ele daquele jeito, e dois Dixons orgulhosos não é bom para ninguém. Eu queria poder abraçá-lo ao envés de apenas observar seus passos. Ele e Merle sempre foram meus exemplos, já que eram o mais próximo de um pai que eu já tive. Sempre observei todos os passos deles, e parecia que não era diferente. 

   O único problema disso tudo é que eu não estava preparada para falar sobre aquele dia. Nem com Daryl, nem com ninguém. Na verdade não gostava nem de pensar comigo mesma sobre aquilo. Era como um fantasma me perseguindo para qualquer lugar que fosse, mas nesse caso, em minha mente. 

   — Vamos checar primeiro. — A voz de Rick ecoou em meus ouvidos, me fazendo esquecer por um momento o assunto. 

   Rick abriu a porta da igreja e todos seguiram para dentro com suas armas erguidas nas direções de seus olhos. Fiz o mesmo com o arco e uma flecha, mas antes cuidei para que Cassie ficasse do lado de fora. Parecia uma igreja comum. Com bancos e um altar, nada de estranho, nada de ameaçador. Nenhum perigo iminente. Havia duas salinha ao lado do altar, onde existiam banheiros mais ao fundo. 

   — Seria uma surpresa se encontrassem alguém aqui. — disse Gabriel. — Passei meses trancado. 

   — Tem um micro-ônibus nos fundos. — Abraham disse assim que saímos. — Está quebrado mas dá para concertar em um dia ou dois. — Rick desviou seu olhar para o ruivo e assentiu em seguida. — Entende o que está em jogo, certo? 

   Lá vinha ele novamente com o papo de levar todos para Washington; levar Eugene até lá, porque ele tinha a cura que acabaria com a praga em nosso mundo. Sinceramente? Essa história não estava me cheirando bem. Uma cura? Agora? Era quase impossível, mas não iria discutir com um grupo que queria mais do que tudo uma vida normal de volta. 

   — De um jeito ou de outro, ficaremos com Rick. — disse Glenn antes de seguir o resto do grupo para dentro da igreja. — Não iremos nos separar novamente. 

   Segui o resto para dentro, mas antes encarei o ruivo por alguns segundos. Era um cara grande, forte e conseguia colocar medo em qualquer um. Mas não em mim. Até concordo com o assunto de irmos para D.C. Mesmo não havendo cura, talvez seja mais seguro, não? 

   — De onde vieram os suprimentos? — Rick perguntou. Ele olhava cada lata de comida vazia perto do altar, com Judith no colo. 

   — Sorte. — Como é? — Nossa coleta anual de enlatados. Tudo desandou depois que a completamos. — Carl se aproximou do pai e pegou a irmã nos braços. — Mas a comida começou a acabar. Limpei todas as casas aos arredores, mas faltou uma. 

   — Por quê? — perguntei me aproximando dos dois. 

   — Está tomada. — Gabriel respondeu.

   — Quantos? — Rick indagou, arrumando seu rifle nos braços.

   — Uma dúzia. Talvez mais. 

   — Eu e Bob vamos ajudá-los. — Sasha tomou a palavra. — Tyreese fica ajudando a cuidar de Judith. 

   — Tudo por ela. — disse Tyreese, olhando carinhosamente para a garotinha nos braços de Carl. 

   — Sou grato por isso, Ty. E por todo o resto. — Rick se aproximou do homem. 

   — Vou desenhar um mapa. — Gabriel começou a falar, mas Rick o interrompeu.

   — Você vai conosco. — disse ele. Gabriel sorriu, nervoso novamente.

   — Não serei de grande ajuda. — Era perceptível o medo em seu olhar. Ele não queria ir até lá. 

   — Você vai conosco. — Rick repetiu, com a voz mais firme que o normal. Gabriel assentiu, com o olhar mais aterrorizado ainda. 

   Todos começaram a se preparar para a saída. Rick foi até Carl em um canto mais afastado. Ele assobiou e pediu para que eu fosse junto. Passei o arco em meu tronco e caminhei até onde os dois estavam.

   — Não confio nesse cara. — Rick se apressou em dizer. 

   — Não me parece muito confiável. — Reforcei a teoria do líder. — Mas, Big Grimes, nem todos podem ser tão ruins assim. 

   — Mesmo assim, vou levá-lo comigo porque não confio. — Rick voltou seu olhar ao filho. — Quero que ajude Tyreese a ficar de olho em Judith. Não importa o que pareça, ou se existem muitas pessoas ao seu redor, você não está seguro, ok? Nenhum de nós está. Vocês dois não podem abaixar a guarda. Você, Carl, nunca poderá abaixar a guarda. Prometa para mim. — Olhei para o garoto. Ele escutava atentamente as palavras do pai.

   — Eu prometo. — disse Carl, sem hesitar. Rick assentiu e se virou para se afastar. — Cassie também não pode. — O garoto virou seu rosto para mim. 

   — Ela não vai. — garanti.

   — Tome cuidado lá, Rey. Daryl quase pirou no Terminus. — Só de lembrar do Terminus, já sentia um arrepio estranho correr em meu estômago. Não era confortável, mas sim completamente o contrário. — Ele não ia sair de lá sem você. 

   Ergui as sobrancelhas depois da última fala de Little Grimes. Saber que Daryl ainda se preocupava comigo de alguma forma foi bom. O nível do meu orgulho abaixou um pouco, mas não o bastante para chegar até ele, dizer tudo o que estava pensando, e conversar sobre o acontecido. No momento, só queria ir atrás dos suprimentos. Olhei para Cassie e a vi ao lado de Tyreese, brincando com Judith. 

   — Você também vai ficar, Cassie. — falei me aproximando da garota, que assentiu e me lançou um sorriso. Passei levemente uma das mãos em seus cabelos, antes de me virar novamente e caminhar até a porta.

   — Você também, Reyna. — Daryl ergueu sua voz, fazendo com que eu parasse onde estava, e desviasse meu olhar para ele. — Você fica. — disse novamente, dando um passo em minha direção. Franzi o cenho.

   — Como é que é?