História Not Gonna Die - Season 1 - Provocation

Narradora On 

   No dia seguinte, Lincoln entrou na cela de Reyna carregando um pedaço de pano preto e um sapato nas mãos. A Dixon já sabia muito bem o que era, mas não sabia o porquê de ter que usar naquele momento.

   — Eu tentei fazer ele mudar de ideia. — disse Lincoln, hesitante em entregar o pequeno vestido.

   — Impossível, eu sei. — Reyna respondeu, levantando-se, com certa dificuldade por conta de suas costas, e caminhando até o amigo. — Mas por que ele quer que eu use isso? — Ela perguntou, hesitante em pegar o pano.

   — Nós vamos sair. — Lincoln respondeu, parecendo desapontado. — Vamos para Alexandria. — A pequena frase fez toda a confusão de Reyna simplesmente desaparecer.

   — Entendi. — disse ela, sem ânimo algum. — Apenas... eu vou me trocar. — completou. Lincoln assentiu, odiando ver o olhar de sua amiga naquele momento.

   — Diga quando estiver pronta. — Ele pediu. — E não saia de perto de mim, tudo bem? — Reyna assentiu, achando a ideia de Lincoln realmente boa. Não queria afastar-se de seu amigo, mas principalmente, não queria estar perto de Negan e muito menos de Ash.

   Lincoln saiu pela porta, deixando-a sozinha mais uma vez. Ela encarou o pequeno pedaço de pano por alguns segundos, lembrando-se de todas a vezes que Negan a obrigou a usá-lo, como se ela fosse um prêmio. Com esses pensamentos, ela jogou o vestido no chão, e tirou a parte de cima de seu moletom, em seguida a calça, jogando-os para qualquer canto daquele pequeno e fétido quarto.

   O vestido era apertado demais, curto demais, aberto demais. Reyna sentia-se exposta vestindo aquilo, principalmente pelo fato de ser completamente aberto nas costas, deixando que todas as suas cicatrizes antigas, e os machucados recentes ainda abertos transparecessem, além de ser extremamente colado a seu corpo e curto em suas pernas.

   — Linc. — Ela chamou, após calçar os coturnos que Negan havia selecionado.

   A porta foi aberta, e Reyna instintivamente abaixou a cabeça, sem coragem de olhar para o amigo. Ela sabia que ele não a olharia com desejo, como a maioria dos homens faria, mas sim com tristeza, querendo cobrir seu corpo o máximo possível, protegendo-a de qualquer olhar pervertido demais, como seu irmão faria. Era exatamente o que Lincoln significava a ela. Um irmão mais velho para ela e para Daryl, como Merle nunca conseguira ser.

   — Vamos. — disse ele, equilibrando o rifle que segurava em uma das mãos, e colocando a outra nos ombros da mulher.

   Reyna o seguiu, em silêncio, tentando ignorar todos os olhares lançados a ela enquanto aproximava-se dos caminhões que partiriam até Alexandria. Negan a encarou de cima abaixo, sem esconder a malícia por trás de seu sorriso e olhos. Daryl também estava lá, e ao ver sua irmã, sentiu como se algo o espancasse repetidas vezes. Queria correr até ela, e livrá-la de qualquer pensamento fútil e escroto relacionado à sua figura.

   Ele fez menção em dar um passo, mas Dwight o impediu, apontando a besta, que um dia fora de Daryl, para seu rosto. Ele o encarou com fogo nos olhos, querendo esganar o loiro com suas próprias mãos. Reyna também tentou ir até seu irmão, mas Negan fora mais rápido, e a puxou pelo braço. Ela procurou Lincoln com o olhar, como se implorasse para o amigo não sair nenhum centímetro de perto dela.

   — Você está incrível, baby. — Negan sussurrou em seu ouvido. Reyna controlou uma careta de nojo em seu rosto, tentando afastar-se o mínimo que fosse. — Star, prenda o cabelo dela. Quero suas costas limpas. — disse ele, e Stellar prontamente atendeu ao pedido do pai.

   — Eu mesma faço isso. — Reyna rosnou para o líder. Negan sorriu, dando de ombros.

   Reyna prendeu seu cabelo em um rabo de cavalo alto, com um elástico que Stellar estendeu, sentindo-se mais exposta que antes, agora com as costas completamente à vista de qualquer um. Ela se encolheu instintiva e involuntariamente, desviando seu olhar para o chão. Ela odiava sentir-se daquele jeito. Impotente, fraca e exposta.

   — Todos vocês, vagabundos, vamos andando. — Negan gritou, já caminhando até o caminhão maior.

                                       (...)

   Ao chegarem em Alexandria, todos os homens de Negan esconderam-se atrás dos muros a comando dele. Foi quando Reyna conseguiu ficar ao lado de seu irmão. Ele segurou firmemente sua mão, sem precisar dizer absolutamente nada. Lincoln estava ao lado dos dois, em silêncio. Daryl não tinha palavras para agradecer o amigo por tomar conta de sua irmãzinha.

   Negan empunhou Lucille e bateu três vezes no portão da comunidade, com o mesmo sorriso sádico no rosto. Stellar e Ruby estavam ao seu lado, com as expressões do rosto relaxadas.

   — Porquinhos, porquinhos, deixem-me entrar. — Ele gritou, batendo mais uma vez no portão em seguida. Spencer apareceu.

   — Quem é você? — Ele perguntou, ingênuo demais. Negan soltou uma risada debochada.

   — É sério? — perguntou, encarando Spencer com ironia e uma leve irritação.

   — Preciso saber quem é você, e o que quer. — Spencer tentou mais uma vez. Reyna revirou os olhos.

   — Apenas abra essa merda, Spencer. — disse ela, sem ânimo algum.

   — Rick. — Negan gritou, ao ver o líder se aproximando. O coração de Reyna falhou por um segundo.

   — Pensei que viria depois de uma semana. — Grimes questionou, sem perceber a presença dos outros Salvadores, Daryl e Reyna.

   — Acontece que eu senti sua falta. — disse Negan, com o mesmo sorriso no rosto. — Agora parem de piadinhas e abram a porra desse portão. — completou, desmanchando o sorriso por um instante.

   Rick abriu o portão, e só então se deu conta da quantidade de pessoas do outro lado dos muros, inclusive da presença de Daryl e Reyna. Seus olhos arderam, e sentiu as lágrimas querendo escorrer livremente. Reyna não conseguiu olhá-lo, mas Daryl foi quem lançou-lhe um olhar, como se dissesse que estavam bem, por ora.

   — Espero que tenha gostado da pequena surpresinha. — Negan disse ao pé do ouvido de Rick, como uma provocação. — Aliás, esqueci de apresentar minha filha, Stellar. — Ele apontou para a garota de cabelos azuis, que encarava o líder de Alexandria com um sorriso debochado nos lábios. Reyna então se deu conta de que faltava mais um. Ela ainda não havia visto Scott em lugar algum.

   — Rey... — Rick tentou, mas Negan posicionou Lucille em sua frente, impedindo-o de dar mais um passo. Reyna o encarou, preocupada.

   — Reyna e Daryl são meus agora. — disse Negan. Rick se afastou, a contra gosto. — Então, não vai nos convidar para entrar?

   — Suas coisas estão separadas, mas não sabíamos que viria mais cedo, então não está completo. — disse Rick, dando espaço para que o grupo entrasse.

   — Não se preocupe com isso. Meu grupo irá escolher o que quiserem levar. 

   Com um simples comando, os Salvadores espalharam-se pela comunidade, deixando os moradores um tanto atordoados. Com Negan, ainda no portão, permaneceram Rick, Dwight, Lincoln, Daryl, Reyna, Stellar e Ruby. A última parecendo um tanto entediada. Ela claramente não queria estar ali.

   Assim que Reyna passou pelo portão, Rick pôde ver suas costas completamente expostas. Uma lágrima quis escorrer de um de seus olhos, mas era controlável, completamente o contrário da dor que sentiu em seu peito. Dias atrás Reyna dissera que o sangue de toda sua família um dia estaria nas mãos do líder, e depois da matança na outra noite, Rick teve plena certeza disso, e a culpa o corroía mais drasticamente que sua tristeza.

   — Então, não vai nos apresentar a comunidade? — Stellar perguntou, sarcástica. Rick a encarou com certo ódio.

   — Não se atreva a lançar esse olhar pra minha filha, Rick. — disse Negan, escondendo por um instante seu sorriso habitual. — Aliás, pode segurá-la pra mim? — Ele estendeu Lucille. Rick segurou o bastão, sem escolhas.

   O pequeno grupo caminhou pela comunidade. Rick estava extremamente calado, e Reyna procurava por todos os lugares algum sinal de Cassie ou Jayden. Ela não queria que eles vissem aquilo. E então lembrou-se de Maggie, e teve que controlar toda sua vontade de gritar pelo nome da mulher e certificar-se de que estava viva.

   Ela tentou trocar algum olhar com Rick, mas parecia que Negan estava atento a qualquer mísero movimento que ela fazia, inclusive se respirasse de maneira irregular. Um dos Salvadores aproximou-se, com uma câmera em mãos. A antiga câmera de Deanna. Reyna não precisou olhar para a imagem para saber que eram as gravações das entrevistas de quando Rick e o grupo chegaram em Alexandria.

   — Puta merda, Rick. — Negan ironizou, arregalando os olhos para a imagem. — É você debaixo dessa barba toda? — perguntou. Reyna encarou Rick, e viu que o líder se controlava para não usar Lucille contra Negan. — Caralho, eu não teria mexido com esse cara.

   — Papai. — A voz familiar invadiu os ouvidos de Reyna e Daryl como uma facada.

   Os dois observaram Julian correndo até o Dixon, com um sorriso imenso no rosto e os bracinhos abertos. Negan ergueu as sobrancelhas, com um sorriso debochado, observando o pequeno pular nos braços de Daryl. Ele tentou não pegar o garotinho e abraçá-lo fortemente, mas foi completamente impossível. Tanto ele quanto Reyna estavam morrendo de saudades de seu pequeno.

   — Jules... — Reyna sussurrou, dando um passo até os dois, mas sendo impedida por Negan.

   — Ele é filho... está de brincadeira? — Negan perguntou, gargalhando em seguida. Reyna o encarou com desgosto.

   — Não. Ele não é filho de nenhum de nós. — disse ela simplesmente. Negan arfou, como se estivesse sarcasticamente aliviado.

   — Já estava achando que você tinha trocado meu pai pelo seu próprio irmão. — Stellar comentou, acompanhando o pai nas risadas. Reyna percebeu que Julian agora corria até ela. Negan permitiu que ela se abaixasse e abraçasse o pequeno, mas ainda mantinha uma expressão irônica e brincalhona no rosto.

   Reyna abraçou o garotinho com toda a firmeza que conseguiu, como se ele estivesse prestes a se afastar para sempre. Ela sentiu as mãozinhas tocarem os machucados ainda abertos, mas ignorou a pequena ardência que se fez presente. Ela beijou o topo da cabeça de "seu filho", com todo amor e carinho que sentia por ele.

   — Já chega. Deixei você abrir demais as pernas, baby. Solte o garoto. — Negan mandou. Reyna não teve outra opção a não ser soltar o garotinho e pedir que fosse até Padre Gabriel, que se aproximava.

   — Saudações. — disse ele, segurando o pequeno no colo.

   — Vocês têm a porra de um padre? — Stellar perguntou, erguendo uma das sobrancelhas e encarando Gabriel de cima abaixo.

   — Isso acabou de me lembrar, o que aconteceu com aquela viúva toda fodida? Ela continua viva? Sabe, até que ela era bem gostosa. — Negan perguntou. O estômago de Reyna revirou com a repulsa.

   A Dixon não olhou para Gabriel, apenas esperando uma resposta, mas após alguns segundos em silêncio, sua preocupação cresceu, e seus olhos foram até Rick, como se pedisse por uma explicação. O líder nem percebeu seu olhar sobre si. Estava alheio, segurando as lágrimas o máximo possível.

   — Isso é uma pena. — disse Negan, mas não sentia absolutamente nada, Reyna tinha certeza. Ela encarou seu irmão, mas Daryl sentia vergonha demais de si mesmo para retribuir o olhar de sua irmã.

   — REY. DARYL. — Uma voz feminina gritou, e os Dixons não precisaram olhar para saberem que era Cassie, com um sorriso no rosto, aproximando-se.

   Reyna fez menção em gritar para a garota se afastar, mas Stellar foi mais rápida, e derrubou a menina no chão, antes que se aproximasse demais, com uma faca pressionando seu pescoço. Daryl impulsionou seu corpo para frente, mas Ruby e Dwight o impediram. Rick procurou involuntariamente a Colt Python no coldre, mas ela não estava lá. Lincoln ergueu o rifle, e apontou para o líder de Alexandria.

   — Não encoste nela. — Reyna gritou, pronta para atacar se fosse preciso. Negan puxou um revólver do cós da calça, e apontou para a cabeça da Dixon. Ela parou, mas não desviou seu olhar furioso de Stellar.

   — Nem mesmo pense, filha da puta. — Negan gritou. Stellar apenas riu, ainda pressionando a faca na garganta de Cassie.

   — Parece que você se importa pra cacete com essa daqui, huh? — Stellar zombou, encarando Cassie com um sorriso sombrio.

   — Sim, me importo pra cacete com ela. — Reyna rebateu, com o ódio subindo-lhe pela espinha. — Como um dia eu me importei pra cacete com você.