História Not Gonna Die - Season 1 - Nightmare

Narradora On

   O grupo com destino ao ponto de troca com o povo do Reino estava prestes a sair, liderado por Stellar. Reyna estava junto, mas não como se fosse parte do grupo, e sim como se fosse a escrava que faria o trabalho sujo. Não possuía armamento algum, e não deixava o lado de Lincoln. Daryl estava nos portões, lidando com os Walkers que "protegiam" o Santuário, e não conseguiu desviar sua atenção de sua irmã em momento algum.

   Lincoln sentiu a responsabilidade de proteção em relação a Dixon atingi-lo fortemente, e apenas se intensificou ao ver o olhar que Daryl lançou-lhe. Não deixaria que nada acontecesse a sua amiga, e não deixaria que ninguém se aproximasse, e Daryl sabia que podia confiar cegamente em Burrows.

   Reyna não conhecia todos os homens que sairíam, mas parecia que eles sabiam muito bem quem ela era, e o que ela fizera para estar naquela posição. Ela já se pegou pensando em como teria sido sua vida se Negan fosse uma pessoa decente, e se ela nunca tivesse partido. Se tudo corresse como no começo, onde os dois podiam confiar um no outro, cuidar um do outro e proteger um ao outro.

   — Vamos logo, vagabundos. — Stellar gritou de uma das caminhonetes que partiríam. Ruby estava ao seu lado.

   Reyna entrou logo depois de Licoln na parte de trás de um dos veículos e controlou sua vontade de encarar seu irmão. Não queria demonstrar fraqueza naquele momento, ela já estava exposta demais, não precisava de mais um motivo para mostrar-se impotente, e sabia que se olhasse para seu irmão, desmoronaria explicitamente na frente de todos.

   As caminhonetes logo partiram, e Reyna permitiu-se apenas encarar a estrada, sem pensamentos rondando sua mente, como se tudo estivesse bem. Ela nem percebeu o tempo passando, e logo o veículo em que estava parou, e ela desceu, após receber um empurrão de um dos homens. Ele a olhou com um sorriso de canto. Reyna não ligou, e mesmo se ligasse, ninguém se importaria.

   Em frente às caminhonetes do Santuário, um pequeno grupo estava em pé. Pareciam confiantes. Usavam um tipo de uniforme. O que pareceu ser o líder tinha uma postura relaxada, mas conseguia ser respeitado por todos seus seguidores. Reyna passou os olhos por todos, e teve que controlar sua expressão quando avistou Morgan.

   O homem piscou algumas vezes, e encarou a Dixon de cima abaixo, como se verificasse que era realmente ela ali, com as roupas imundas e aparência deplorável, totalmente acabada e fraca. Reyna não conhecia direito o homem, mas sabia que ele fazia parte da família, e não tinha ideia do porquê de vê-lo ali com as pessoas do Reino.

   — Saudações. — O líder começou, lançando um cumprimento a Stellar.

   — Ezekiel. — disse ela, com o habitual sorriso irônico no rosto.

   — Suas coisas estão no caminhão. Richard... — O líder virou-se para um dos homens.

   — Não, não. — Stellar apressou-se em interromper o comando de Ezekiel. — Trouxe alguém especialmente para carregar tudo. Não precisa de esforço algum. — Era impressionante como ela conseguia ser sarcástica como seu pai. — Reyna.

   A Dixon encarou a garota, e sentiu vontade de socá-la apenas para tirar o sorriso irritante do rosto. Stellar parecia ridiculamente imponente naquele momento. Os cabelos azuis presos em um rabo de cavalo alto. No tronco, ela carregava o arco e a aljava de Reyna, mais como uma provocação, e em suas mãos, um rifle carregado, além das duas facas no cinto.

   Reyna caminhou até o caminhão, encarando Morgan mais uma vez. Ele queria dizer algo, mas não tinha palavras. Tinha muitas perguntas. Por que ela estava com eles? Por que ela fazia o que eles queriam? Onde estava o resto do grupo de Alexandria? Por que ela parecia uma prisioneira? Tudo girava na mente do homem, sem nenhuma resposta que pudesse preencher todas as dúvidas.

   Ele fez questão em ajudar a amiga, mas Stellar apontou o rifle em sua direção, não deixando que se aproximasse. Ela simplesmente sorria enquanto o fazia, e aquilo já estava irritando Ruby. Ao ver Reyna erguendo a primeira caixa com os suprimentos fornecidos pelo Reino, ela simplesmente revirou os olhos e caminhou até a Dixon.

   — Merda, Ruby. — Stellar murmurou para si mesma, bufando em seguida. — Burrows. — Ela chamou e apontou com a cabeça para que fosse ajudar Ruby e Reyna.

   — É uma molenga. — Um dos homens debochou. Stellar virou seu rosto na direção de Jared, o mesmo homem que empurrara Reyna minutos antes.

   — Você não consegue calar esse lixo que chama de boca? — Ela perguntou, ainda irônica. Jared calou-se. — E você, o cara novo. — Stellar chamou a atenção de Morgan, e ele teve que desviar o olhar de Reyna para encarar a garota. — O que tanto olha? Ela é propriedade de Negan. — Morgan parecia atordoado, mas apenas desviou o olhar para o chão e negou com a cabeça.

   Reyna firmou em suas mãos uma caixa de madeira, contendo legumes e frutas frescas, e ela realmente se impressionou com a quantidade. O Reino parecia ser muito cheio de recursos, e isso, para ela, explicava o fato de os Salvadores não invadirem o lugar como faziam com Alexandria e possivelmente com Hilltop.

   Assim que as duas caminhonetes estavam completamente carregadas, Reyna olhou para Morgan novamente. O olhar do homem era como um ponto de interrogação. Ela apenas suspirou e voltou a abaixar a cabeça, como se não existisse. O que não funcionou. Ela sentiu algo encostar em seus braços. Na verdade, alguém. Jared encontrava-se ao lado da Dixon, com um sorriso nojento no rosto, enquanto passava uma de suas mãos dos braços até o pescoço de Reyna.

   — Fique longe. — Lincoln empurrou o homem, querendo proteger a amiga.

   — Quem você pensa que é? — Jared impulsionou seu corpo para frente, mas Ruby puxou um revólver do coldre, e apontou para a cabeça do homem.

   — Ele é a pessoa que está protegendo Reyna de caras como você. — disse ela, encarando-o furiosamente. Stellar não interferiu. Sabia que podia confiar em sua amiga para manter o controle da situação, e por isso a levava para onde quer que fosse. — Para trás, ou não vai voltar para casa.

   Jared procurou Stellar com os olhos, como se pedisse por alguma ajuda, mas tudo que a garota fez foi olhá-lo entediada.

   — Podemos ir, ou vai ficar dando chilique? — Ela perguntou, recebendo um aceno positivo com a cabeça por parte de Jared. — Foi um prazer fazer negócios com o Reino. Até a próxima, Rei Ezekiel. — Ela proferiu o nome do homem sarcasticamente, enquanto virava-se e seguia até uma das caminhonetes.

   O grupo a seguiu, dividindo-se mais uma vez entre os dois veículos. Reyna não deixou o lado de Lincoln, e suspirou aliviada quando percebeu que seu controle pessoal estava estável, visando que sua vontade de socar Jared era extrema, mas não o fez.

   Pov. Lincoln Burrows 

   Ver Reyna daquele jeito, submissa, quieta, passiva, deixava-me realmente irritado. Ela nunca fora assim. Lembro de antigamente, quando ela se mostrava a pessoa mais corajosa que já havia visto, e a mais forte. Aguentar o que ela passava com o pai todos os dias, o que ela e os irmãos aguentavam, era uma tarefa dura e cansativa, mas Reyna sempre mostrava-se resistente.

   Resistência era uma palavra que usava frequentemente nesse mundo. A sobrevivência dependia da resistência de alguém, e imaginava que Reyna e Daryl tiveram facilidade ao lidar com o apocalipse. E no momento, a resistência de Reyna era tudo o que ela precisava para não causar mais problemas a ela mesma ou ao seu irmão.

   Queria poder tirá-los de lá, fugir com eles e protegê-los. Daryl e Reyna sempre foram como irmãos para mim e Michael, e minha vontade de socar Negan só aumentava, mas eu não podia desfazer minha postura. Deveria continuar firme, como planejado.

   — Hey, Burrows. — Ash chamou enquanto se aproximava, sozinho. — Negan está chamando. — disse, com o queixo erguido, como se fosse superior.

   — Sabe o que ele quer? — perguntei, sem querer deixar a cela de Reyna. Ash deu de ombros.

   — Ele apenas pediu para que eu te avisasse e vigiasse o Anjo de Lúcifer, enquanto ele conversava com você. — Ele parecia relaxado demais. Não confiava em Ash, muito menos em deixar Reyna sozinha com ele.

   — Vou pedir para Ruby ficar aqui. — disse, com a intenção de pegar o rádio no cós da calça, mas o homem me impediu.

   — Acha que farei algo ao Anjo de Lúcifer? — Ele perguntou, debochado. — Não sou tão estupido ao ponto de desafiar Negan. — concluiu.

   Não queria deixar Reyna, mas não podia simplesmente desobedecer Negan, não naquele momento. Senti algo preencher meu interior no momento que virei as costas e comecei a me afastar da cela de Reyna, como se eu não devesse deixá-la sozinha, e principalmente com Ash.

   Enquanto virava os corredores, pensei diversas vezes em voltar, e até cheguei a fazê-lo, mas então pensava que enfrentar Negan era pior que enfrentar Ash. O que cacete aquele homem queria comigo? E o que diabos ele estava pensando ao mandar Ash vigiar Reyna? As perguntas ferviam em minha mente enquanto caminhava rapidamente até os aposentos de Negan.

   Ao chegar em frente à porta do quarto do homem, bati algumas vezes, esperando alguma resposta. Estava tudo quieto demais. Negan não estava ali, e se quisesse mesmo falar comigo não estaria com uma de suas esposas dentro do quarto. Pensar nisso era repugnante. Puxei o rádio do cinto.

   — Ruby, onde está Negan? — perguntei, esperando alguns segundos até a voz da mulher soar no aparelho.

   — Provavelmente nos portões, por quê? — Ela perguntou. Parecia realmente confusa. Aquilo não estava me cheirando bem. Mais uma vez pensei em voltar.

   Corri até o lado de fora da fábrica, e procurei a figura de Negan nos portões. Lá estava ele, com sua postura relaxada, proferindo palavrões e asneiras de sua boca. Lucille estava apoiada em seu ombro, como de costume, e ria debochado dos homens que cuidavam dos Walkers que estavam na entrada, e um deles era Daryl.

   Odiava vê-lo daquele jeito. Daryl Dixon era um dos meus melhores amigos. O único, na verdade. Me importava demais com ele e sua irmã, e a tortura deles era uma tortura minha também, como se já não bastasse tudo o que eles sofreram com o pai.

   — Negan. — chamei, desviando minha atenção de Daryl. O homem virou-se em minha direção, com o cenho franzido.

   — Por que não está vigiando Reyna? — perguntou, com um fundo de raiva em sua voz sarcástica. Percebi que Daryl parou o que fazia para ouvir.

   — Disseram que você queria falar comigo. — respondi, tentando ao máximo não encarar meu amigo do outro lado da cerca.

   — E quem disse isso? — Negan parecia realmente confuso. 

   — Ash disse que... — Foi então que minha ficha caiu. Como pude ser tão estupido? — Filho da puta.

   Virei-me em uma velocidade absurda, sem importar-me com os chamados de Negan, ou com o desespero de Daryl após perceber o mesmo que eu. Meu coração parecia querer saltar de meu peito, ao mesmo tempo que meu sangue fervia de raiva. Queria pegar Ash pelo pescoço e entregá-lo a Negan, para ver Lucille acabar com a raça daquele infeliz na porrada.

   Meu desespero aumentava apenas por pensar que Reyna podia estar sendo exposta da pior maneira possível, e a culpa seria completamente minha, por eu ser um idiota que acreditava no que um estuprador de merda dizia. Não estava dando a mínima para Negan, ou para o plano, apenas queria tirar minha irmã daquele lugar. Irmã, sim. Reyna era como a irmã que eu nunca tive.

   Finalmente virei o corredor onde a cela de Reyna ficava, e como previ, Ash não estava do lado de fora. Corri ainda mais, até parar em frente à porta. Estava aberta, e o que vi no lado de dentro foi como ser espancado. Ash encontrava-se imóvel no chão, no fundo da cela, enquanto Reyna permanecia encolhida no canto oposto. Ela tremia freneticamente, e pude ouvir sua respiração irregular. Seu moletom estava rasgado, e ela fazia de tudo para cobrir seu tronco exposto. Não havia lágrimas em seus olhos, mas seu olhar era completamente apavorado e vazio.

   — Rey...

   Corri em sua direção, pouco me importando com o corpo imóvel de Ash. Ajoelhei para poder ficar na altura da mulher, e segurei em seus ombros. Ela se debateu, tentando afastar-se de qualquer maneira.

   — Reyna, se acalme. Sou eu, Linc. — dizia, enquanto segurava seu rosto com ambas as mãos.

   Ao focar seus olhos nos meus, Reyna arfou, antes de relaxar os músculos lentamente. Ela segurou firmemente em minha camiseta, como se tentasse comprovar que eu estava realmente ali. Tirei delicadamente seus cabelos de seu rosto, e a puxei para mais perto, embalando-a como se fosse uma criança.

   — Quero ver meu irmão. — disse ela, com a voz em um sussurro. — Linc, quero ver meu irmão. Preciso ver Daryl. — Ela dizia, desesperada. Queria poder levá-la até o Dixon, mas não podia.

   — O que diabos está acontecendo aqui? — Negan chegou na porta, irritadiço. O sorriso não era presente em seu rosto. — Por que Ash está no chão? 

   — Ele tentou estuprá-la. — respondi. Mesmo sem Reyna ter me falado, era óbvio o que acontecera. — Tomara que esteja morto. — disse para mim mesmo, sem que Negan pudesse ouvir.

   — Linc, eu preciso ver meu irmão. — Reyna continuava implorando. — Por favor, me deixe ver meu irmão. — Ela ainda não chorava, mas seu pavor era explícito. Ela realmente necessitava Daryl ao seu lado. 

   — Negan, deixe-a ver o irmão. — pedi, levantando-me e caminhando até ele. Ele tinha o cenho franzido. O sarcasmo não era presente naquele momento. Era um caso sério demais para que ele pudesse ser sarcástico.

   — D, traga Daryl até a cela de Reyna, agora!