História Not Gonna Die - Season 1 - Thoughts

Pov. Daryl Dixon

   Uma semana se passara dês de que saímos do Terminus. Foi uma semana, digamos que, difícil, pelo menos para mim. Reyna insistia em caçar sozinha e correr feito uma louca para matar os Walkers que ficavam no caminho, dizendo que sua perna já estava melhor. Meu orgulho quase foi vencido diversas vezes com a insistência dela, mas por um milagre mantive minha postura. Qual é, isso era estupidez. E todos sabem que estupidez é o sobrenome do meio de todo Dixon, infelizmente.

   Durante a semana, também pude perceber o quanto minha irmã amadurecera. Tanto nas atitudes, na forma de falar, caçar, se comportar e fisicamente. Ela não explodia por qualquer coisa besta que a deixava irritada, apesar de ter que se controlar muito para isso. Sua caça ficava cada dia melhor; mais silenciosa e eficiente. E fisicamente... Ela era uma mulher completa agora. 

   Quando essa merda toda aconteceu, Reyna ainda estava nos primeiros anos da vida adulta; ainda estava formando sua nova casca, mas agora já estava mais que completa, apesar de que algumas mínimas atitudes me faziam lembrar de minha pequena Reyna quando tinha oito ou nove anos de idade. Sem contar o colete de couro preto que ela não tirava nunca. Se bem que não posso falar nada sobre o assunto. 

   Eu estava completamente confuso. Hora ou outra me pegava pensando em abraçá-la e sentir o carinho de irmã que sempre amei nela, mas logo as imagens de anos atrás, do motivo de eu e Merle termos nos perdido de Reyna, pairavam em minha mente como flashes desagradáveis de lembranças, e aquela vontade esvaía-se no mesmo instante. O lado bom disso tudo é que às vezes apareciam lembranças boas, como a vez que eu e Merle demos o precioso arco para ela. 

   — Daryl, posso usar sua besta para caçar? — Reyna perguntou com a famosa careta entediada de adolescente. 

   — Não. — respondi curto e grosso. A garota revirou os olhos, cruzando os braços em seguida. 

   — Papai chegará a qualquer momento, pelo menos vamos juntos, por favor. — Ela insistia enquanto se aproximava. 

   — Você nunca mais vai usar minha besta. — falei desviando o olhar para ela, que me olhou confusa. 

   — Qual foi, Daryl? Sabe muito bem que sou melhor que você com ela. — Reyna sorriu ironicamente. 

   — Nem em seus sonhos, pirralha. — Sorri em sua direção. — Só quero dizer que você nunca mais vai usar minha besta para caçar, porque você terá sua própria arma, maninha. — Reyna caprichou ainda mais na careta confusa ao ouvir a frase. Puxei-a pelo pulso e levei-a até os fundos da casa, de frente para a mata. 

   Merle estava lá, como combinamos, com um arco novo em folha em mãos, junto com uma aljava de couro cheia de flechas. Meu irmão conseguiu o dinheiro para comprar o equipamento parte com o poker, e parte... Vai saber, é Merle, não? O que importava era o olhar surpreso e feliz de Reyna. Ela olhava alternadas vezes de mim para Merle. 

   — Feliz aniversário, Rey. — disse antes de receber um abraço apertado. 

   Lembranças como essa me faziam querer sorrir. Apenas de vizualizar o olhar alegre de minha irmã em minha mente já me fazia querer sorrir e caminhar até ela para conversar, como fazíamos antes. Muitas vezes que ela dizia que ia caçar, mesmo com os protestos de todos, eu quase ia junto apenas para passar um tempo sozinho com ela, mas como sempre, o orgulho falava mais alto. 

   Não estava preparado para falar sobre aquilo com ela. Era um assunto que me causava muita dor e agonia. Só de relembrar as imagens daquele maldito dia, me sentia enjoado, triste e inexplicavelmente irritado. Achei que se visse Reyna novamente depois daquele dia, iria ficar de algum modo feliz, mas o que aconteceu foi o susto e a volta da dor que eu havia aprendido a controlar. 

   — O que tanto pensa? — Cassie se aproximou de mim. No momento o grupo se deslocava para qualquer lugar possível. 

   Cassie era uma garota muito importante para mim, Reyna e era para Merle. Ela e o irmão, Jayden, na verdade. Havíamos achado os dois no início de tudo, e acabamos nos aproximando muito, principalmente pelo jeito animado e inabalável de Cassie. Ela me lembrava Beth, na verdade. E muito. Talvez isso tenha feito eu me preocupar tanto com a vida de Beth. 

   — Besteira. — respondi sem olhá-la. 

   — Sabe que um dia vai ter que falar com ela. — disse Cassie apontando com a cabeça para minha irmã, que caminhava ao lado de Rick e Carl. — Vocês brigavam toda hora e sempre voltavam ao normal, mas esse não é o caso. Aproveite sua irmã enquanto ainda pode. — Ela sorriu, mesmo por sua última frase ter sido um tanto pesada.

   Cassie contou que há mais ou menos um mês uma horda grande daquelas coisas invadiu o acampamento que estavam, e ela acabou se separando de seu irmão. Apesar da tragédia, ela continuava sorridente, gentil e otimista. Ela dizia que seu irmão não gostaria de vê-la triste por aquilo, então mantinha sua postura alegre. 

   — Jayden dizia isso. — Ela continuou quando viu que eu não tinha uma resposta. — Sabe? Aproveitar tudo e todos que gosta antes que... Algo aconteça. — Cassie deu de ombros e voltou seu olhar para frente, mas continuou ao meu lado. 

   — Como consegue? — perguntei depois de alguns minutos. Cassie desviou seu olhar para mim, confusa.

   — O que? 

   — Ser feliz em um mundo como esse. — Ela sorriu sem mostrar os dentes, ainda olhando para mim. 

   — Não tenho motivos para não ser. — Ela simplesmente respondeu, dando de ombros. — Apesar de ter me perdido de meu irmão, reencontrei você e Rey. Sem contar que faço parte de um ótimo grupo agora, onde todos se ajudam e ninguém é capaz de deixar outro membro para trás. Todos se preocupam. Resumidamente, perdi uma família para ganhar outra. — Olhei diretamente em seus olhos, e repousei meu braço em seus ombros antes de sorrir minimamente. 

   — ...caçar. — Ouvi a última palavra de Reyna para Rick. O xerife fez uma careta não muito boa.

   — Sua perna... — disse ele, olhando-a preocupado. 

   — Relaxe, Big Grimes, estou bem. — Reyna virou seu rosto para o homem. 

   — Está abusando demais. O ferimento foi muito recente. — Rick tentava convencê-la de não caçar novamente. — Por favor, só espere melhorar, depois juro que paro de encher seu saco. — Reyna observou o rosto do líder por alguns instantes antes de revirar os olhos e assentir. 

   Isso era outra coisa que me intrigava. Reyna brigava comigo e Merle com unhas e dentes quando pedíamos que fizesse algo contra sua vontade, mas com Rick ela não discutia. Por um lado isso era bom, porque eu confiava em Rick para cuidar de minha irmã em meu lugar, e parecia funcionar, mas por outro lado, era estranho. Me sentia diferente em ver minha irmãzinha tão próxima do xerife. Era uma novidade grande para mim. 

   — Isso se chama ciúmes de irmão, Dixon. — Tyreese disse de repente. Desviei minha atenção para ele, com o cenho franzido. — Também senti quando Sasha saiu com um cara pela primeira vez. — Ele soltou uma risada fraca com o comentário. 

   — Eu também já. — Cassie comentou animada. — Uma vez, Jayden recebeu um beijo na bochecha de uma menina, na minha frente. Me lembro de ter ficado emburrada o dia inteiro dizendo que ele ia me trocar pela menina, sendo que na época ele tinha uns onze anos e eu seis. — Ela e Tyreese riram depois da pequena história da garota. 

   — Por que acham que tenho ciúmes deles? Nem ligo pra isso. — falei em um grunhido. Cassie riu e Tyreese ergueu uma sobrancelha. 

   — Eu dizia a mesma coisa. — Ele comentou ironicamente. — É normal, relaxe. — disse ele antes de voltar seu caminho ao lado de Sasha e Bob. 

   Voltei a atenção aos meus pensamentos depois da conversa descontraída. Me obriguei a pensar apenas nas lembranças boas, apesar de sempre escutar uma vozinha do meu subconsciente dizer repetidas vezes a frase de Cassie: "Antes que algo aconteça."

   — Socorro! Por favor, socorro.