História Not Gonna Die - Você morreu

     Novamente, encarei embasbacado. Ele ficou algum tempo encarando os corpos no chão, e quando ia fazer menção de se virar pra mim, ouvimos passos rápidos vindo de cima de um prédio próximo.
    No topo da estrutura, em uma cobertura plana, apareceu uma garota. Ela ofegava rapidamente.
    Tinha pele e cabelos lisos muito escuros, e olhos de um amarelo bem claro. Ela relativamente alta, usava uma  camisa branca, calças pretas, botas e uma jaqueta de couro um pouco rasgada em alguns pontos.
    Ela ficou encarando o garoto de cabelos prateados durante um bom tempo, com um ar agitado. Só depois virou pra mim, e por um momento pareceu me avaliar. Em seguida, virou pra ele de novo.
    - Peraí! - gritou ela, bem alto. Quando me virei pro garoto, ele já estava a muitos metros de distância, e correndo sem diminuir o ritmo.
   - Merda! - gritou a garota. Me virei de novo pra ela, e a vi descendo do prédio, pulando e se apoiando nas beiradas das janelas.
   - Cuidado! Você vai cair! - gritei, assustado. Ela nem pareceu ouvir. Foi dando pulos de metro em pra descer, e se apoiando em grades, amuradas, qualquer coisa.
    E em cerca de vinte segundos já estava no chão.
    Ela correu alguns metros na direção do garoto, xingou de novo e só depois virou pra mim, novamente ofegante.
    - Quem é você!? - perguntou, com ar incriminatório.
    - Meu... meu nome é Vladimir - respondi, nervoso.
    - Vladimir? Que nome estranho... - respondeu ela, em seguida se ajoelhando pro nada, apoiando a mão no chão e fazendo a respiração voltar ao seu ritmo normal.
    Quando levantou de novo, já ofegava menos e parecia mais calma, como se lembrasse o que tinha que fazer.
    - Olha, Vlad... vou te chamar de Vlad, tá? Vai ser um pouco complicado te explicar porquê você está aqui, mas vai facilitar muito se você acreditar de uma vez sem ficar se perguntando se pode confiar e reclamando do quanto isso não faz sentido. O fato é que... você morreu, Vlad.
    Fiquei encarando ela, obviamente, sem entender porra nenhuma. Minha cabeça pendeu pro lado, e eu fiquei exatamente um meme cujo uma boa legenda seria "O que caralhos você está dizendo, parça?".
    - Ahrg, eu odeio essa parte. Essa cara de idiota bossal que todos vocês fazem quando eu falo isso - disse ela, e continuou - Olha, eu sei que é muita coisa pra assimilar,  e é difícil engolir de cara, mas precisa acreditar em mim. Todos nós, que viemos parar aqui, morremos querendo muito viver. A grande maioria é jovem, da nossa idade, que não chegou a fazer quase nada do que queria. Nós acreditamos que se sobrevivermos a esse lugar, se conseguirmos sair daqui, poderemos voltar. Voltar pro mundo. Voltar pra nossas vidas. É nisso que temos que acreditar. É por isso que estamos aqui. É a única explicação possível. Entende o que eu estou dizendo?
    - Eu... eu não quero morrer. Essa é a única certeza que eu tenho. Eu simplesmente SEI que eu não quero morrer. Mas... eu não consigo me lembrar o porquê. Não lembro nada de antes de morrer. Eu quero lembrar pra saber por quê eu simplesmente sei que preciso continuar vivo - respondi pra ela.
    - É, eu sei... ufa, que alívio. Você é esperto. Alguns entram em pânico. Outros se recusam a acreditar. Alguns até me chamam de doida - respondeu ela.
    - Eu... não sei, é só que... parece certo. Eu sei que eu morri. Não lembro como e não lembro por quê, mas eu sinto que você está certa. Assim como sei que quero viver - respondi. Ela suspirou antes de continuar.
    - Escuta... agora vem a parte chata. Nós... ainda não sabemos como sair daqui. Ninguém nunca saiu, quer dizer... muitos morreram, mas eu não considero isso "sair". Não faz sentido ser enviados aqui só pra morrer de novo.
    - E... existem algumas coisas que querem acabar com a gente. A principal são esses monstros - disse ela, chutando uma das carcaças brancas no chão - Nós chamamos eles de "pragas". Eu sei, pouco criativo, mas foi só o que nos ocorreu. Ninguém de nós sabe qual foi o primeiro, mas... sabemos como eles se "reproduzem". Você se torna um deles quando eles matam você.