História Not Safe - Perdas

Pov - Caroll

Abro meus olhos e acho que desmaiei por apenas alguns minutos. Sinto uma dor muito forte em minha cabeça, ainda estou tonta por conta do tombo, levo minha mão até minha testa e noto o sangue que escorre pela mesma, respiro fundo e procuro minha arma no chão, porém não tenho sucesso quanto a isso. Me levanto devagar e sigo a luz da lanterna de alguém que eu acho que é Glenn.

—Glenn?! – digo com a voz um pouco fraca.

—Caroll, venha pra onde está a luz da minha lanterna.

—Ok – digo e faço o que ele me pede.

—Meu deus, meu deus – ouço a voz fraca de Nicholas e quando olho mais além, vejo Aiden preso em algumas ferragens – ele está morto!

—Merda! – Glenn resmunga.

—Aiden! – digo sem reação.

Eu posso não me dar muito bem com meu irmão, mas mesmo assim eu sinto um afeto por ele e querendo ou não ele é meu irmão.

—Noah? Tara? Eugene? – Glenn chama por eles.

Zumbis começam a aparecer, essas coisas foram atraídas pelo barulho da tal explosão que acabara de acontecer.

—Vocês estão bem? – Noah pergunta.

—Sim – Glenn responde e eu assinto.

—O portão abriu, eles estão saindo. Precisamos encontrar...

—Aqui... – Eugene o interrompe – por aqui – começamos a seguir o som de sua voz.

Vejo Tara no chão e ela está sangrando, o sangue parece vir da cabeça e ela está desacordada.

—Ela está respirando? Eugene?!

—Não dá pra ver daqui.

Os zumbis se aproximam cada vez mais, e Eugene não consegue dar conta, pois não está preparado para isso, não se dá muito bem com armas. Então nós começamos a atirar neles dando cobertura para que Glenn pegue Tara e leve para um lugar seguro. Logo terminamos e vamos para um escritório.

—Como ela está? – Glenn pergunta.

—Ela sofreu um traumatismo – Eugene diz a “examinando” – ela está perdendo muito sangue.

—Como paramos isso?

—O kit médico estava na bolsa que explodiu do Aiden – Nicholas diz.

—Tem outro na van, ela está mal temos que leva-la lá.

—Certo, vamos.

—Socorro! – ouço a voz de Aiden.

—Ele está vivo? – Glenn pergunta.

—Eu verifiquei. Pensei que... – Nicholas responde.

—Precisamos pega-lo – digo a eles.

—Não dá pra fazermos isso – Nicholas implica – você nunca se importou com seu irmão, não é agora que deveria se importar.

—Cala sua boca, idiota! Ele me deu motivos para não me importar. Mas ele é meu irmão, não posso deixa-lo pra trás...

—Precisará de quatro de nós – Glenn diz.

—Temos esse tempo? – Noah pergunta á Eugene.

—Tirar Aiden de lá pode mata-lo – Nicholas interrompe.

—Quer que o deixemos lá? – Glenn pergunta seco.

—Vão, salvem-no! Ela faria isso. Sei que sim – Eugene diz se referindo a Tara – ficarei com ela e a protegerei, prometo. Farei isso.

—Vamos lá. Tem o sinalizador? – Glenn pergunta a Nicholas.

—Tenho.

—Jogue nas prateleiras, vou atrair alguns, os outros pegaremos no mano a mano – avisa a mim e a Noah – estão prontos?

—Sim – respondemos em uníssono.

—Um, dois, três.

Ele abre a porta e nós saímos rapidamente pela mesma, matamos alguns zumbis que se aproximam e continuamos andando até onde meu irmão está. Assim que fico cara a cara com ele posso ver que o ferro atravessou seu peito e o outro atravessou sua barriga. E isso faz com que um sentimento de culpa e tristeza percorra todo meu corpo. Ele está gemendo de dor e isso me machuca ainda mais por dentro.

—Vai dar tudo certo, vamos tirar você daqui – eu digo.

—Vai ficar tudo bem, só preciso que você fique quieto, certo? Pode fazer isso? – Glenn fala e Aiden assente.

Começamos a puxa-lo, enquanto Noah está atrás de nós dando cobertura para que nenhum zumbi se aproxime. Aiden grita de dor e isso me faz ficar cada vez mais agoniada com essa situação.

—O sinalizador está se apagando – Noah nos alerta.

—Vamos de novo.

—Não vamos conseguir – Nicholas se afasta um pouco.

—Vamos sim – Glenn insiste – mas pra isso eu preciso da sua ajuda. Você consegue.

—Nick, não me abandone – Aiden implora.

Nicholas volta atrás e continua nos ajudando a puxar Aiden que sofre mais a cada segundo. Ouço som dos zumbis se aproximando e noto Noah atirando neles, sei que temos que nos apressar, se não todos vamos acabar sendo devorados por eles. Nicholas cochicha algo no ouvido de Aiden e assim que se afasta faz movimento negando com a cabeça.

—Sinto muito – ele começa a dar passos para trás se afastando cada vez mais.

—Nicholas não! – eu digo enquanto Glenn tenta segura-lo.

—Fomos nós. Os outros não entraram em pânico. Nós entramos – Aiden diz se referindo as pessoas que ele abandonou na floresta.

—Não! – Glenn insiste.

—Nós não somos como vocês – digo ajudando Glenn.

—Caroll... Me desculpa, por tudo... Você está preparada sim. Está até mais preparada que eu – meu irmão diz entre pausas – obrigado por tudo – ele tenta sorrir – e-eu te amo.

—E-eu...

—Eles estão aqui! – sinto Noah me puxar junto a Glenn fazendo com que eu não possa terminar minha frase.

—Eu também te amo! – digo baixo para mim mesma enquanto ouço os gritos dele que nesse momento está sendo comido pelos zumbis, sentindo na pele o que as pessoas que ele abandou sentiram também.

Começamos a correr na direção da porta, que nos levará para o lado de fora. Meus olhos estão marejados, e algumas lágrimas teimosas querem cair, mas eu não deixo, não quero chorar agora, isso só vai me atrapalhar durante o percurso. Não posso deixar negar que Aiden teve o que mereceu, ele pagou pelo o que fez, e sei que um dia Nicholas pagará também. Todos vamos... “Nicholas?” ele é um covarde, assim como Aiden também era, nesse exato momento está correndo e nos deixando para trás. Mas eu não vou deixar isso acontecer, ele não vai sair e nos deixar pra trás, nem que eu tenha que atirar na perna dele para para-lo.

—Nichola, pare! – Glenn o chama.

—Ei seu covarde você nunca vai conseguir – eu continuo.

—Fiquem atentos – Glenn diz para mim e para Noah.

Um zumbi agarra meu braço e eu tento escapar, então Noah atira nele e eu lanço um olhar de agradecimento a ele. Começamos a atirar nos que se aproximam, até nossa munição acabar e nossa única saída ser entrar em uma porta giratória, até porque estamos encurralados com zumbis dos dois lados. A porta possui quatro espaços, eu, Noah e Glenn entramos em uma parte, enquanto Nicholas está em outra, e os zumbis ocupam as duas outras partes, nos fazendo realmente ficarmos presos aqui. Se tentarmos empurrar de alguma maneira para sairmos os zumbis conseguirão nos pegar.

—TALVES POSSAMOS PASSAR POR ELES, VOCÊS AINDA TÊM ARMAS – Nicholas grita para nós.

—E VOCÊ TEM A MUNIÇÃO! – Glenn responde.

—PRECISAMOS FAZER ALGO, CARA. NÓS VAMOS MORRER AQUI.

—VOCÊ MERECE ISSO MESMO SEU IDIOTA! POR TUDO O QUE JÁ FEZ – eu grito a ele.

—Precisa haver outro jeito. Tem que ter – Glenn diz para nós enquanto fazemos de tudo para segurar a porta.

Como uma luz no fim do túnel Eugene aparece buzinando a van pela rua e chamando a atenção de alguns zumbis, apenas de alguns, até porque os outros preferiram lutar pela nossa carne. Mas pelo menos já deu uma aliviada comparando com a quantidade que havia
à poucos minutos atrás. Sorrimos uns para os outros sentindo um alivio querendo tomar conta de nós e um pouco de esperança também.

—Certo! Preciso de vocês três – Glenn diz – NICHOLAS! – ele o chama – preciso que mantenha a porta firme, certo? Eu vou quebrar o vidro. Nós saímos e você empurra. E então pegamos o rifle. Tudo bem? Está pronto?

Nicholas assente. Glenn começa a bater no vidro da porta com a coronha de seu rifle. Tento ajuda-lo enquanto Noah segura a porta, também bato a coronha de minha arma contra o vidro, mas parece não resolver nada.

—NÃO, PARE! NÃO É SEGURO! – Nicholas grita desesperado.

—É o único jeito – eu digo.

—Ela não quebrará – ele retruca.

—Ela vai quebrar ok? Nós podemos segurar – Noah diz.

—Isso! Vamos segurar eu irei ajudar – digo tentando acalma-lo – nós podemos.

—Confie em mim, beleza? – Glenn fala para ele – no três...No três. Um, dois...

—NÃO! – Nicholas grita e tenta passar pelo vão da porta onde ele está, fazendo o nosso lado forçar para se abrir também.

—NICHOLAS, NÃO! NICHOLAS! – eu grito tentando impedi-lo.

Eu e Noah tentamos segurar a porta, mas cada vez que Nicholas força para passar o nosso lado abra cada vez mais, fazendo com que não demos conta.

—MERDA, NICHOLAS NÃO! – Glenn grita enquanto segura a mim e a Noah – NÃO FAÇA ISSO!

Não adiantou de nada nossos gritos para tentar impedi-lo, ele acabou de conseguir sair fazendo com que os zumbis consigam alcançar Noah.

—Noah! – eu digo tentando segura-lo e o mesmo está sendo puxado pela perna.

—Não me soltem por favor – Noah implora para nós, mas não aguentamos segura-lo e ele acaba sendo puxado totalmente pelos zumbis.

—Noah! Noah! Noah! – Glenn o chama enquanto eu estou paralisada me culpando a cada instante.

De repente Noah é prensado contra a porta, nos revelando toda a cena de sua morte dolorosa. O som de seus gritos desesperados se misturam com o som dos grunhidos desses zumbis. Glenn está paralisado olhando tudo isso, ele está em choque. Eu me encontro com as mãos em minha boca a apertando, tentando tirar esse sentimento ruim que se encontra aqui e em meu corpo. Lágrimas rolam pelo meu rosto e vão escorrendo até minhas mãos. Está tudo acumulado dentro de mim, a morte de meu irmão, e agora a morte de Noah que à pouco tempo havia se tornado um amigo para mim, alguém que eu poderia considerar da família, ou até mesmo o irmão legal que eu não tive. Estou em choque assim como Glenn, não consigo fazer nada além de chorar. Meu desespero é grande, mas não maior do que a raiva que eu sinto pelo Nicholas. Mas sou culpada por isso, eu devia ter segurado mais ele, eu falhei nisso, fui fraca, sou fraca e nunca irei me perdoar.

—Nós temos que sair Caroll – Glenn toca meu braço e eu olho para ele, porém não consigo responder nada – se não sairmos agora não sairemos mais.

Ele se levanta e ajuda a me levantar também. Saímos de lá, matamos alguns zumbis e corremos de volta para a van, tropeço e acabo caindo e torcendo o pé.

—Você está bem? – Glenn me ajuda.

—Meu tornozelo... Acho que torci – tento me levantar, mas dói demais.

—Calma, vem aqui – ele me segura de lado e eu apoio meu braço ao redor de seu pescoço.

Voltamos a caminhar devagar, bom pelo menos ele, porque eu estou mancando. Já podemos avistar a van e noto que Nicholas está discutindo com Eugene que tenta o impedir de entrar no automóvel. Nicholas então derruba o cientista no chão e vai entrando no carro.

—Caroll eu...

—Vai lá Glenn – digo olhando para ele e o mesmo corre até a van.

Apresso meus passos (ou minhas mancadas) e chego perto deles. Glenn está no chão junto com Nicholas, e distribui socos pela cara do mesmo. Tiro minha pistola do coldre e aponto para cabeça de Nicholas que já está desacordado. Todo o ódio que eu estava sentindo instantes atrás volta para mim e as lágrimas escorrem de novo, deixando o gosto salgado delas em minha boca. Engatilho a arma e me preparo para atirar nele.

—Caroll, não! – Glenn toca meu ombro.

—E-ele matou... – não consigo dizer mais nada apenas continuo com o olhar fixado em Nicholas e com minha arma firme em punho.

—Ele precisa estar vivo para pagar pelo o que fez – Glenn continua.

É, Glenn está certo. Se eu atirar nele vai ser muito fácil, não vou deixar de fazer com ele tenha a chance de pagar pelas coisas que já cometeu de pior. Mesmo relutante eu baixo minha arma e continuo a chorar, fitando o chão mesmo com a visão toda embaçada. Sinto a mão de Glenn se depositando em minha cabeça, e o mesmo me puxa para perto dele beijando minha cabeça em um gesto de carinho e tentando me acalmar, o abraço o mais forte possível tentando retirar esse peso de cima de mim.

—Onde está o Noah? – Eugene pergunta e nós nos separamos.

Eu apenas nego com a cabeça indicando que ele não havia conseguido e o mesmo entende no mesmo instante.

—Me ajude a carrega-lo – ele diz a Eugene e então pegam o corpo de Nicholas.

Vou ainda mancando para a van, eles colocam Nicholas deitado na parte de trás, ao lado de Tara e depois se dirigem para parte da frente. Sinto a van iniciando seu movimento e então encosto minha cabeça na estrutura da mesma. Quando olho para baixo vejo o caderno que meu pai deu para Noah hoje, e o mesmo está aberto na pagina que está escrito “Esse é o começo”.

Noah era o começo.