História Not Safe - Mudanças

É como se eu estivesse saindo de um pesadelo nesse exato momento.

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Pov – Caroll

Continuamos a caminhar devagar. Olho para Carl e ele está mancando, seu ferimento na perna está sangrando um pouco, assim como os vários outros ferimentos que ele tem pelo corpo e rosto. Me aproximo mais dele e seguro seu braço, o colocando em volta de minha nuca e ombros, dando apoio para ele andar.

O carro não está muito longe de nós. Enquanto caminho fito meus pés, que chutam alguns pedriscos pelo caminho. Ouço um choramingo baixo vindo de algum canto desse lugar. Olho para os lados e tento localizar de onde vem. Vejo algo se mexendo atrás de umas caixas velhas, logo atrás de nós, acho isso estranho, então paro de andar e fico observando.

—O que foi? – Carl me pergunta curioso.

—Espera um pouco aqui Carl – digo e ele assente.

Esboço um sorriso para ele, e vou na direção do som de choro. Quando estou perto das caixas, olho cuidadosamente para trás delas e vejo uma garotinha sentada no chão chorando. É a mesma garota que estava gritando pela mãe naquele corredor. Olha para mim assustada e se afasta devagar. Seu semblante é de medo e seus olhos se encontram inchados.

—Por favor, não me machuque – ela me pede em uma voz doce e falha ao mesmo tempo.

—Calma, está tudo bem, eu não vou te machucar, ok? – digo a ela e a mesma balança a cabeça positivamente – tudo o que acontecia aqui nesse lugar acabou. Você vai ficar bem agora... – pondero por alguns segundos e me abaixo em sua frente – como você se chama?

—April – ela diz tímida.

—Que nome bonito – sorrio – então, April... Eu e meu grupo, moramos em uma comunidade bem legal... Somos uma família, se você quiser pode ir com a gente, e fará parte da nossa família também – tento convencê-la de ir conosco – o que acha disso?

—Eu quero – seus olhos claros brilham enquanto ela me encara.

—Ótimo – sorrio a ela – vamos esperar eles no carro, junto com aquele meu amigo, tudo bem? – me levanto e estendo a mão para ela.

—Sim – ela segura minha mão e se levanta.

Vamos andando devagar na direção de Carl e ele nos encara com um sorriso esboçado nos lábios. Assim que chegamos perto dele volto a dar apoio ao mesmo, da maneira que fazia antes, enquanto minha outra mão segura pequena mão de April.

Entramos em um dos carros. Nos sentamos no banco de trás e ficamos esperando o pessoal voltar. Observo April que está quieta ao meu lado, ela parece ser tão serena. Ela possui seus longos cabelos loiros, levemente enrolados nas pontas, e seus olhos são verdes. Ela tem seu semblante tão puro, e isso me faz lembrar que ainda existe pureza e inocência nesse mundo.

—Caroll?! – Carl me retira de meus devaneios, olho pra ele, para que o mesmo prossiga – sobre o que aconteceu hoje...

—Carl me desculpa, mas não quero falar sobre isso agora – o interrompo – podemos conversar depois?

—Claro – ele concorda.

Voltamos a ficar em silencio. Olho para o lado de fora pelo vidro e fico pensando, tudo o que aconteceu, pode ter me mudado de alguma maneira, e eu não quero falar sobre esse assunto agora. Tudo ainda é muito recente para eu falar sobre. Talvez ainda precise de um tempo para processar as coisas. Eu sou uma completa bagunça por dentro, mais que antes.

Pov – Carl

Todas essas coisas acontecendo realmente nos deixaram mal e confusos. Nesses dias em que passamos aqui, a cada momento eu pude perceber o quanto Caroll se esforçou e se sacrificou para me ver bem, ela se arriscou para me ajudar, e isso é muito importante para mim.

Meu corpo dói por completo, e os pontos do ferimento em minha perna parece terem se aberto. Sinto meu rosto ainda inchado. Estou realmente exausto. Aqueles caras conseguiram me deixar bem machucado. Mas isso é o de menos perto do que quase aconteceu com Caroll, na verdade eu realmente não tenho certeza do que pode ter ocorrido dentro daquela outra sala. Quando meu pai me encontrou, eu estava tentando ir atrás de Caroll para ajuda-la, então contei a ele para onde tinha visto Negan leva-la.

Olho para ela agora dentro desse carro e já não a vejo mais como a mesma garota de antes, ela passou por tantas coisas que eu posso vê-la como uma pessoa mais forte, ela pode estar mais confiante, e talvez mais fechada também. Não a vejo como a garota frágil que eu a via antes. Tudo o que aconteceu, nos fez mudar de alguma maneira.

Outra coisa que notei, foi que o brilho em seu olhar parece ter se apagado, ela parece não possuir mais a mesma vivacidade de antes, é como se a luz dentro dela tenha se apagado. Mas eu não a culpo por isso, sei que é apenas consequência de tudo o que passamos.

É tão estranho vê-la assim, quieta e fechada novamente. É péssimo ver uma das pessoas que você mais gosta assim. Não sei explicar, mas como se eu quisesse trocar de lugar com ela, eu faria de tudo para poder tirar esse sentimento ruim que ela deve estar sentindo agora. Caroll é muito importante para mim. Ela me fez enxergar o mundo e as situações de uma maneira diferente. Ela foi quem me passou mais confiança quando precisei, e ela sempre esteve ao meu lado. Ela mexe comigo de uma forma que sinceramente não sei explicar, ela é a primeira garota que me deixa assim. Quando estou com ela, o inferno em que vivemos parece desaparecer. Ela me faz bem e eu não posso perdê-la. Tenho medo do que Negan tenha feito com ela depois que saíram da sala em que eu estava, é horrível pensar na possibilidade dele ter feito as piores coisas com ela.

O som da porta se abrindo me retira dos devaneios. É meu pai que entra no carro do lado do motorista, e Michonne do outro lado, no banco do passageiro. Os dois olham para trás e encaram a garotinha ao meu lado, eu lanço um olhar para que eles não perguntem nada agora e então eles assentem. Olho para fora e vejo o resto do pessoal, alguns entram no outro carro, e outros vão para o caminhão. Assim que todos estão prontos, nós partimos.

Durante o trajeto pela estrada eu encaro Caroll. Ela está quieta, seu cotovelo está sobre o apoio de braço da porta do carro, e sua cabeça repousa sobre sua mão, enquanto ela mantem seu olhar para o lado de fora através do vidro.

O trajeto de volta para a comunidade é silenciosa. Assim que chegamos à mesma, um alivio percorre entre nós. O portão é aberto por Spencer e Gabriel, e somos recebidos com enormes sorrisos. Enfim estamos em casa.

Olho para Caroll, ela tenta sorrir para April e logo me encara, enquanto seus lábios são pressionados formando uma linha reta. Ela parece estar nervosa, e isso me deixa mal. Assinto para que ela desça, lançando um olhar para que ela entendesse que eu estaria ali com ela, ao seu lado. Ela segura a mão de April que está sentada entre nós dois. Então ela abre a porta e desce do carro. Eu abro a porta do meu lado e desço também. Paro ao lado dela e seguro sua mão. Ela alterna seu olhar entre nossas mãos e meu rosto e então sorri fraco para mim, seus olhos estão marejados, mas eu não tenho a total certeza sobre o motivo.

O pessoal vai se aproximando de nós. Spencer e Gabriel assim que terminam de fechar o portão vem em nossa direção. Spencer olha para a irmã e corre na direção dela, a mesma solta minha mão e a de April e vai de encontro a ele também. Eles se abraçam por alguns minutos e todos nós apenas os observamos. Quando eles se afastam um do outro posso ver Caroll enxugando suas lagrimas rapidamente, ainda de cabeça baixa.

Ela está diferente. Mesmo depois de sairmos daquele lugar, algo ainda a incomoda. E eu tenho que descobrir o que é. Preciso tentar faze-la sorrir novamente, nem que seja apenas para mim, seu sorriso é como um calmante para mim, e eu preciso disso, preciso vê-la bem novamente.

Devemos lutar pela felicidade das pessoas que amamos. E é isso o que vou fazer.