História Not Safe - Saudades

Não irei me entregar.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Pov – Caroll

Apenas o sorriso de Spencer já me faz ter ainda mais vontade de reagir a tudo isso. Sou capaz de sentir todo o alivio que ele está sentindo nesse momento e isso é ótimo. Tento formular um sorriso para retribui-lo, mas não dou conta. Apenas continuo segurando sua mão.

Em questão de segundos seus olhos se enchem d’agua e sem hesitar ele me envolve entre seus braços, dando inicio a um abraço carinhoso, demonstrando a mim todo seu sentimento de amor. E eu então me esforço ao máximo para conseguir retribuir à esse ato, conseguindo envolver meus braços em torno dele.

E logo após longos segundos dessa mesma maneira, Spencer se afasta devagar e me encara nos olhos.

—Eu disse que você conseguiria – ele afirma. E eu só sou capaz de esboçar um pequeno sorriso e movimentar a cabeça em sinal de afirmação – vou buscar algo para você comer – ele se levanta e sai do quarto.

Olho para o lado, em cima do criado mudo bem ao lado da cama para ser mais exata, e então vejo o colar que era de minha mãe. Estico meu braço e então consigo pega-lo. O observo cuidadosamente, notando cada pequeno detalhe que o mesmo possui.

Sou pega de surpresa pelo sorriso involuntário que surgiu em meus lábios. E aquele sentimento que eu já não sentia mais ha algum tempo, toma conta de mim, esse sentimento se chama esperança. Esperança de que as coisas podem realmente recomeçarem, esperança de que um mundo maior está por vir.

Sou retirada de meus devaneios pela porta sendo aberta por Spencer. Ele adentra o quarto com uma bandeja em mãos, e sobre ela existe um copo com leite e algo parecido com um pequeno bolo.

Spencer deposita a bandeja sobre o criado mudo e então me ajuda a sentar na cama, colocando o travesseiro atrás de minhas costas para que eu possa encostar melhor. Ele pega o colar de minha mão e coloca em meu pescoço, me fazendo agradece-lo mentalmente.

—Aqui está – ele pega abandeja e põe sobre meu colo – isso é bolo caseiro de aveia, Denise quem fez, ela disse que tem carboidratos complexos e ômega três – Spencer constata.

Assinto e volto meu olhar para a comida a minha frente. Eu não sinto fome, não sinto vontade alguma de comer, mas sei que ainda estou muito fraca e preciso fazer um esforço.

Pego um pedaço do bolo e começo a comer devagar, até porque meu estomago passou um bom tempo sem receber comida.

Enquanto mastigo, observo o dorso de minha mão esquerda, que está com um curativo. Fico passando o dedo sobre o mesmo, até Spencer dizer:

—É, você teve que ficar na base do soro, já que não estava se alimentando e corria risco de ficar desidratada. Mas o soro acabou hoje pela manhã, e então tivemos que arriscar esperar Daryl ir procurar por mais. Eu disse que iria com ele, mas ele me impediu e disse que eu precisava estar ao seu lado caso acontecesse algo, então fiquei.

Olho para ele assustada. Daryl saiu para procurar algo para mim. Ele está se arriscando por mim. Isso é loucura.

Spencer passa a mão em minha cabeça e faz um sinal com a cabeça para que eu coma. Então assim faço. Continuo comendo, até terminar.

Me sinto bem melhor do que antes. Estou me sentindo um pouco mais “viva”. Mas agora preciso de um banho, e tenho a consciência disso.

Me esforço para tentar me levantar, enquanto Spencer coloca a bandeja de volta sobre o criado mudo. Assim que ele olha para mim, me estende sua mão, me dando apoio. Coloco os pés aos poucos no chão. E me forço a levantar. Sinto um tipo de “choque” percorrer minhas pernas, e isso faz com que elas deem uma fraquejada, mas respiro fundo e permaneço em pé. Começo a caminhar devagar, e a cada passo que dou, eu aperto a mão de Spencer ainda mais forte.

Enfim chego em  frente a porta do banheiro.

—Você acha que consegue fazer isso sozinha?

—Sim – consigo responder num fio de voz.

—Se você quiser eu chamo a Maggie para te ajudar, ou então outra pessoa que...

—Spencer... – eu o interrompo com uma voz rouca.

—Tudo bem. Se precisar de algo, ou acontecer alguma coisa é só dar um grito que eu venho no mesmo instante.

Assinto e solto um curto riso anasalado. É até engraçado ver Spencer se preocupando dessa maneira comigo.

Adentro o banheiro e prendo o meu olhar ao espelho. Me olho atentamente, e posso notar cada mudança negativa que tive durante essa semana. Meu rosto está pálido, meus olhos estão fundos, e as olheiras estão muito aparentes.

Balanço a cabeça em sinal de negatividade e saio da frente do espelho. Me dispo e vou para debaixo do chuveiro.

Conforme a agua quente vai escorrendo pelo meu corpo, eu passo a mão pela minha cabeça e as deslizo pelos meus cabelos, deixando me levar pelo momento relaxante.

[...]

Estou pronta para sair de casa. Mal posso esperar para rever o pessoal. Denise disse que eu não posso ter emoções muitos fortes novamente, pois o que aconteceu comigo ainda é recente. Então tento controlar meus sentimentos o máximo que posso.

Nesse exato momento Spencer está ao meu lado segurando minha mão, e nós estamos indo na direção da porta para sairmos de casa.

Ele abre a porta e a claridade lá de fora vem contra meu rosto, me fazendo comprimir um pouco os olhos. E conforme vamos saindo, eu vou me acostumando com a claridade.

Não vejo ninguém pela rua, está tudo calmo por aqui. O pessoal deve estar trabalhando em algo, até porque posso perceber que está muito mais frio do que há uma semana, e isso indica que a neve pode chegar a qualquer momento.

Começamos a caminhar pela rua. E quando menos espero, vejo Rick, Carl, Maggie e April trabalhando na limpeza do espaço onde chamaremos de horta no futuro. Paro de caminhar e fico os observando, um pouco ao longe.

Eles estão concentrados no trabalho. Enquanto Rick e Carl usam rastelos para juntarem as folhagens secas, Maggie e April as retiram do chão e colocam em cestos, para depois levarem para outro lugar.

Noto que Carl para por um instante, ele ajeita seu chapéu em sua cabeça e volta a juntar as folhas, mas sou pega de surpresa pelo seu olhar que vem em minha direção. E mesmo de longe posso ver que seu olhar está diretamente em meus olhos, e isso de certa forma me deixa sem jeito. Ele coloca o rastelo de lado e fica ainda mais encarado me observando, tanto que chama atenção dos outros, que em instantes olham para mim também.

Vejo sorrisos surgirem no rosto de todos. E em questão de segundos April corre na minha direção me abraçando fortemente.

—Eu sabia que você ia ficar bem – ela olha para mim.

—É, você sabia – sorrio para ela.

—Vem, todos estão com saudades de você – April começa a me puxar na direção de Carl, Rick e Maggie.

Assim que paro perto deles, sou recebida com abraços vindos de Maggie e Rick. Carl apenas observa tudo em silencio, ele ainda parece mal com o que aconteceu, e eu não o culpo por isso.

—Ahn... Estão precisando de ajuda? – eu pergunto querendo ser útil para algo.

—Você não deve fazer esforço – Maggie me alerta.

—Eu não posso mais ficar sem fazer nada – sou sincera.

—Bom... – Rick pondera.

—Ela pode ficar no meu lugar – Carl diz olhando para Rick – eu vou ver como Judith está.

—Tudo bem – eu digo sem jeito.

Carl pega o rastelo e quando ele vai entregar para mim, nossas mãos se tocam, fazendo um arrepio percorrer meu corpo por completo, causando um sentimento de saudades dentro de mim.

E quando ele se afasta, me faz lembrar que é assim que estamos agora. Afastados.

Mas eu irei mudar essa situação. Irei lutar para resolver isso.