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História Note To Self. - Feliz um mês.


Escrita por: GorjessSpazzer e Lobertor

Notas do Autor


Eu demorei, eu sei, desculpa, mas voltei. :3
Aproveitem a leitura!

Capítulo 12 - Feliz um mês.


Fanfic / Fanfiction Note To Self. - Feliz um mês.

Confesso que levei o maior susto quando minha mãe entrou no quarto e disse “Jessica, cinco e quinze”. É sempre assim que ela me acorda de manhã, meu nome seguido do horário, o bom dia ficava para quando fossemos tomar café.

Algumas semanas de férias foram o suficiente para que o meu relógio biológico esquecesse de seus padrões, que era a segunda-feira em que tudo voltava ao normal. Seria muito errado se eu dissesse que já queria voltar para casa ou férias novamente? Ir para a faculdade nunca me animava, mas, bem, era o jeito mais fácil de ver Yuri.

Recebi sua mensagem de bom dia quando me sentei no banco da janela do lado direito do ônibus. Lhe respondi com o bom dia habitual e tirei os fones da mochila para deixar minhas músicas tocarem no aleatório. Enquanto checava as notificações, esperava as respostas de Yuri, o “dormiu bem?” de sempre, para então reclamar de sono e como queríamos ainda estar em baixo da coberta. Acontecia de Yuri dormir, mas eu não achava de todo ruim. Era bom ela descansar e eu fingir que dormia no ônibus. Os dias de Pokémon passaram – pegar sempre a mesma coisa cansa – e era um dia sem atualização de histórias. Ao menos o banco era confortável.

Enquanto o ônibus estacionava em uma das vagas do estacionamento, eu pude ver Yuri pela janela. Estava em um banco abaixo de uma árvore, olhando para o nada com aquela tranquilidade de primeiro semestre. Ela ouviu o ônibus parar e eu desci em seguida. Nos encontramos no meio do caminho.

- Desculpa eu ter dormido. – Yuri abriu os braços e eu correspondi ao abraço na mesma hora. Seu corpo era quente, ao contrário do tempo que ainda fazia.

- Eu sobrevivi. – Brinquei e senti seus lábios em minha bochecha.

- Eu sei, mas eu gosto de falar com você cedinho. – Yuri fez bico e eu aproveitei para deixar um beijo ali.

- Não acredito que vou ter que aguentar as duas de casalzinho meloso às plenas seis da manhã. – Não foi só o tom de voz que denunciou, a fala era a cara de Sooyoung.

- Ninguém te chamou. – Yuri deu a resposta óbvia. Sooyoung nem ligou, continuaria com as brincadeiras mesmo assim.

- Cadê a Lee? – Perguntei assim que Sooyoung começou a caminhar para o refeitório. Só segui atrás dela com Yuri, vendo a shikshin dar de ombros.

- Não tem mais Sunny nem ninguém. Depois eu te explico. – Yuri sussurrou para mim. Confesso que me arrepiei um pouquinho com isso.

- Oh, vocês já comeram? Eu to com a barriga nas costas. – Para mim, a barriga de Sooyoung estava sempre tocando as costas, mas não questionei sua fala.

- Já aviso que não pago nada pra ninguém. – Yuri falou alto o suficiente para Sooyoung ouvir. Sooyoung fez menção de que iria reclamar, mas nada disse. O dia já havia começado agitado e Tiffany ainda nem havia chegado para fazer seu barulho habitual.

Dessa vez Sooyoung nos acompanhou no refeitório, o que era bem raro de acontecer no café da manhã, o que me levou a pensar que Sooyoung podia chegar cedo todos os dias, mas tinha sempre como companhia uma certa baixinha que estava ausente. Sooyoung e Yuri foram comprar seus cafés da manhã e eu fiquei a observá-las da mesa. Conversavam e de longe eu percebia que Sooyoung zoava Yuri também, nada fora do comum.

Enquanto esperava, peguei o celular e chequei a nova mensagem que havia recebido pelo Twitter. Uma garota que já comentava há algum tempo em minhas histórias me seguiu na rede social em questão e nós começamos a bater papo por ali mesmo. Descobri que ela começaria nutrição em Stanford esse início de ano e nós estávamos marcando um lugar de encontro. Tamanha era a sorte que o primeiro período da turma dela ficava ao lado da minha sala.

- Bom dia! – Tiffany praticamente berrou em meu ouvido e o celular quase escorregou da minha mão com o susto. Ela riu e me abraçou, na verdade foi quase um mata leão. – Fiquei com saudade, norinha!

- Não parece, quer me matar. – Dei uns tapinhas no braço dela e Tiffany me soltou, dando a volta na mesa para se sentar à minha frente. – E bom dia.

- Cadê a Yul? – Perguntou, olhando para os lados.

- Ali, com a Soo. – Apontei para a lanchonete e Tiffany olhou para trás. As duas já vinham em nossa direção. Sooyoung com salgados e refrigerante, Yuri com o clássico croissant e café.

- Que milagre você chegar cedo, hein! – Sooyoung falou primeiro e Tiffany se levantou para cumprimentá-la com um abraço apertado.

- Eu estava com saudades. – Tiffany sorriu e soltou a shikshin. – Principalmente do meu bebê! – Yuri foi a próxima vítima de seus ataques. Tiffany se jogou no pescoço alheio e seus braços tiraram o boné do lugar, deixando-o meio torto.

- Aish, para com isso. – Yuri reclamou também num misto de vergonha. Eu abaixei a cabeça para dar risada, mas Sooyoung foi menos discreta em sua reação.

- Que mal educada. – Tiffany torceu o nariz e voltou a se sentar. Sooyoung já estava no lugar ao seu lado e Yuri ficou à minha direita.

- A aula da Sunny não começa hoje? – Tiffany perguntou para Sooyoung, que ficou mastigando, sem saber o que dizer.

- Eu... Terminei com a Sunny. – Sooyoung forçou um sorriso de boca fechada.

- Por quê?! – Tiffany ficou indignada, por algum motivo.

- Que bom te ver por aqui, Fany. – Foi o segundo susto do dia, ouvir a voz de Taeyeon atrás de mim, como se tivesse surgido do além.

- Ah, oi, Tae. – Tiffany deixou Sooyoung para lá e sorriu para a garota agora ao meu lado. Tiffany sorria, apesar de tudo. – O que faz aqui?

- Oi, Jessica também. – Taeyeon me cumprimentou e eu dei um pequeno sorriso em sua direção. – Eu mudei os horários esse semestre, vou fazer negócios no matutino, então é capaz da gente se esbarrar a partir de agora. – Taeyeon fazia dois cursos ao mesmo tempo, engenharia além do citado, e trabalhava com o pai. Ainda arranjava jeito para ser mulherenga no tempo livre. Eu mal consigo me organizar apenas estudando, nesse aspecto eu a admiro.

- Se derrubar o suco da Tiffany vai ter que pagar. – Apesar de não ir com a cara da Taeyeon, fazer piadinhas e irritá-la por brincadeira era um dos meus passatempos favoritos. A melhor parte era que, na maioria das vezes, ela não percebia o sarcasmo.

- Teria mesmo! – Tiffany concordou comigo, rindo.

- Não seria nenhum sacrifício. – Taeyeon sorriu para Tiffany. – Bem, eu falo com vocês outra hora, tenho que ir pra aula. Desculpa interromper o assunto e tudo mais.

- Não foi nada. – Tiffany respondeu por nós. Sooyoung não expressava nada, mas eu percebi Yuri julgando a Kim silenciosamente.

- Tchau, Fany-ah, tchau, Jessica. – Taeyeon acenou para nós duas, mas foi para Tiffany que ela deu um daqueles seus sorrisos significativos. Acho que no fundo a Kim só gostava de saber que Tiffany ainda cairia na dela se insistisse.

- Essa é a falsiane? – Yuri perguntou.

- Você nem a conhece direito. – Tiffany fechou a cara na hora.

- Não gostei do que ouvi e nem do jeito dela te olhando. – Yuri balançou os ombros.

- Ownt, com ciúmes da omma! – Tiffany afinou a voz de modo irritante.

- Credo, não. – Yuri fez careta e negou com a cabeça.

- Vamos falar do que aprontamos nas férias, amigas, muito bad vibes começar o ano com clima pesadão. – Sooyoung interviu, mas confesso que gostavam quando tentavam abrir os olhos de Tiffany quanto a Taeyeon.

Foi como uma prévia da hora do almoço, nós conversamos e comemos, não na mesma duração de tempo e quantidade de comida, mas o suficiente para colocar os assuntos em dia. Tiffany foi a primeira a levantar, já que sua sala era a mais distante. Yuri e eu levantamos junto com Sooyoung, mas partimos em direções opostas. A Kwon insistiu que iria me levar até a sala.

- Você vai chegar atrasada. – Disse enquanto caminhávamos lado a lado. Sua mão se aproximou da minha e eu a segurei. Apesar de nova no lance de agir como casal por aí, não era algo ruim.

- Não dá nada, é primeiro dia, nem o professor chega cedo. – Yuri entrelaçou nossos dedos. Podia ver pela expressão dela que estava adorando aquilo. Nossa caminhada não durou mais que três minutos, o refeitório ficava perto do corredor em que ficava minha sala. – Eu nem tive tempo de falar quando você chegou porque a mana resolveu brotar do esgoto, mas lembra que dia é hoje?

Minha primeira resposta foi “segunda”, depois “primeiro dia de aula”, então eu me lembrei da data em particular. Meu sorriso foi um tanto culpado e envergonhado enquanto eu aquiesci.

- Feliz um mês. – Eu disse e Yuri iniciou o abraço. Beijar alguém ao lado da porta da sala era algo que eu também não cogitaria fazer há um tempo atrás.

- Feliz um mês, Sica-ah. – Yuri ainda manteve o abraço por algum tempo, até se separar o suficiente para me encarar. – Aliás, eu estava pensando em sair mais tarde, depois da aula, sei lá. Topa?

- Eu tenho curso à noite... – Deixei clara a minha decepção com o bico inconsciente que fiz.

- Ah, verdade... – Yuri suspirou ao se lembrar. – Hm... Se importa em perder as aulas da tarde, se tiver? – Yuri mordeu o lábio depois da pergunta e eu não pensei muito.

- Não, primeiro dia, não é? – Na verdade, eu nem tia certeza se teria algo depois do almoço ou não. Os horários da coordenação, em negócios, eram uma bagunça. Belo exemplo.

- Fechado. Depois do almoço, antes da primeira aula, eu venho te buscar aqui e a gente volta antes de Tiffany se mandar. – Eu concordei com a cabeça e Yuri se despediu com mais um selinho. – Boa aula.

- Pra você também. – Arrumei a bolsa no ombro e sorri uma última vez antes de entrar na sala. Sentei no lugar de sempre, esperando algum professor aparecer na sala. Era a história que se repetia todo começo de semestre, ter que esperar a sorte estar ao lado enquanto fico na expectativa de quais aulas teremos no dia, ou se seriam períodos de cochilo. A primeira semana é um saco.

 

...

 

Nesse intervalo eu tive algo a fazer além de beber água, mas ainda foi a primeira coisa que fiz após sair da sala. Senti alguém tocar em meu ombro logo em seguida e, ao me virar em direção à pessoa, a reconheci de imediato de suas fotos de perfil.

- Nossa, bem que você disse que era baixinha. – Era Mina Myoui, a garota do Twitter, recém-chegada do Texas e pouco mais alta do que eu.

- Você parecia ser mais alta. – Nós nos cumprimentamos com um aperto de mãos. Agradeci por ela ter trazido o lado cômico da coisa, primeiros encontros assim costumam ser estranhos.

- Meu sapato é baixo e o seu muito alto. – Ela apontou para os meus pés, estávamos as duas de converse, o seu vermelho e o meu bege.

- Confesso que estou usando uma palmilha a mais. – Brinquei. – E bem-vinda à Stanford.

- Eu nem acredito que estou aqui ainda, foi tudo bem louco. – Ela começou a contar enquanto saíamos da frente do bebedouro. – Só tive tempo de separar as roupas e materiais. O violão e o ukulele também, claro.

- Eles chegaram bem de viagem? – Nós paramos em frente a sala de sua turma, ou melhor, nos sentamos no chão, bem ao lado da porta.

- Eu consegui trazer os dois como bagagem de mão, de jeito nenhum que eu ia deixar colocarem eles no fundo do avião. – Mina fez careta e negou com a cabeça.

- Eu já ouvi histórias terríveis sobre instrumentos despachados. – Por isso meus “bebês” mal saíam do quarto.

- Falando nisso, eu quero fazer uma disputa contigo, traz o teu qualquer dia. – Mina se empolgou e eu assenti, sabendo que nenhuma de nós levaria aquilo muito à sério.

- E como está sendo o primeiro dia? – Eu sou melhor fazendo perguntas do que falando de mim mesma.

- Outra coisa bem louca, tive a primeira aula com a professora coordenadora e ela já chegou botando terror. Passou uma lista de livros maior do que a dos livros que eu li durante toda minha vida. – Eu ri ao me lembrar do meu primeiro dia. Choque de realidade.

- E sobre a Califórnia? – Estava me sentindo uma versão pior da Oprah.

- Sentindo saudade do frio, mas já vi que tem gente muito bonita desde o aeroporto, muitos potenciais crushes. – Eu ri de sua descrição. – Vocês têm uma vibe bem diferente do resto do país. Tipo o pessoal de Nova Iorque, mas menos careta e diferentão, mais legal e swag.

- Eu deveria ser do outro lado do país então.

- Que nada, você também faz bem o tipo Califórnia. Famosinha na internet, anônima na vida, quase a Hannah Montana. – Dessa vez eu não segurei a risada.

- Famosinha. – Neguei com a cabeça.

- Relativamente. Falando nisso, já quero uma atualização, e você sabe de qual. – Ela se referia a história favorita dela dentre as de minha autoria.

- Logo sai... – Eu deveria montar um plano, eu tinha muita coisa rolando simultaneamente, era difícil organizar ordens e coisas do tipo, ainda mais em algo que depende tanto da criatividade.

Não havia alguma espécie de sinal indicando o intervalo entre as aulas, mas a quantidade de alunos que apareceu no corredor foi autoexplicativa.

- Mas já? Ave... – Reclamou.

- Ei, Mina. – Outra garota apareceu na porta da sala. Ela ganhava de nós duas no quesito altura e beleza, talvez. – A professora chegou.

- Ah, essa aí é a amiga que eu disse que veio comigo e agora vai me aturar como colega de quarto. – Mina gesticulou. A outra garota bufou e revirou os olhos para a enrolação, mas se aproximou de nós. – Im Yoona, essa daqui é a moça daquela fic que eu te falei.

- Jessica, né? – A garota finalmente sorriu e me estendeu a mão. Nós nos cumprimentamos daquela forma. – Mina me falou de você.

- Eu falei mal de você pra ela também. – Mina tirou sarro e Yoona a puxou contra vontade, para que levantasse.

- Que graça você é. – Yoona negou com a cabeça, mas deu risada. Era bom saber que não era uma completa chata e estava mais irritada com a enrolação da amiga. – A gente tem um monte de intervalo pra conversar, chispa.

- Acho melhor mesmo. – Concordei ao ver o professor do bigode entrar na sala. Por mais um semestre, eba!

- Até qualquer hora! – Akemi se despediu antes de entrar na sala e Yoona fez o mesmo. Eu suspirei e me levantei, estava na hora de ouvir sobre a hostilidade do mercado de trabalho... Mais uma centena de vezes.

 

...

 

Assim que cheguei a sala, depois do almoço habitual com Tiffany, Sooyoung e Yuri, a primeira coisa que fiz foi arrumar o material dentro da mochila. Aos poucos alguns colegas de classe também chegavam, mas a indiferença foi mútua. Só olhava para porta esperando que alguém chegasse, e ela apareceu, colocando a cabeça para o lado de dentro, depois que o grupinho do fundão entrou na sala. Eu coloquei a bolsa nas costas e saí, seria bom se eu pudesse fugir assim todos os dias.

- Só deixa eu guardar a mochila no armário. – Avisei ao que caminhava em direção ao lugar que mal utilizava, mas, por sorte, ainda lembrava da senha.

- Eu encontrei Tiffany no caminho e pedi pra ela guardar a minha no carro. Reclamou, mas fez. – Ouvi Yuri dizer enquanto abria o armário. Havia apenas o manual da universidade ali, provavelmente havia sido deixado no primeiro semestre, mais que espaço suficiente para a mochila. – Ah, que sem graça, cadê a personalidade no armário?

- Eu tinha uns adesivos de anime e banda no ensino médio... E recortes das soshis, claro. – É normal se sentir velha ao lembrar dos tempos de escola, não é? – Mangás e livro de ficção, nada de livro didático. – Apesar das notas razoáveis, eu nunca estudei porcaria nenhuma até o último ano, e só o fiz por conta dos vestibulares.

- Eu vou trazer umas fotos minhas pra você decorar com corações e letras de música gayzinhas. Eu te ajudo a colar, se quiser, vai ser o armário mais bonito da faculdade.

- Por causa das suas fotos? – Ri com sua ideia e fechei o armário.

- Por que mais seria? – Yuri sorriu e eu acertei meu cotovelo em suas costelas, de leve.

- Convencida. – Neguei com a cabeça e a acompanhei lado a lado em direção a saída do prédio. – Aonde vamos?

- Que tal dar uma volta primeiro? O tempo está bom hoje. – Yuri passou o braço sobre meu ombro e eu aquiesci.

Eu pensei que passearíamos ali por Stanford mesmo, visto que o campus era enorme e possuía até mesmo um shopping, cheio de bugigangas e lembrancinhas pra turistas, mas um shopping. Porém, Yuri nos guiou até o ponto de ônibus. Quando perguntei, ela disse que iríamos tomar o melhor café da cidade e dar uma volta. Eu gostei da ideia de deixar o campus por uma tarde.

Depois que o ônibus saiu da Palm Drive, o que seria uma caminhada demorada se fossemos a pé, ficamos ali por apenas três pontos, quando ele virou à esquerda na rodovia. Descemos em um ponto em frente a uma loja de artigos esportivos e então atravessamos a rua. Era um agregado de lojas, com um estacionamento grande na frente. Eu reconheci um dos nomes, escrito em verde.

- Tem Starbucks em Stanford, Yuri. – Eu ri enquanto ela nos levava até a cafeteira.

- Eu sei, mas esse é o melhor. – Yuri defendeu sua ideia. – Eu estudava do outro lado da Avenida, às vezes passava aqui antes de ir pra casa, ou mesmo “almoçava” aqui.

- Me parece saudável. – Eu ri e Yuri me empurrou com seu ombro.

Não era o maior Starbucks da cidade, e isso eu podia apostar, mas o ambiente era agradável e nada cheio naquele horário. Yuri pediu por um dos clássicos, com leite de baunilha e canela. Eu não tenho muito a dizer, cappuccino com chocolate e canela está sempre no topo da minha lista, se é que eu tenho uma.

- Vamos dar uma volta no parque aqui perto enquanto isso? – Yuri falou quando nossos cafés ficaram prontos, ao mesmo tempo em que passava o copo com meu nome para mim.

- Depende do quão perto é isso, da última vez você me fez atravessar o campus e subir uma colina. – Reclamei, por pura hipocrisia.

- Não dessa vez, são umas duas quadras, mais ou menos. – Ainda fiquei um pouco desconfiada, mas decidi acreditar em Yuri.

Saímos da cafeteria dando goles ocasionais em nossas bebidas. Apesar do céu azul, sem sinal de nuvens, e do sol brilhante, o vento frio do inverno ainda estava marcando presença. Nós seguimos a rua lateral pelo que eu contei serem três quadras, residenciais, até um grande parque. Havia um playground ali, um bom gramado a céu aberto e uma área arborizada.

- Topa sentar ali? – Yuri apontou para o gramado com sua mão livre. Não havia mais do que um grupo de quatro garotas fazendo uma espécie de piquenique ali.

- Uhum, vamos. – Concordei, depois de mais um pouco de café.

Nós nos sentamos há uma distância das garotas que estavam ali, sem deixar de checar o terreno antes de colocarmos a bunda no gramado. Ficamos viradas em direção ao playground e resto do parque, logo atrás. O café ainda esquentava minha mão quando Yuri virou o resto de sua bebida.

- Lerda. – Caçoou e eu dei de ombros.

- Você é esfomeada. – Dei mais um gole, em minha falta de pressa.

- Só de vez em quando. – Yuri se defendeu e eu consenti em silêncio, Tiffany e Sooyoung ganhavam no quesito comilança. – Que horas vai ser seu curso, mesmo?

- Das sete às onze e meia, de segunda à sexta. – Eu já me sentia cansada em antecedência, eu estaria um caco dormindo cerca de cinco horas por dia. – Pelo menos é só uma semana.

- Por que não estuda sozinha? – Yuri franziu a testa.

- Meu pai acha que é melhor estudar seguindo um método. – Expliquei. – Eu iria ficar enrolando pra estudar sozinha, me conheço, demoraria um mês para virar a apostila, são mais de cem páginas.

- Preguiçosa. – Yuri negou com a cabeça e eu sorri “orgulhosa”. – E a prova?

- Vou ver de fazer semana que vem, aproveitar que está tudo fresco na cabeça. Conforme for, faço o exame de vista logo depois e já pego a provisória. – Confesso que estava com mais medo do exame de visão do que o teórico. Eu já era o estereótipo de esquisita demais para, ainda por cima, andar com uns óculos na cara. – O que foi? – Perguntei ao que Yuri começou a rir.

- Nada, só estava me perguntando desde quando deixam crianças ao volante. – Mostrei a língua enquanto ela ainda sorria.

- Eu pensei que eu fosse a “velha chata”. – Semicerrei os olhos para ela, terminando de vez com o meu cappuccino.

- Você é, só a cara é de bebê. – Yuri se aproximou e eu pensei que ganharia um beijo na bochecha, mas foram seus dentes que tocaram minha bochecha.

- Aish, sem morder. – Forcei uma cara de nojo e passei as costas da mão em meu rosto. Yuri riu e se afastou. – Nojenta.

- Quer ir brincar ali? – Yuri apontou para o playground, onde havia pontes, escorregadores e outros brinquedos coloridos. Estava quase vazio, se não por dois garotos que se balançavam.

- Pode ir, eu sei que você está com vontade. – Respondi e Yuri riu com sarcasmo.

- Só um pouquinho. – Confessou, por brincadeira ou não. Yuri se aproximou mais uma vez, e não fui mordida então. Eu correspondi ao seu beijo, mesmo um pouco envergonhada de início. Agir como casal em público ainda me deixava meio constrangida, mas eu me acostumaria logo.

A conversa, depois disso, teve seu ritmo diminuído e nós apenas aproveitamos o momento e brisa fria, mas agradável. Yuri se inquietou depois de algum tempo sem fazer nada e sugeriu uma volta pelo parque. Nós nos levantamos e seguimos uma das trilhas pavimentadas. O Nealon Park não era tão grande, não maior do que um quarteirão convencional. No meio do caminho nós encontramos um senhor com um carrinho de algodão doce, Yuri me arrastou até lá sem pensar duas vezes.

Depois de certa discussão, importantíssima, por sinal, concordamos em pedir o algodão doce apenas branco. Eu achava os coloridos bonitinhos, principalmente o cor-de-rosa, mas alguns deles tem um gosto de corante muito forte. Pode ser impressão minha ou apenas frescura, mas consegui convencer Yuri disso. Previamente nós havíamos concordado em dividir um, já que seria doce demais se fossemos comer um inteiro sozinhas. Em resumo, duas frescas.

Nós caminhamos bem devagar, tanto que às vezes até parávamos para puxar melhor o algodão doce. Sujávamos nossas mãos, o que não era um problema, como quando o algodão resolve grudar no cabelo. Claro que eu enchi o saco de Yuri com isso, ameaçando, até ela tomar o palito da minha mão.

- Parece criança. – Estalou a língua.

- Eu sou ainda. – Brinquei de volta. Yuri não ficou muito tempo com o algodão doce em mãos. Ela se enjoou fácil de tanto açúcar e logo me devolveu. Eu podia ter jogado fora, mas fazia um tempo que eu não comia algo do tipo e, bem, acho que sou mais resistente à doces enjoativos. – Bem que dizem que namorar engorda, a gente só come besteira junto. – Yuri deu uma risadinha.

- Então não estão fazendo isso direito. – Ela disse depois de um tempo. – É só a gente gastar as calorias depois... – Yuri continuou e eu olhei para ela, desconfiada do que vinha depois. – Tem um motel aqui perto, se você quiser... – Semicerrei os olhos, tentando procurar um fundo de verdade em sua brincadeira, mas Yuri continuava a sorrir amarelo.

- Fica pra próxima. – Respondi e Yuri fingiu um bico decepcionado. Não sei se era mais verdade do que brincadeira, mas admito minha curiosidade para tal coisa, ao mesmo tempo em que a vergonha me deixava nervosa a respeito. O lado bom de ser a “imaculada” do grupo é que certas coisas não saíam da minha cabeça, ou pela porta do quarto. Quero dizer, agora mais ou menos.

Só esqueçam qualquer besteira que eu escrevo nessas notas depois de lê-las, eu não sou adepta a borrachas os corretivos.

- Poxa... – Yuri riu depois e eu joguei o palito do que era um algodão doce na primeira lixeira que apareceu na minha frente. – Só não fico triste porque daqui a pouco a gente tem que voltar mesmo. – Yuri segurou minha mão quando estava enfim livre. – Vamos só matar mais um tempinho aqui?

- Não teremos muito o que fazer se voltarmos agora, também. – Concordei.

Nós continuamos o caminho entre as árvores, a maioria delas pouco folhadas por conta do inverno. E foi contra uma delas que nós repousamos quando chegamos a certo ponto do parque, para fazer uma pausa antes de entrar. Eu me encostei contra a árvore e Yuri brincava com uma pedrinha que encontrou no gramado, passando-a de um pé ao outro, até perdê-la quando passou por baixo de seu pé esquerdo, indo longe o suficiente para que Yuri não se incomodasse a ir buscar.

- Boa, artilheira. – Caçoei.

- Eu jogo na defesa.

- Pior ainda, quantas bolas você deixa passar? – Ri e Yuri me acompanhou, só que cheia de ironia.

– Eu sou boa, tá? – Falou, convencida, e se aproximou para deixar um selinho em meus lábios.

- Eu acredito. – Sorri e, dessa vez, deixei Yuri continuar com seus beijinhos rápidos por não haver ninguém por perto, estávamos quase escondidas entre as árvores que beiravam a trilha.

Os beijos, aos poucos, se tornaram demorados o suficiente para que eu pudesse corresponder. Uma das mãos de Yuri começou um delicado carinho em minha bochecha e eu a abracei, a trazendo um pouco mais para perto. A mão de Yuri que estava apoiada na árvore foi parar em minha cintura e o beijo se aprofundou, ainda mantendo o ritmo lento.

Sua mão que estava em minha bochecha deslizou por meu braço e segurou em minha cintura. Eu aproveitei para passar minhas mãos ao redor de seu pescoço e iniciar um carinho em sua nuca. Senti Yuri apertar minha cintura e minha reação natural foi suspirar contra seus lábios. Talvez não tenha me sentindo constrangida com o fato por sentir a pele de Yuri arrepiada enquanto as pontas de meus dedos deslizavam por sua nuca.

O beijo foi interrompido por um curto intervalo de tempo. Yuri se afastou, puxando meu lábio inferior entre seus dentes, e logo se reaproximou. O ritmo então se tornou um pouco mais intenso, profundo de início, ao que nossos músculos roçavam um contra o outro. Yuri apertou minha cintura mais uma vez ao me puxar para mais perto e suas mãos continuaram a descer por meu quadril, até o bolso traseiro dos meus jeans. Eu relevei até suas mãos apertarem a região. Tive que me afastar por conta do riso e deixei um tapa leve em seu braço.

- Byun. – Essa era uma das poucas palavras do coreano que nós sabíamos o significado.

- O que eu fiz? – Yuri tentou dizer de modo inocente, mesmo com seu sorriso a denunciando, e as mãos que continuavam em meus bolsos.

- Nadinha. – Falei com certo sarcasmo e tirei as mãos de Yuri de onde estavam, indicando que queria um abraço.

- É que é bom. – Yuri riu e me abraçou, ficando assim por um tempo.

- Não vou nem falar nada. – Ri de sua resposta e senti seu rosto em meu pescoço, enquanto aspirava meu perfume.

- É que você gosta. – Yuri respondeu e foi minha vez de retribuir, deixando um tapa no mesmo lugar, como forma de repreensão. – Yah, você pode e eu não? – Eu apenas aquiesci. – Injusto isso aí... – Como eu continuei em silêncio, Yuri prosseguiu. - Já que você não me deixa fazer nada, vamos voltar, chata.

Dei risada e nós saímos dali de mãos dadas. Fizemos o mesmo caminho da vinda para cá, não tendo que esperar muito pelo ônibus, que também não estava tão cheio e conseguimos dois lugares ao fundo. Em menos de quinze minutos já estávamos na faculdade, cruzando o estacionamento onde Tiffany costumava deixar seu carro.

- Me espera aqui, eu vou só buscar a mochila e já volto. – Falei assim que paramos em frente a lataria vermelha, ou vinho.

- Por quê? Eu vou contigo. – Yuri se ofereceu.

- Se você for comigo, nesse passinho de tartaruga, vou voltar pra cá só semana que vem. – Yuri costumava andar mais rápido quando não estava de mãos dadas comigo. – Fica aqui e avisa pra Fany me esperar.

- Então, tá... Mas, ei. – Yuri segurou meu pulso e eu parei por um segundo. – Te amo. – Mordi o lábio para impedir que meu sorriso fosse idiota demais. Eu já havia lido aquilo antes, em suas mensagens, mas era bem diferente ouvir sua voz pronunciar as palavras, cara a cara.

- Eu também te amo.  – Respondi com um beijo em sua bochecha e ri ao ver tamanho sorriso idiota que Yuri tinha, além das maçãs do seu rosto avermelhadas.

Caminhei em direção ao prédio e, no meio do caminho, acabei esbarrando com Seohyun, que vinha na direção contrária, apressada para pegar o seu fretado. Nossa conversa foi rápida, com “tudo bem?” de ambas as partes e “como está a Yul?”, provocação que eu respondi com “e a amiga?”. Seohyun me cobrou de que eu deveria apresentar Yuri para ela, e eu faria isso... No dia que me lembrasse, mas no momento eu estava com pressa.

Voltei correndo, com os chaveiros da bolsa fazendo barulho atrás de mim. Tiffany já estava com as outras duas, em frente ao carro, e eu desacelerei o passo. Pelo jeito esquisito que Tiffany sorriu para mim, Yuri já havia contado sobre a nossa “fuga” da tarde. Sooyoung só fazia alguns comentários, de vez em quando, e só então eu me toquei que havia esquecido para Yuri me contar direito o que havia acontecido entre ela e Sunny.

Sooyoung havia tomado meu lugar no carro, ou o contrário, já que eu passei a fazer companhia a Yuri no banco de trás. Tiffany deixou Sooyoung na porta de casa, e ela foi recebida por seus cachorros, como de costume, e poucos minutos eu tive que desgrudar de Yuri. Fiquei sentada no banco de trás mesmo, aproveitei para esticar as pernas e Tiffany puxou assunto comigo. Primeiro perguntou sobre o encontro, sobre o qual eu contei minha versão resumida dos fatos. O resto do caminho ela praticamente falou sozinha, empolgada sobre um projeto que uma de suas professoras favoritas havia a convidado para fazer parte. Pelo menos uma de nós estava fazendo alguma coisa com sua vida universitária, eu já estava me sentindo uma negação e o semestre mal havia começado.

Eu não consegui ter muito papo com ninguém, à noite, fosse com Yuri, Krystal ou qualquer outra pessoa. Foi uma correria bem louca. Tive tempo de revisar o conteúdo que tive pela manhã, tomar um banho rápido e jantar um pouco mais cedo do que de costume. Meu pai me deu a carona até o curso, e ali eu fiquei das sete às onze e pouca. O professor era bem rigoroso com uso de celulares e nós só tínhamos uma pausa para o café, afinal seria uma única semana para revirar toda uma apostila e fazer testes simulados.

Sei que já era mais de meia noite quando eu me deitei na cama e estava quebrada de sono. As letrinhas do chat estavam meio embaçadas e a claridade do celular no quarto escuro incomodava minha vista, mas eu deixaria Yuri terminar o assunto que eu mesma havia puxado. Explicando a história em seu resumo, Sooyoung não esteve apenas com Sunny durante aquele tempo, mas eu não entendi a história muito bem, talvez pelo meu estado quase anestesiado. De qualquer forma, foi uma reviravolta daquelas, quiçá suficiente para que eu acabe essa nota por aqui mesmo e a(o) deixe processar a informação, tal como eu tive que fazer.


Notas Finais


Sooyoung é uma caixinha de surpresas, que nem kinder ovo -q
A piada ruim foi só pra escrever algo aqui em baixo, até a próxima.


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