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História Note To Self. - Sorte perdida.


Escrita por: GorjessSpazzer e Lobertor

Notas do Autor


Eu sei, disse que postaria duas vezes em janeiro e vacilei. Atrasei um pouco, mas vou considerar essa a primeira atualização de fevereiro. Vou tentar postar duas vezes esse mês e, se der certo, faço isso a partir de então.
O nome do capítulo é tirado de Fortune Faded do RHCP, porque eu gosto de pegar nomes de músicas emprestados.
Boa leitura!

Capítulo 5 - Sorte perdida.


Fanfic / Fanfiction Note To Self. - Sorte perdida.

Eu decidi que queria ser escritora no domingo da corrida da Krystal. Irônico alguém que já escreve para a internet há quatro anos chegar à conclusão de que gosta de escrever tanto tempo depois.

O culpado foi o livro que levei. Como já tinha mencionado, esses campeonatos levam o dia todo, e eu não iria ficar olhando corridas das pessoas que não me interessavam. Era a biografia “barra” guia para autores do Stephen King. Confesso que nunca li um livro dele – apesar de escrever um gênero que é um dos meus favoritos – mas o título deste me chamou bastante atenção.  Sobre a Escrita parece ser um ótimo livro para quem escreve.

Blogs sobre escrita também tinham me ajudado a abrir os olhos. Ninguém viria com uma plaquinha com o título “escritor” para mim, e era isso que eu esperava, definição vinda de fora. Mas, oras, quem escreve é o quê? Eu só não tinha o nome de nenhuma editora atrelada ao meu nome. Ainda.

Eu fiquei confiante de que conseguiria fazer isso se tentasse muito. Stephen King mandou. Ele disse que eu posso, devo e se eu for corajosa, eu iria. Os blogs diziam que eu só tinha que sentar a bunda, estudar e escrever. Stephen dizia que era mais escrita do que pesquisa. Nesses conflitos, eu gostava de tirar minhas conclusões.  Eu sempre fui meio intuitiva, meio curiosa. Mas não vamos tratar de pesquisas aqui, vamos tratar de histórias.

Eu tinha dois plots. Os dois de distopia - olá, George Orwell, adoro suas obras! -, uma com uma pegada ficção científica e outro de suspense policial – gosto de você também, Dan Brown. Como sempre, eu tinha boas premissas, fundadas em pesquisas, mas e o resto? Como em todas as minhas histórias, dependeria da minha intuição e inspiração.  Uma a cada vinte histórias minhas tinha um final certo. Pra merda a Jornada do Herói de Campbell!

Isso também tem seus problemas: bloqueio, a história se perde, e eu conto de mais. Meu grande problema é querer contar de mais. E advérbios. Eles não saem de mim, malditos.

Porém, não era sobre meu caso de amor exagerado com advérbios que eu estava me estressando e o livro de Anne Frank sendo deixado de lado. Eu tinha essas duas histórias, mas não saber bem como continuar ou se seus finais seriam de meu agrado mandavam minha autoconfiança lá pra baixo. Eu queria escrever, mas qual era melhor? Ou eram duas porcarias? Não tinha como me basear no mercado literário.  Eu encontrava muita porcaria e, ao mesmo tempo, histórias que eu lia a sinopse, puxava os cabelos e gritava “Puta merda! Esse cara é um gênio, olhe só essa premissa!”. Um dos problemas era o gancho. Os meus demoravam de mais para acontecer.

Era estranho. Eu era confiante quanto às histórias que postava na internet – praticamente trabalhando de graça -, mas eu meio que confiava nas personagens, que na verdade eram pessoas reais. As pessoas já tinham empatia por elas, então era muito mais fácil para se interessarem pelo que eu tinha a dizer. Agora, como que eu faço elas se interessarem pela minha? Os blogs diziam que tinha uma fórmula para isso, Stephen que você não deve se preocupar tanto com elas. E eu não sabia o que fazer. Eu tinha os personagens, mas todos os textos de oficina de escrita me preocupavam de mais, e eu não sei se deveriam.

O que será que Shakespeare pensava enquanto escrevia uma de suas obras-primas? Isso é pura curiosidade. Não é tão difícil especular o que um grande autor imagina enquanto escreve, agora, o que se passa na cabeça de um gênio? Eu duvido que ele tivesse...

Opa, ideia para roteiro.

Guardei o livro na mochila e puxei o computador para anota-la. Tarde de mais. Maurice já havia estacionado em frente à entrada da faculdade. Xinguei em silêncio e, toda desajeitada, com a mochila caindo do ombro e o notebook na mão, eu corri para o lado de fora, com uma esperança ecoando na cabeça.

...

Eu estava no refeitório vazio. Na verdade tinha eu e mais uns cinco espalhados por ali. Era cedo de mais. Deveriam moravam em Stanford ou vinham de muito longe, como eu. A maioria deles estudava e/ou tomava o café que não tiveram tempo, mais cedo. Eu só anotava mais uma das minhas ideias, antes que eu esquecesse.

- Hey, Sica. – O apelido. Depois que ela começou a me chamar assim, Sooyoung, Tiffany e até Sunny entraram na onda.

Olhei para a esquerda e vi Yuri se aproximar.  Sorri para ela. Tive uma surpresa depois daquele dia em que ela perguntou a que horas chegava à universidade.  Ela também veio mais cedo, me encontrou poucos minutos depois de eu ter chegado. Eu ficava com um pouco de pena. Se ela poderia dormir até mais tarde, deveria – eu o faria -, mas eu gostava da companhia. E já a conhecia bem o suficiente de que ela acordaria de qualquer jeito, eu falando pra ela fazer isso ou não. Às vezes, ela perdia o horário, mas era compreensível.  Só alguém bem louco para acordar tão cedo assim todos os dias. Tipo eu.

- Toda arrumadinha. – Disse Yuri, com um sorriso brincalhão. Eu tinha contado a ela sobre a apresentação do meu trabalho, e os professores exigiam roupas formais. Padrão “sou executivo de uma grande empresa”. Algumas pessoas pareciam-se mais comissárias de bordo. Minha sorte era ter um grupo que apostava no básico. Camisa branca de botões, calça preta de algodão e sapatilhas que machucavam meus pés. A blusa era um pouco fina para o clima, mas eu não queria amassá-la. Também havia acordado ainda mais cedo para fazer a maquiagem e o cabelo.

Se eu fosse CEO, os funcionários usariam pijama. Sem trabalho, ou desconforto.

- Eu acho que preto e branco fica meio garçom. Pelo menos não decidiram colocar uma gravatinha. – Eu ajeitei a gravata borboleta inexistente. Só seria mais coisa para comprar. Meu pai mal tinha roupas sociais para que eu pegasse emprestado.

- Que nada, tá bonito assim. Com gravatinha ou sem, ninguém vai prestar atenção no que você diz, mesmo. – Yuri sorriu e eu ri ao empurrar de leve seu ombro. – Preparada?

- Idiota. – Mostrei a língua antes de responder sua pergunta. – Sim. Eu decorei minha fala. Estou sem colas. – Disse ao levantar as mãos, mostrando-as vazias. Estava confiante que me sairia bem, não que não gaguejaria em alguma palavra. Eu sempre me enrolo quando tem gente olhando pra mim.

- Nossa, desculpa aí. – Yuri também ergueu seus braços, por outra razão. – Vai pedir pra desligarem o Power Point também?

- Não to tão confiante assim. – Era mais como apoio psicológico. Eu nunca olho com os slides, com medo de me confundir.

- Eu vou buscar café. Vai querer alguma coisa? – Yuri perguntou ao deixar a sua mochila na mesa, ao lado da minha.

- Não, pode ir. – Sorri.

Yuri se levantou e me deixou ali sozinha, por um curto período de tempo. Assim como o refeitório, as cantinas e lanchonetes estavam vazias, a maioria nem havia aberto ainda. Ela voltou com o café em mãos. Seria bom ter um para segurar. Eu colocaria um suéter por cima da camisa depois da apresentação. Yuri parecia bem com a temperatura. Bem, qualquer um que tenha passado um inverno fora da Califórnia estaria bem. Eu estava acostumada com o calor, por mais que não fosse muito fã.  Detalhe curioso que eu deveria ter notado pelo sotaque: Yuri era de Wisconsin, assim como meu velho amigo Emmerich.

- Qual é essa? – Yuri perguntou, se referindo ao documento que eu editava.

- Nenhuma. É o resumo de uma nova. Ou sinopse, sei lá. – Talvez fossem apenas anotações avulsas.

- Posso ver? – Yuri perguntou. Eu pensei um pouco e balancei a cabeça, virando o laptop para ela.

Eram cerca de três ou quatro parágrafos. Eu deixei Yuri levar o tempo que quisesse. Sempre valia a pena pensar sobre seus conselhos e sugestões. Quando você posta capítulos de forma individual, muitos leitores pensam que podem pedir o que querem ler para o autor. “Quero o beijo”, “eu não sou muito fã desse casal, por que você não dá destaque para o outro?”, só para citar alguns. Dá para levar boa parte em consideração, de qualquer forma, a maioria dos leitores é legal...

Você não consegue satisfazer todo mundo com o quer que faça na vida, por isso não reclamo. E um retorno, seja ele como for, sempre é bom. Dá para tirar lições deles. Mas na maioria das vezes, eu escrevo mais para mim do que para agradar os outros. Stephen falou algo sobre o leitor ideal, citando suas características, sendo ele o único que você deve tentar agradar. Yuri se encaixou na descrição de leitora ideal. Nós tínhamos gostos parecidos para histórias. Parecia que ela gostava mais das histórias que eu mais gostava de escrever. Poderia ser impressão minha. E ela também era a única que apontava erros de gramática e da língua, sem medo. Isso sim era algo que todos deveriam fazer.

- Eu gostei. – Yuri voltou a falar quando terminou sua leitura.

- Sério? – Eu perguntei. Achava que tinha viajado de mais na ideia.

- Sério. Vai postar quando? – Yuri indagou. Eu nem havia começado o primeiro capítulo ainda.

- Eu não sei se vou. Eu estou escrevendo com os nomes assim, mas pretendo transformar em uma original e fazer disso meu primeiro manuscrito. – Tamborilei os dedos sobre a mesa. Eu estava ansiosa com a ideia.

- Boa sorte. Eu vou querer ler. – Yuri sorriu mais uma vez.

- Você vai. Quando eu terminar. – Eu ri e puxei o computador para a minha frente.

- Poxa... – Yuri fez bico e então deu um gole me seu café, depois de assoprar.

- Você aguenta. – Deixei um tapinha em seu ombro e fechei o notebook. Conversar em Yuri por mensagem enquanto escrevia? Tudo bem. Mas eu não conseguia me concentrar com ela ao meu lado.

- Tem certeza que não quer? – Yuri estendeu seu copo de café para mim, enquanto o laptop voltava para a minha bolsa.

- Absoluta. Amanhã eu enrolo minha mãe e tomo café contigo. – Sorri e ela retribuiu à altura. Yuri puxou o próximo assunto, sobre o campeonato de Krystal no fim de semana. Eu contei como havia sido – eu li bastante, e passei o dia à base de suco e sanduíches – e mostrei algumas fotos que havia tirado do campo da escola de Krystal. Eu também estudei lá quando estava no ensino fundamental. E pensar que no ano seguinte Krystal estaria no ensino médio. Eu estava mesmo ficando velha.

...

As apresentações foram muito boas. Comparado ao desastre do primeiro quad, nós éramos quase os profissionais dos seminários agora. Claro que todo mundo ainda ficava nervoso na hora, inclusive eu, com aquele ar-condicionado que congelava minha alma, mas havia sido tudo acima do que eu esperava. Aquele professor era bem exigente, para não dizer chato.

Eu encontrei Yuri na fila do refeitório. Acabei furando a fila por causa disso, mas as pessoas faziam isso o tempo todo. Nem esperavam ser chamadas, apenas se aproximavam do conhecido com a bandeja em mãos. Eu contei da apresentação do trabalho e ela sobre suas aulas, enquanto eu tentava colocar alface em seu prato e ela colocar batata no meu. Eu sei que não é muito certo brincar com comida.

Quando nós chegamos à mesa de sempre, Sooyoung, Sunny e Tiffany já estavam lá, nessa ordem, da direita para a esquerda. Tiffany foi a primeira a nos ver chegar. Levantou o braço e acenou com uma empolgação exagerada. Eu as cumprimentei com um sorriso e Yuri deve ter feito o mesmo ao se sentar ao meu lado.

- Veio da balada pra faculdade? – Sooyoung perguntou, por brincadeira. Se ela ia para a balada assim, não quero nem saber como ela se vestiria para ir a um tribunal.

- Apresentação de trabalho. Meus pés estão fodidos. – A essa altura, eu já tinha trocado as sapatilhas por sapatos mais confortáveis, mas ainda estava com os tornozelos cortados. Sempre acontece isso. Meus pés são bem suscetíveis a machucados, aliás.

- Essa não é a pergunta, Soo. – Tiffany se pronunciou. Eu sabia que vinha algo dali. – A pergunta é como a Jessica conseguiu adestrar a Yuri direitinho. – Viu? As brincadeiras de Tiffany pioravam a cada dia. Agora nós, Yuri e eu, éramos feitas uma para a outra, de acordo com ela. Eu não ligava muito antes, mas havia chegado a um nível em que eu não conseguia não sentir vergonha. Tiffany só fala besteira.

- Eu não sabia que tu era cão de guarda. Pensei que você fosse bicho solto, amiga. Que decepção. – Sooyoung se juntou a Tiffany. Sunny riu.

- Vai se ferrar! – Yuri ficou vermelha como o tomate em meu prato, mas riu e jogou seu guardanapo perto de Sooyoung. Caiu no chão, ao lado dela.

- Eu não fiz nada. Ela ainda faz bagunça e não come o que eu mando. – Eu poderia tirar sarro de Yuri, se não tivesse a impressão de que estava tão acanhada quanto ela. Fazer graça foi a saída.

- Ha, engraçadinha. – Yuri disse para mim e eu dei risada. – Tá toda comediante hoje.

- O que Jessica fez? – Tiffany era curiosa,

- Nada. Está cheia de graça desde mais cedo. – Yuri cerrou os olhos e eu sorri amarelo.

- Como assim? – Tiffany continuou com suas perguntas.

- Yuri veio mais cedo. – Eu expliquei e Tiffany assentiu.

- Sica. – Sunny me chamou. – Quero falar contigo depois. - Eu estranhei, mas topei com um aceno de cabeça. Eu não sabia o que diabos ela queria falar comigo, a sós. Nós nem tínhamos tantos assuntos assim. Mas me envolvia, e eu estava curiosa.

...

Sunny me abordou enquanto eu caminhava em direção à sala. Ela me parou no meio do corredor, quando eu parei para tomar gole d’água no bebedouro. Eu bebo água entre todas as aulas, só um fato aleatório.

- Pode falar comigo agora? É rapidinho. – Sunny perguntou quando eu endireitei a postura e sequei a boca com as costas da mão.

-Pode. – Eu concordei e nós demos uns passos para frente, para não atrapalhar quem quisesse usar o bebedouro. Eu me apoiei contra a parede e esperei que Sunny falasse o que queria.

- Assim... Sabe me dizer se a Sooyoung namora, ou gosta de alguém? – Sunny perguntou. Eu franzi a testa.

- Não, até onde eu sei. – Não era um assunto que eu tinha com Sooyoung, mas ela nunca havia comentado nada.

- Ah, sim. – Sunny disse, pensativa. Eu não sabia bem o que dizer, bem mais do que das outras vezes. – É que eu a chamei pra sair esse fim de semana. Sabe de algum programa que ela curtiria? – Alguma coisa com comida, pensei. – Pode me indicar... Sei lá, um motel legal? – Eu ri de sua pergunta.

- Desculpa, você tá pedindo a opinião da pessoa errada. Tente com a Tiffany, ela deve ter alguma experiência com isso. – Pedir sugestão para mim sobre isso era como perguntar sobre algum indígena de tribo isolada o que ele achava da recessão da economia.

- Você é virgem?! – Sunny perguntou, espantada. Eu ri mais uma vez.

- Achei que a universidade toda soubesse. – Eu brinquei com o fato de ela ter falado alto de mais.

- Foi mal. – Sunny sorriu esquisito, eu dei de ombros. – Ah, Tiffany me mandou entregar isso. – Sunny tirou do bolso de sua jaqueta uma bala de iogurte. Eu não sou muito fã de comer doces, mas aceitei. Uma vez na vida, pelo menos, não teria problema. – Valeu, Jessica. – Sunny sorriu, beijou minha bochecha e se mandou.

Eu também deveria me mandar para a classe. Puxei o plástico rosa, mas antes de chegar ao transparente que cobria a bala, encontrei uma tira de caderno envolta no doce. Desenrolei e li os dizeres, escritos com a caligrafia caprichada de Tiffany.

“YulSic é real <3”

Ri e neguei com a cabeça. Tirei a bala da segunda cobertura de plástico e a levei à boca, amassei o papel junto à embalagem e joguei na primeira lixeira que encontrei, entre o bebedouro e a porta da sala onde teria minha primeira aula da tarde.

Tiffany tinha surtado.

...

Eu só fui as encontrar novamente ao fim de todas as aulas. Vi Yuri, Sooyoung e Sunny conversando num banco ao jardim, bastante próximo ao estacionamento onde Tiffany deixava o carro. Deveriam esperar por ela. Sooyoung e Yuri estavam sentadas em um banco de cimento e Sunny de pé, em frente a mais alta. Sentei-me ao lado de Yuri, e fiquei ouvindo a conversa delas. Não entendi muita coisa, por ter pegado o meio da conversa.

A única coisa que entendi foi quando Yuri tirou uma bala do bolso de sua jaqueta. Era de iogurte. Eu disfarcei que olhava, apenas para ter certeza que era de Tiffany. Eu não li o que havia no papel, mas deveria ser a mesma coisa. Yuri não expressou qualquer reação. Apenas amassou o papel junto ao plástico e continuou a conversa.

- Pessoal, eu já vou. Antes que a minha colega de quarto leve garotos pra lá. – Sunny disse, preocupada. Eu não conhecia sua colega de quarto para saber se era justificável. – Até amanhã, mandem beijos para Tiffany. - E lá foi Lee Sunkyu com seus beijos e abraços. Primeiro Sooyoung, depois Yuri, revirei os olhos, e então foi minha vez.

Quase em sequência, senti meu celular vibrar no bolso da calça. Era uma mensagem de Tiffany:

“Hoje eu só saio às cinco. Avise às outras.”.

- Nossa carona foi por água a baixo. – Eu falei enquanto devolvia o celular para o bolso da frente. Yuri e Sooyoung olharam para mim. – Tiffany só sai cinco da tarde hoje.

- Poxa... – Sooyoung lamentou.

- E agora? – Yuri perguntou para mim.

- Vou correr para pegar o ônibus. – Peguei minha mochila e a coloquei sobre o ombro direito. Despedi-me bem mais rápido que Sunny, com certeza. Um aceno acompanhado de um sorriso e então corri. Ainda bem que tinha colocado o tênis. Apenas olhei para trás uma vez. Vi Sooyoung e Yuri caminhando para a saída. Eu não seria a única a voltar de ônibus naquele dia, mas ainda seria a última a chegar em casa. Ainda antes de Tiffany.

...

Nada de muito interessante ou diferente aconteceu no resto da semana. Eu continuei com Yuri, Tiffany, Sunny e Sooyoung também durante o intervalo para o almoço. Tiffany ainda continuava com suas brincadeiras, Sooyoung ainda comia mais do que necessário e Sunny ainda exagerava com seu afeto, principalmente com Sooyoung e Yuri. Ela estava confusa, ou era impressão minha. De qualquer forma, era melhor que eu não me importasse.

Para não dizer que foi uma semana extremamente monótona, no domingo houve o aniversário de Kris. Eu fui até sua casa durante a tarde. Poderia ter ido pela manhã, mas sei que eu não sou a única preguiçosa da rua. Nós tínhamos uma pequena tradição de aniversário: chocolates. Kris sabe que eu prefiro ao leite e os meio amargos, e eu sei que ele prefere branco. Nós variávamos as marcas e tipos, comíamos juntos enquanto conversávamos e ouvíamos músicas. Dessa vez até dançamos um pouco. É engraçado como Kris é todo travado para dança, mas bonitinho. Eu, na verdade, não sei se sou muito melhor. Eu espero que sim.

Eu poderia começar sobre a segunda feira, como sempre faço, mas creio que a sexta da semana subsequente foi mais interessante.  Eu já tinha entregado uma pequena pesquisa que um dos professores pediu – sobre ISOs, nada muito interessante a falar sobre isso -, além de outras pequenas atividades e trabalhos em grupo. Teríamos mais três ou quatro semanas de aula e as provas começavam. Eu queria que o tempo passasse logo, mas por conta do recesso de inverno, se é que existe inverno na Califórnia.

Frio ou não para o resto do hemisfério norte, eu estava com um casaco sobre uma blusa não muito espessa, mas de mangas cumpridas. 50°F ou 10°C é frio, não é? De qualquer forma, não reclamo. Sou do tipo de gente que sente muito calor e muito frio, mas prefiro as temperaturas baixas.  Eu não sei se alguém se importa sobre esses fatos aleatórios sobre mim, mas gosto de citá-los.

Eu continuei com as mãos nos bolsos do caminho que fiz do ônibus até o refeitório que frequentava. Ficar do lado de fora como nos outros dias estava fora de cogitação. Não estava tão frio assim em lugares fechados, o grande vilão era o vento. Não é a toa que o jardim e pátios abertos estavam quase vazios quando passei por eles.

Eu já devo ter dito isso aqui, mas meu sono se acumula ao longo da semana. Sexta era um dia que eu chegava a Stanford pensando em voltar para casa e tirar um cochilo. Mas eu nunca fazia isso, eu chegava a dormir tarde, às vezes. O sono passa quando estou em casa. Também era impossível dormir no refeitório – eu já tentei algumas vezes, era uma chance de sucesso para cem tentativas -, então decidi passar o tempo com leitura em meu celular. Quando não tinha trabalhos, eu não trazia o notebook. Fazia tudo no celular, fosse ler ou escrever. Eu esperava, também, que Yuri viesse mais cedo outra vez. Seria um bom remédio contra o sono.

Eu não tive tempo de terminar o capitulo do livro nem de tentar um cochilo. Yuri surgiu ao meu lado, bateu na mesa, para atrair minha atenção – na verdade, foi mais como um susto – e sorriu para mim.

- Vem comigo, quero te mostrar uma coisa. – Yuri pegou a minha mão e eu só tive tempo de me levantar antes de ser puxada. Eu demorei a perceber que íamos para o lado de fora.

- Tá frio! – Reclamei, mas não adiantou muita coisa.

- Frio? – Yuri riu. -Vem logo!

E fui. Nós corremos pelo campus. Estava escuro, ainda, quase como se parecia à noite. Ainda não era nem sete da manhã, e o sol estava com vergonha de aparecer no horizonte, acredito eu. Ou se fazendo de difícil. E eu viajando sobre o sol.

Nós atravessamos o campus inteiro, e saímos por um portão dos fundos que eu nem sabia que existia. Havia uma trilha que subia uma pequena colina de terra, entre algumas árvores e gramado baixo. Devia ser cuidado, o que me deu a ideia de que ainda estávamos em propriedade da universidade.

 O caminho até o topo foi mais rápido do que a corrida pelo campus. Eu tentei perguntar algumas vezes, mas Yuri não me respondeu até chegarmos ao descampado. A mata era mais baixa. Ao oeste, era possível ver todo o campus de Stanford, deveríamos estar na mesma altura da Hoover Tower. Ao leste, entre as montanhas, o sol se exibia aos poucos. Eu me esqueci do frio, por um momento, e não era apenas por conta da correria.

- Meus colegas de classe disseram que aqui é tipo um local de estudo de alguns semestres de astronomia, então não diria que é secreto. Mas pouca gente sabe que é anexo à faculdade. – Yuri enfim explicou. Eu olhei para cima. Estava claro de mais para ver alguma estrela.

- Quando era menor, eu gostava de decorar constelações. Se eu me lembro de três, é muito. – Contei. Yuri riu. Eu havia colocado as mãos de volta aos bolsos, àquela altura.

- Como assim? Tem que saber! Como vai me ensinar, desse jeito? – Yuri bateu em meu braço de leve e foi minha vez de dar risada. – Sabe, quando a friorenta aí não reclamar, nós podemos ficar aqui de manhã, de vez em quando. O refeitório cansa, e nem sempre os lugares legais do jardim estão livres.

- Fechado. – Sorri e então fechei o acordo com Yuri com um aperto de mãos. Parecia um lugar legal para passar o tempo, e deveria ser bacana à noite.

Quem sabe um dia.

...

A temperatura deve ter subido uns sete ou seis graus até o meio dia. Eu disse adeus ao casaco maior e o deixei junto com a minha mochila, na sala de aula, antes de ir ao refeitório. Eu encontrei apenas Tiffany, e nós entramos em uma discussão bem sem sentido sobre algo que não vale a pena comentar, nem valia argumentar sobre, mas nós duas brigamos pelas coisas e cinco minutos depois estamos rindo.

Nós deveríamos estar nesse ultimo estágio quando Sooyoung chegou com Sunny. Yuri veio uns minutos depois. Pelo jeito, Tiffany resolveu dar uma pausa em sua implicância com Yuri e eu depois de nossa discussão sobre higiene de embalagens, e não levantou o assunto entre os temas das conversas, que variava entre tudo e nada. Papo fútil, na maioria das vezes, mas divertido. E essa era a base da conversa, até Yuri interromper porque tinha um comunicado importante a fazer.

- Alguém aqui tem mais de uma aula hoje? – Perguntou. Todas negaram, como eu suspeitei. Sexta era um dia bom, se você não tivesse que esperar a porra de um ônibus por duas horas para poder ir para casa. – Eu tava pensando se vocês não querem ir pra lá. O tempo abriu, a gente podia fazer uma festa na piscina, sei lá.

- Festa na piscina em dezembro? – Sunny riu e eu a acompanhei, junto com Tiffany.

- Seus pais não vão achar ruim, não? – Sooyoung perguntou de boca cheia, como sempre.

- Eles tão no trabalho e meus irmãos estão na escola.  Fico sozinha a tarde toda. – Gayoon e Hyukjun pareciam mais um com o outro do que pareciam com Yuri. Ela já havia me mostrado fotos. Os dois eram mais novos que Krystal, aliás.

- Okay, mas Tiffany e eu não temos roupa de banho. – Eu percebo muito fácil furo nos planos dos outros. Deveria deixar de ser tão chata.

- Simples. Deve ter uma loja em algum lugar dessa cidade, a gente compra. – E Tiffany sempre tinha uma fácil solução para os problemas alheios. Eu esperava que ela tivesse razão e sorte em encontrar uma loja de biquínis durante o inverno.

...

Uma única aula depois do almoço e nós estávamos no carro de Tiffany, as cinco. Eu fui ao lugar de sempre, ao lado da motorista, e as três foram atrás, com Sunny no meio. Ela já tinha sua mochila com troca de roupa. Sunny também ofereceu roupas de banho para nós duas, mas eu neguei por dois motivos: achava um pouco nojento e iria sobrar pano, no meu caso.

Tiffany deixou Sunny e Yuri na casa da ultima e Sooyoung em sua própria casa, para que pegasse suas coisas. Enquanto isso, Tiffany encontrou uma boutique de roupas de praia. Ela usou seu cartão e eu o dinheiro que deveria ser usado para o almoço. Nós voltamos para buscar Sooyoung e então voltamos para a casa de Yuri.

Foi ela que nos recebeu, já com as roupas de banho. Nós conhecemos apenas o térreo da casa, onde passamos pela sala e pela cozinha, além do banheiro que Tiffany e eu usamos para nos trocar. Sooyoung já estava tão pronta quanto Yuri e Sunny, então se mandou para o jardim dos fundos da casa.

Tiffany e eu chegamos juntas à área da piscina. Sunny estava tomando sol em uma das espreguiçadeiras e ria de Sooyoung e Yuri, que brincavam de lutinha na água. Houve algo nos últimos dias que aproximou Yuri ainda mais de Sooyoung, eu não sabia bem o porquê, e talvez nem elas. Eu estava feliz, porém. Era bom saber que todas se davam bem, ainda que eu achasse Sunny meio esquisita.

Tiffany tirou os shorts – ela havia vestido aquilo mesmo no frio da manhã -, e pulou na piscina. Ela foi feita de alvo de Sooyoung e Yuri em seguida. Assim que emergiu, as duas a empurraram de volta para baixo d’água. Eu ri, não sei se pela risada divertida de Sunny ou pela cena. Acho que foi pelas duas coisas.

Eu fiquei só com a regata, que antes usava por baixo dos casacos, sobre o biquíni. Sentei-me a borda da piscina e observei a bagunça, enquanto brincava com a água em minhas pernas. Estava gelada, e eu sem coragem de entrar. Também não sou tão fã de piscinas e praias, na maior parte das vezes. Eu iria entrar, sim, mas ainda não.

Tiffany conseguiu se livrar e tentou sua vingança, o que não deu muito certo. Ela bebeu mais água que as outras duas, ficou brava, e resolveu nadar e boiar, além de parar para bater papo comigo. E também tentar me convencer a entrar. “Entra logo” e “vou te puxar!”, ouvi bastante isso delas. Desistiram, depois de um tempo.

Yuri nos chamou para dentro uma meia hora depois, mais ou menos. Nós a seguimos para a cozinha e eu pensei que, se sua mãe fosse como a minha, nos odiaria pela molhadeira que ficou o piso. Yuri pegou os sorvetes e os potes e nós nos servimos. Sooyoung e eu surtamos ao ver napolitano entre os sabores. Ficou óbvia a nossa escolha. Até brindamos, por brincadeira.

Houve um pequeno incidente engraçado enquanto nós pegávamos o sorvete. Enquanto Tiffany escavava a massa rosa do sorvete – suspeito eu que pela cor – a gata de Yuri surgiu do além. Era bonitinha, chamava-se Hyuna, por conta da cantora coreana mesmo. Eu acho que ela não gostou muito do fato de Tiffany estar rindo e falando bem alto uma de suas histórias, e começou arranhar e mordiscar sua canela. Eu quase morri – sem exagero – do susto e pequeno show que Tiffany deu, com seus gritos e corridinhas. Pobre gata. Foi expulsa e ficou surda.

Nós voltamos à piscina para tomar o sorvete, e Sooyoung voltou para encher o pote mais algumas vezes. Tanto que ela foi a última a entrar na água novamente. As quatro nadavam por ali e eu enchia o saco delas, colocando os pés na frente ou os usando para atirar água em seus rostos. Eu tinha a vantagem de correr, ao ser ameaçada. Ainda não estava preparada para enfrentar a água fria.

Elas fizeram uma brincadeira de saltos, na verdade, Sooyoung e Yuri fizeram. Era para ver quem conseguia pular mais longe. Ou quem me molhava mais, no caso. Depois voltaram a se bater e tentar afogar uma a outra, como antes. Nada fora do normal.

Quer dizer, houve um pequeno acidente. Não sei como, mas, do nada, Sunny se “afogou”. Eu pensei que fosse brincadeira, Sooyoung é lerda, e Tiffany se desesperou. Yuri foi a única a ter uma reação sensata. Conseguiu levantar Sunny para a borda da piscina e saiu também, para ajudar a garota que cuspia água. Também foi uma anormalidade quando Sunny, depois de colocar para fora toda a água que tinha bebido, agradeceu Yuri com um selinho. Eu podia imaginar um ponto de interrogação na testa de todo mundo. Sunny foi a única que sorriu, antes de pular na água de novo.

- Pra quê isso? – Yuri resmungou, curiosa. Sunny só deu risada. Eu disse. Sunny é esquisita, não é implicância minha. Ela não estava saindo com Sooyoung? Antes de meus olhos encontrarem a shikshin, eu encontrei Tiffany me olhando, como se quisesse saber algo de mim. Eu só tive tempo de franzir a testa para ela e senti duas mãos segurarem meus tornozelos.

- Deu de enrolar, Jung. – Sooyoung sorriu esquisito. Eu tentei chutá-la, mas não queria dar uma de Sunny. Prendi a respiração e fechei os olhos antes de cair na água. Estava tão gelada quanto suspeitei, foi impossível não gritar. E não, eu não faço o tipo escandaloso.

- Eu vou fazer você secar minha blusa, ridícula. – Já que estava encharcada e ainda arrepiada, não havia motivo para não brincar. Sooyoung tentou fugir, mas eu pulei em suas costas para tentar afundá-la. Não dava muito certo quando a água ficava a altura de seus seios e eu tinha que ficar quase na ponta dos pés.

- Calma, calma. Vamos negociar. – Sooyoung disse ao tentar tirar meus braços ao redor de seu pescoço, enquanto caminhava para a outra borda da piscina. Ela se sentou ali e eu fiz o mesmo. Tirei a blusa molhada e acertei sua perna. Ela fez cara feia para mim. Estava com o celular na mão agora.

- Fala logo, ou eu te jogo na água. – Minha ameaça não foi muito assustadora. Sooyoung já estava toda molhada.

- Tá, apressadinha. – Sooyoung sorriu. Desbloqueou o celular e clicou sobre o ícone da galeria de fotos. Escolheu uma das pastas para me mostrar. Ela sorriu de lado para mim, enquanto passava por cada uma delas. – E aí?

- E aí o que? – Perguntei, desconfiada. Confusa, também. Podia ser ideia de Tiffany, ou só mais uma babaquice de Sooyoung. Eram fotos de Yuri, tiradas àquela tarde ou em outros dias que ela estava com tanta roupa quanto agora, ou um pouquinho mais.

- É bonito, né? – Sooyoung também havia endoidado. Eu ergui o queixo, para que ela continuasse. – O abs, criatura. Se tu falar que olhou primeiro pra cara é mentira. – Eu acabei rindo. Eu tinha olhado primeiro para a cara sim, mas não só para ela. – Precisa nem falar nada depois dessa risadinha, safada.

- Eu?! – Apontei para mim, indignada. Era Sooyoung que tinha as fotos, e eu a pervertida.

- Aliciadora de menores, Yuri pode nem fumar ainda, tadinha. – É, Tiffany passou seu problema para Sooyoung.

- Eu nem sou adulta ainda, sua ridícula. – Empurrei o ombro de Sooyoung e dei risada. – Pra que isso aí?

- Pra vender pra ti. – Sooyoung disse, como se fosse óbvio. – Pra que eu ia andar com tanta foto da Yuri?

- E eu que sei? – Dei de ombros. – Tenta de novo numa próxima, pode ficar com as fotos.

- Tenho uma ideia melhor. – Sooyoung falou. – Nós nos tornamos sócias. Eu tiro fotos e guardo as que Yuri me manda, você faz a seleção das melhores e nós fazemos um book. E então nós organizamos uma rifa na universidade, o vencedor leva as fotos.

- Se isso for dar dinheiro, eu topo. – Nós fechamos o acordo com um aperto de mãos. – Yuri vai cobrar quanto pelo merchandising?

- Ela? É exibida, vai é adorar saber que tem gente comprando rifa pra concorrer à foto dela. Faz de graça. – Eu concordei com Sooyoung. Yuri tinha uma boa dose de amor próprio em si.

- Oh, Sooyoung, você tá me devendo a corrida! – Yuri deve ter percebido que falávamos dela, de algum modo sobrenatural. Ela tinha se aproximado para chamar a shikshin, e jogou água em sua direção.

- Calma aí, eu vou pegar mais sorvete, já volto. – Sooyoung se levantou e deixou o celular à beira da piscina. Seria engraçado se caísse. Tiffany foi a única que acompanhou Sooyoung para a cozinha, Sunny continuou boiando. Pelo jeito, não tinha medo de se afogar de novo.

- Só sabe enrolar e acabar com a comida da casa dos outros, mal educada. – Yuri reclamou e então se virou para mim. – Você, vem comigo. Uma corrida até Sooyoung voltar.

- Feito. – Pulei de volta na piscina. Era melhor ficar dentro d’água do que tomar o vento frio com o corpo molhado. Nós ouvimos Tiffany gritar mais uma vez com a gata, mas só rimos antes de disputar para ver quem ia e voltava mais rápido. Eu poderia inventar uma desculpa, como Yuri ser maior, mas eu sei que não sou boa com esportes. Esses genes ficaram com Krystal.

A “festa da piscina” durou algum tempo, cerca de duas horas. Os irmãos dela logo chegariam da escola, e os pais do trabalho. Secamos-nos com toalhas que ela nos emprestou e, uma por uma, voltamos às nossas roupas normais. Nós nos oferecemos para ajudar Yuri a arrumar a bagunça. A cozinha foi para onde demos mais atenção. Estava cheia de poças.

Nós nos despedimos de Yuri – Sunny com seus abraços – e entramos no carro de Tiffany. A primeira parada foi em Midtown, na casa de Sooyoung. Tiffany deixou Sunny em frente à entrada principal de Stanford, minutos depois. Sunny disse que poderia caminhar até seu dormitório. Melhor para Tiffany e eu. Chegaríamos alguns minutos mais cedo em casa.

...

- Sexta que vem tem o Big Game. – Tiffany comentou enquanto dirigia. Eu estava quase em casa. Big Game era uma das partidas mais esperadas e uma das maiores rivalidades da liga de futebol americano universitário do país. Era um grande evento para os Golden Bears de Berkeley e os Stanford Cardinals, de Palo Alto. Eu havia visto o jogo, ano passado, com Kris. Ele de azul e eu de vermelho. Ele levou a melhor no final, com a vitória de sua universidade, em casa.

- Vai ser em Stanford dessa vez? – Perguntei.

- Uhum. Você vem? – Tiffany perguntou, olhando para mim.

- Talvez, vou ver com o Kris. – Sem ele, o jogo não teria muita graça. O divertido era quando perturbávamos um ao outro. Nós dois não somos muito fãs de esportes, nem futebol.

- Faça isso. Eu vou ver com as meninas. A gente marca de se encontrar. – Tiffany falou, com os olhos de volta a estrada. Eu assenti, em silêncio. Iria pedir para Tiffany dar uma carona a Kris e eu. O ônibus deveria ir lotado na sexta, não tinha como pedir a Maurice. Senti meu celular vibrar na calça e o tirei do bolso para ver do que se tratava. Era Yuri brincando com a gata, que não parecia nada feliz, em um vídeo.

- Tá rindo do que? – Tiffany estava ao volante, mas queria ver o que eu estava assistindo. Virei o celular para ela.

- Hyuna. – Tiffany fez careta para a gata, mas logo sorriu.

- É fofa, mas violenta.

- Ela cismou contigo. – Ri ao me lembrar dos ataques dos quais Tiffany foi o alvo. Tiffany torceu o nariz mais uma vez.

- Cismou com a pessoa errada. – Disse Tiffany. – Devia ter mordido a canela da Sunny. – Eu ri, dessa vez desacreditada. A última vez que eu vi Tiffany falar assim de alguém foi sobre Taeyeon. – Onde já se viu sair beijando os outros daquele jeito e destruindo o couple alheio? – O mais engraçado de tudo é que Tiffany parecia mesmo muito brava.

- Para de ser idiota. – Eu neguei com a cabeça e ri dela.

- Você vai pagar sua língua ainda, dona Jessica. Amanhã vou falar com Sunny, ela vai ter que se explicar. – Tiffany decidiu.

- Amanhã é sábado, Tiffany. – Revirei os olhos. Tiffany estava exagerando as coisas, mais uma vez. – Eu fiquei confusa. Semana passada ela veio me pedir ajuda para sair com Sooyoung, e então resolve beijar a Yuri na frente de todo mundo.

- Ela gosta da Sooyoung?! – Tiffany disse como se aquilo fosse a revelação do século.

- Não sei, mas deve. E eu não sei se elas saíram, ou se Sooyoung gosta dela, antes que você me pergunte. – Eu não sou de me intrometer nesse tipo de assunto. Sooyoung deve ter conversado isso com Yuri, o que deixa tudo ainda mais louco. – De qualquer forma, foda-se. – Tiffany riu da minha conclusão filosófica.

- Deve ser seca. – Ela riu alto e eu a acompanhei.

- Ela tá pior que você. – Sorri com a brincadeira. Tiffany lançou um olhar assassino em minha direção e bateu em meu braço. Eu reclamei da ardência em meu braço. – Foi brincadeira!

- Eu tento te defender e você me ataca! – Tiffany reclamou, aos berros.

- Me defender do que? – Ergui uma sobrancelha para ela. Era engraçado quando Tiffany ficava brava do nada, mas, se eu risse, seria como assinar minha sentença de morte. Por sorte, ela já havia estacionado o carro em frente a minha casa.

- Nada. Até amanhã, Jessica. – Tiffany me enxotou do carro, e eu saí dele meio destrambelhada com a porta e alças da mochila. Abaixei-me a altura da janela e bati no vidro, para que Tiffany abaixasse.

- Amanhã é sábado. – Corrigi, só para provocar. Tiffany fechou a janela e a cara, e desceu a rua, rumo a Sunset District. Sorri vitoriosa por ter enchido a paciência alheia com sucesso, e fiquei a observar o sedã bordô, cada vez mais distante.

- Jessica! – Olhei para cima e vi Krystal na janela de seu quarto, que ficava virado para frente da casa. – Vou usar seu laptop para jogar, okay?!

- Eu ia usar! – Meus ombros caíram, em desânimo. Meus pais deveriam dar um computador para Krystal. Urgente.

- Vai ser só uma horinha! – Krystal argumentou. – Use o do pai enquanto isso! Você só vai escrever, não é?!

- Nunca é só uma horinha! – Eu disse de volta e Krystal sorriu amarelo. Passei a mão sobre o rosto ao suspirar e gesticulei com a mão para que seguisse em frente. – Okay, vai lá!

- Por isso você é a melhor irmã! – E a única. Krystal sorriu. – Ah, e mamãe mandou você a ajudar na cozinha! – Krystal deixou seu último recado, fechou a janela e eu joguei a cabeça para trás, exausta mesmo antes de ter começado.

Eu acumulava sono e azar ao longo da semana.

 

P.S: Como tem sido nas últimas, Yuri me chamou para conversar, mais tarde, e ficamos nos falando até a hora de dormir. Acho que virou costumes as “boas noites” e “bom dias”, todos os dias.


Notas Finais


Não tenho muito a dizer sobre o capítulo dessa vez, é quase que um de transição. Esperem mais do próximo, esse ficou meio curto para o meu gosto kk
Obrigada aos que acompanham :3


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