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História Note To Self. - Touchdown.


Escrita por: GorjessSpazzer e Lobertor

Notas do Autor


O capítulo ficou tão grande quanto o último, mas, dessa vez, postarei outro em sequência. Considerem como uma atualização tripla. Teremos um especial.
Obrigada aos que acompanham e também pelo feedback ^^
Boa leitura.

Capítulo 6 - Touchdown.


Fanfic / Fanfiction Note To Self. - Touchdown.

Eu estava bem irritada na quinta. Sabe quando sua mandíbula está trincada a ponto de você sentir uma pressão que parece afetar os seus miolos? Era assim que eu me sentia. Era uma mistura da faculdade com minhas dúvidas e meu “trabalho” de escrita de fanfictions. Eu não ando muito contente com os resultados, mas chegaremos a isso mais tarde.

Eu tentei me tranquilizar de alguma forma. Os comentários da última atualização animaram, mas não tanto quanto costumavam fazer. Tentei ler a atualização de outra autora, e também não foi alívio por muito tempo. Tentei uma leitura leve – Harry Potter – e também não funcionou. Minhas músicas tocando enquanto eu observava à costa ou a estrada? Foi tão efetivo quanto as outras tentativas.

Na verdade, eu queria bater em minha cabeça e gritar, mas não pega muito bem fazer isso em um ônibus fechado, muito menos sou do tipo que se machuca. Sobre gritar, às vezes acontecia, e era com outros. Eu poderia dizer que a grosseria era por estresse incontrolado, mas sabia que não era assim. Eu elevava a voz de propósito para aliviar meu próprio desconforto. Isso acontecia bastante com Krystal. Eu gritava com ela, ela respondia à mesma altura. Às vezes, nossa mãe dava uma bronca nas duas, outras eu só ouvia sua resposta em silêncio e em algumas delas nós entrávamos em uma discussão sem sentido, só para eu depositar minhas iras em alguém e atacá-las. Não é algo muito bonito de se fazer, eu admito.

Eu estranhei quando vi Yuri a me esperar perto da entrada principal, mas o meu primeiro sorriso honesto do dia surgiu assim que ela me recebeu de igual forma. O boné virado para trás, a franja jogada para um lado, a jaqueta esportiva e o All Star nos pés. Yuri tinha seu próprio estilo, e isso era bem meigo.  Eu já estava evitando sinais como esse há algum tempo.

- O que está fazendo aqui tão cedo? – Perguntei. Yuri sempre chegava uns dez minutos depois de mim.

- Eu vim antes. – Começou a explicar. Sorria, mas parecia cansada pra burro. – Eu não estava conseguindo dormir direito, merda de insônia, então vim mais cedo.

- Fico triste por você. – Sorri e Yuri devolveu o gesto.

- Vamos? – Apontou para a rua ao lado e eu aquiesci. Já sabia para onde iríamos. – Pelo menos você dormiu bem?

- Sim, dormi. Mas ainda estaria na cama sem problemas. – Respondi e Yuri deu risada.

- Você é muito preguiçosa. – Yuri disse ao passar o braço ao redor de meus ombros e eu sorri amarelo. Ela não tinha dito nenhuma mentira.

Nossa caminhada até o descampado durou cerca de dez minutos, creio eu, isso porque fomos sem pressa alguma, já que ela havia chegado mais cedo. O céu, a esse horário, reproduzia a uma mistura de cores interessante e a brisa fresca me trouxe certa paz de espírito. Creio eu que o meio abraço de Yuri também ajudava.

Nós nos sentamos no gramado e conversamos sobre as aulas e colegas de sala. Sem novidade alguma, era Yuri quem falava mais. Eu percebi o quanto ela estava com sono. Acordava uma hora antes do que devia e ainda não dormia direito. Eu senti uma mistura de pena e culpa, então deixei que ela apoiasse a cabeça em minhas pernas e deitasse um pouco. Comecei um cafuné no automático, como fazia com Krystal. Não sou lá muito carinhosa, mas isso é algo que eu gosto de fazer.

- Eu vou dormir assim. – Yuri riu ao fechar os olhos. Não deixei de notar o leve rosado em suas bochechas.

- Você tem uma hora para isso. – Disse, depois de checar as horas em meu celular.

- Você vai ficar entediada sozinha. – Ela abriu os olhos dessa vez.

- Ouço música, leio alguma coisa. – Falei ao mostrar o celular. – Estou bem acostumada a gastar uma hora sozinha. – Yuri pensou um pouco antes de sorrir.

- Valeu.  – Fechou os olhos mais uma vez, depois de agradecer.

Eu continuei com o carinho, mas, como havia dito, peguei os fones na mochila, me virei para conectar no celular com uma única mão e deixei minhas músicas tocarem no aleatório. A primeira foi “Someplace”, do Jake Bugg. Essa e “Slide” eram minhas favoritas. Tem algo no ritmo que me faz gostar delas, sem contar as letras excelentes. Como alguém tão novo poderia ser tão talentoso? Isso eu não sei. Mas eu agradeço a existência desse tipo de pessoa.

E de Yuri também, mesmo que estivesse quase babando na minha calça.

 

...

 

- Eu acho que estou meio estranha.

Mais uma vez, Tiffany foi minha fonte de desabafo. Como disse, eu gostava de alguém que argumentasse contra as minhas reclamações. Tiffany percebeu minha inquietação e me mandou abrir o bico. Só ela estava no refeitório assim que cheguei. Não me perguntem sobre Sooyoung e Sunny, mas Tiffany disse que as duas saíram juntas. Yuri havia me contado. Parece que Sunny enfim arranjara coragem para chamar Sooyoung para sair. Isso não me importava muito, contanto que Sooyoung estivesse feliz daquele jeito.

- Como assim você está estranha? – Ela repetiu o que eu disse, só em forma de pergunta.

- Eu não sei, eu estou me achando chata. – Continuei. Tiffany ergueu uma sobrancelha e eu devo ter feito o mesmo.

- Chata como? – Ela deu risada entre uma garfada e outra.

- Eu era mais legal antes. – Talvez o legal não se aplicasse a tudo, mas no que me incomodava, sim. – Eu ando séria de mais.

- Séria? – Tiffany riu, desacreditada. Dizia isso porque era um de meus alvos preferidos para enchimento de paciência.

- É! – Respondi. – Sabe, quando eu escrevo. – Tiffany revirou os olhos ao notar o assunto. – Eu costumava rir alto e o mesmo ao reler. Agora eu dou sorrisinho. – Puxei o canto dos lábios para enfatizar. – Eu não quero que leiam e deem sorrisinhos, quero que riam até sentirem o abdômen.

- Você está crescendo e perdendo o humor, velha chata. – Tiffany negou e sorriu.

- Não, é excesso de descrição. – Apoiei a mão no queixo enquanto pensava. – Não deixo eles pensarem sozinhos, eles ficam tentando imaginar cada detalhe, a piada brocha e se perde. Esse é o problema.

- O problema é você ser doida. – Disse Tiffany.

- Não, eu era, esse é o problema. – Falei como se levasse aquilo a sério. – Quando eu era doida, as coisas saíam boas. Acho que o humor dos professores está me afetando. Daqui a pouco estou fazendo piada sobre pontinhos na parede. – Tiffany riu. – Já sei.

- Lá vem. – Ela revirou os olhos mais uma vez.

- O que é um pontinho rosa na parede? – Perguntei ao sorrir de lado.

- Chiclete. – Ela respondeu entediada.

- Tiffany Hwang. – Sorri e ela fez careta.

- Que horrível, Jessica! –Eu dei risada de sua cara. – Por que diabos eu estaria na parede? – Disse como uma sabichona.

- Porca-aranha. – Dessa vez eu ri do que eu mesma disse. Tiffany olhou para mim como se fosse cometer um assassinato.

- Qual a graça? – Yuri chegou com sua própria bandeja. Sentou-se ao meu lado.

- Só a Jessica fazendo graça. – Eu falhei em segurar a risada com a irritação de Tiffany.

- Nada fora do normal, então. – Yuri olhou para mim como se tentasse entender e eu cobri a boca ao dar risada. Nem eu sabia por que estava rindo tanto daquilo.

- Ai, para com isso! – Tiffany brigou e aos poucos eu consegui me conter. – Ah, Jessica, fica com isso aqui. – Tiffany me estendeu a chave do carro. Eu olhei do objeto para ela. – Para vocês não ficarem me esperando do lado de fora.

- Nossa, que boazinha. – Brinquei. – Obrigada.

- Cadê a Soo? – Yuri perguntou. Era de se estranhar, mesmo. Sooyoung era a primeira a chegar, sempre.

- Saiu com a Sunny, disse que iam comer fora. – Tiffany foi quem explicou, já que eu voltei a mastigar.

- Sei bem o que essas duas foram comer. – Yuri sorriu de lado e riu junto com Tiffany. Eu cerrei as sobrancelhas. Era melhor não deixar a minha imaginação muito solta.

- Você deveria chamar a Jessica para almoçar fora também, Yul. – Tiffany sorriu. Foi minha vez de parecer uma homicida. Nem ousei olhar para Yuri para ver sua reação, mas Tiffany riu bem alto, com direito a palmas. Era mais divertido quando era eu quem ditava o ritmo da brincadeira.

 

...

 

Era a faculdade que estava me deixando tão estressada com tudo, com toda a certeza. Eu saí da última aula com a maior cara de cansada possível. Por sorte, teríamos apenas as aulas da manhã, no dia seguinte. Eu nunca gostei tanto de um time de futebol. E estava confirmado, Kris viria com uma excursão de Berkeley para cá. Iria ser divertido.

Nenhuma das garotas estava na garagem. Eu me aproximei do sedã vermelho, destranquei a porta e a bati ao entrar. Coloquei a chave no contato apenas para ligar o aquecedor e o aparelho de som. Eu teria alguns minutos, sozinha, acreditei, e aproveitaria os bons alto-falantes do carro de Tiffany com minhas próprias músicas.

Depois de duas delas ouvi algo bater contra o vidro da direita. Yuri acabara de chegar. Demorei um pouco, mas encontrei o botão de destravar. Yuri entrou e se sentou ao banco do carona, deixando a mochila entre seus pés. Depois fez careta e balançou a blusa.

- Tá quente aqui dentro. – Reclamou e abaixou um pouco a temperatura. – Tudo bem?

- Depois você pergunta? – Eu dei risada. Yuri sorriu amarelo. – Coloca uma música, depois dessa.

- Tá, pera aí. – Yuri se abaixou para pegar o celular em sua bolsa. Ela procurou por sua playlist enquanto a música atual tocava. Já estava próxima do final, então não tardou à sua primeira escolha começar a tocar. Eu reconheci logo de início, só pelas batidas. Dei risada e Yuri sorriu também antes de começar a cantar. – You change your mind like a girl changes clothes...

Eu sabia que a música era uma indireta para mim, e não era só porque eu me identificava com boa parte da letra – supersticiosos culpariam o ascendente em libra – ou porque Yuri cantava e olhava para mim. Eu fazia a mesma coisa para ela, mas sem tanta dramatização. Também não me importava com a afinação, ou o que as pessoas diriam de duas pessoas a gritar no carro.

De volta ao que quis falar quando mencionei a indireta. Poderia ser algum engano meu, ou eu estava enxergando coisas onde não existia, mas eu suspeitava que Yuri queria algo além de amizade comigo. Digo sem modéstia alguma que sempre notei quando os outros possuíam algum interesse em mim, às vezes eu só me fazia de idiota para esperar uma confirmação da própria pessoa.

E, bem, Yuri era bem óbvia, de vez em quando. Quando entrava na onda de Tiffany, os flertes disfarçados de brincadeira, as perguntas mais íntimas sobre relacionamentos e parceira ideal, entre outras coisas que não lembro bem no momento. Também tinha o jeito dela comigo. No geral, Yuri era bem “foda-se” com tudo, eu e umas amigas suas éramos as exceções. E, se uma pessoa que acorda mais cedo do que precisaria todos os dias, se esforçava para ter um assunto quando não sou muito comunicativa, da hora que acorda até a hora de dormir, não sente nada além de amizade por você, eu precisaria rever meus conceitos com urgência.

Às vezes, eu respondia às indiretas de Yuri, noutras eu só contornava o assunto. Eu tinha um pouco de medo, e não envolvia os sentimentos de Yuri, e sim os meus. Eu talvez sentisse o mesmo que ela, se eu estivesse mesmo certa a respeito dos seus sentimentos. Yuri era uma garota bonita, bem esperta – por mais que dissesse ao contrário sempre -, tinhas suas maneiras fofas, mesmo quando estava irritada com algo, tinha um perfume gostoso, um sorriso bonitinho e mais trocentas coisas que eu poderia citar aqui, mas isso não é sobre a “lista das cem charmes que Jessica vê em Yuri”. E eu acho que conseguiria pensar em algo perto disso, se fosse para exagerar, e isso que me fazia questionar o talvez. Eu sou ótima em perceber os sentimentos dos outros, mas uma bagunça quanto aos meus próprios.

É que eu não queria ser uma Jiyeon para Yuri, ela merecia algo melhor que isso. Eu tinha sua idade quando aquilo aconteceu, e eu sei como gostar de alguém é nessa época. Nós colocamos a pessoa em um patamar mais alto do que ela merece porque ela é perfeita, o amor de nossas vidas, e que não vamos amar mais ninguém como amamos a ela.  Eu precisava ter certeza de que gostava de Yuri tanto quanto ela gostava de mim para que eu não a alimentasse com falsas esperanças e então saísse da vida dela, sem mais nem menos, porque topei no calor do momento, vi que não era o que queria ou que aceitei apenas por pena. É o tipo de coisa que eu não me imagino fazendo.

Além dos problemas internos, eu tinha consciência de todas as outras coisas. Eu sei bem como é estar em uma relação com alguém que, quando finalmente se está livre, também está longe de mais para se ver com tanta frequência. Isso é chato pra caralho, requer paciência e confiança, além de um bom controle emocional. Tem o fato de eu não saber o quão bem minha família lidaria com a minha sexualidade, eu não ser independente de meus pais ainda e a pequena diferença de idade. Quase três anos não é lá muito alarmante quando se tem seus trinta ou vinte e poucos anos, mas é diferente entre vinte e dezessete. Eu estava pensando em terminar meu curso e começar a vida adulta e ela havia acabado de entrar na faculdade. De todos, esse fator era o qual eu menos me importava. Como eu disse, se torna relativo com o tempo.

Mesmo que uma música ou outra da rádio me lembrassem dela, era melhor eu pensar direito.

- Sua vez. – Yuri disse quando a música acabou. Eu pisquei algumas vezes antes de voltar à realidade.

- O que mais você tem da Katy aí? – Perguntei e ela desbloqueou de novo a tela do celular.

- Algumas. – Respondeu ao abrir o reprodutor de música. Eu me aproximei para ver o que ela tinha. – Gosta dela?

- Sim. É uma das minhas cantoras ocidentais favoritas. – Eu já disse que meu gosto musical é bem eclético. Tomei a liberdade para deslizar meu dedo sobre a tela do celular e escolher uma das músicas. – Essa é minha favorita.

- “Unconditionally”? – Yuri perguntou quando a canção começou a tocar.

- Uhum. Era eu com essa música e meu pai com “Roar” quando ela lançou o Prism. Krystal já não aguentava mais o nome da cantora. – Eu ri ao me lembrar. – É meu tipo de música.

- É. Você gosta de música chata. – Yuri brincou e eu empurrei seu ombro de leve. – Mas eu gosto dessa também, a letra é bonitinha.

Nós paramos de conversar para cantar a música de um jeito exagerado, mais uma vez. Sooyoung entrou no carro sem avisar, no meio do nosso pequeno show, e ficou olhando para nós duas como se tivéssemos algum problema.

- Que bonitinhas cantando músicas de veadas juntas. – Falou, mas Yuri e eu só demos risadas. – A cantoria das duas está ótima, nível The Voice, mas poderiam berrar um pouco mais baixo? Tô com dor de cabeça.

- Para sair com a baixinha você não tem dor nenhuma. – Yuri disse e eu ri.

- Você para ou eu te exponho. – Sooyoung reclamou e Yuri sorriu amarelo para ela. Eu neguei a cabeça para as duas. – A Jessica que vai dirigir hoje? Duvido que a gente saia do estacionamento viva, ou sem parar na cadeia.

- Duvida? – Eu brinquei ao rodar a chave. O carro tremeu quando o motor foi ligado.

- Oh, eu estava brincando! Não faz isso! – Sooyoung pediu e eu voltei a chave para a posição anterior. – Cadê a Fany?

- Na aula ainda. – Yuri respondeu. – Ela deixou a chave com a Sica para a gente não ficar esperando do lado de fora.

- Nossa, que amorzinho ela é. – Sooyoung jogou as costas contra o banco. – Diz pra Fany que eu sou magrela e alta, mas não sou castiçal.

- Vai se ferrar e escolhe uma música para colocar aí. – Yuri falou ao passar seu celular para o banco de trás.

- Vou pôr uma animada, pra sair dessa água com açúcar que vocês escolheram. – Sooyoung disse, com os olhos grudados na tela do celular. Eu e Yuri nos olhamos e rimos da shikshin. Eu duvidava que nossa festa fosse durar muito. Tiffany deveria estar a caminho.

 

...

 

Na sexta, o ônibus estava uma bagunça. A maioria dos alunos, inclusive eu, estava com suas camisas ou jaquetas de Stanford. Eu fui sentada em meu banco preferido - à esquerda, um antes do último -, e tentei ler durante uma parte do percurso, o que não deu muito certo. Todos deviam ter tomado uma xícara extra de café, e por isso falavam alto de mais, além de hora ou outra cantarem com tanto entusiasmo o hino da universidade. Eu acho engraçado como todo mundo parece mais patriota, dando exemplo de competições internacionais, quando seu país está na disputa com um rival. Não que eu esteja reclamando, ou não tenha espírito esportivo, eu só acho divertido.

Como sempre, encontrei com Yuri antes das aulas. Ela tinha a jaqueta da universidade e, sim, Yuri, Sooyoung e Tiffany estavam confirmadas para o jogo. Falamos sobre tudo e sobre nada, antes de irmos à aula. Horas depois, nos encontramos de novo na hora do almoço, dessa vez Sooyoung e Sunny resolveram aparecer. Tiffany estava sempre presente e faladeira. Ela, Sooyoung e Yuri falavam bastante. Sunny também. Eu mais fazia comentários sem graça.

Kris tinha me avisado que seu ônibus chegaria por volta das duas da tarde. Nós cinco estávamos conversando no quad quando eu avisei que iria até o estacionamento para recebê-lo. Yuri disse que viria comigo, Tiffany também, Sunny e Sooyoung concordaram em seguida.

Nós aguardamos alguns minutos e três ônibus de viagem chegaram. Pelo jeito, o estádio estaria lotado. Kris saiu do segundo que chegou, e não foi difícil encontrá-lo, por sua altura. Acenei e ele demorou um pouco para me achar, mais consegui ao chamar seu nome. Ele estava com a camiseta azul de sua própria faculdade.

- Yo, Jess! – Nos cumprimentamos com um toque de mãos. – Preparada pra outra derrota?

- Me diz isso você. – Desafiei e ele riu com sarcasmo. – Aliás, essas são Yuri, Sooyoung, Tiffany e Sunny. – Disse ao apontar para cada uma. Kris reverenciou. Ele tinha mania de fazer isso.

- Eu sou o amigo mais maravilhoso da Jess. Kris Wu. – Ele cumprimentou cada uma com um aperto de mãos.

- É o único. – Eu ri.

- Isso não diminui minha beleza. – Ele brincou e eu o empurrei pelos ombros, seguindo o fluxo das outras pessoas.

- Não liguem pra ele, é assim mesmo. – Eu ri e o empurrei com mais força. Ele quase tropeçou. – Vai logo, se a gente ficar muito longe do campo a culpa vai ser sua.

- Vocês estão vendo como ela é, não estão? – Kris reclamou. – Fala que é toda da paz, mas adora dar porrada!

- Se reclamar você vai me levar nas costas até lá. – Eu ameacei, por brincadeira.

- Querida, eu não estou aguentando nem as minhas pernas, imagina levar tuas banhas. – Kris respondeu à altura.

Eu queria descrever o que as outras três acharam da nossa maluquice, mas, quando estou com Kris, acontece algo que deve acontecer quando você está com seu melhor amigo. São vocês dois, as suas loucuras e brincadeiras que só vocês entendem, e a vergonha alheia de quem acompanha. Sooyoung reclamava de ser usada de castiçal, mas, ficar na companhia de dois grandes amigos, pelo menos para mim, era muito pior.

 

...

 

O que era um pontinho azul no meio do mar vermelho? Kris. Desculpe a piada, mas o estádio estava tão cheio quanto pensei. Nós demos a sorte de ficar em uma altura boa, onde era possível ver todo o campo sem muitas distorções de ângulo, mas não estávamos no meio dele. Nós compramos umas garrafinhas de água, não estava quente, mas o sol era forte àquela hora. Sooyoung achou que seria legal comprar uma bandeira, a qual Sunny usou de coberta, Tiffany fez nela e em Sooyoung riscos vermelhos de tinta, na bochecha. Tentou fazer em mim e em Yuri, mas nós não deixamos. Era amor de mais pela universidade estampar suas cores na cara.

- Quarenta e oito a catorze. – Kris provocou ao gritar o recorde dos Golden Bears contra os Cardinals contra minha orelha.

- Sessenta e três a treze. – Respondi, enquanto anunciavam nas caixas de som que os jogares estravam no gramado. As líderes de torcida faziam a festa e a banda marcial rufava os tambores.

- Você não sabe brincar. – Kris resmugou e eu ri de sua falsa mágoa. As outras aplaudiam os jogadores, como todos os outros.

O hino nacional dos Estados Unidos foi o primeiro a ser executado pela banda. O estádio inteiro cantou, mesmo que nem todos acertassem a ordem dos versos ou na sincronia. Como em eventos esportivos, a versão curta foi reproduzida. Seguindo a tradição, os hinos das universidades também foram cantados. Por motivos de medo, eu suponho, Kris ficou quieto durante a execução do hino de Berkeley, ao contrário de mim. Cantei o de Stanford com muito mais entusiasmo do que o hino nacional, apenas para irritá-lo. Funcionou. Ganhei vários pescotapas e dei altas risadas enquanto tentava cantar.

Hail, Stanford, Hail!

 

...

 

Eu não prestei tanta atenção no jogo, para falar a verdade. Eu não sou tão íntima das regras, mas sei o básico suficiente para entender o que acontecia, diferente de Tiffany e Kris, que ficavam me perguntando a cada segundo. Isso era uma das coisas que dificultava a minha atenção. Sooyoung comprou comida entre todos os tempos e fingiu que ninguém percebeu seus amassos ocasionais com Sunny. Yuri foi quem mais participou do jogo como torcedora. Ela gritou bastante, a maioria delas para xingar os atletas de burros e apelidos semelhantes, mas era só mais uma das várias pessoas que fazia o mesmo. Eu só aplaudia os pontos do time da casa e ria do nervoso dela. E claro, tentei explicar como uma partida de futebol funcionava para os dois novatos.

Como o resultado deve importar mais, Stanford ganhou por uma diferença de pouco mais de dez pontos. Claro que eu não deixaria essa passar. Eu estava provocando Kris desde que saímos do estádio. O clima já era quase frio e o sol ameaçaria se pôr nos próximos minutos. Nós voltávamos ao pavilhão principal a comentar sobre alguns lances, dos quais Tiffany criticava tamanha violência e Yuri a chamava de fresca.

- Eu ainda acho que eles poderiam ser mais civilizados jogando. – Tiffany deu de ombros, quase desistindo, pelo que percebi.

- É um jogo, não diplomacia. – Yuri retrucou. – De qualquer forma, estou pensando em entrar para o time feminino.

- It shall ring and float away; Hail, Stanford, Hail! – E eu? Eu continuava cantando e Kris, irritado. Eu ouvi o lance sobre o time, mas eu já tinha começado a cantar para poder dizer algo a respeito.

- Alguém manda a Jess calar a boca, por favor? – Kris reclamou. Eu parei de cantar para dar risada. – Se você quer que eu aprenda o hino, me mande a letra depois.

- Tá toda animadinha. – Sooyoung disse para mim, eu suponho. Ela vinha atrás de todo mundo, com um dos braços ao redor do ombro de Sunny. – Mas fala sobre isso, Yuri. Acha que sobrevive? Eu vi as meninas do futebol, elas dão o dobro do teu tamanho.

- Não, não desse. O outro futebol, bola no pé. – Yuri explicou. Eu nunca entendi o porquê de americanos chamarem o nosso futebol desta forma, sendo que o europeu usa muito mais o pé para jogar. Era assim para o resto do mundo, afinal. Eu tive um professor inglês que só faltava vomitar quando usávamos a palavra soccer para nos referirmos ao seu futebol.

- São todos uns cavalos, da mesma forma. – Acho que Tiffany gostava de implicar com esportes, na realidade. Yuri ficou quieta, devia ter cansado de discutir. – Enfim, deixem-me perguntar algo a vocês. Quem vai à festa da fogueira?

- Que festa é essa? – Eu perguntei, confusa. As festas costumam ocorrer no evento pré-jogo, eu não sabia nada sobre o que ocorria depois. Eu tinha, sim, conhecimento de algo que envolvia fogueira ou velas, mas esse já havia sido cancelado quase duas décadas antes de eu ingressar na universidade. O motivo eram as salamandras que empestearam a água do local onde era realizada a festa. Deve ter sido engraçado ver as pessoas correndo da água por conta dos bichos. Eu que não chegaria perto do Lago Lagunita.

- É algo que começaram esse ano. Uma confraternização no Arboreto, depois dos jogos. Não é nada de bagunça. – Tiffany explicou e eu assenti junto aos demais. Se bem que acender fogo num jardim botânico não parecia boa ideia. – Vamos? – Lá vinha Tiffany com seus convites festivos. As outras três concordaram com entusiasmo. Eu lancei meu olhar a Kris.

- Você vai? – Eu perguntei e ele negou com a cabeça.

- Se for por causa do ônibus eu te deixo em casa também, não custa nada. – Tiffany se ofereceu. Kris havia nos falado que os ônibus partiam logo após o jogo.

- Não é só isso. Eu tenho o curso mais tarde. – Kris justificou. Ele também fazia mandarim, duas vezes na semana. Krystal tinha uma única aula aos sábados, por mais tempo, como eu fiz por quatro ou cinco anos. – Eu queria, mas não vai dar.

- É uma pena, então. – Eu fui uma das primeiras a parar de andar quando chegamos ao estacionamento. Algumas pessoas já se alocavam nos ônibus, outras conversavam do lado de fora, esperando que anunciassem a partida.

- Fica para a próxima. – Kris também parou de andar e colocou as mãos nos bolsos. – Eu vou já, garotas. Fiquem de olho na Jessica por mim. – Ele brincou e eu também lhe direcionei um sorriso. – Eu aviso para a sua mãe que vai ficar.

- Obrigada. – Agradeci, com o nosso clássico cumprimento de mãos. – E boa aula para você.

- Xièxiè. Divirta-se. – Kris acenou para o resto das meninas e caminhou em direção ao seu ônibus, com as mãos metidas nas calças.

- Zàijiàn! – Respondi no mesmo idioma que ele usou para agradecer, ao balançar a mão. Ele retribuiu bem rápido antes de entrar no ônibus. Senti um peso em meu ombro e encontrei Tiffany a sorrir para mim, à direita.

- Como se diz “hora da festa” em chinês? – Perguntou-me com um sorriso de canto.

 

...

 

Foram inteligentes o suficiente para deixarem a fogueira em uma área em que as árvores estavam afastadas. Como esperado dos alunos de Stanford. Deixando a ironia de lado, não havia tanta gente assim por ali. Os atletas e a turma do esporte, o que incluía as líderes de torcida e a banda, tinham a própria festa, não me pergunte onde. O local onde estávamos ficava próximo ao Mausoléu, inclusive.

O clima no Arboreto era bem mais tranquilo do que eu imaginei que estaria acontecendo na outra festa pós-jogo, mas ainda sim se via bebidas e cigarros – e outras coisas -, indo de um lado para o outro. O entretenimento era um grupo de caras que compartilhavam um violão, as labaredas da fogueira e a natureza. Ninguém ali ligava para a última coisa.

Estávamos sentadas em um dos vários troncos tombados que estavam ao redor da chama. As pessoas conversavam entre si, sentadas, como nós, mas a maioria estava em pé. Também sempre tem gente para fazer alguma macaquice, como pular sobre a fogueira. Garotos têm esses desafios idiotas.

Tiffany e Yuri foram as que se ofereceram para arranjar bebidas para a gente, Sooyoung ficou encarregada de ir comprar marshmallows. Não sei onde ela conseguiu arranjar os doces, mas as três tiveram sucesso em sua missão. Nós cinco nos distribuímos no mesmo tronco. Tiffany no meio, Sooyoung e Sunny de um lado, Yuri e eu do outro. Eu estava em uma das pontas, enquanto Sooyoung ocupava a outra.

Nós conversamos, comemos e bebemos bastante enquanto o clima no lugar ainda era mais calmo. Tiffany falou sobre as aventuras do curso de veterinária, como colocar as mãos em partes estranhas de animais e as brigas de sua turma; Yuri engatava no assunto para falar de suas próprias coisas e amigas, chegou a mencionar de novo o assunto sobre esportes; Sooyoung sempre achava uma brecha para tirar com a cara de Yuri; Sunny ria e fazia alguma coisa melosa ou fofa de mais, que sempre me davam nos nervos. Pelo menos agora elas eram voltadas para Sooyoung, em sua maioria. Eu mais ouvia e bebia, com poucos comentários. Marshmallow não é minha parada.

Como quase sempre acontece quando você reúne um bando de jovens para comemorar algo, mesmo que o intuito fosse calma e natureza, surgiu alguém com grandes caixas de som que brilhavam com suas luzes azuis, quase púrpuras. Já não mais parecia um luau, e sim uma baladinha exótica em um bangalô no campo, sem a parte da casa.

A festa começou a esquentar, e não era só pela fogueira ou álcool. A turma começou a dançar e, como era de se esperar, Tiffany não continuou sentada por muito tempo. Tentou chamar a mim ou a Yuri para acompanhá-la, mas não teve sorte dessa vez. Contudo, ela conseguiu alguém que a acompanhasse. Não deve ter dançado sozinha por mais de cinco minutos. Sunny e Sooyoung continuaram conversando conosco por bastante tempo até que resolveram se divertir um pouco mais também. Sobramos eu e Yuri observando a festa e falando sobre coisas aleatórias.

- Eu acho engraçado como Tiffany sempre reclama que ninguém a quer, mas ela chuta todo mundo que se aproxima. – Yuri comentou. Acompanhei seu olhar e encontrei Tiffany a falar sério com o garoto que antes dançava com ela. Ele parecia desanimado agora.

- Não é? – Eu concordei, com um rápido gole na boca da garrafa. Cerveja não era a minha praia, mas era isso ou sede. – Por isso eu não dou tanta atenção quando ela fala disso.

- Eu diria que ela às vezes tem um gosto um pouco estranho, mas também não sei o que ela quer. – Yuri também bebeu um pouco. Suas bochechas estavam meio rosadas.

- A Taeyeon. – Eu respondi, com uma risada. Tiffany podia dizer que havia superado, mas eu nunca acreditei nisso.

- Olha, eu não a conheço, mas só pelo que vocês contam, eu já não fui com a cara dela. – Yuri confessou com uma careta. Era compreensível. Se Tiffany te contasse a história, um dia, você iria entender. Ou querer bater nela por ter sido tão idiota.

- Você iria a odiar, então. – Comentei. Eu não sou de desgostar das pessoas. Talvez implicasse com algumas, como era o caso de Sunny, mas Taeyeon era a minha exceção. – Eu não me estresso com gente, mas ela era um caso à parte.

- Ela ainda estuda aqui? – Yuri perguntou. Mais cerveja para dentro.

- Uhum. Evite o prédio de engenharia. – Meu ódio não era tão grande, mas eu gosto de brincar com as coisas. – Tiffany precisa de alguém junto dela para ela parar de tentar juntar outras pessoas. Eu e você, Sooyoung e Sunny... Nós não somos especiais.

- Ela faz com todo mundo? – Yuri riu com sua pergunta e eu bebi mais um pouco ao aquiescer.

- Basta ela cismar com as pessoas. Tiffany adora ser cupido.

- Bem, Sooyoung e Sunny deram certo. – Yuri apontou com o queixo para onde as duas estavam.  Sooyoung tinha suas costas apoiadas contra o tronco de uma árvore e Sunny estava grudada ao seu corpo. Trocavam carícias bem melosas.

– Por enquanto. – Eu disse, ao observar. Elas não faziam um casal ruim, ao todo, mas não sei se Sooyoung aguentaria Lee Sunkyu por muito tempo. Ela era do tipo grudento e dramático. Fica chato com o tempo.

- Você não gosta dela, não é? – Yuri riu ao me perguntar.

- Não é isso. Ela só é esquisita. – Yuri riu com a minha resposta e nós duas viramos mais um pouco de cerveja.

- Um pouquinho. – Yuri disse, quando estava com a boca livre. – Com uma esquisita ou não, pelo menos Sooyoung conseguiu dar uns beijinhos dessa vez.

- Ela pode ficar com os beijos, eu estou bem. – Eu ri com sarcasmo. Yuri riu pelo nariz e nós ficamos em silêncio por um bom tempo. Eu queria observar as chamas, mas havia muitas pessoas na frente. Yuri terminou sua garrafa de cerveja e eu deixei a minha a um dedo de terminar.

- Jessica. – Yuri me chamou. Meus olhos encontraram os seus. Ela não me chamava muito de Jessica depois de “Sica”. Yuri ficou em silêncio olhando para mim. Suas bochechas pareciam mais coradas agora. Eu balancei a cabeça, para que continuasse. Seu braço esquerdo envolveu minha cintura e ela se aproximou mais de mim. Eu só percebi que não inalava mais ar depois de uns segundos. Eu deveria ter previsto isso.  – Se não quiser, pode me empurrar.

Eu estava meio tonta para fazer algo além de observar seu rosto, cada vez mais próximo. Eu deveria estar com a boca entreaberta, pois os lábios de Yuri logo envolveram os meus, devagar, o inferior seguido do superior. Senti a região formigar com o contato, e não soube dizer se o gosto de cerveja vinha de minha boca ou da sua. Yuri voltou ao meu lábio inferior e, dessa vez, eu copiei seus movimentos.

Yuri levou a sua mão livre até minha bochecha enquanto nossos lábios continuaram a se conhecer daquele modo. Eu sentia as maçãs de meu rosto mais quentes e, dessa vez, a bebida não era a culpada. A mão de Yuri foi lenta até minha nuca e eu senti um toque macio a mais sobre seus lábios. Com um suspiro e confiança que não faço ideia de onde tirei, abri meus lábios o suficiente para que sua língua passasse entre eles.

Para ser honesta, eu não sei se fiz certo, mas espero que sim. Eu deixei que Yuri começasse os seus movimentos para imitá-la em seguida. Eu não acredito que tenha sido ruim, mas não tenho experiência ou credibilidade para julgar, ainda mais no estado em que me encontrava. Pelo menos havia me deixado desinibida o suficiente para corresponder à altura. Por outro lado, meus movimentos eram ainda mais imprecisos do que deveriam ser.

Bom ou não, assim que o primeiro beijo terminou, Yuri não demorou a juntar nossos lábios novamente, e eu a acompanhei de imediato. Dessa vez, já não éramos tão hesitantes, ela já segurava em minha cintura com mais confiança e o ritmo entre nossas bocas não era tão delicado. Foi mais prolongado também, e teria seguido se Sooyoung não tivesse nos interrompido ao cantar minha música favorita da Katy. Eu ri, ao me afastar, de sua idiotice. Yuri conseguiu ficar ainda mais vermelha ao desviar o olhar, e eu tinha certeza que eu estava no mesmo estado, mesmo que estivesse rindo de Sooyoung.

- Querem? – Perguntou, ao mostrar um espeto com várias rodelas de maçãs fincadas nele. – São assadas.

- Obrigada. – Eu peguei uma, mas Yuri parecia querer enfiar o espeto em outro lugar de certa pessoa.

- Soo! – Sunny disse enquanto voltava com mais duas garrafas de cerveja. Sooyoung saiu de trás de nós e se sentou ao lado da baixinha num instante. Eu olhei para Yuri e tentei dar um sorriso rápido antes de desviar o olhar. Era a hora de a vergonha tomar conta.

 

...

 

Enquanto estávamos indo embora, nem Sooyoung, nem Yuri tocaram no assunto. Tiffany, se tinha visto ou notado alguma coisa, não teve a oportunidade de perguntar ou me provocar. Bastou Yuri e Sooyoung estarem em suas casas e o carro ter ficado em silêncio que o fato de eu ter acordado às cinco da manhã junto à cerveja fizeram seu trabalho. Eu dormi durante todo o percurso, e só fui acordar quando Tiffany balançou meus ombros com certa insistência. Abri os olhos e vi que já estava em frente à minha casa. Poderia ser sempre assim.

- Até segunda. – Agarrei a minha mochila e saí do veículo. Ouvi a risada de Tiffany e um “até”, depois o barulho do carro ao se afastar.

Subi os degraus até a porta e tirei a chave do bolso da mochila depois de um tempo procurando por ela. Não foi difícil acertar a fechadura, para a minha sorte. Meu pai estava assistindo televisão com minha mãe, Krystal estava jogando com meu laptop em uma mesa ao canto, mas hora ou outra olhava para a televisão também. Cumprimentei a cada um deles, começando por Krystal, que estava mais perto.

- Pensei que chegaria mais tarde. – Minha mãe comentou enquanto eu me afastava. Meus país e Krystal eram as exceções para os beijinhos na bochecha.

- Não. Eu estava cansada. – Cocei a nunca e fui até as escadas. – Eu vou subir e dormir, eu estou morta de sono. – Tentei soar o mais natural possível, mas não sou boa mentirosa. Não era bem sono.

- Vai dormir sem jantar? Nada disso. Pode voltar pra comer alguma coisa. – Minha mãe falou. Eu pisquei duas vezes e sorri. Minha barriga estava mesmo roncando.

- Certo. – Eu corri para cima e não caí. Pelo menos eles tinham acreditado que minha cara de leve porre era sono. Eu iria para um banho gelado, e rezava para que o dizer popular estivesse certo.

Não sei o quanto daquilo era verdade, mesmo depois da minha experiência, mas pelo menos me senti mais desperta. Comi algo leve, pois eu realmente pensava em dormir mais cedo hoje. Jantei na sala, enquanto meus pais discutiam sobre a novela e eu tentava não pensar muito nos acontecimentos da festa. Rir em frente aos pais sem aparente motivo sempre causa estranheza.

Minha mãe me pediu ajuda para arrumar a cozinha e, depois disso, voltei ao meu quarto. Krystal me devolveu o computador, e eu o usaria por algum tempo, até que o sono viesse me perturbar mais uma vez, e eu sabia que ele viria. Devo ter escrito por algo em torno de uma hora e meia quando decidi desligá-lo. Mais meia hora para me preparar para dormir e estava de volta à cama.

Eu encarei o teto por um bom tempo. Na verdade, tempo de mais para quem estava babando no carro durante a volta. Eu me revirei algumas vezes até que ouvi o celular vibrar contra o colchão. Havia esquecido que tinha o deixado sobre a cama. Sua luz era a única acesa quando liguei a tela e vi a foto de Sooyoung. Não fazia ideia do que a shikshin queria à uma hora dessas.

- Oi? – Atendi ao telefone ao colocá-lo sobre a orelha.

- E aí, amiga, tudo bem? – Sooyoung respondeu. Eu podia imaginar seu sorriso enquanto falava. – Te acordei? Foi mal ligar do nada.

- Não, tudo bem. Me ligou só pra saber como estou? – Perguntei ao rir. Arrumei-me na cama de modo que segurar o celular fosse mais confortável.

- Vim me desculpar por ter te interrompido com a Yuri. Mentira! – Ela riu e eu fiz o mesmo. Mordi o lábio sem perceber. – Estava com saudade da tua voz de golfinho. Okay, mentira também. – Eu revirei os olhos pela enrolação. – Falando sério agora, é sobre as brincadeiras com você e Yuri. Eu nunca parei para falar, mas se você achar que eu passei dos limites é só gritar comigo.

- Relaxa. Não tem problema. – Eu segurei um bocejo para não apressá-la a desligar.

- Quero te perguntar uma coisa também. – Eu sabia que ela prolongaria o assunto. – Você gosta da Yuri? – Eu fiquei quieta por um tempo, pensando no que pensar, na realidade.

- É complicado, mas... Talvez? – Respondi, do jeito que se passava na minha cabeça ou como eu acreditava que fosse.

- Talvez?! – Sooyoung ficou decepcionada. – Tudo para você é “talvez”, “sei lá”, “eu acho”. Quero uma resposta decente dessa vez.

- Se Sócrates dizia isso, quem sou eu para saber de algo? – Brinquei, mas dessa vez Sooyoung pareceu não aprovar.

- Qual é, Jessica! Fala para mim, eu prometo que fico de bico fechado. – Tentou me convencer, mas seria mais difícil do que aquilo.

- Eu juro que te dava uma resposta, caso tivesse certeza, mas ainda não é cem por cento. - Eu suspirei antes de continuar. - Talvez uns... Oitenta? – Ouvi a risada de Sooyoung.

- Certo, chata. Não vou te encher mais o saco por hoje. Liguei porque estava com preguiça de digitar. – Eu ri para sua confissão. – Boa noite, dorminhoca.

- Espere. Minha vez de fazer uma pergunta. – Disse rápido antes que ela desligasse. – A Yuri... Ela gosta de mim, não é? Ao menos sente alguma coisa? – Achei que a curiosidade fosse apenas para saber se eu estava certa ou não.

- Eu juro que eu te dava uma resposta, caso tivesse certeza, mas eu também tô nuns oitenta. – Sooyoung me imitou. Eu quis ficar irritada, mas não consegui não rir. – Vai dormir, vai. Beijinho.

- Boa noite, shikshin. – Me despedi e Sooyoung encerrou a ligação. Aproveitei que já estava com o celular em mãos para ver as notificações por uma última vez. Tinha uma mensagem de Yuri, de uns cinco minutos atrás, em meio as outras coisas. Sorri ao clicar sobre o seu nome e ao ler o conteúdo da mensagem.

“Ei, Sica. Boa noite.”

Eu digitei a resposta e permaneci com os lábios repuxados mesmo quando o celular foi desligado. É, eu estava ficando um pouco abobada. Eu esperava que isso não fosse o problema, dali para frente.


Notas Finais


Someplace do Jake Bugg: https://www.youtube.com/watch?v=-rJ_p87S2_4
Slide, do mesmo cantor: https://www.youtube.com/watch?v=oWOGwSeVQR8
Hot N Cold. Clássica: https://www.youtube.com/watch?v=kTHNpusq654
Unconditionally. Eu realmente gosto dessa músca: https://www.youtube.com/watch?v=XjwZAa2EjKA

Bastante coisa aqui em baixo hoje. O especial estará no ar assim que eu aprontar as notas, então, até lá.


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