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História Nove Meses - 36. A dor da verdade


Escrita por: Mell_Uchiha

Capítulo 40 - 36. A dor da verdade


No capítulo anterior:

“Tentei me manter acordado, para saber que merda era aquela que estava dizendo. Entretanto naquele momento aquilo se tornou uma tarefa impossível. Finalmente apaguei com um último pensamento:

Como poderia eu ser o pai daquela criança?”

 

Capítulo 36 — A dor da verdade

Lucy Heartfilia

       Estava inteirando o segundo dia que aquelas paredes brancas haviam se tornado o meu novo lar. Permanecia ali o tempo todo, simplesmente não conseguia me afastar. Estava no quarto de Natsu, sentada ao seu lado, mas ele ainda não havia acordado. Aquilo me assombrava nas poucas horas que conseguia adormecer, onde nos meus pesadelos eu o perdia, na verdade perdia ambos, para sempre. Eu não conseguiria viver com aquilo. Os médicos haviam o induzido ao coma, assegurando-nos que em breve ele estaria bem, no entanto, nem mesmo suas afirmações me mantinham em paz.

A alguns metros do quarto de Natsu estava Virgo, ela permanecia na UTI. A bala que Yukiko disparara havia lhe acertado o pulmão, minha amiga estava entre a vida e a morte, e o horror cobria todo o meu corpo. Orava todas as noites, dias, quando eu não conseguia mais me manter de pé, eu só pensava que Deus poderia manter os dois comigo.

A situação não estava diferente para Igneel, ele, assim como eu, estava em farrapos. Encontrava-se irreconhecível, o homem forte que sempre demonstrou ser, havia se perdido em algum lugar naquele hospital. Talvez entre os corredores que separava Natsu e Virgo.  Ele tinha o filho, e a mulher que amava — Sim, porque não tinha mais como negar isso, não depois de presenciar todo o seu sofrimento quando os médicos lhe informaram sobre o seu estado de saúde. — Ele tinha os dois ali, sua família.

Quando informamos a família de Virgo, a reação foi como esperamos. Eles estavam desesperados, e assim como nós, não arredavam o pé daqui.

Levantei-me quando uma das enfermeiras pediu para que me retirasse do quarto, enquanto ela checava algo que não vim a entender. Na recepção, me deparei com Levy, ela se levantou e veio até mim. Deixei que seus braços me circulassem, e descansei a cabeça em seus ombros. Fazia isso sempre que vinha ao hospital.

Quando nos separamos, tentei sorrir para ela, porém não sei se tive muito êxito. Suas sobrancelhas se franziram e ela me puxou rumo a um local que eu bem conhecia: a cantina do hospital.

— Eu não estou gostando dessa sua aparência Lucy, não se esqueça que você precisa se cuidar em dobro.

— Eu sei, eu só estou... Cansada. — Disse, assim que nos sentamos e ela me trouxe um copo de leite morno. — Ter os dois aqui, isso é tão horrível. Porque eles simplesmente não melhoram logo? Por que está demorando tanto?

— Tudo vai ficar bem Lucy, tenha fé.

Deixei que suas palavras me preenchessem e tentei me prender a elas. Sua mão chegou até a minha por sobre a mesa, e ela a apertou.

— Eu contei para ele Levy, antes de Natsu fechar seus olhos, eu lhe disse toda a verdade. 

Desabafei e mesmo assim sentia-me presa a tantas outras coisas que me atingiam. Mas foi bom, porque eu precisava dividir aquilo com mais alguém que Igneel, alguma pessoa que pudesse me entender. Nesses dias, ele não estava com cabeça para nada.

Ela arquejou e não lhe falei mais nada. Sua mão deu mais um aperto na minha antes de sua voz chegar até mim.

— Se você achou que aquele foi o momento para contar a verdade Lucy, então você está certa. Você fez o que pôde. 

— Eu não tenho certeza, mas quando o vi ali, caído no chão, sangrando, com tantos machucados, eu fiquei com tanto medo Levy. Tanto medo. Medo de perdê-lo. Eu só quis que ele soubesse que essa criança é dele.

Minha mente voltou para o momento em que ele havia me visto com Loke, e eu soube o que imaginara. 

— Natsu! Natsu! Natsu! — Gritei por ele, mas não adiantou, já havia entrado no carro e saído.

Havia me afastado alguns passos, quando Loke chegou ao meu lado. Ele me abraçou, antes de dizer:

— Sinto muito Lucy, eu não queria isso.

— Eu preciso ir vê-lo, eu preciso ir até ele. Natsu entendeu tudo errado, eu sei o que ele deve estar pensando.

— E agora ele sabe Lucy. — Ela me disse. — Nenhuma de nós pode saber quais serão as consequências disso, no entanto, esse momento chegaria um dia, e realmente não sei como demorou tanto. Vocês estão de frente com o futuro, esse é o instante que decidirão o que serão de suas vidas, e independente da opinião de Natsu essa criança que você espera não deixará de ser filho dele.   — Concluiu.

Suspirei e beberiquei mais um pouquinho do leite.

— Não sei o que vou dizer para ele, parece tão surreal a verdade. Eu não sei que o que ele vai pensar de mim Levy, porque mesmo que me doa admitir, ele terá toda a razão se não quiser mais me ver em sua frente. Eu menti por todo esse tempo, e ainda... O que fiz além de me aproveitar dele? Natsu não estava bem, e mesmo assim eu prossegui. Sou uma espécie de mostro também, acho que sempre fui.

Ela sorriu tristemente, compadecida com a minha causa.

— Por mais difícil que esteja sendo, lembre-se do que todo bom clichegista diz: Depois da chuva sempre vem o sol. Acho que isso tem toda razão, ou não se tornaria tão conhecido. Tente pensar assim todas as vezes que os problemas se tornarem grandes demais. E jamais diga-me isso novamente.

— Esse problema, minha amiga, é grande demais.

— Mas não se esqueça que nunca irei lhe abandonar Lucy. — Apesar de toda a situação, senti-me melhor, porque sabia  que ela nunca me deixaria sozinha. 

*

 Era quase nove horas da noite e eles finalmente vieram nos anunciar que Virgo poderia em breve ir para o quarto. Mas essa notícia, que era para ser algo maravilhoso, veio com uma bomba. Infelizmente minha amiga não acordaria agora, e nós não sabíamos quando isso viria a acontecer. Ao contrario de Natsu que estava em um coma induzido, ela se encontrava muito pior.

Em momentos assim costumamos nos perguntar o porquê, parecia tão irreal aquilo acontecer com ela, tão incrivelmente injusto. Meus olhos se encheram de água quando o médico veio informar, e agora, nesse momento, as lágrimas já não se continham no seu lugar de origem.

Meus passos vacilaram até que finalmente sentei no banco. Senti uma dor familiar me atingir mais forte, ele havia se tornado minha companheira nesses últimos dias, e inconscientemente levei a mão até o coração.

Porque? — Foi tudo que consegui pensar.

Senhor Igneel sentou ao meu lado e ergui o olhar até ele. Seus punhos estavam cerrados sobre as pernas, e seu olhar se mantinha em algum canto específico na parede a nossa frente. Ficamos assim, saboreado o silêncio por muito tempo. Não sabia definir o quanto. Em algum momento vi que ele relaxou um pouco e sua cabeça pesou para baixo. Ouvi quando suspirou, e aquilo soou horrível, parecia como se ele estivesse sendo cortado ao meio.

— Lucy você... Deveria ir para a casa. Deixe as coisas comigo agora.

Eu mal acreditei no que disse, não havia chances de deixá-lo sozinho num momento como esse. Eu sabia que com Virgo e Natsu internados, tudo que Igneel tinha era a mim. Eu também não me imaginava sendo capaz de deixá-los ali, os três.

— Eu não conseguiria.

— Você precisa se cuidar. Tem passado tanto tempo aqui... — Ele levantou o olhar para mim e vi quando a dor cruzou seus olhos. — Não quero que nada aconteça a vocês dois também.

Tentei sorrir para ele e lentamente envolvi meus braços ao seu redor. Inicialmente foi estranho, eu nunca havia abraçado Igneel Dragneel por iniciativa própria, no entanto, no minuto que se sucedeu, eu não me imaginei fazendo outra coisa naquele momento. Ele me encarou, surpreso, mas em seguida, senti seu aperto ao redor de mim.

 — Nós estamos bem, não se preocupe. E eles também ficarão, tenho fé. Natsu acordará logo e o mesmo acontecerá com Virgo.

 — Espero que esteja certa Lucy.

 Separamo-nos e vi quando seu celular tocou, ele o atendeu e seu semblante permaneceu inexpressivo por alguns segundos, antes de se contorcer rapidamente.

 — Sim... Deixe-me informado sobre tudo, obrigado Marco.

 Quando terminou, permaneceu com olhar sobre o celular como se o objeto fosse algo muito peculiar, notando minha visão sobre ele, por fim abaixou a peça.

 Marco... Minha curiosidade recaiu-se toda sobre aquele nome, e Igneel pareceu ter percebido, pois respirou fundo antes de me dizer:

 — Você tem muitas coisas para saber Lucy. Não sei se esse é o melhor momento, mas não sei o que pode acontecer se continuar guardando isso. Não sei de mais nada para falar a verdade.

 Assenti, esperando que ele continuasse. Meu antigo patrão olhou os corredores rapidamente, e ao constatar que estávamos sozinhos, vi seus lábios finalmente deixarem as palavras saírem.

 — Tudo começou na noite do casamento de Natsu. — Disse e a simples menção dessa lembrança me preencheu em um misto de raiva e dor. — Max estava voltando para avisar-me que um amigo qual não via já há algum tempo havia acabado de chegar, e queria eu mesmo recebê-lo. No entanto quando estava voltando, a porta da recepção estava impossibilitada e ele resolveu pegar um dos corredores para poder sair pela lavanderia.

 Até o momento nada que o Senhor Igneel me dizia fazia sentido, todavia, continuei quieta, atenta as suas palavras.

 — Foi quando ele ouviu uma conversa suspeita em um dos corredores, pelo fato de estar longe, conseguiu captar apenas algumas coisas, entretanto, que foram o suficiente para colocar a centelha de dúvida que era necessária em minha cabeça. 

 Eu estava prestes a perguntar do que se tratava, mas ele se adiantou.

 — As duas pessoas que conversavam era Yukiko e Lisanna. Elas foram burras o suficiente para conversarem em um lugar tão sujeito a serem ouvidas. E bem, isso aconteceu. Max me noticiou sobre o que ouvira depois que a festa terminou, e eu soube que precisava fazer algo.  Ele me disse que Lisana havia segredado para Yukiko que ninguém jamais poderia saber de algo ou as comprometeria. Ele não compreendeu muito, entretanto mesmo assim já foi um início. Eu pensei em acabar com o casamento, mas naquele momento não tinha certeza de nada, do que era verdade ou mentira, se Max não poderia estar apenas enganado.  E acreditava que apesar de tudo Lisanna estava esperando um filho de Natsu. Mesmo assim, não era viável que essa situação passasse em vão.  

 Questionei a mim mesma o que poderia ser, no entanto, esperei que continuasse.  

 — Diante isso, em alguns cômodos daquela casa foram instaladas câmeras Lucy, e eu as supervisionava do meu próprio computador.

 Não consegui respirar por dois segundos, e quando enfim deixei que o ar entrasse em meus pulmões, senti vontade de sorrir. Mesmo com todo o desastre que nos rodeava, em algum lugar bem lá no fundo, consegui alcançar a mínima felicidade. Sabia o que aquilo queria dizer.

 — Elas tomaram muito cuidado em algumas ocasiões o que não me permitia descobrir muita coisa. Por dias eu esperei encontrar algo, no entanto elas não conversavam muito na mansão. Pelo menos pelo que eu poderia ver.  Esse fator me leva a compreender o quão falhas elas foram a comentar aquilo naquele momento em que descobrimos, Yukiko deveria estar abalada demais para cometer tamanho erro. — Ele olhou para o chão e ali encarou por diversos segundos. — Em resumo tudo o que elas fizeram a Virgo e confessaram está gravado e agora está nas mãos da polícia, nesse momento elas são as mulheres mais procuradas do país.

 — Isso... Isso é...

 — Eu não sei o que isso quer dizer agora, depois do que Yukiko fez ela seria procurada de qualquer forma. De alguma maneira me sinto culpado por tudo o que aconteceu, se eu não tivesse deixado que aquele casamento prosseguisse talvez isso não tivesse ocorrido.

 — Você não tem culpa nenhuma Igneel. E essas são as melhores provas que nós poderíamos ter, sim? — Falei, e ele acenou em concordância.

 Isso significava então que aquelas câmeras poderiam ter alguma pista do paradeiro delas. Talvez os olhos mais atentos da polícia fossem capazes de detectar algo.

 — Ainda tem algo que você precisa saber. — Ele segurou meu braço carinhosamente e aquela atitude me levou a compreender que nada bom viria em seguida. — Ainda não tinha falado nada porque não queria que lidasse com isso agora, você já tem tanta coisa para se preocupar e...

 Meu coração gelou. Realmente era uma coisa muito ruim.  

 — Igneel, por favor. Você está me deixando preocupada...

 — Antes de Virgo ser atingida pelo tiro, todos nós nos deparamos com uma conversa de Yukiko e Lisanna na biblioteca. Elas... É tão horrível dizer isso Lucy, mas elas planejavam roubar a sua criança...

 Eu me afastei e nem mesmo percebi quando fiquei de pé.

 Elas planejavam roubar sua criança...

 Rodeei minha barriga com os braços ao ouvir suas palavras que pareciam surreais. 

 — O-oque? — Tentei, mas a voz falhou.

 Não sei quando, mas Igneel havia se levantado e agora eu respirava contra seu peito. Senti o nó na garganta crescer e me neguei a chorar agora.

 Não podia imaginar o que aconteceria se elas não tivessem sido descobertas, ou o que fariam agora que estavam foragidas. Era impossível pensar no que planejavam, era monstruoso demais. Elas queriam me separar do meu bebê que ainda nem havia nascido e já fora exposto a tamanho perigo. Não sabia se seria capaz de suportar aquilo. Orei naquele momento para que nada de mal acontecesse a qualquer um de nós.

 —Não se preocupe Lucy, elas não se aproximarão de você. E nem de ninguém dessa família, eu não irei permitir que mais ninguém se machuque.

 — Mas e se elas voltarem? — Perguntei em pânico. — Se elas quiserem... Eu não posso suportar isso Igneel, não posso. Elas planejaram algo tão horrível como isso, Virgo foi ferida e Natsu acabou como está por que estava seguindo-as. Ambas são dois monstros.

 — Sim, eu sei. E as duas vão pagar por isso. É uma promessa. 

 Ainda perto, afastei alguns centímetros, sentindo-me protegida ao seu alcance.

 — Esse Marco... Ele tem notícias delas?

 — Nada muito certo ainda. Ele é um detetive particular o qual contratei, e é o melhor de Tóquio, não tem ninguém que não consiga encontrar. Ele irá nos ajudar.

 — Certo...

 Tentei prender meus cabelos em um coque, mas notei que meus dedos tremiam de tal maneira que se continuassem assim não conseguiriam realizar nenhuma tarefa provavelmente nas próximas horas. Experimentei o toque quente e acolhedor do homem a minha frente, e senti quando algo quente escorreu pela minha face.

 — Droga! Eu não queria que isso acontecesse, mas... Mas...

 — Vai ficar tudo bem.  

 Nós fomos interrompidos por uma enfermeira que apareceu repentinamente, ela parecia bem simpática, assim como fora todas as vezes que foi obrigada a me agüentar.

 — O paciente do quarto 225 acaba de acordar, dentro de alguns minutos vocês poderão...

 Não esperei que terminasse, e pouco me importei com as conseqüências que poderiam vir. Corri até o quarto que ultimamente também havia se tornado o meu, e parei com a mão na fechadura. Meu coração palpitou; um misto do que acabara de descobrir sobre o plano perverso que duas pessoas arquitetavam para mim, e o fato de Natsu ter acordado. Foram tantas horas desejando que aquele momento chegasse, e tudo que queria agora era estar ao seu lado. Naquele instante já não sabia por quais motivos chorava, apenas desejava no mais profundo do meu ser que conseguisse vê-lo. E com esse último pensamento abri a porta. 


Notas Finais


Boa noiteee galerinha. Aqui estou eu com mais um capítulo de Nove Meses. Esse foi mais parado sem grandes coisas, mas era necessário depois do capítulo passado. No próximo saberemos mais sobre a reação do Natsu e já deixo avisado que estarei postando na quarta. Peço desculpas pelos erros mais grotescos. Por hoje é isso, espero que tenham gostado.
Beijinhos♥


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