História Noventa & três dias - Caindo em tentação

24/04/2013

*Bônus diário da Michelle*

Querido diário, minhas anotações passadas foram sobre a Karla e só sobre ela né? bom, eu acho que só pensava nela, e depois de tudo que eu te contei as coisas tomaram um rumo tão diferente, minha mãe ainda não superou o fato que a filha dela tem gostos peculiares, ontem entramos numa briga, além dela me proibir de ir pra escola (mas por alguma razão me deixar usar o computador, acho que ela aceita eu conversar com a Karla mas não aceita eu ter contato físico, vai entender) ela também quer saber o que eu acho de começar ir à igreja todo domingo, ela acha que estou doente! Que isso é a tentação que nas orações dela ela sempre pede pra livrar, mas eu nunca fui muito fã de Deus. Então eu disse não, e ela disse que o demônio estava tomando conta da minha alma e que ela não vai deixar isso acontecer, e ela fala muito séria, ela realmente acha que homossexuais são fracos e estão possuindo pelo sangue de Lúcifer, e então eu disse que não, não estava doente não estava caindo em tentação, estava apenas me apaixonando pela primeira vez, e que nenhum Deus pode mudar isso.
  Mas tudo que ela disse foi que não vai ter uma filha lésbica, e ela me deu um tapa na cara, e me ameaçou expulsar de casa caso eu continue me negando a tratamento, e eu estou morrendo de medo do que ela pode fazer, então ontem quando a Karla veio aqui eu segurei minha vontade de beija-lá e a convenci de que não gosto de garotas, não sou lésbicas e ela não passou de um jogo de experimentar, e doeu. Doeu muito ter que ver os olhos dela encherem de lágrimas, doeu saber que eu estava mandando embora a única pessoa que eu queria que ficasse comigo, mas além de todo medo que tenho da minha mãe eu prezo por ela, e eu cuido. Eu não sei se a mãe dela aceita, e ela passou por tanto sofrimento que eu seria incapaz de fazer com que isso a traga mais tristeza, ela pode se convencer que gosta de rapazes, não precisar passar por o que eu estou passando, eu gosto demais dela pra a fazer passar por algo assim, com o tempo a ferida que eu abri se fecha, e ela segue em frente, e ela não sofre.
  Claro que vai fazer falta aquela menina linda com olhos castanhos que trazem paz, e eu nem preciso falar da boca, que parece o interior de uma rosa, e a voz? É tudo extremamente perfeito nela. Mas eu não consigo escolher entre ela e minha mãe, apesar de tudo eu também a amo, mesmo que ela seja tão ignorante assim. E quem sabe amanhã quando eu dizer que ela estava certa e que eu realmente estava caindo em tentação, ela me deixe voltar para a escola? Eu preciso me formar, preciso conseguir sair daqui e talvez a Karla ainda esteja me esperando. E se não estiver, eu a conquisto novamente, mas agora eu simplesmente não posso arriscar ser mandada embora de casa, não quando estou a um ano de ser dona do meu nariz, e voltando pra escola eu vou poder ver a Karla, e isso já é melhor que pensar nela. Mesmo que eu não possa abraçar, beijar, sentir. Eu aceito e vivo com o ideal que me foi imposto, tudo bem apenas olhar pra ela, admirar a beleza e a originalidade, sonhar em ter aquela coisinha pequena e gentil só pra mim.