História Noventa & três dias - Oi Karla

       07/06/2013

Boa noite Elizabeth, eu consegui aquele trabalho na banca da esquina da escola, eu saio da aula e vou direto pra lá, já faz uma semana que minha rotina é: Acordar cedo, estudar, trabalhar, estudar, dormir, acordar cedo...

Eu não quero ser egoísta e reclamar, mas essa monotonia já me enjôo, eu sinto falta de alguma coisa em mim, na minha vida, parece que tenho trinta e quatro anos e estou depressiva com o dia a dia, até hoje, sétimo dia no emprego novo e na minha pausa pro almoço entrou uma garota de longos cabelos pretos vestida com um vestido florido até o joelho com sapatos sujos de lama seca, ela entrou procurando leite, olhos verdes que me traziam aquela nostálgia de alguém que está a muito tempo longe de casa, quando ela foi pagar e disse “Oi Karla” eu soube, eu não havia superado Michelle, por mais que eu diga que sim, ela aparece de tempos em tempos e todo meu esforço pra esquece-lá se vai por água abaixo, e eu não pude me conter em dizer “Oi Michelle” e aquele sorriso de canto que ela me deu logo depois se abaixar a cabeça pro chão com vergonha, provavelmente vergonha do que ela fez comigo.

Ela me perguntou como estavam as coisas, o que eu estava pensando em fazer depois de Setembro, e ficou muito feliz pelos meus planos ela contou dos delas e eu ouvi, eu lembrei automaticamente o quão inteligente e inspirada ela é, e nos rimos e rimos e eu perguntei sem nenhuma coragem se ela queria almoçar comigo no fundo da loja, não era muito mas era o que eu tinha e ela aceitou, felizmente. 

Conversamos como a primeira vez que nos conhecemos, depois de semanas sem contato algum parecia que a única coisa que tinha sobrado ali era a amizade. 

Ela trouxe cigarros e piadas, trouxe inspiração pros rabiscos da minha alma, trouxe umas palavras bonitas e ela apagou o último cigarro como um badboy de cidade pequena encerra os primeiros amores, ela estava trêmula e num silêncio de oito segundos ela disse que não queria me estragar, precisava dizer adeus. E foi agridoce como um primeiro beijo aos oito anos numa tarde ensolarada no meio de novembro no seu vizinho, ela me dá nostalgia sem parar e é incrível o efeito que ela tem em mim, depois de uma hora lá ela pegou seu leite e foi embora, desapareceu ao atravessar a rua, e eu fiquei pensando longos minutos no quanto esse espaço de tempo com ela me deu cor, me deu vontade... E num piscar de olhos ela abriu a porta da banca, o sininho tocou e eu virei pra ver quem era, era ela, ela veio até o balcão e me beijou com todo o amor que se tinha no peito, e apenas um amontoado de madeira estáva separando nossos corpos de se conectarem, mas aquele beijo mudou alguma coisa, e eu senti na palma da minha mão até meus fios de cabelo e unhas do pé, eu senti a energia passar por todo meu esqueleto e chegar até meu coração sussurrando “Você está terrivelmente e estrondosamente apaixonada por Michelle Jauregui” foi o mais perto de magia que eu já cheguei, e mesmo depois do nosso adeus eu soube que não havia terminando, estávamos destinadas a esse encontro e todas as decisões que tomamos ao longo da vida nos levou aquele momento em que minha alma encontrou a alma que estáva procurando, e é a da Michelle não importa quantas vezes eu morra e volte em outro humano, não importa de que matéria ela e eu seremos feitas, não importa o sexo que nos será atribuído, nossas almas irão sempre se reencontrar e é assim que deve ser, pra sempre. Eu a amo. 

Depois de longos pensamentos durante esse beijo e depois dela terminar e voltar, ir e vir todas as vezes ela  me disse o que eu quis escutar. 

“Eu não ligo se minha mãe não aceita jamais a decisão que você me fez fazer, eu não ligo pros olhares estranhos e o perigo que posso nos colocar só por dar a mão pra você, e aliás eu quero dar a mão pra você, eu não estou nem aí pra quem eu ofenda, meu coração precisa de você, e esses dias longe foram suficientes pra eu perceber que tentar não te amar só me fez te amar mais e mais e mais, eu imaginei uma vida em que eu não fosse eu e te encontrava depois de anos, bem de vida enquanto eu estava casada com alguém que eu não amava e foi horrível, eu passei minha vida toda escrevendo sobre o amor e finalmente eu entendi a razão deles lutarem as guerras e perderem a cabeça, essa é uma frase da Taylor Swift, enfim eu estou apaixonada por você, Karla Cabello”

Eu não sei ainda o que aquelas palavras me fizeram sentir além da extrema felicidade, eu a amava ali e agora e eu só quis beija-lá antes do momento acabar.