História Novos começos - Uma condição

Zero estava irritado, lê-se; muito puto mesmo, saia para ir as compras e o que encontrava quando voltava?! Harry ajoelhado no chão esfregando-o, o cão de lajotas negras parecia cintilar e Zero não tinha dúvidas de que poderia ver seu reflexo de tão limpo que o chão estava. 

Após checar com os olhos o resto do corredor e a sala, a qual o corredor de entrada levava, ficara obvio que não só o chão estava extremamente limpo como a casa também. 

- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! - berrou Zero assustando Harry, Zero estava muito irritado mesmo, dissera para o garoto comer algo e descansar e não para esfregar o chão até suas roupas ficassem sujas e manchadas, não só pelo cloro, mas também pelo suor que escorria em abundância pelo rosto do garoto, além disso o pior eram suas mãos, Zero podia ver que estavam vermelhas, contudo não pelo frio que o inverno em Londres fazia, e sim, pelo esforço repetitivo de esfregar o chão. 

Harry sentiu um arrepio na espinha, não havia percebido que Zero chegara. Teria feito algo errado? Teria limpado mal? Não tinha permissão de usar o cloro, panos e baldes que usara? Zero parecia irritado, tal como seu tio ficava quando chegava em casa e Harry não havia feito suas tarefas. O garoto sentia seu corpo tremer devido ao medo e ao frio, suas roupas estavam molhadas por ter lavado o chão. 

- De-desculpa..eu juro...eu tentei limpar bem..eu juro! - disse Harry sentir seus olhos marejarem, não queria apanhar, não queria que Zero tirasse a boa imagem que tinha dele. E embora lá no fundo Harry soubesse que Zero não era capaz de tal coisa, os pensamentos e lembranças das surras que levara do tio não o ajudavam a pensar direito.- nã-não me bate..por favor. - disse ao ver Zero se aproximar irritado e esticar uma das mãos, e automaticamente ao ver isso o garoto fechara os olhos e se encolhera. 

Zero parara no mesmo lugar, estava irritado, o garoto estava molhado no chão úmido no inverno, quando deveria estar de cama, e ver o garoto se encolher e pedir para que não o batesse quando ele se aproximara para tirar o pano das mãos dele tirara toda a raiva que sentia a segundos atrás, raiva essa substituída por pena e tristeza ao constatar que o garoto deveria ter passado por situações horríveis. 

Ao contrário do que Harry pensara, não sentira a dor de um tapa, um chute ou até um soco, mas sim, um corpo quente o envolvendo em um abraço. 

- E-eu...to molhado..- disse o garoto surpreso com o abraço repentino. 

- Francamente, você achou mesmo que eu fiquei bravo com você por 'não ter limpado o suficiente' ou que eu poderia bater em você? Francamente Harry, eu estou mesmo irritado e com uma grande vontade de te dar uns tapas. - disse Zero sentindo o garoto tremer um pouco. - Mas não por esse motivo, eu disse para você ficar de cama, comer e descansar, e quando chego você está fazendo seu corpo trabalhar? Não percebe que isso é perigoso? Olha isso você 'ta todo molhado, quer pegar uma pneumonia? Você é meu...é...hóspede, e não um empregado, olha suas mãos garoto, estão vermelhas de tanto limpar. Por que diabos fez algo assim? 

- Desculpa... - Harry sentia seus olhos marejarem, não acreditava que alguém realmente se importasse com ele a ponto de ficar bravo, não por não ter feito algo direito mas, por não descansar e se alimentar bem. Pela primeira vez sentiu-se seguro e acolhido, talvez essa fosse a sensação de ter uma família, esse sentimento de segurança e aconchego que sentia abraçado por Zero, provavelmente era assim que seus colegas se sentiam ao ir para casa no Natal e ser recebido e abraçado pelos pais e irmãos. 

- Ainda não respondeu minha pergunta, por que fez isso? - disse Zero mais calmo, enquanto acariciava os cabelos negros do garoto agora acomodado em seu colo. 

- Me-meus tios....sempre que eles saiam com meu primo eu ficava para limpar a casa....e se... se eu não limpasse algo direito ou fizesse algo que eles não gostavam eu...ficava de castigo e no pior dos casos levava uma surra do meu tio. Eu sei...sei que você não é como ele...mas é difícil não ter medo de fazer algo que não goste e ...bem...acontecer o mesmo que com meu tio. 

Zero sentia sua raiva aumentar, e não duvidaria se lhe dissessem que seus olhos estavam vermelhos. Como alguém faz uma criança trabalhar até quase desmaiar de exaustão? Ainda por cima seus tios? Sua própria família fazia isso? Ah... mas se encontrasse essas pessoas na rua.. iria mostrar o que era levar uma surra para eles. 

- Bem... você deve estar com fome, eu vou preparar o almoço, enquanto isso... você vai tomar um banho e tirar essas roupas molhadas. - disse Zero tentando mudar de assunto, pensar em seus tios não traria boas lembranças a Harry, Zero sabia disso, lembrar o passado nunca é algo fácil. 

- Mas eu ainda não terminei de lav- Tentou explicar Harry sendo rapidamente impedido de continuar por Zero. 

- Harry! O que eu disse sobre forçar seu corpo a se esforçar? Vamos, você está ensopado e está nevando lá fora, vá para o banheiro tomar um banho quente. Agora! - disse Zero apontando o dedo na direção do banheiro. Suspirando Harry assentiu com a cabeça e andou em direção ao banheiro, após largar o pano molhado dentro do balde. 

 Soltando um suspiro aliviado após Harry finalmente largar aquele pano e ir tomar um banho, Zero levantou-se e ao virar na direção da porta de entrada da casa, na intenção de pegar as sacolas que havia deixado largadas frente a mesma, tomara um susto ao ver Kaname parado na porta com o restante das sacolas, que haviam ficado no carro, nas mãos. 

- Ahn...quando.... a quanto tempo você está ai? - disse Zero sentindo-se corar, não costumava demonstrar afeto com as pessoas, ainda mais na frente de outras, mas não conseguia evitar quando a pessoa era o pequeno garotinho que estava cuidando, e pensar que Kaname havia visto tudo o deixava envergonhado. 

- Tempo suficiente...talvez não tenha sido uma ideia muito inteligente de nossa parte deixar o garoto sozinho.. deveríamos ter levado em consideração seus traumas e o tratamento que recebia de sua 'família' em sua casa. - disse Kaname suspirando cansado, deveria ter pensado na hipótese do garoto fazer algo como isso, contudo estava tão focado em passar mais tempo com Zero, e quem sabe conquista-lo, que negligenciou o garoto. - Zero podia ver que Kaname culpava-se por ter deixado Harry sozinho, e de alguma maneira aquilo fazia seu peito doer. 

- Nã-não foi sua culpa, no fim...tudo que podemos fazer agora é mostrar para ele que bem..nem todos são como aqueles porcos. - disse Zero martirizando-se por gaguejar ao falar com Kaname. O que diabos estava acontecendo com ele? Por que queria consolar Kaname e dizer para o mesmo não se culpar? Por que ficava tão nervoso na presença dele? Não conseguia entender a si mesmo. 

- Sim, tem razão, bem... onde devo colocar isto? - disse Kaname apontando para as sacolas e suas mãos, e no chão também, com a cabeça. 

- Ahn...é..pode colocar em cima da mesa mesmo. - disse Zero meio atordoado, a ultima coisa que esperaria a alguns anos era virar 'amigo' de Kaname, morar na casa ao lado dele, ir junto com ele para a escola e muito menos fazer compras com ele, e agora ali estava ele perguntando onde colocava as compras como uma pessoa normal, que ele não era. -

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 Após o banho, Harry já havia se vestido, colocara a roupa 'menos destruída' que achara em seu malão, seus tios não se importavam com ele e sua saúde, por que se importariam com sua vestimenta?, e descera para almoçar. 

- Então, existe alguém com quem você possa ficar? - disse Zero tentando não soar indelicado ou passar a ideia errada de que não queria Harry em sua casa, na verdade se pudesse evitaria o assunto, mas sabia que deveriam ter pessoas preocupadas com ele. - Devem estar preocupados com você. 

- Duvido muito,. - sussurrara Harry amargo. Tentava não pensar muito em seus amigos e conhecidos, mas era difícil não se sentir traído... desde que descobrira ser bruxo as surras pioraram a tal ponto que as vezes o garoto desmaiava, ainda apanhando, e mesmo quando fugira nenhum de seus amigos o procurara. Quer dizer, ele sabia que seus amigos provavelmente não sabiam onde ele estava, mas mesmo durante as férias, horríveis férias, não recebera nenhuma carta, algumas das suas até voltaram...sentia-se abandonado. Contudo sabia que seus amigos deveriam ter motivo para tal, mas existia alguém que não tinha, Dumbledore, embora Harry evitasse ter esse tipo de pensamento, e sentimento, não conseguia deixar de culpar Dumbledore por todas as cicatrizes em seu corpo, todas as surras, toda dor que ele já havia sentido. Dumbledore o deixou com os tios, ele o deu de bandeja para eles, jamais conseguiria perdoa-lo totalmente, ainda que no fundo gostasse muito dele. 

- Disse algo? - disse Zero, esperava não ter ouvido o que ouvira. 

- N-nada... eu é... tenho amigos, mas todos eles moram...bem...eu não sei explicar como chegar onde moram, minha amiga Hermione mora aqui no mundo trouxa, mas não sei onde, se puderem me levar ao Caldeirão Furado, posso tentar chegar em Hogwarts...talvez algum bruxo possa me levar lá. Só espero não me perder de novo. - falou Harry sussurrando a ultima parte, ainda lembrava-se da vez que disse o nome errado de para onde devia ir e acabara num lugar perigoso, ironia era que havia feito isso novamente. 

- Caldeirão Furado? Se perder? Já se perdeu no....seu mundo? Hogwarts é a sua escola, certo? Por que precisa ir para lá? - disse Zero confuso, já haviam conversado sobre o mundo mágico, mas algumas coisas ainda eram confusas para Zero, 

- Bem, Caldeirão Furado é um bar aqui em Londres, mas não sei onde fica, e sobre eu me perder...uma vez eu viajei com pó de flur, mas disse o nome do lugar errado e fui para em uma parte.....perigosa do beco diagonal, que é meio...que o centro comercial do mundo Mágico, ou algo assim...

- Ah sim, e sobre Hogwarts? 

- Talvez me deixem ficar lá, os dormitórios já devem estar arrumados, as aulas logo começarão.. só espero que não me mandem de volta para a casa dos meus tios...-disse Harry, murmurando a ultima parte, a hipótese de voltar a casa dos tios o assustava, ele havia fugido, deixado assim uma pilha de tarefas a se fazer, não queria nem pensar no que aconteceria com ele se voltasse...

 - ELES O QUE? Por que o mandariam de volta para aqueles porcos? - disse Zero espalmando as mãos na mesa, os 'grandões' do mundo bruxo ou seja lá o que quer que fosse não mandariam o garoto novamente para a casa dos porcos que o machucavam e o obrigavam a trabalhar, certo?... 

- Harry... se importa de ir para o quarto? Preciso ter uma conversa particular com o Kaname. 

- Ah..tudo bem... - disse Harry temeroso, estava nervoso com a reação de Zero, ainda assim o obedeceu e voltou para o quarto. 

 Já sozinho na cozinha com Kaname, que até então estava calado ouvindo a conversa sem intrometer-se( hábito bem comum dele...), decidira que era hora de pronunciar-se. 

- Então? O que quer conversar? - disse ele calmamente. 

- Eu....preciso da sua ajuda. - disse Zero trincando os dentes, sabia que não era hora para agir assim, mas era difícil passar por cima de seu orgulho. 

Levou o silencio de Kaname como sinal para continuar. 

- Não posso deixa-lo voltar para as mãos dos tios...e muito menos ficar nas ruas...eu...eu..quero que Harry fique aqui comigo. - disse Zero de uma vez olhando para Kaname, e se Zero não estivesse tão sério e focado teria rido da reação do outro. 

Kaname não conseguira manter a postura séria e indiferente de sempre, arregalou os olhos perante o que Zero disse. Ele pretendia...cuidar do garoto?! Podia esperar isso de qualquer um menos de Zero. Não que o achasse ruim, mas era difícil imaginar Zero cuidando de uma criança, muito menos um pré-adolescente.

 - Por que esta fazendo essa cara? Eu posso muito bem cuidar dele. - disse Zero irritado, era tão difícil assim acreditar nisso?

- Eu..Sinto muito Zero, não quis lhe ofender, só não imaginei que tomaria esta decisão. Posso falar com alguns amigos, mas ainda assim sera difícil, a situação do garoto parece ser delicada, e não posso deixar de pensar que deve existir uma razão para o ministério o querer morando no mundo humano. 

- Como? O que quer dizer? - disse Zero confuso. 

- Por que deixa-lo com humanos normais? Pessoas que o machucam e que são diferentes dele? Ele ficaria mais seguro com os dele não? É por isso que é tão estranho, só posso pensar que se o deixaram com os tios, que pelo que parecem são inapropriados para cuidar de uma criança, é porque querem esconde-lo...

- Ahn? Mas esconde-lo do que?

- Não do que Zero....de quem. - disse Kaname com uma expressão rígida, havia pedido para Mira conseguir informações sobre o mundo mágico, afinal se o garoto era um bruxo tão forte assim deveria ser conhecido ou pelo menos haver pessoas o procurando, e qual não foi sua surpresa ao saber que o mundo mágico estava uma bagunça por causa do desaparecimento de um bruxo famoso, esperava que fosse uma coincidência, embora no fundo de sua mente soubesse que não era.

Aquele garoto era o bruxo a qual tanto ouvira falar por seus conhecidos, até mesmo os elfos domésticos comentavam-lhe sobre o incrível Harry Potter, ou como o chamavam ' O menino que sobreviveu', o único que sobreviveu ao ataque de um poderoso bruxo das trevas e ainda o destruiu.  E agora Zero queria que o garoto morasse com ele?! O garoto tinha muitos inimigos, seguidores do homem que destruíra, pessoas o queriam morto, outras queriam usa-lo. Se Zero ficasse com o garoto em algum momento iriam ser atacados, ainda assim não podiam deixar o garoto sozinho, ele não tinha culpa disso. Kaname sabia que naquele momento, mais do que nunca, precisava ficar perto de Zero e Harry. 

- Kaname? KANAME! - gritou Zero impaciente fazendo Kaname despertar de seus pensamentos. - Francamente, estou chamando você a minutos, o que houve? 

- Zero, eu vou ajudar você. - disse Kaname o olhando nos olhos. 

- Isso é ótimo, então como vam- Zero começara a falar aliviado por Kaname concordar em o ajudar, mas fora interrompido pelo mesmo. 

- Mas, eu tenho uma condição. 

- Ah, ótimo, claro que tem, o que você quer? - disse Zero bufando. Claro que o maldito Kuran não ia ajuda-lo de bom grado.. o que ia pedir? Para ele implorar? Ficar lhe devendo uma? E ele achando que eram amigos...

- Zero, eu quero.... - começara Kaname, logo parando e respirando fundo, preparando-se para o berro que sabia que viria. - Eu quero que Harry e você venham morar comigo na minha mansão. 

- O QUE?! - gritou o albino como Kaname suspeitava que aconteceria, e provavelmente deixando qualquer humano em um raio de dois km surdo.