Da sacada do castelo Jooheon observava a multidão de alfas se aproximando. Sua expressão se tornou fria e indecifrável. Fechou os olhos e farejou o cheiro que o exército lupino emanava.
— Alguns deles são puros. — disse a Kihyun, que estava a seu lado observando com satisfação a chegada dos inimigos.
— São tão fortes quanto você? — o vampiro perguntou olhando o servo de cima a baixo.
Jooheon deu um sorriso convencido.
— Eles não descendem do Grande Lobo.
— Ótimo. — Kihyun deu-lhe um tapinha nas costas. — Agora vai pegar sua katana e se preparar pra carnificina. — deu um sorriso mau e se afastou.
O servo assentiu e foi até o porão, onde estava sua arma. Pegou-a e treinou rapidamente alguns golpes, ansioso por ter à sua frente corpos reais em quem enfiar a poderosa lâmina.
Após isso subiu e passou no quarto de Changkyun, que estava brincando de fazer rap. Observou-o por um tempo e então pigarreou para chamar a atenção do garoto, que correu e pulou em si, dando-lhe um abraço carinhosamente apertado.
— Isso é… — o ômega apontou para a espada de Jooheon com um olhar curioso e maravilhado.
— Uma katana. — mostrou-lhe a arma.
— Posso pegar?
— Sim, mas com cuidado.
Changkyun então a pegou segurando-a de forma desengonçada, o que fez o servo rir.
— Assim, olha. — pegou nas mãos dele, por trás, ajudou-o a segurar da forma correta e lhe mostrou como fazer alguns golpes.
— Isso é incrível. — os olhinhos do ômega brilharam.
Jooheon, no entanto, não podia ficar muito tempo ali pois tinha um exército enfurecido de lobos para derrotar.
— Chang… — acariciou o rosto do garoto. — Não saia do quarto até eu voltar e dizer que é seguro, ok?
O semblante de Changkyun exibiu um grande ponto de interrogação.
— Por quê?
O servo o abraçou forte e em seguida o soltou, pegando a katana.
— Hoje é dia de usar isto. — indicou a arma.
— O que está acontecendo?
— Guerra.
O ômega viu no olhar de Jooheon que aquilo não era brincadeira e sentiu um grande medo percorrer-lhe a espinha.
— Heoney… — segurou-o pelo braço quando ele se virou para partir. — Se esta é a última vez que estamos nos vendo, quero que saiba que te amo. — dizendo isso o puxou para um beijo, que foi docemente correspondido.
— Não vai ser a última vez, eu prometo. — Jooheon sussurrou em seu ouvido enquanto o abraçava.
Soltaram-se e o servo caminhou ameaçadoramente para fora, saindo do quarto.
Mas em seguida voltou.
— I’m. — o garoto olhou-o surpreso por ele novamente voltar. — Saiba que eu te amo também. — piscou e sumiu de vista.
Changkyun sentiu suas pernas bambearem e caiu na cama com a sensação de borboletas voando em seu estômago. Suspirou e fechou os olhos exibindo um grande sorriso.
***
— Hyungwon! Minhyuk! Taehyung! Jimin!
A poderosa voz de Kihyun ecoou por todos os cantos do castelo quando ele, no grande salão de baile, chamou por seus irmãos. Um a um eles foram aparecendo, juntamente com os três alfas, mas para eles o vampiro fez cara feia e em seguida os ignorou. Virou-se para os irmãos e sorriu calorosamente abrindo os braços para recebê-los em um grande abraço.
Hyungwon hesitou por um momento, mas logo se juntou aos quatro e então todos os vampiros estavam unidos.
— Meus irmãos, a guerra finalmente chegou e nós somos os únicos sobreviventes da raça vampírica. — disse Kihyun. — Nós não somente queremos vencer, nós temos que vencer e vingar cada gota do sangue derramado de nossos ancestrais. Somos tudo o que eles têm agora.
Os vampiros ouviam atentos.
— Não tenham medo. — Kihyun prosseguiu. — Eu sei o que estou fazendo.
— E se a gente não fizesse a guerra? — propôs Minhyuk com um olhar sonhador, fazendo seu irmão lançar-lhe um olhar de reprovação. — A gente podia propor aos lobos um acordo de paz e anistia.
— Anistia? — Kihyun disse com um tom debochado.
— É, ué. Ninguém morre, todo mundo sai ganhando e a gente vive em paz.
Kihyun hesitou por um momento tamanha era a babaquice que havia acabado de ouvir. Por fim disse:
— Minhyuk, cala a boquinha. — gentilmente desfez o abraço. — Isso não vai acontecer. — começou a subir a escada.
Os quatro loiros, com um semblante preocupado, acompanharam-no com o olhar.
— Confiem em mim, nós vamos vencer essa guerra. — disse Kihyun com um sorriso orgulhoso e o olhar brilhante antes de sumir lá pra cima.
Os vampiros estavam apreensivos.
— Estou sentindo o mesmo medo que senti aquela noite. — disse Jimin.
Taehyung e Minhyuk abraçaram o caçula para confortá-lo.
— Dessa vez é diferente, Mochi. — disse Minhyuk.
— O Kihyun vai proteger a gente. — disse Taehyung.
Jungkook logo se juntou a eles e abraçou seu amado. O mesmo fez Hoseok.
Hyungwon sustentou sua expressão fria.
— Não sou tão otimista quanto ele. — disse aos irmãos. — Estejam preparados para o pior.
Dito isto, saiu dali acompanhado por Wonho.
Minhyuk, Taehyung e Jimin olharam para Hoseok e Jungkook, dois representantes da raça inimiga. Sentiram-se divididos e o mesmo sentiu os alfas, pois ainda que a natureza os tivesse colocado em lados distintos, todos eles queriam estar do mesmo lado.
— Eu vou ir ver minha amada. — disse Minhyuk indo em direção à porta.
— Você tá louco?! Os lobos estão vindo. — Taehyung tentou impedi-lo.
— Talvez eu morra hoje, Tae. Não quero morrer sem vê-la. — dizendo isso, saiu do castelo para seguir o caminho que conhecia tão bem.
Restaram Taehyung e Hoseok, Jungkook e Jimin e ambos os casais decidiram se separar, indo cada qual para um lado.
***
Kihyun subiu até a torre mais alta e afastada e a adentrou carregando um pequeno baú. O local era pouco visitado e ainda conservava-se cheio de teias de aranha e poeira, pois ninguém havia entrado lá desde que voltaram. Colocou o baú no chão e o abriu, tirando de dentro dele 5 grossas velas vermelhas, uma fina vela preta, uma caixa de fósforos, uma adaga de prata com um grande K decorado em seu cabo e um saquinho com a terra do Cemitério Sagrado dos Lobos Puros, local protegido por um sigilo anti-vampírico.
— O que eu faria sem você, Jooheon? — sussurrou. — Mas também, o que você faria sem mim? — sorriu.
Varreu o centro do aposento com uma vassoura velha e desenhou ali, com a terra, um pentagrama. Com as 5 velas vermelhas formou um círculo ao redor do desenho e, uma a uma, as acendeu com os fósforos. Deixou a vela preta guardada perto do círculo, porém do lado de fora dele, e colocou a adaga dentro do bolso interno de seu longo sobretudo. Olhou bem para o cenário que havia montado e, orgulhoso de si mesmo, saiu de lá rumo a um destino certo.
***
Minhyuk estava pulando de galho em galho e agradecendo aos céus pela frente do castelo ficar na direção oposta do campo onde morava a garota que lhe roubou o coração, dessa forma seu caminho estava tranquilo. Lembrava-se de ter limpado o sangue do dedo que ela espetou no espinho da rosa e enfiou a mão no bolso para ver se não tinha esquecido o lenço que bordara para ela com suas iniciais:
K.D.K.
Minha preciosa
Ficou satisfeito ao ver que ele estava ali, porém acabou se desequilibrando e caindo do galho onde se encontrava, um que era realmente alto. Com o tombo sua visão se escureceu completamente por um momento, mas rapidamente se recuperou da tontura.
Só que, ao tatear o chão para se levantar, acabou tocando nos sapatos de alguém. Levantou o rosto para ver quem era e então percebeu que estava cercado por híbridos lupinos vestidos de forma semelhante à garota que amava. Seu corpo tremeu mesmo estando congelado de medo.
— E-eu gosto de lobos, t-tenho amigos que são… — tentou dizer mesmo com a voz falhando e suas presas involuntariamente crescendo.
O lobo do qual tocara os sapatos chegou o rosto perto e rosnou para Minhyuk.
— E-eu vou m-morrer? — o vampiro perguntou se encolhendo todo.
— Vai! — o lobo respondeu.
Minhyuk então se levantou rapidamente e começou a correr.
— Kihyun! Kihyuuuuun! Kihyuuuuuuunun!!! — gritava desesperado. — Socorrooooooo!
Os lobos, porém, foram mais rápidos e conseguiram capturá-lo, levando-o sem dificuldade para algum lugar desconhecido mesmo com ele se debatendo feito louco.
— Kihyuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuun…
Logo sua voz de tão longe não pôde mais ser ouvida.
***
Hyungwon foi até a sala de música e começou a tocar o piano e a cantar melancolicamente.
Hide my head
I wanna drown my sorrow
No tomorrow
No tomorrow
Wonho, entristecido, sentou-se a seu lado e começou a acompanhar a canção.
And I find it kind of funny
I find it kind of sad
The dreams in which I’m dying
Are the best I’ve ever had
Subitamente o vampiro parou e puxou o alfa para um beijo.
— Eu sempre soube que não poderíamos ficar juntos, desde o começo. — sussurrou em seu ouvido. — Um de nós dois vai morrer hoje e… — segurou o rosto do alfa delicadamente com as mãos e uma lágrima escorreu em sua face. — ...e eu não quero que seja você.
Wonho o abraçou apertado.
— Nenhum de nós vai morrer hoje, não diga isso. — sussurrou-lhe com os olhos cheios d’água.
Hyungwon aproveitou cada segundo daquele abraço e então o desfez.
— Vamos cantar. — disse e voltou a tocar o piano.
O alfa, por sua vez, tomou-lhe as mãos e as segurou com carinho, olhando em seus olhos.
— Não se sinta desamparado, eu estou aqui com você.
O vampiro deu um sorriso melancolicamente sem esperança e segurou fortemente as mãos de Wonho.
— Ao menos não vou morrer sem ver o brilho do sol… — olhou em seus olhos
Dizendo isso começou a cantar novamente e o lobo o acompanhou, semelhante aos violinistas em um afundoso Titanic.
***
Jungkook e Jimin haviam se trancado em um dos quartos e o vampiro estava assustado. O alfa o abraçou e ambos se sentaram no cantinho frio, pois não havia cama ali.
— Eu vou te proteger. — o lobo disse com uma expressão séria enquanto acariciava os cabelos loiros de Jimin.
Na extremidade oposta estava Hoseok e Taehyung igualmente trancados em um quarto sem cama e abraçados no cantinho.
— Eu vou te proteger. — disse Hoseok deitando a cabeça no colo do vampiro, que riu divertidamente.
— Sei que vai, Hobi, sei que vai...
***
Lá fora Jooheon estava cercado por lobos que rosnavam para ele, mas ainda assim mantinha um sorriso triunfante e debochado.
— É sério que demoraram todo esse tempo pra reunir míseros três Maiors? — disse à eles em um tom provocativo. — São os únicos lobos puros existentes? — debochou apontando a katana para cada um dos três que o cercavam.
— Não nos subestime, Renegado. Não somos como aqueles alfas patéticos que você pode vencer apenas com o mindinho. — um deles rosnou em resposta.
— Estivemos procurando por você. — disse outro.
— Não foram os únicos. — Jooheon piscou e então os três Maiors se transformaram em enormes e belos lobos de pelo cinzento com traços humanóides, pulando em cima dele.
Jooheon tentou bloquear o ataque com a katana mas ainda assim levou um profundo corte na região das costelas. Isso, porém, não o impediu de lutar bravamente contra seus inimigos.
***
Changkyun estava tranquilamente deitado em sua cama quando Kihyun abriu a porta e chamou seu nome.
— Você? Nossa tem tempo que eu não vejo você. — o garoto disse sorrindo correndo para abraçá-lo.
— Sentiu minha falta? — Kihyun esboçou um sorriso maldoso.
— Senti. — o ômega respondeu inocentemente.
O vampiro delicadamente desfez o abraço.
— Vem comigo.
Tentou puxar o jovem híbrido pelo braço, mas ele se manteve firme no chão, fazendo o vampiro se irritar por dentro.
— O Jooheon disse que não era pra eu sair daqui.
Kihyun conteve uma bufada e tentou manter seu semblante amigável.
— Hm… — hesitou. — O Jooheon me pediu pra buscar você. — disse com um sorriso doce que aos poucos foi se tornando mau.
Changkyun ainda assim não se mexeu.
— Pra onde eu devo ir então? — estava meio apreensivo.
— Venha e eu te mostro. — o vampiro estendeu a mão ao ômega, que a olhou por um momento sem saber o que fazer, mas então se decidiu.
Pegou na mão de Kihyun, fazendo-o enlarguecer o sorriso mau. O vampiro então foi levando-o por um caminho que ele não conhecia. Estavam subindo mais escadas do que jamais subira em toda sua vida e ainda assim não chegavam logo.
— Onde é? — o ômega perguntou com receio.
— Você vai ver.
O caminho todo estava silencioso e não encontraram ninguém. Por fim chegaram a uma porta e Kihyun a abriu de forma suave.
— É aqui.
Changkyun entrou e viu que no chão havia o desenho de um pentagrama desenhado com uma espécie de terra preta e ao seu redor grossas velas vermelhas acesas formavam um círculo. Observou atentamente o que via e tentou entender, mas não conseguiu.
Virou-se para perguntar a Kihyun o que aquilo significava e se deparou com ele a um palmo de distância de si encarando-o com um olhar gélido. Começou a sentir uma dor terrível no coração ao passo que sentiu um líquido quente escorrer-lhe pelo corpo e então olhou para baixo.
Estremeceu ao ver o que viu.
Kihyun segurava o cabo de uma adaga fincada fundo em seu coração e a torceu, fazendo sua vista escurecer e o mundo girar. Sentiu que seu corpo estava cedendo e o vampiro rapidamente puxou a arma e a jogou em algum lugar, segurando-o para que não caísse no chão.
Caiu então no colo daquele que o estava assassinando.
— P-por quê? — a voz de Changkyun não passava de um sussurro falhado e ele sentiu muita dor ao pronunciar as palavras, além da dificuldade por ter sangue saindo de sua boca.
— Pra eu vencer a guerra você tem que morrer… — Kihyun sussurrou friamente em seu ouvido enquanto o levava para o centro do círculo.
O ômega estava se afogando em seu próprio sangue deitado naquele chão frio, estava agonizando e o vampiro o assistia calmamente em pé ao seu lado.
Changkyun mantinha o olhar em Kihyun enquanto morria e a última coisa que viu foi os lábios dele formarem aquele sorriso mau que conhecia tão bem.
E então veio a escuridão.
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