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História Number One - Number One (part. I)


Escrita por: littlemissbliss

Notas do Autor


FINALMENTE resolvi postar essa história que eu fiz com um carinho imenso pois tenho o mesmo carinho pelo personagem central por aqui, o Mello. Será uma twoshot, como está na sinopse, porque minha ideia inicial era fazer uma oneshot, mas achei que a leitura ficaria muito cansativa e decidi dividi-la ao meio. DN é um fandom um pouco morto ultimamente e eu acredito que isso só mudará com a adição de novas fanfics. Logo, estou fazendo a minha contribuição! Kkkkkkk.
A responsável pela imagem da capa é a RikaMello e seu perfil está nas notas finais. O mesmo vale para as imagens dos cosplays LINDÍSSIMOS de um moço chamado Tovarish-N, que usei na imagem de capa do capítulo. Os cosplays dele são insanos de lindos, <3.
A música que me inspirou para essa fic é a Dressed In Black, da Sia, recomendo que ouçam, <3.
Boa leitura!

Capítulo 1 - Number One (part. I)


Fanfic / Fanfiction Number One - Number One (part. I)

Eu tinha desistido

Eu não sabia em quem confiar

Oh oh

Então eu criei uma concha

Para me manter longe do céu e do inferno

Oh oh

I: Crucifixo.

“Ele tinha completado nove anos há dois dias. Era uma noite fria e chuvosa de dezembro. Sentado em sua cama, ele se perguntava porque tinha nascido em um mês tão tempestuoso. Gostava do sol, de jogar futebol, de não ter de ficar trancado em casa. Apertou as mãos gélidas nos joelhos, aborrecido. Sua porta era aberta, e uma mulher de meia-idade muito parecida consigo entrou. Estava elegantemente vestida.

_ Mihael, filho, se arrume. Vamos assistir a apresentação de música do seu irmão. - ele também se perguntava a razão de ter um irmão. Sentia que seria, para sempre, o segundo em tudo.

O número dois.

Odiava profundamente aquele número.

Seu peito doía de irritação.

_ Não quero ir! - ele exclamou, explodindo. Talvez tivesse mesmo o temperamento imprevisível e agressivo de seu pai, como todos falavam. Não conseguia lidar bem com derrotas e sofria imensamente.

Com uma face serena, algo que estava se tornando raro na casa dos Keehl, a mulher se aproximou do garoto, afagando os cabelos loiros semelhantes aos dela. Ele moveu os olhos azuis, surpreso, para conferir o gesto da mãe. Era bom e ela somente fazia aquilo com seu irmão.

_ Mihael, você tem que vir conosco. Não podemos te deixar sozinho. - ele ainda mantinha a expressão emburrada, não proferindo uma única palavra. A mulher então levou suas mãos, cobertas por um par de luvas de couro, à nuca, retirando o crucifixo vermelho que tinha acabado de ganhar de seu marido. _ Se for, pode ficar com isso. Vi que gostou.

Sorrisos tímidos foram trocados por mãe e filho, num acordo silencioso. Ele se arrumou depressa, e em poucos minutos toda a família estava num grande anfiteatro de Berlim, assistindo um rapaz de dezenove anos tocar violino, dentre toda uma orquestra formada de jovens.

_ Mihael, desfaça essa cara. - a mãe advertiu o menor, que colocou as botas grossas de inverno no banco da frente, em resposta.

_ Isso é muito chato. - o loirinho pontuou, dando um rápido olhar ao irmão no palco, prosseguindo: _ Ele é muito chato. - entretanto, acabou por encolher-se no banco diante da expressão repreensiva do homem que chamava de pai.

Em trinta minutos, os aplausos tomaram a estrutura acústica. Todos pareciam preferir seu irmão, exatamente como seus pais. Repentinamente, o som dos aplausos fora substituído por gritos de terror e tiros. Muitos tiros. Seu pai se levantava para ir ao encontro de seu irmão, caindo no caminho ao ser atingido.

_ É a máfia!!! A máfia!!!

Alguém reconhecia os assassinos, e ele já não sabia fazer mais nada que não fosse chorar, assustado. A mulher ao seu lado não respondia, e havia sangue por todos os lados. Escondeu-se embaixo do banco, abraçando os joelhos, justamente como fazia horas antes.

Era isso.

Tinha perdido seus pais e seu irmão mais velho.

Estava sozinho.

Não sabia quanto tempo tinha passado naquela posição após os tiros pararem, até que um senhor trajando um chapéu preto lhe estendeu a mão e percebeu que estava ferido. O choque tinha anulado a dor do tiro de raspão que havia tomado na altura das costelas. Depois viera uma noite de pânico num hospital qualquer, onde chegou a agredir os enfermeiros que tentaram cuidar-lhe. Costelas enfaixadas, um braço quebrado por rolar das escadas do hospital no meio da madrugada e… o portão daquele local em forma de capela. Wammy’s House”.

_ Mello, a vadia está entrando! - a imponente voz de Rod Ross, acompanhada de risadas audíveis dos outros, o despertava de suas lembranças, fazendo-o recordar também da barra de chocolate que tinha no colo. Pegou-a, mordendo um generoso pedaço. Malditas memórias.

Uma mulher amedrontada, exatamente como todas as outras, entrou cambaleante em seu quarto. Mal conseguia equilibrar-se nos saltos.

_ Pode se sentar ali. - Mello indicou uma cadeira vazia próxima da entrada do banheiro. Receosa, a moça fez o que tinha sido lhe pedido. _ Agora me escute. - sentado na beirada de sua cama, o adolescente loiro lhe ordenou, impaciente: _ Você vai dizer que fizemos, vai sair daqui dentro de quarenta minutos e isso é tudo. E se não estiver disposta a cumprir, não vou hesitar em te matar agora mesmo.

A moça tremeu perante o olhar de Mello e a arma que ele já lhe apontava. Assentiu de cabeça, afoita.

_ Ótimo. - ele sibilou, pulando a cama e pegando seu celular, que tocava:

_ Consegui o que me pediu, Mel. Estou indo para Los Angeles ainda hoje.

_ Excelente, Matt. - Mello voltava a seu chocolate.

_ Isso é um choro? Quem você está torturando agora?

O loiro se virou, lançando um olhar incrédulo para a mulher na cadeira. Ele tinha poupado-a de fazer sexo com um desconhecido e ela chorava? Era uma espécie de gentileza, pois os demais homens de Ross certamente a machucariam. Contudo, ele não ligava. Apenas não tinha tempo para aquilo ou disposição para transar com uma garota de programa sequestrada.

_ É só mais uma que o Ross mandou. - não precisaria explicar, Matt sabia do que estava falando.

_ Esse cara é um pateta. Sei que ele é necessário para você e que toda a máfia americana também, mas essa gente é de dar náuseas.

_ Vão te entregar as chaves do flat de Ross no aeroporto, você pode estabelecer uma base lá. Te encontro amanhã, Matt. - Mello se despediu, finalizando a barra de chocolate e jogando o invólucro no chão.

_ Okay, vou levar os arquivos. Boa noite, Mel.

_ Boa noite, Matt.

Matt era a única pessoa a quem desejava coisas como “boa noite”. As íris azuis caíam involuntariamente no crucifixo vermelho que tinha no peito. Tinha feito dezenove anos há dois dias.

II: Halle Lidner.

Halle não sabia o porquê de um de seus vizinhos tê-la olhado com tamanho ceticismo ao pegar o elevador para seu apartamento, no oitavo andar. Como uma espiã profissional do FBI, atualmente trabalhando para a SPK, analisá-lo e iniciar um diálogo a fim de descobrir o que queria era fácil, mas o cansaço a venceu naquele dia. Já passava de dez horas da noite e ela forçadamente lembrava-se que precisava de sua cama com urgência. E também precisava tirar logo as ligas presas em sua calcinha, responsáveis por acomodar uma pistola comum na lateral de sua coxa esquerda por todo o dia. Dirigiu suas íris douradas uma última vez ao vizinho, descendo enfim em seu andar.

O molho de chaves já estava em mãos desde o táxi que pegara após alguns quarteirões da SPK. As unhas esmaltadas com um vermelho vívido combinavam com o batom de mesma cor. Abriu a primeira fechadura sem dificuldades, estranhando o fato. Aquela fechadura sempre agarrava. Involuntariamente tocou a pistola, prendendo o ar nos pulmões ao mover-se para abrir a próxima fechadura. Quase como num filme em looping em sua mente, a voz de Rester lhe soprou: “Halle, não acha que está muito paranoica? Sei que o caso Kira é perturbador e algo que a humanidade nunca se deparou antes, mas relaxe um pouco”. Near, seu peculiar chefe de dezessete anos de idade, já tinha inclusive repreendido-a na semana anterior por seu cuidado excessivo com ações simples do cotidiano.

Suspirou, dando-se por vencida e girando a chave na segunda fechadura. Poderia ter sido apenas um golpe de sorte com a outra. Colocou a mão de volta ao lado do corpo moldado por um sobretudo branco, abandonando a pistola, e entrou. Automaticamente se desfez de alguns botões do sobretudo, sentindo o calor de seu apartamento fechado por horas. Porém, antes que ligasse o interruptor da sala, identificou uma silhueta masculina em seu sofá. O homem lhe apontava uma arma que, pelo formato, era mais potente que sua pistola. Agora arrependia-se amargamente de não ter ouvido seus instintos.

_ Halle Bullock. - seu nome verdadeiro sob a voz rouca do indivíduo a fizera parar de mover os dedos para a liga em sua perna. Ele então se levantava do sofá, pisando no que provavelmente deveriam ser invólucros de chocolates, pelo que conseguia identificar à meia-luz. Como se não bastasse invadir seu apartamento e ameaçá-la, ainda tinha feito uma bagunça. O som de um “crack” característico, confirmando suas suspeitas, se fez presente no momento em que ele encostou o cano da arma em sua têmpora. Uma cruz estava pendurada ali, como uma assinatura.

A proximidade deu a Halle a pequena vantagem de identificar o intruso, depois de alguns segundos de contato visual. Os olhos do rapaz eram azuis. Um azul feroz, jovial, astuto e, ao fundo, danificado. Lembrava-se daqueles olhos ao encarar a fotografia que Near tinha mostrado a ela e aos outros agentes restantes da SPK há três dias. Seu chefe contara-lhes brevemente parte de sua história na Wammy’s House, um orfanato para crianças de inteligência acima do normal, onde tinha crescido. Os cabelos loiros, alinhados num corte germânico, a confirmaram: era Mello, o suposto “rival” de Near, que o albino até dizia gostar honestamente.

_ Mello. - Halle proferiu, ligando finalmente o interruptor. A arma foi pressionada em sua têmpora.

_ Não faça nenhum movimento, vai ser melhor para você. Não sou paciente como Near. - Mello decretou, adicionando uma camada de ódio ou desprezo no nome do outro e devorando mais um pedaço de sua barra de chocolate ao leite. Era a quarta que comia desde que tinha entrado no apartamento de Halle Lidner. Não tinha mais ideia de quanto tempo estava esperando aquela mulher. _ Vou ser direto pois já estou aqui há tempo demais e você até que facilitou o meu trabalho não gritando… - pareceu se recordar de algo: _ Ah, lembre-se de confirmar para seu vizinho que tem um namorado, será mais fácil do que eu ter que matá-lo por ter me visto entrar.

O ceticismo do elevador estava então explicado. Halle permitiu-se fitar todo o couro justo que ele vestia, era provável que aquelas roupas valessem uma fortuna. “Máfia…”, estava claro onde tinha buscado a ajuda que precisava após fugir do orfanato em Winchester. Certamente alguém como Mello não era o que as pessoas deveriam imaginar como seu namorado. Ele não passava de um adolescente, e se Near estivesse certo, não tinha mais do que dezenove anos.

_ O que quer? - perguntou, já um tanto irritada com aquela arma apontada para sua cabeça. Os nomes de Rester e Gevanni tinham sido adicionados aos arquivos da SPK tardiamente, mas ela já estava junto da organização anti-Kira antes da chegada deles. Não havia compreendido exatamente o porquê dele não tê-la matado junto de seus outros colegas de trabalho, porém, agora tudo fazia sentido. Ele pretendia usá-la.

_ Quero que me diga absolutamente tudo que Near já conseguiu no caso Kira. E o que ele for conseguindo, semanalmente.

_ Ou o quê? - arriscou perguntar, mesmo que já soubesse a resposta. Near suspeitava que Mello de alguma maneira tinha conseguido um caderno e, pela maestria como ele tinha descoberto seu nome verdadeiro, isso só comprovava que ele era o autor dos assassinatos na SPK, agora sem sombra de dúvidas.

_ Vou escrever o seu nome no caderno. E posso fazer isso mais rápido do que você pode alcançar sua pistola. - Mello indicou, mostrando o caderno escondido na parte interna de seu longo casaco negro, com uma pelagem diferente ao redor do capuz caído. Vestia um colete por baixo, feito do mesmo couro das calças. Um crucifixo vermelho caía-lhe no peito. _ Temos um acordo?

A ironia daquela pergunta era gigante. Considerando que não tinha opções, Lidner se manifestou:

_ Temos o mesmo objetivo. - no momento, era nisso que se apegaria.

_ Isso é um sim? - Mello insistiu, surpreso com a falta de resistência de Halle.

_ Não é como se eu tivesse escolha a não ser aceitar. - ela reiterou, tocando o cano gélido da arma ainda posta contra sua pele: _ Será que pode abaixar isso? Quero tomar um banho. - pediu com a voz mais aveludada do que gostaria. Algo em si a fazia confiar em Mello, o que era totalmente incongruente para a situação. Ela não sabia até onde ele poderia se irritar e atirar de fato nela, mas seu senso de perigo dizia-lhe que ele não o faria. Não tinha matado seu vizinho, afinal.

_ Volto em três dias. - o loiro sentenciou, abaixando o revólver. _ Certifique-se de que Near não vá saber em hipótese nenhuma do nosso contato.

III: Máfia.

Matt apertava freneticamente os botões do controle que tinha nas mãos. Os dedos marcados por cinzas provenientes do mal hábito de fumar. Concentrado não seria o termo ideal para defini-lo enquanto jogava. Era como se estivesse em outra realidade e somente seu físico magro e jovem estivesse presente naquela pequena sala. O colete felpudo dava-lhe um ar inconcusso, carregado de uma dose de fofura. Os cabelos vermelhos se destacavam no ambiente, e os óculos de proteção até faziam algum sentido pelo tempo que permanecia com os olhos vidrados no aparelho de TV. Mas Matt os usava puramente por gostar deles.

_ Como foi lá com a agente? - perguntou ao notar a chegada de Mello, que sentava-se no sofá atrás de si e como sempre, colocava os coturnos na mesinha de centro. Aquilo tudo era de Rod Ross, não fazia diferença.

_ Ela vai cooperar. - Mello resumiu, devorando os últimos pedaços da barra de chocolate que havia comprado na volta do apartamento de Halle Lidner.

Matt deu uma curta risada anasalada, acrescentando, curioso:

_ O quanto você precisou ameaçá-la?

_ Até que não precisei ameaçá-la muito. - Mello respondeu. Ainda estava pessoalmente intrigado com aquilo.

_ Como?! - Matt deu-se ao luxo de pausar seu jogo para virar-se e encarar o amigo de infância. _ Um punk estranho entra na casa dela armado e ela nem gritou? - o ruivo ria de leve, imaginando como teria sido a cena.

_ Ela é inteligente e tem um raciocínio rápido. - Mello admitiu, dando de ombros. _ Ela trabalhou para o FBI.

_ Mas ainda é uma mulher. - Matt acrescentou, completando: _ E você elogiando uma mulher foi estranho.

_ Não foi um elogio. - Mello afirmou, revirando os olhos azuis para Matt e questionando-se porque ainda mantinha aquele viciado em tantos âmbitos ao seu lado. Talvez, Matt fosse tudo que ainda o ligava ao garoto Mihael Keehl. Mihael, de certa forma, tinha morrido ao deixar a Wammy’s House. Lá já era Mello, mas muito da criança que fora até perder seus pais num atentado da máfia alemã tinha resistido no orfanato.

Apesar de sua dificuldade para se comunicar.

Apesar das noites em claro, com medo.

Apesar da chegada de Nate River… Near.

E onde estava agora? Servindo justamente a máfia.

IV: Chá.

Acabava de colocar a chaleira com água para ferver. As mãos de Halle estavam frias, o corpo coberto somente por um roupão casual pós-banho. Tinha que estar na SPK dentro de duas horas, mas ainda sentia-se com muito tempo. Nunca levava mais do que vinte minutos para terminar seu desjejum e suas roupas já estavam impecavelmente passadas e separadas sobre o sofá. Não costumava usar maquiagem, com exceção do marcante batom vermelho que ganhara de sua mãe, antes de se decidir pela carreira de agente e dar-lhe um desorgulho. Suspirou, saindo brevemente da cozinha para pegar um envelope que estava no centro de sua cama.

Ele chegava nos horários mais variados possíveis, mas desta vez era quase como se conseguisse senti-lo chegar. Praticamente duas semanas tinham se passado desde seu primeiro encontro com Mello, e ele agora lhe exigia relatórios escritos e arquivos confidenciais da SPK que ela tinha de se esforçar muito para pegá-los. Esforçar-se no pensamento de que ele e Near tinham o mesmo propósito e, por mais que Mello negasse com veemência, essa era a grande verdade. A rivalidade de ambos não era mais que um atraso no Caso Kira e por ora apenas ela era capaz de ver isso, já que de certa forma estava a conviver com o loiro também e testemunhar como ele era perspicaz. Mello tinha a atitude e a velocidade que faltavam em Near. E, talvez, fosse muito mais maduro devido às experiências com a máfia.

Pegava o envelope e voltava para a cozinha, desligando a chama ligada no fogão com a mão livre. Alguns segundos depois, o toque gélido do cano da arma anunciava sua chegada.

_ Bom dia, Bullock. - Mello se pronunciou, mordendo um pedaço de chocolate e abaixando a arma em seguida. Gostava de abordá-la assim, para lembrá-la de que ele ainda detinha o controle ali, mas já não mais precisava manter o revólver nela o tempo todo.

_ Bom dia para você também, Mello. - o sarcasmo entre os dois já tomava níveis mais confortáveis, e Halle não podia deixar de pensar em como tinham chegado naquele ponto. Era tecnicamente perigoso conversar com alguém que lhe chantageava. Porém, Mello intrometia-se em seus assuntos, e isso levava a um inevitável diálogo.

_ Onde estão os meus relatórios? - ele exigiu, assistindo-a colocar a água aquecida em uma xícara branca simples. Um sachê era mergulhado no líquido.

_ Aqui. - Halle entregou-lhe o envelope, que Mello abriu sem rodeios, dando uma escaneada básica no conteúdo.

_ O Comissário Takimura… - sibilou, um brilho maquiavélico concentrando-se nas íris azuis, como se uma ideia lhe surgisse.

Halle não sabia o porquê, mas tinha a impressão de que essa ideia não cessaria bem. Parte de si a fez dizer, então:

_ Mello, tome cuidado com o que fará.

Um sorriso curto moldou os lábios do loiro, que cercou-a contra a bancada de mármore atrás dos dois, num movimento lento. Mello sempre encurralava aqueles que persuadia, mas Halle não era como os outros. Ela não tinha um medo real de si, e isso o fazia querer sempre testá-la.

Aproximou-se do pescoço dela, retirando o cabelo molhado que o impedia de encarar-lhe a pele. Encostou o cano da arma ali.

_ Está preocupada comigo, Bullock? - questionou, fitando a expressão irritada dela que opunha-se a sua, divertida. Os olhos dourados de Halle eram bonitos, tinha de admitir. Ela era uma bela mulher. “Matt está certo, isso é estranho”, repreendeu a direção dos próprios devaneios, se afastando.

_ Só lhe dei um conselho. - Halle afirmou, tomando um gole de seu chá. Mas, repentinamente, tinha a xícara tomada de suas mãos numa das muitas iniciativas imprevisíveis dele.

_ Não vai colocar açúcar nisso? - Mello o falava como se fosse um ultraje, exprimindo uma careta desagradável para a bebida.

_ Não gosto de chá adoçado. - Halle esclareceu, aumentando a indignação do outro.

_ Coloque mais água para ferver. - Mello ordenou, jogando o chá de Halle na pia, sem cerimônias.

_ O que está fazendo? - a mulher interrogou, difusa.

_ Um chá decente. Estou farto de tomar tequila, ou todo o álcool daquele lugar. - Halle compreendeu que ele estava se referindo a máfia. _ Você vai me fazer chá quando eu estiver aqui.

Inquisições…

Palpites…

Comodidade...

“Quem é Stephen?”

“Você cozinha mal, Bullock. Como sobreviveu sozinha?”

“Fiz cópias das chaves, arrombar toda vez é cansativo”.

V: Explosão.

Duas e trinta da manhã… Halle sabia que estaria com olheiras no dia seguinte. Teria de se maquiar para esconder os efeitos da insônia súbita e sem o menor sentido. Sem o menor sentido.

“_ Near, o esconderijo de Mello foi pelos ares. - Rester resumia a situação para o albino, que com um olhar nublado fazia a inevitável pergunta, em meio a sua imensidão de brinquedos:

_ Acharam seu corpo?

_ Não. Não há nenhum sinal de Mello. - Gevanni respondia, completando: _ Vasculharam todo o ambiente e não encontraram seu corpo. Tudo que sabemos é que Soichiro Yagami está entre a vida e a morte.

_ Então Mello está vivo. - Near afirmava e, escorada próxima ao enorme painel de controle digital da sala, Halle Lidner enfim encarou alguém naquele dia. Um início do que poderia ser considerado susto tinha tomado-lhe as rédeas ao saber que Mello poderia ter se explodido. Era um inconsequente mesmo! Chegava a sentir uma pontada de raiva do loiro, ela havia lhe avisado que aquilo não acabaria bem. Porém, tudo fora preenchido por uma sensação de alívio insensata: partilhava da opinião de Near. Mello estava vivo.

_ Se me permite Near, eu duvido muito que Mello possa ter escapado. Todas as vigas do lugar foram ao chão e os bombeiros estão tentando conter o fogo até agora. Soichiro Yagami ter escapado com vida foi um milagre. Todos os outros enviados pela polícia japonesa estão mortos, assim como os parceiros mafiosos de Mello. - Gevanni opinou, sua voz melodiosa ecoando pela sala.

_ Comandante Rester, comunique-se com L. Diga que estamos à disposição do que Soichiro Yagami precisar, sentimos muito por tudo e que aguardamos notícias. - Near levantava-se, acrescentando: _ E Lidner, verifique todos os hospitais da região de Los Angeles, certifique-se de que ninguém com a aparência de Mello tenha dado entrada nas últimas horas”.

Ela havia o feito. Mas sabia que ele jamais procuraria um hospital. Esperava que realmente não estivesse morto. Mello estava tomando medidas cada vez mais extremas e, talvez, a morte fosse de fato inevitável para alguém como ele. Pensar sobre isso a fizera apertar involuntariamente o travesseiro. Até que se simpatizava com Mello, tinha de admitir. Tê-lo ocasionalmente em seu apartamento já tinha se tornado uma rotina incontestável.

“_ Como estou? - questionou Halle, ao guardar seu batom vermelho na bolsa de tamanho médio.

Mello a olhara com certa atenção, poderia afirmar. Abrira um pouco mais as pernas em seu sofá, apoiando os cotovelos sobre os joelhos cobertos pela calça de couro justa, em sua imponente pose de mafioso adolescente.

_ Razoável, Bullock. - ele sibilou, dando seu curto sorriso de canto regado por doses de ironia e escárnio. Todavia, dessa vez, não conseguia identificá-los. _ Tudo isso para o Stephen? - claro, ele não deixaria de perguntar aquilo.

_ Não me arrumo para os homens, Mello. - decretou Halle, segura.

_ Sabe, até que você é diferente das outras mulheres. - ele comentou, bebericando o chá que tinha preparado para ele antes de ir se arrumar. _ Stephen tem sorte”.

Batidas muito altas e desesperadas na porta a fizeram colocar um hobby de seda e pegar de imediato a pistola em sua gaveta. E fora quando o vira desacordado e sangrando sobre os ombros de um ruivo - que provavelmente tinha a sua idade - pelo olho mágico que soube, ao abrir a porta depressa, que preocupava-se com Mello.

_ Como chegaram aqui? - perguntava, dando passagem para que o rapaz entrasse com o loiro e o ajudando a colocá-lo deitado sobre o sofá. Halle havia perdido a cor ao encarar o estado de Mello. Aquilo era muito grave. Ele ficaria marcado com certeza.

_ Pegamos um voo de Los Angeles para cá. Ele me ligou quando o esconderijo explodiu e por sorte eu já estava indo até lá. Como não poderia levá-lo para um hospital, pensei que você pudesse cuidar dele. - o timbre juvenil confirmava suas suspeitas. Contudo, antes que conseguisse questionar que tipo de companhia aérea tinha o recebido naquelas condições ou como aquele garoto sabia sobre ela e seu endereço, Halle se apressou em pegar seu kit de primeiros socorros no banheiro e algum dinheiro no quarto.

_ Compre umas duas ou três cartelas de analgésicos, por favor, ele vai precisar. Tem uma farmácia há uma quadra daqui. - entregou o dinheiro ao garoto, mas este o recusou:

_ Eu tenho dinheiro, senhora Bullock, não precisa se incomodar. A propósito, pode me chamar de Matt. Sou amigo do Mello.

Halle assentiu de cabeça, abaixando-se ao lado do sofá. Logo a porta se fechou e Matt deixou seu casaco branco e felpudo, coberto de sangue, apoiado numa das cadeiras de sua mesa de jantar. O gesto inteligente somou-se às muitas ideias já automáticas que Halle tinha dele naqueles poucos minutos, mas que devido a situação não pensaria a respeito tão cedo. Com cuidado, retirou o capuz que cobria parcialmente o rosto de Mello e abafou uma exclamação com as mãos. Era pior do que pensava. Uma queimadura extensa cobria seu olho esquerdo e ao tirar-lhe o casaco, verificava que descia para o pescoço e ombro, terminando possivelmente nas costas. O couro de seu colete tinha se fundido às feridas, e caso Mello estivesse acordado não poderia estimar a dor que ele estaria sentindo.

_ Vou dar meu máximo, Mello. É uma promessa.

Ataduras; várias toalhas úmidas numa mistura de água e sangue; pomadas; Halle já estava há vários minutos no processo de limpar as feridas de Mello e enfaixá-las como podia. Cortar seu colete e retirar os pedaços de couro nos machucados nas costas tinha sido a pior parte. Mesmo desacordado justamente pelo excesso de dor, esta o acordava por alguns segundos, fazendo-o gemer e trincar os dentes. Halle finalizava o processo ao enrolar as últimas ataduras sobre o olho e a testa de Mello quando uma sombra do que era sua voz rouca se manifestou:

_ … Obrigado…

Ela tinha certeza de que aquele era o primeiro e último “obrigado” que receberia dele.

_ Descanse. - seus dedos já estavam nos cabelos loiros, afagando-os como se tivessem vida própria.

Você me encontrou vestido de preto

Escondendo-se no caminho de volta

A vida partiu meu coração, em pedaços

Você pegou a minha mão na sua

Você começou a quebrar as minhas paredes

E você cobriu meu coração com beijos

Oh oh

Dressed In Black - Sia.


Notas Finais


Perfil da RikaMello: https://rikamello.deviantart.com/
Perfil do Tovarish-N: https://tovarish-n.deviantart.com/

E então? O que acharam? Ansiosos para a segunda parte?
Beijinhos!


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