História Nunca olhe para trás - Capítulo Um

Sempre pensei que era difícil ser eu. Na escola eu era a abelha rainha, eu era desejada por todos os garotos e minhas amigas tentavam ao máximo parecer mais a mim. Odiava ver a cara do meu pai toda a manhã, odiava o jeito que ele chegava em mim tentando me abraçar depois do dia todo trabalhando sem pensar em mim. Minha mãe, coitada, eu sabia que ela era traída e mesmo assim  não falei nada. Ela acordava todos os dias para preparar o café da manhã para mim e meu irmão, ela fazia de tudo. E agora me sinto péssima tento de ver toda a minha família ser devorada em minha frente. Agora eu sei o que é difícil, a vida num apocalipse é difícil.

 Me afoguei em lágrimas ao ver aquilo, eles saíram para pegar água e eu fiquei trancada no carro. Já fazia dois meses que aquele pesadelo havia começado. Nas primeiras semanas ficamos em casa isolados, mais depois de algumas semanas não daria mas para ficar lá, pegamos suprimentos, água, o carro e viajamos para um destino incógnito.

 Eles nunca me deixaram fazer nada, eu sempre fui a mocinha na qual todos faziam coisas por mim, em dois meses de apocalipse nunca vi um zumbi de perto. Eu ainda estava imobilizada chorando, e daí lembrei dos momentos que passei ao lado de cada um deles. Lembrei de quando conversava com minha mãe sobre sonhos, falei que quando fizesse dezoito anos sairia de casa e só voltaria para buscar ela para fazermos uma viagem ao Hawaii, nunca vi aquele olhar nela, nunca vi seus olhos brilharem de orgulho por eu ser tão determinada, eu não entendi o que ela viu, mas sei que o meu esforço nos estudos estava tendo um bom destino, hoje sei que esse esforço não serviu para nada.

 Eu nunca fui amigável com pai, de vez em quando ele tentava me agradar, ele tentava me abraçar mas eu não deixava, na minha cabeça ele nos largava todos os dias para trabalhar, e também, trair a minha mãe. Lembrei do momento em que encontrei ele com outra mulher, ele estava dentro do carro, eu estava perto do motel em que ele estava, nunca me senti tão derrotada assim, eu estava derrota pela minha mãe, ela que fazia com grande satisfação as refeições dele todo dia. Não tenho muitas lembranças boas por meu pai.

 Depois de algumas horas eles já haviam virado zumbis. Batia no vidro desesperada, eu nunca estive tão tensa assim em minha vida. Comecei a gritar pelo Jason, ele devia estar à procura de água no meio da mata. Ele o meu irmão mais velho, o que eu nunca me importei tanto. Parei de falar com ele depois de namorar com minha melhor amiga, Mia. Mas se não fosse ele, não estaria aqui hoje. Ele me salvou dos zumbis tantas vezes, e eu nunca parei para agradece-lo. Me sentia inútil, eu era inútil.

 Forcei a fechadura da porta com minha unha, mas não consegui abrir. Procurei por uma chave. Achei uma dentro do banco do motorista. Observei os zumbis que estavam na frente da porta tentando me pegar. Eram muitos, me senti descolada em sair. Peguei uma faca que mamãe havia deixado em seu assento e abri a porta com calma.

 Os zumbis tentavam me atacar desesperadamente. Puxei meu corpo para trás e me desesperei. Eu estava presa no cinto de segurança. Droga! Como aquilo podia estar acontecendo?! Senti uma mão puxar minha perna, era um zumbi. Eles estavam chegando perto demais. Me esquivei e me conformei de aquele era o meu fim.

 Ouvi os tiros acertarem a cabeça dos zumbis. Senti o sangue deles sujar o meu rosto. Por um momento me senti aliviada de todos eles estarem mortos, mas depois disso me senti assustada. Eu não estava sozinha naquela floresta.

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