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História Nyctophilia - Mentiras


Escrita por: LolaFly

Notas do Autor


Não, eu não abandonei essa história

Capítulo 7 - Mentiras


“- Eu esperei muito até o dia em que eu iria te encontrar de novo, Kyung, ainda que que você tenha outro nome e não se lembre de mim, ainda assim você consegue ser a mesma pessoa de antes. A única pessoa que eu amei quando humano. – Changkyun abraçou Kihyun e sussurrou no ouvido do mesmo. – Por favor, fique comigo, Kihyun”

 

 

Changkyun abraçou Kihyun com mais força, sentindo o cheiro da tez macia lhe entorpecendo de todas as maneiras ao mesmo tempo que os dedos do humano acariciavam seus fios, demonstrando carinho por si pela primeira vez desde o longo tempo que havia entrado naquela mansão. Foi impossível para o ser imortal não sorrir levemente.

Kihyun não sabia o que pensar. Ele tinha notado que, aparentemente, Changkyun acreditava que ele era uma paixão de mais de um século atrás.

Kihyun era um cético. Não acreditava no céu, no entanto, pensava que pertencia ao inferno. Não acreditava em anjos, Deus ou qualquer outra coisa de origem divina e mitológica. Não acreditava, pois agora estava confuso com suas próprias crenças, pois conheceu finalmente o impossível, o inacreditável, o inalcançável aos humanos. Então, poderia ele acreditar que de fato era o tal Kyung que Changkyun dizia?

Não sabia a resposta, no entanto, ao ter adquirido conhecimento do passado do ser imortal, era difícil para si não nutrir certa aflição pelos tempos desgraçados daquele que era o seu amante improvável.

Pensar que ele viveu tanto tempo de modo tão infortúnio, ainda isso seja consequência de seus terríveis erros quando mais jovem, o de fios rosados acreditava a lição que o ser imortal deveria aprender com aquele castigo já havia sido aprendido há anos atrás, agora Changkyun era obrigado a continuar consciente e sedento. Kihyun sentia que Changkyun já tinha se arrependido de seus pecados profundamente e que agora só estava fazendo o que fazia por conta de sua sede de sangue ao mesmo tempo que a sede da felicidade.

Kihyun conseguia sentir empatia por Changkyun.

- Me diga a verdade. – Kihyun soou baixo e suave, sendo abafado levemente pelo pescoço do outro que ainda o abraçava. – Me diga se você realmente me ama ou se eu sou apenas mais um.

- Como você saberia se eu estou mentindo ou não?

Kihyun sorriu levemente. – Eu não me derreto com doces mentiras ou belas verdades. Sou um mentiroso como você. Apenas me responda.

Changkyun finalmente separou os corpos abraçados e subiu sua mão, que se encontravam enlaçando o corpo magro, até a face séria. Gravou seus olhos nos semelhantes do homem a sua frente e sibilou. – Você é meu amor. Seu nome e sua aparência podem mudar, porém, eu irei atravessar décadas e até mesmo séculos para te encontrar de novo.

O mais jovem da sala fechou os olhos, tombando sua cabeça em direção a uma das mãos afim de ter um contato ainda maior, apesar da palma que lhe acariciava ter uma temperatura gélida. Kihyun, de alguma forma, sentia algo lhe queimando por dentro ao escutar aquilo.

- Me diga a verdade. – O ser imortal falou. – Me diga se você realmente me ama ou se eu sou apenas um sicário para ti.

Kihyun abriu os olhos e encarou o amaldiçoado antes de dar um leve sorriso de canto, passando sua mão pelo o espaço vago entre os corpos próximos e deixando com que seus dedos se divertissem com os botões da camisa de Changkyun, deixando a tez branca exposta e acariciando a mesma. – Deixe-me fazer algo por você. Deixe-me lhe dar um bom sonho.

Os lábios de Kihyun tocaram a pele fria, beijando a clavícula de Changkyun ao mesmo tempo que as mãos trabalhavam em terminar de desabotoar os botões que impediam a retirada da camisa social negra, fazendo com que a mesma voasse pelo quarto quando já estava completamente aberta.

 As mãos puxaram o corpo gelado para mais perto do quente, e os lábios que se ocupavam na pele com leves selares, subiram e tomaram os semelhantes de Changkyun de forma carnívora, mordendo e massageando com a língua em seguida.

Toda essa provocação trouxe a fome de luxuria de Changkyun que jamais adormecia ou se satisfazia. Sentir que Kihyun tomou a iniciativa trazia memorias do passado, fazia com que Changkyun novamente se sentisse desejado por outra pessoa, mesmo que esta soubesse sua verdadeira natureza macabra.

Os tecidos foram perdidos no chão do quarto e os corpos foram expostos para olhos que já reconheciam a imagem que surgia um do outro. Contudo, aquela noite era diferente. Kihyun sentia cada toque, cada beijo, cada espasmo de prazer, e tudo isso combinado a uma determinação de satisfazer o homem em seus braços, algo que não era comum, pois o de fios rosados sempre se preocupou mais com o próprio prazer do que tudo. Ao mesmo tempo que Changkyun também considerava aquele momento de sua noite eterna completamente diferente, ele estava se sentindo como nunca antes, não estava apenas sentindo-se desejado, mas sim amado.

- Isso é real? – Changkyun perguntou entre ofegos enquanto Kihyun estava com sua intimidade na boca, fazendo movimentos uniformes e intenso, por algumas vezes se concentrando apenas no topo do membro para maior prazer daquele que gemia o seu nome e acariciava seus fios coloridos, pedindo por mais. – Isso é t-tão bom. Eu me sinto quase no paraíso.

Kihyun sorriu ao escutar aquilo. Naquela noite, Changkyun parecia mais humano aos seus olhos e, talvez, estivesse menos obscuro e intocável. O objetivo de Kihyun era levar o ser imortal ao completo paraíso.

 Não demorou muito para que eles estivessem unidos completamente, mais uma vez.

Kihyun não sabia o que queria ou o que sentia. Queria mais rápido, mais forte, outra posição, um gemido, palavras desconexas, a voz rouca e desesperada pedindo por si, mais mordidas, mais beijos, cada vez mais de tudo que Changkyun queria oferecer. Sentia calor, frio, prazer e mais prazer, cupões, sugadas mais embaixo, ardência e Changkyun indo mais fundo.

Porra, aquilo era o paraíso, sem dúvidas.

- Estou aqui, amor. – Kihyun disse ofegante enquanto que Changkyun diminuía a velocidade de suas estocadas pelo cansaço. Aquele sexo que começou com os dois em pé, depois foi para a cama grande do ser imortal; Primeiro Kihyun estava por cima, em seguida por baixo, não demorou muito para que estivesse de costas apoiado em seus joelhos e mãos na cama, e por fim, com as costas encostadas na cama e as pernas entrelaçadas na cintura de Changkyun. Ambos soados e cansados, porém, não satisfeitos. – Eu sou seu.

Aquilo foi o suficiente para que Changkyun retornasse sua velocidade, se dedicando a acertar os pontos que fazia com que o garoto que segurava em si para não cair entre os lençóis e perder o ritmo daquela foda gemesse o mais alto possível e ficasse perdido em seu próprio prazer. O ser imortal sabia que não deveria acreditar nas palavras do de fios rosados, mas queria acreditar naquelas doces mentiras por hora, mesmo sabendo que elas não se tornariam belas verdades no futuro.

Aproveitaria aquele momento, apenas.

Agora, eles estavam no paraíso.

 

 

 

Enquanto estava deitado em sua cama, lendo um livro qualquer pegado na ampla biblioteca, Kihyun finalmente viu novamente o rosto de Hyungwon depois de um longo tempo, ao menos era o que pensava.

Na concepção de Kihyun, havia se passado um longo tempo desde a última vez que virá a única pessoa com quem conversa naquela casa sem ser Changkyun, no entanto, a realidade era que Hyungwon havia ficado fora apenas pelo tempo de 48 horas se aquele mundo segue as mesmas leis de tempo que a dimensão conhecida por Kihyun.

A primeira reação do de fios rosados foi sorrir abertamente e caminhar em direção a Hyungwon, em seguida lhe dar um simples e breve abraço que continha muito significado. – Senti sua falta.

Hyungwon não entendeu muito bem aquele sentimento que Kihyun claramente demonstro em seus atos e palavras, contudo, não perdeu seu tempo tentando relembrar as ações e emoções humanas, essas quais havia sentido há tanto tempo atrás, mas que agora não se lembrava ao menos brevemente.

- Desculpe-me meu retiro. Foi necessário, porém, não ocorrerá novamente. – O mais alto disse com sua comum educação, se curvando logo em seguida.

Kihyun estava curioso sobre a história de vida – e talvez de morte – de Hyungwon. Não conseguia se esquecer do que Changkyun tinha o falado, mas estava um pouco confuso se deveria perguntar para o mais alto. Ele queria entender as únicas pessoas daquela casa e como que elas foram parar ali.

- Por que você se retirou? – Kihyun perguntou como se não soubesse de nada. Inocentemente, voltou a se sentar na cama e abriu o livro, apenas para disfarçar, pois, na verdade, estava muito interessado no que o outro tinha a falar. – Não é comum você sumir por tanto tempo.

Hyungwon manteve sua face insensível. – Então, ele te contou, não é? Sei que sim, não precisa tentar puxar uma conversa casual para matar sua curiosidade.

- Como você sabe que eu sei?

- As paredes dessa casa tem ouvidos. – Hyungwon sibilou. – Mas se você quiser saber de algo, pode me perguntar diretamente, eu não terei receio em lhe contar.

Kihyun deixou o seu livro de lado novamente já que agora tinha encontrado uma história fascinante para se entreter. – Quero saber sua história. Como você era antes de vir para cá, como veio parar aqui e também... como morreu.

- Então, você quer saber minha história em geral? – Hyungwon perguntou e viu o outro assentindo discretamente com a expressão séria. – Tudo bem, eu lhe conto.

O mais alto se aproximou delicadamente, com seus passos inaudíveis que se assemelhavam a passos de fantasmas, se sentando ao lado de Kihyun na cama macia e olhando para a parede de paisagem negra a sua frente.

 

“Meu nome sempre foi Chae Hyungwon. Nasci em 15 de Janeiro de 1934, em uma cidade movimentada e bem desenvolvida para a época. Sou filho de um sapateiro com uma camponesa e tenho mais dois irmãos que eu não me recordo mais o nome, na verdade, não me recordo mais do nome de ninguém. Sou o irmão do meio.

Vivi como qualquer outra criança daquela cidade. Tinha uma vida comum, mas boa. Minha adolescência foi cercada de conquistas e paqueras até que eu finalmente conquistei a menina filha de um marceneiro e me casei em menos de um ano com ela. Em menos de alguns meses, meu primeiro filho nasceu, e depois de 3, veio minha segunda filha.

Eu tinha uma vida pacata. Depois de formar em advocacia, praticava serviços particulares para qualquer homem de classe média, e como o mundo estava em ascensão naquela época, não me faltava casos ou dinheiro. Passava o dia todo em um escritório simples ou em reuniões de empresas, e de noite jantava com minha mulher na presença de meus dois filhos. Não me lembro muito bem deles, mas sabia que eles eram aquele tipo de crianças caladas, porém, sociais quando necessários. Eram bem parecidos com minha esposa, uma mulher recatada e respeitosa.

Eu era feliz? Não sei ao certo. Acho que como eu não tinha horizontes ampliados ou qualquer outra coisa sem ser aquilo que já havia sido programado desde sempre, eu seguia o rumo da vida sem nenhum problema. Eu achava que estava satisfeito.

Bom, achava.

Não me lembro ao certo com quantos anos descobri que não estava nem um pouco satisfeito com minha vida. Apenas sei que estava velho demais para romances de verão, e novo demais para ter experiência o suficiente para fugir de amantes falidos. Talvez se eu não tivesse pegado um caso em outro condado ou não ter comparecido no jantar marcado de meu cliente, eu nunca estaria aqui.

Eu teria visto meus filhos crescerem e terem outros filhos. Teria dado concelho para eles ao lado de minha mulher e ainda brincaria com meus netos. Eu envelheceria ao lado da mulher que me amava, e ficaríamos juntos até que o primeiro partisse e não demoraria muito para que o segundo se unisse a ele.

Mas nada disso aconteceu.

Foi por causa de um cliente que tudo isso aconteceu. Ele era mais velho do que eu, sua face não era tão bonita graças as cicatrizes e marcas causadas pelo tempo que viveu, no entanto, tinha uma lábia fenomenal e uma expressão corporal tão fascinante como a de uma cobra, atraindo suas presas sem que as próprias se descem conta que iriam morrer em breve. Foi com conversas, toques e um desafio para me testar que ele conseguiu me beijar, depois me tocar e, por fim, fazer-me sentir um prazer que eu jamais senti com minha esposa em anos de matrimonio.

Eu só pertenci a ele por toda minha vida, e acredito que eu tenha sido também um dos poucos que ele tocará. Não sei. Não tive muito tempo para conhece-lo. Foram 2 semanas de traição e uma vida jogada fora.

Meu amante se dizia apaixonado, caído de amores por mim. Ao mesmo tempo que eu tinha feito aquilo tudo só para sair da monotonia que era minha vida. Não suportava mais o tédio.

Quando voltei para minha cidade, resolvi esquecer completamente o que havia acontecido no outro condado. Eu resolveria o caso de meu cliente e não o encontraria nunca mais, guardando aquele prazer absurdo dentro de minhas lembranças eternamente. Mas o meu cliente não pensava o mesmo.

Ele mandou cartas. Não um ou duas, e sim várias, que a todo custo eu tentava esconder para que ninguém descobrisse. Funcionou, por algum tempo. Eu queimava tudo que me era enviado em um terreno baldio e pegava a correspondência antes que minha esposa notasse aquela carta perfumada no meio de tantas.

Porém, a mentira não durou por tanto tempo. O cliente veio ao meu condado a minha procura, e acabou por me ver com minha esposa e filhos. Ele sabia que eu tinha uma família, mas aquela cena pareceu o enfurecer de maneira absurda, ainda me recordo do ódio em seu olhar.

Ele me expos. Contratou vários homens para dizer que eu dormi com eles, falsificou cartas eróticas dizendo que essas tinham sido escritas por mim e espalhou cópias delas pela praça que ficava em frente ao meu escritório. Foi uma bomba em minha vida.

Sendo eu, nascido e criado naquela cidade, conhecia a todos e não demorou para os rumores se espalharem. Demorou menos ainda para que minha esposa me desse adeus com os meus filhos segurando sua mão chorando e saísse da nossa casa para sempre. Os clientes cancelaram seus trabalhos comigo e logo eu não podia mais andar na rua.

Naquela época, eu entrei em depressão. Por meses, eu pensava em me matar e não tinha disposição para nada. Em breve, eu já não teria mais o que comer por falta de dinheiro e ninguém gostaria de dar nem mesmo o trabalho de limpar bosta de cavalo para um sodomita como eu.

Não estávamos mais nos tempos mais primitivos, onde se podia cortar a cabeça de um sodomita em praça pública, mas ainda era socialmente aceitável me mandar para um hospício para fazer um tratamento para curar essas minhas vontades pecadoras. E eu sentia que em breve isso aconteceria.

Então, resolvi pegar meu único dinheiro e gasta-lo em um bar pobre qualquer, onde tantas pessoas ruins frequentavam que não poderiam te julgar pelos seus pecados, pois iriam igualmente arder no inferno contigo.

E assim eu comecei a me embebedar. Bebi até eu não saber meu próprio nome.

Quando o dinheiro acabou e eu já estava falando asneiras demais, eu fui expulso do estabelecimento. Era de madrugada e eu estava bem longe de minha casa, e não tinha condições nem mesmo de falar o que era direita ou esquerda, então caminhei sem rumo cambaleante pelas ruas daquela área perigosa da cidade.

Os rumores de um sodomita haviam se espalhado por todos os cantos. Graças a isso, os homens que fumavam em um beco qualquer me reconheceram assim que me viram, se aproximando gritando coisas e rindo. Eles estavam zombando de mim, me chamando de princesa e outras coisas.

Eu ainda estava confuso, então só ri com eles. Aquilo pareceu encoraja-los ainda mais.

Eram 3, e um deles resolveu abaixar as calçar e mostrar seu membro flácido, gritando para que eu o chupasse, pois aquilo sim era um bom pênis. Eu recusei educadamente, mas seus amigos deram chutes em meus joelhos para que eu caísse, e me obrigaram a fazer o que o tal homem mandou.

Eles me abusaram. Estavam rindo descontroladamente enquanto se revezavam entre si, dizendo que aquilo era que um sodomita gostava e perguntando se deveriam ir mais forte.

Eu não aguentava mais. Eu desejei, naquele momento, que eles me matassem ou que eu simplesmente morresse, pois não aguentava mais como minha vida caiu em um declínio tão grande e desesperador.

Foi quando eu escutei as risadas se calando e um grito de horror, que se sobressaia os meus próprios urros de dor, tomando conta da rua escura. Recolhi alguma força interna, e movi minha cabeça para olhar para cima e ver o que estava acontecendo, avistando um de meus agressores com o pescoço manchado de sangue sendo segurado por um homem que eu não tinha visto até então, este estava com a boca e as bochechas borradas de sangue, aparentemente do meu agressor.

Os amigos do defunto sangrento que desfaleceu na rua ao meu lado assim que o homem de negro o soltou, correram o mais rápido possível para longe, me deixando sozinho com aquele predador faminto com olhos amarelados.

Eu não tinha forças para correr ou para fazer qualquer outra coisa. Apenas fechei os olhos e esperei o que tivesse que acontecer. Eu já tinha desistido de tudo e todos.

Longos minutos depois, a polícia chegou no local. Me encontraram sem calças, largado ao lado do corpo de um homem com o pescoço completamente rasgado. No dia seguinte, além de sodomita, agora eu era protegido da besta.

Os padres se revoltaram, assim como os cidadãos de bem que seguiam o bom deus. Agora, era aceitável cortar a cabeça de um sodomita em praça pública, pois todos os cidadãos sabiam que aquela era a época do ano onde os assassinatos das vítimas de pescoço rasgado começavam, e só terminariam quando eles entregassem alguém para servir a besta em seu lar.

Não havia ninguém melhor sem ser o sodomita protegido da besta.

Eu não sei quando começou as lendas, provavelmente muito antes de meus próprios pais terem nascidos, mas todos na cidade sabiam sobre os assassinatos que aconteciam entre os meses de abril até julho, as vezes antes ou depois, mas sempre ocorria uma vez por ano, e só terminava quando os cidadãos escolhessem algum pecador na cidade para mandar como sacrifício a uma casa na floresta. Já houveram muitos casos de pessoas caçando o assassino da noite, a tal besta temida, no entanto, essas pessoas voltavam sem nenhuma resposta ou nem mesmo voltavam.

O caso era que nem sempre a cidade tinha um sacrifício para dar há besta, pois nem sempre havia um pecador que todos conheciam e sabiam de seus pecados mais profanos. Havia anos que as pessoas simplesmente deixavam os assassinatos acontecerem até que a besta fosse embora. A polícia mudava o toque de recolher para o crepúsculo e todos trancavam muito bem suas casas antes de dormir, dessa maneira, se sentiam seguros até que a matança acabasse.

Contudo, nesse ano em especifico, eles tinham um sacrifício.

Me amarram e me levaram até a casa no meio da floresta que delimitava os limites da cidade, me deixando lá preso há uma cadeira e com a boca tampada, além de não ter sido alimentado ao longo de todo o dia. Já era o crepúsculo quando me deixaram completamente só, dependendo da sorte para sobreviver.

Não lutei contra as pessoas ou contra a fraqueza. Não tentei soltar as cordas que me prendiam ou correr para fora daquela casa antes que o sol sumisse totalmente. Somente sentei e esperei a minha morte, pois não tinha nenhum motivo mais para que eu lutasse, para que eu continuasse vivendo.

Sussurrei cegamente desejando morrer. Pedi pela morte como se ela fosse minha mãe, e também pedi perdão por todos os meus atos. Em seguida, adormeci esperando nunca mais acordar.

E, de fato, não acordei. Quer dizer, não acordei vivo.

Acordei como estou nesse momento. Frio e jovem, e assim vivo desde então.

Quando abri os olhos, estava nessa mansão junto com Changkyun. Ele se apresentou como um velho amigo e disse que fez o que eu desejava, ele me matou rapidamente e de modo indolor, caso contrário, eu acordaria com a dor e agonia de minhas veias principais estarem sendo perfuradas.

Changkyun contou-me que nenhuma de suas vítimas jamais tinha acordado após sua morte, e que eu era a primeira que não tinha se deteriorado mesmo depois de um ano inteiro, e por isso ele me trouxe a mansão quando ele finalmente pode sair da mansão e me viu inteiro na cabana.

Me explicou sua história e também me disse sua suposição sobre o porquê de eu ser um morto diferente dos outros. Ele supôs que a aura da mansão sugava qualquer ser desgraçado como ele e que a sua compaixão em me matar rápido pode ter criado uma conexão entre nós. No entanto, eu não concordo com ele. Na minha concepção, eu posso ser apenas um fantasma qualquer, pois não sinto fome ou qualquer outra coisa. É como se eu estivesse estático até mesmo na morte.

Talvez esteja faltando algo para que eu finalmente desça para o inferno que me aguarda.”

 

Hyungwon finalmente se calou.

Kihyun estava surpreso com aquela longa história, e um pouco satisfeito, pois tinha finalmente matado um pouco de sua curiosidade. Queria mais repostas, porém, aquilo já tinha sido um grande avanço para entender aquele estranho lugar e seus dois moradores.

- Eu não sei o que falar...

- Não precisa lamentar ou tentar me consolar. Mesmo que fizessem isso, eu não sentiria nada em relação a sua compaixão ou ao menos tristeza por conta de minha história de vida. – Hyungwon falou em sua voz amena.

Todos naquela mansão tinham uma história tão triste, eram todos recusados e julgados pela sociedade, ao menos tempo que ninguém era uma boa pessoa. Todos mentiram por prazer, luxuria e egoísmo, até mesmo Kihyun.

Talvez aquilo fosse o requisito para conhecer aquela mansão e viver aprisionado nela. Talvez fosse esse o motivo pelo qual Hyungwon e Kihyun estivesse presos ali.

- Mas e depois? Você me disse que já for parceiro... sexual dele. – Kihyun comentou um pouco incomodado. Sexo não era um tabu para si, no entanto, era estranho comentar aquilo com Hyungwon. – Você simplesmente fez por fazer?

Hyungwon pareceu pensar brevemente antes de responder. – Depois de um tempo que você morrer, depois do desespero e estranheza passar, você fica entediado. E isso aconteceu, então eu matei meu tempo da maneira como todos fazem mesmo não sendo imortal e tem um parceiro. Changkyun é sedento por luxuria e eu só não tinha nada para fazer. Mas depois de um tempo, nos dois acabamos enjoando um do outro. E, atualmente, eu não tenho nem mesmo interesse em sexo.

- E você nunca pensou em um jeito de sair daqui?

- Já pensei em todas as coisas do mundo, tive muito tempo para isso. Então, claro, eu pensei muito em uma maneira de sair daqui, mas depois de um tempo eu parei de me importar, pois sabia que não teria nada para mim do lado de fora dessa mansão. – Hyungwon respondeu. – Apesar de que algumas vezes eu e Changkyun discutimos formas de acabar com essa maldição, para que nós possamos morrer em paz.

- Nunca encontraram? – Hyungwon respondeu à pergunta de Kihyun com um aceno negativo. – Isso significa que eu estou preso aqui para sempre?

Hyungwon sorriu de lado. – Não notou ainda? Kihyun, você pode sair daqui a hora que quiser.

- Changkyun também me disse isso. Mas eu não sei como posso fazer isso.

- Pense um pouco, qual é a diferença entre a gente e você? Pense em como chegamos aqui e em como você chegou aqui.

Kihyun refletiu por algum tempo, relembrado da noite em que foi perseguido por alguma criatura estranha. Talvez estivesse morto, mas se de fato estivesse morto, não sentiria fome ou sono, seria como Hyungwon, mas não era. – Eu estou vivo?

- Exatamente. Isso significa que você não é um condenado ainda, você pode sair daqui. E se for fazer isso, faça rápido.

- Por quê? – Kihyun questionou. – Porquê eu tenho que fazer isso rápido?

Hyungwon abriu a boca, mas não disse nada. Olhou ao redor e voltou novamente a Kihyun. – As paredes dessa casa tem ouvidos, como eu havia dito antes. Mas eu vou te contar, até porque não tem como ele me matar. – O de fios rosados se aproximou mais para escutar o que o outro tinha a falar, estava curioso. – Você tem que sair daqui rápido, pois em breve virará um condenado como eu e como Changkyun, ou seja, em breve você irá morrer.

A confusão tomou conta do corpo de Kihyun. – Morrer? Como irei morrer?

- Ele te matará. – Hyungwon disse rapidamente. – Ele irá te matar como sempre fez com todos os seus amantes. A verdade é que Changkyun não sabe amar ninguém. A maldição dele é matar quem ama e logo você irá morrer se permanecer nessa mansão.

Kihyun se afastou bruscamente, sendo impulsionado pelo susto que tomou ao escutar aquelas palavras. Não acreditava, não depois do encontro de horas atrás como Changkyun.

- Fuja rápido, Kihyun. Fuja antes que morra e vire um vagante da mansão como eu. Não morra nas mãos dele.


Notas Finais


Talvez vocês nem lembrem quem eu sou ou que história é essa, mas eu estou de volta depois de sete meses de hiatus.
Bom, é isso mesmo. Queria pedir desculpas e avisar que a história está em seu final.
Não sei se alguém ainda acompanha, mas se acompanhar, mostre que está vivo e isso provavelmente irá me animar para finalizar Nyctophilia.
Desculpa mesmo a demora. Espero que esse capitulo tenha compensado a espera de vocês

Até logo.


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