História O acordo - Justiça

Quando aquela manhã chegou eu não quis de jeito nenhum sair do quarto para tomar café, claro que eu queria mesmo saber quem estava com o Deidara na noite passada, mesmo sabendo que provavelmente ele não era da cidade, mas ao mesmo, não ia conseguir encarar o Deidara de novo, não iria saber agir normalmente depois do que eu presenciei, apesar de agora parecer engraçado.
O Itachi desceu alguns minutos antes de mim, quando eu saí encostei o jardim claro, aquelas estátuas cheias de musgo agora nem pareciam mais tão bonitas, eu andei sem fazer barulho pelos corredores e desci com cuidado, mas me surpreendi, pois na cozinha não havia ninguém além de Itachi e Deidara, o loiro de cabelos longos estava sentado numa das cadeiras enrolado à uma manta escura, ele bebida uma xícara grande de chá com os olhos inchados e olheiras marcadas.
Itachi preparava o café despreocupadamente, eu encostei no parapeito da porta analisando a cena, e percebi os cílios molhados e nariz avermelhado de Deidara, ele havia chorado, mas por que?
- tem certeza que está tudo bem, Dei? – Itachi disse se sentando à mesa com duas xícaras de café.
Ele não respondeu, nem mesmo tirou os olhos da xícara, eu me aproximei mesmo sem entender e sentei, foi quando ele me encarou sério.
- em cima do balcão... – Deidara apontou para um envelope de papel pardo.
Mais um, que peças ele traria agora, confesso que a minha curiosidade era grande mas o medo era maior, mas o Itachi não sentia o mesmo, ele puxou o envelope do balcão e abriu sem cerimônias, lei rapidamente e depois levantou os olhos para Deidara.
- invasão de privacidade? – Itachi riu – esse é o motivo da liminar?
- não entendi... – Naruto pegou os papéis – por que invasão de privacidade resultaria numa liminar?
- já trocou beijos com alguém menor de idade? – Deidara suspirou.
- impossível! – Naruto riu.
- o menino era uma criança, - Deidara disse sério – mal sabia escrever direito, o capitão do time de futebol da escola de ofereceu para ser seu amigo, ele ignorou a idade do mesmo, afinal, é tão legal quando alguém mais velho se oferece para ser amigo de um caso perdido, os pais do menino nunca suspeitaram de nada, e talvez nem mesmo o menino, mas um dia ele acordou de sentindo mal, seu comportamento mudou, ele ficou sem amigos e só então os pais perceberam que havia algo estranho acontecendo, o menino de recusou a prestar depoimento, mas falou só beijo para um ex amigo, por falta de provas a família do menino não conseguiu acusa-lo formalmente, mas conseguiram a liminar alegando invasão de privacidade, - Deidara suspirou – mesmo sem provas logo após tudo isso a família do excelentíssimo prefeito de mudou pra cá, ele diz que tinha muitos inimigos e que alguém certamente estava armando para ele, o queridinho da cidade, ele escapou disso impune...
- ninguém conseguiu provar nada? – Itachi ficou curioso.
- esse cara é bom, - Deidara mordeu o polegar – muito bom no que faz à propósito, - Deidara dirigiu seu olhar para Naruto – por isso acho que ele não tem nada a ver com você...
- como assim? – Naruto ficou curioso.
- se ele tivesse algum problema com você, - Deidara puxou o envelope e espalhou alguns papéis sob a mesa – já teria te eliminado, veja bem, tem muito mais de onde esses vieram, todas essas pessoas morreram curiosamente pouco tempo depois de se declararem inimigas dele, morreram em acidentes de carro, de doenças infecciosas, e esse, esse é o mais recente, Senju Tobirama.
- o aspirante à xerife? – Naruto estranhou – não, ele se matou há meses atrás, foi quase no começo do ano, e ele não tinha ligação com o prefeito.
- mas tinha com seu assessor, - Deidara explicou – oito anos mais novo que ele, também vindo da capital, menino formado, vindo da capital, após a morte minimamente curiosa do pai, tinha sessões de terapia com o psicólogo leigo, vulgo Tobirama, e em uma de suas fiéis sessões disse se sentir pressionado pelo chefe, mas não fazia nada, pois precisava proteger a mamãe, mas nunca disse do que é nem de quem.
- e o que o liga ao prefeito fora o cargo de assessor? – Itachi ficou curioso.
- a cidade natal, - Deidara disse ligando os pontos – a mesma escola, a cidade é descrição da liminar de justiça, o Memma, é o garoto que acusou o prefeito no passado, e agora o prefeito o mantém perto.
- ele podia não estar mentindo então, - Itachi questionou – ele pode ter vindo pra cá por peso na consciência de ter estragado a vida de alguém legal...
- duvido... – Naruto lia os papéis.
- Eu também, - Deidara disse sério – mas ele é perigoso, prefiro manter distância, se quiser saber mais procure o assessor...
- péssima ideia, - Itachi comentou – chamaria muita atenção, mas esse Tobirama, o que ele sabia?
- não sei, - Deidara disse sério – os mortos não falam, Itachi...
- sei, - Itachi se levantou e apontou para o chupão que estava no pescoço de Deidara – assim como sabe como isso foi parar ai?
- isso eu sei, - Deidara se levantou – só não é da sua conta...
Ele saiu, eu encarava aqueles papéis e ficava cada vez mais intrigado, eu precisava saber mais, todas aquelas informações incompletas pareciam fazer meu cérebro trabalhar a mil por hora.
Eu me despedi do Itachi com a desculpa de que iria ver meu pai, sai apressado, estava garoando, o vento frio batia no meu rosto como se o estivesse castigando, encarei a prefeitura, eu sabia que poderia ser burrice, mas entrei ainda assim, eram cerca de 8h da manhã, e a prefeitura estava vazia, estranhamente vazia, eu queria encontrar o endereço do Memma, pois sabia que seria burrice sair pergunta do por aí, mas minha estratégia de procurar nos arquivos da prefeitura também não eram lá muito inteligentes.
Quando eu estava vasculhando a quarta ou Quinta gaveta ele apareceu atrás de mim.
- o que está fazendo? – Kiba entrou intrigado.
- nada! – Naruto se assustou.
- nada? – Kiba levantou uma sobrancelha.
- Kiba... – Naruto temeu.
- pode confiar em mim, Naruto, - Kiba tinha um tom de voz passivo – o que está procurando?
- nada... – Naruto virou as costas e começou a caminha para a saída.
- pode confiar em mim e sabe disso, - Kiba pegou o loiro pela mão – Eu sei que você é contra a candidatura do meu pai, eu sei que o projeto de lei dele é abusivo e insensível, mas não adianta procurar, ninguém quer se opor à ele...
- não estava procurando por isso, - o loiro suspirou – sabe do Memma?
- ele está afastado, - Kiba disse sério – não vem se sentindo bem desde a morte do Tobirama, achei que você soubesse?
- por que?
- não sei, ele estava procurando um opositor também, achei que vocês estivessem juntos nisso...
- por que ele estava procurando um opositor se trabalha para o prefeito atual?
- Eu achei que fosse pra dar mais ânimo para as eleições, não sei direito...
- o que seu pai disse quando descobriu?
- não era segredo, não tinha importância.
- pode me dar o endereço dele?
- por que eu faria isso? – Kiba ironizou.
- porque você me deve isso!
- não foi nesse sentindo, - Kiba riu anotando o endereço num papel – e sim porque nossa cidade é pequena, todo mundo sabe o endereço de todo mundo, menos você é claro, já que se colocou a margem dessa sociedade.
- a vida das pessoas desse lugar não me interessam, - o loiro pegou o papel e foi saindo, foi quando o cartaz na parede lhe chamou a atenção – “luto para proteger vocês”? – o loiro sorriu – você me disse isso uma vez, lembra? Seu pai tinha razão, a política sempre esteve em seu sangue...
- Eu me lembro... – Kiba disse vendo Naruto se afastar – e ainda vou...
Eu corri por aquelas ruas, ansioso, checando o caminho a cada curva, cheguei à uma parte tradicional da cidade, as casas eram arrumadas, delicadas, quando enfim cheguei no número indicado hesitei em tocar a campainha.
Era um grande passo, eu poderia descobrir muita coisa, mas podia me arrepender também, aquela noite na praia me veio à cabeça, eu quase podia sentir a água na minha garganta novamente, as ameaças do prefeito ecoaram na minha cabeça, eu temi, agora eu tinha muito a perder, eu realmente podia abrir mão de tudo aquilo é ir embora, o passado já não me interessava, afinal, o que iria mudar, eu estava cansado, cansado de me machucar, e o Deidara tinha razão, ele era perigoso, resolvi ir embora.
- o que faz aqui? – Memma perguntou curioso ao ver Naruto em sua porta.
- o que? – Naruto se assustou ao dar de cara com Memma voltando das compras.
- o que você faz aqui? – Memma repetiu calmamente.
Eu queria ir embora, mas quando o vi, seus olhos cansados, olheiras fortemente marcadas, o ar cansado e triste, os cílios molhados, e estar na aparência do modo automático, ele era como eu, mas sem o um Itachi para lembrar que a vida pode ter sentido, eu queria ir embora, mas precisava ficar.
- queria saber mais do Tobirama... – Naruto disse na esperança de chamar a atenção de Memma.
- por que? – Memma ficou curioso.
- estou tentando entrar para o jornal da cidade, - Naruto mentiu – e estou escrevendo um artigo sobre ele, e haviam coisas que eu queria saber...
- saber o que? – Memma ficou intrigado – que ele era um suicida que merecia o inferno?
- acredita nisso? – Naruto continuou – pois eu pensei que por ser, bom você sabe, mais próximo à ele talvez você não tivesse um conceito tão imaturo assim...
- imaturo por que?
- acreditar em inferno, se eu quisesse escrever essas crenças eu nem precisaria pesquisar sobre ele...
- acredite em mim, você não quer saber o que eu tenho pra contar, ou cometeria suicídio também... – Memma passou por Naruto e começou a destrancar a porta.
- Eu sei a verdade! – Naruto disse num gesto desesperado – quero saber o que aconteceu de verdade com o Tobirama, quero prende-lo...
- não pode, - Memma sussurrou surpreso – ele está acima da lei...
- não precisa estar! – Naruto se aproximou – eu quero fazer ele pagar, eu posso fazer isso!
- o que te faz acreditar nisso?
- conheço gente importante, - Naruto disse empolgado – que está na mira dele, não podemos deixar nada para trás! Ele não vai escapar impune!
- ele já escapou...
- Eu sei o que ele fez com você! – Naruto impediu que Memma entrasse em casa.
- como?! – Memma se surpreendeu.
- acredite em mim! – Naruto disse apressado – eu quero mudar isso, quero que ele pague por todos os crimes que ele cometeu, e acredite foram muitos!
- você é muito ingênuo...
- ele machucou pessoas importantes pra mim, - Naruto disse sério – e eu quero fazer justiça por elas e por mim, achei que você não queria que as pessoas lembrassem do Tobirama como um suicida que merece um inferno, mas pelo visto me enganei...
Ele estava com medo, isso era claro, e eu não podia culpa-lo, muito menos cumprir o que eu estava falando, apesar de no momento ser o meu maior desejo.
- espera! – Memma foi atrás de Naruto – me encontra nesse endereço hoje à noite, é melhor você estar certo, e que consiga o levar à juízo!
Eu apertei o papel com o endereço mas minhas mãos, agora eu teria que fazer justiça, mas não fazia ideia de como faria, a única coisa que eu sabia, era que eu estaria na pousada dos pássaros, quarto 7, assim que a noite caísse.