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História O albatroz evanescente - A bordo do Albatroz


Escrita por: SpiderFromMars

Capítulo 1 - A bordo do Albatroz


Quando abri os olhos e saí do estado de entorpecimento em que me encontrava, não fazia ideia de onde eu estava - e nem sobre o quê. Mas, mesmo assim, eu sabia que estava em movimento, e parecia ser no mar, pois me sentia cansado e enjoado. Tive uma dificuldade absurda para me manter em pé. Fui chacoalhado para todos os lados e então percebi que eu estava em uma cabine. Havia lá uma cama estreita e um amontoado de roupas, dentre outras coisas que não pude distinguir devido à escuridão do ambiente.
   Enquanto eu era arremessado de um lado a outro com bruta violência, achei, sem muito esforço, a porta. Assim que a abri, vi-me em um corredor de madeira com lamparinas presas às paredes. Tive certeza, nesse momento, que eu estava em alto-mar, num navio. Andei, cambaleando, pelo corredor, e cheguei a uma outra porta, uma maior do que a da cabine. Hesitei, mas a abri, e então me deparei com a proa de um grande navio.
   O mar estava agitado demais e os navegantes mal conseguiam se manter em pé - mas isso não era motivo para pararem o trabalho que cada um exercia ali, pois, notei, eles continuavam seus afazeres sem reclamarem. Içavam velas, traçavam cordas, limpavam o convés, desciam e subiam de altos mastros, e eu ali, parado, observando-os, sem saber o porquê de eu estar ali.
   Senti, enquanto eu me perguntava mentalmente sobre isso, um empurrão em meu ombro. Era um homem alto, forte e negro, e segurava um balde encardido e uma esponja velha.
   - O que fazes aí parado? - ele me perguntou. - Pegue isto.
   Ele, então, jogou o balde e a esponja em mim; eu fiquei quieto, sem reação.
   - Limpe! - ordenou ele, antes de sair e passar por uma porta ali perto.
   Eu olhei desconfiado aos quatro cantos possíveis, tentando entender o que se passava, mas ninguém parecia interessado em me explicar. Todos passavam apressados por mim, me empurrando e me ignorando, fingindo não ouvirem meus pigarreios e meus "com licensa". Sem opção sobre o que fazer, me agachei, peguei a esponja, molhei-a na água e comecei a esfregar o piso. Fui, aos poucos, me aproximando de um velho homem baixinho e banguela que fazia o mesmo trabalho que eu me atrevera a fazer. Ele, percebendo que eu ne aproximava, começou a ir à direção oposta, a fim de me evitar. Mas fui persistente. Fui seguindo-o até encurralá-lo contra a lateral do navio, e ele me lançou um olhar assustado e profundo, como se soubesse exatamente o que ia perguntar.
   - O que você quer? - perguntou-me ele, sem parar de esfregar o chão.
   - O que é isso? Que lugar é este? Você sabe?
   - Se eu fosse você eu apenas trabalhava. Nada de perguntas.
   - Como eu vim parar aqui? - Lembro-me de ter deixado a esponja de lado e avançado para cima do homem, o que lhe assustou. Porém, me recompus.
   Notei alguns homens me observando estranhamente. Peguei a esponja de volta e recomecei a esfregar. Levei minha visão à frente e percebi que navegávamos rumo a uma tempestade. Nuvens negras e pesadas se formavam, e me arrepiei ao pensar que aquele navio ia diretamente para lá.
   - Por que estamos indo para aquela tempestade? - perguntei ao velho homem.
   Ele esperou alguns segundos, pensativo ao esfregar. Parecia estar escolhendo as palavras adequadas.
   - Vamos caçar - disse ele, enfim.
   - Caçar? O que, baleias?
   - Não - ele riu -, baleias não.
   - Então?...
   - É que...
   Mas antes que pudesse responder, o velho ao meu lado foi atingido por uma dolorosa chicotada em suas costas. Ele caiu e gemeu de dor. O homem que o atingira - notei ao me virar por um segundo - era alto, robusto e cheio de cicatrizes, e me ameaçou com o chicote quando o fitei. O homem chicoteado voltou a se ajoelhar e a esfregar, e eu, contra minha vontade, também.
   O céu parecia estranhamente escuro devido à tempestade que se aproximava, mas vi o que era escuridão quando a noite, sem demora, chegou. Não era possível enxergar um centímetro além do navio, e qualquer esforço para forçar a vista era inútil - e eu não estava em condições de forçar nada, pois passei o dia inteiro a limpar aquele maldito navio. Ao final do dia meu corpo estava dolorido, principalmente as costas, então quando fomos levados ao porão do navio, onde iríamos dormir, senti um certo alívio.
   Éramos mais ou menos vinte e cinco homens, e fomos amontoados, jogados e orientados a dormir no chão. Com tanta coisa que se passava em minha cabeça, era quase impossível de eu conseguir dormir - ainda mais sabendo que uma tempestade mortal era o destino daquele navio. Descartando "dormir" de minha lista de "coisas a fazer", procurei, por entre aqueles homens sujos e indigentes, o velho com quem eu conversara mais cedo. Não foi difícil de achá-lo, embora eu percebesse claramente que ele tentava me evitar. Fui até ele e insisti que terminasse de me contar o que se passava, mas ele não falou assim de imediato. Ficou apenas me encarando por algum tempo, o que me deixava desconcertado e impaciente. Porém, após aquele silêncio, ele falou:
   - Quer mesmo saber o que vamos caçar? Tem certeza?
   - Quero saber o porquê de eu estar aqui e não me lembrar. Que navio é este?
   - Este - e ele começou a rir, mostrando-me seus poucos dentes - é o Albatroz Evanescente.
   - E quem me trouxe aqui? E por que não me lembro de nada?
   - Foi trazido a este navio para ajudar na caçada. Todos nós fomos. - Ele, então, sentou-se em um caixote de madeira em um canto daquele porão imundo.
   - Se queriam pessoas para caçarem deveriam ter contratado caçadores - eu disse, impaciente.
   - Você é louco? Conhece alguém que esteja disposto a zarpar no Albatroz? Este navio - e senti, todos sentiram, o casco do navio ranger - está amaldiçoado.
   - Amaldiçoado? - questionei, incrédulo. - Como assim?
   - Em que mundo você vive? Por onde esteve? Não conhece a estória do Albatroz?
   Senti um arrepio agudo quando ele me disse aquilo.
   - Estive trabalhando muito - respondi, inseguro. - Não tenho tempo para ficar ouvindo essas estórias de bêbados.
   O homem me pareceu um pouco ofendido com o que ouviu, mas pouco me importei.
   - Ah, mas essa não é uma "estória de bêbado". Aconteceu de verdade, neste navio, quando ele ainda carregava o nome de "Lady Eva".
   - "Lady Eva" - repeti, bem baixo.
   - Sim. Quer conhecer essa estória, senhor? - Ele me perguntou de um jeito peculiar que tornava difícil dizer não. Fiquei absurdamente tentado a ouvir o que ele tinha a contar, então, despreocupado, peguei outro caixote e sentei-me à frente dele. Os outros que tentavam dormir por ali, notei, também se aproximaram para ouvirem a estória -embora, àquela altura, eles já soubessem do ocorrido.



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