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História O albatroz evanescente - O albatroz evanescente leva uma alma


Escrita por: SpiderFromMars

Capítulo 3 - O albatroz evanescente leva uma alma


Atônito, meditei, nos segundos que sucederam à narrativa empolgante do homem, sobre o relato sobrenatural que ouvira, e cheguei à única conclusão cabível: aquele homem era completamente louco. Um albatroz-fantasma? Maluquice! E, ao que dirigi essa última exclamação a ele, foi-me devolvido uma expressão fechada, uma mescla de ódio e indignação.
   Vi que a vontade dele era de me xingar ou bater; eu, particularmente, não esperava que ele fosse ficar bravo por eu não dar créditos à estória que me foi contada. Mas, antes que ele pudesse me xingar - ou bater -, um estrondo alarmante nos surpreendeu. Vinha de cima. Eram batidas contínuas, como alguém que bate à porta com desespero.
   - Alguém está chamando - observei, olhando para a portinhola que dava acesso ao convés.
   - Estamos todos aqui - disse o velho. - Só dormem lá em cima...
   - O quê? Quem dorme lá em cima?
   - O capitão. O capitão Hasting.
   As batidas que ecoavam pela madeira, por poucos segundos, sincronizaram-se com as batidas do meu coração, impedindo-me de seguir a linha de raciocínio que eu almejava alcançar. Ele dissera "Hasting", o mesmo da estória que contara há pouco, então só podia significar que...
   A porta foi aberta e ouvi de imediato o vento cortante lá de fora. Vi, com esperada dificuldade, a silhueta de um homem, e, mesmo sem poder vê-lo claramente, senti que me mirava diretamente.
   - Para fora, todos, agora! - a voz do desconhecido que abrira a porta chegou aos meus ouvidos com perfeita nitidez. Um som rouco, grave, profundo, que, acredito eu, ressoou em mim assim como nos homens ao meu lado.
   O homem da voz rouca, então, afastou-se, deixando a portinha aberta. Em uma desorganização apressada, saímos, subindo a frágil escada até ao convés. Lá, a escuridão, abafada por nuvens sólidas que pareciam infinitas, era sufocante, e eu, tentando ver o rosto do homem que nos ordenara sair, me decepcionei mais uma vez. Ele estava de costas, sobre um casaco negro que o fazia ficar ainda mais corpulento; seu rosto estava coberto pelo capuz.
   Não conseguindo ver o homem de frente, dediquei-me, então, a observar o cenário ao meu redor. As nuvens, como já relatei, cobriam o céu em peso. A chuva caía, aos poucos, mas o que me preocupava realmente era o vento. Rajadas de ar nos atingiam com precisão e, às vezes, nos jogavam ao chão. Comecei a temer pelo barco. O casco rangia e eu o ouvia a todo momento. As ondas e o vento, juntos, estavam prestes a afundarem aquele navio.
   - Não se preocupem, terminaremos o que iremos fazer antes mesmo do mar nos engolir. - Aquela voz rouca, audível e perceptível a todos nós, era, curiosamente, agradável de se ouvir. Me virei, assim que oivi a voz, e vi que o grande homem encapuzado olhava ao céu, mais precisamente ao olho da tempestade.
   Eu poderia fazer uma lista de coisas que eu vi na vida e que me impressionaram, mas, devido ao entorpecimento que sofri para ser levado àquele navio, não me lembrava de muita coisa, mas, se lembrasse, com certeza o que eu vi (e relatarei em seguida) estaria no topo da lista. Cheguei a dar um passo atrás e arregalar os olhos ao testemunhar aquela cena, e tive certeza, mesmo sem olhar para os lados, que todos naquele navio - talvez à exceção do capitão - fizeram o mesmo.
   De lá, de dentro da tempestade já formada, por entre as nuvens pesadas, em meio ao vento violento, surgiu, audacioso, a maior - e mais sinistra - ave que já tive o desprazer de ver. Quero dizer, apreciá-la era agradável; se tratava de algo singular, uma obra-prima da natureza sobrenatural. Era um albatroz de proporções exageradas; suas asas, envergadas em pleno voo, passavem facilmente dos cinco metros. Seu bico, também maior do que o comum, parecia bem mais ameaçador do que os dos albatrozes normais.
   O que me frustrou foi que a visão que me encantara durou apenas alguns segundos. O gigante albatroz branco, até então visível aos meus olhos, tornou-se límpido, transparente,  e então, invisível. Toda a tripulação do navio se alarmou ao desaparecimento da criatura. Mas, juro, ela reapareceu, já mais próxima do navio, perfeitamente física, mas, um segundo depois, foi-se, sumindo à vista de todos nós. Mesmo diáfano, ainda pude ouvi-lo, seu canto único e agourento penetrando neus ouvidos com clareza.
   - O que estão esperando? Cada um, pegue uma espada! - A voz grave do misterioso homem encapuzado cortou o assombroso canto do pássaro espiritual.
   Ainda em choque com o que acontecia - e tudo ali acontecia mais rápido do que parecia -, corri, lutando contra a chuva e o vento, a um canto do navio onde se encontravam várias espadas dentro de um velho barril. Peguei uma e me postei junto aos outros homens, encostado a uma mastro para não ser derrubado pelo chacoalhar da embarcação.
   Os relâmpagos que ornavam a fria e escura noite tornaram-se uma ajuda essencial, pois, quando iluminavam o céu, davam-nos a clareza necessária para enxergarmos a ave - pelo menos quando ela se encontra em sua forma carnal.
   - Ali! - gritou o homem da voz rouca, apontando o braço direito para o alto, a bombordo.
   Olhei, de súbito,  ao local indicado e, acima do "Albatroz Evanescente" - o navio, não a ave -, planava, encarando-nos, a bela porém diabólica ave. Ela deu o bote, mirando-nos, e, quando se aproximou em uma distância crítica, foi golpeada por uma avalanche de lâminas - ou teria, se não tivesse assumido sua forma espectral justo quando a golpeamos. Três segundos depois e ouvi o ruído da grande ave, e, ao que olhei para cima, lá estava ela, mirando ao grande homem destacado sobre o casaco preto. Mesmo estando lá no mastro mais alto, oude ver os olhos vermelhos da criatura.
   - Droga! - pragueijou um senhor ao meu lado, deixando sua espada cair. Virei-me a ele e o vi tocando seu peito, na altura do coração. - A ave, ela... ela encostou em mim. Senti seu corpo atravessando o meu.



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