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História O albatroz evanescente - A morte da maldição


Escrita por: SpiderFromMars

Capítulo 4 - A morte da maldição


Então, no segundo seguinte, ele se ajoelhou, sua face carregando horror e medo. Depois, caiu por completo, de bruços, totalmente morto. Olhei para cima e o albatroz ainda estava lá, sobre o mastro, parecendo satisfeito ao nos contemplar, como se estivesse escolhendo sua próxima vítima, e, para minha infelicidade, ele lançou seus olhos rubros sobre os meus, gelando-me o coração. O pássaro, audacioso como sempre, alçou voo em minha direção. Por impulso, dei alguns passos para trás. A ave estava carnal, física e visível, e se aproximava velozmente à minha frente. Ergui, por puro reflexo, minha espada, e a maldita ave tornou-se apenas um espírito transparente mais uma vez. Tentei golpeá-la sem vê-la, às escuras, mas um tranco estrondoso arremessou-me longe. O navio batera em algo. Ao que rolei pelo chão, devido à batida, vi que metade dos homens também tinham caído; os outros se encontravam apoiados em mastros e em cordas, e, mesmo instáveis, não caíram.
   Levantei-me com pressa. Mesmo com a chuva e o vento contra mim, consegui localizar minha espada, e eu a peguei. Meu primeiro pensamento foi em relação à ave. Será que me tocara? Será que sofreria o mesmo destino daquele pobre velho? A princípio, nada senti. Tateei todo meu corpo e tudo parecia normal, mas, naquele momento, minha atenção foi tomada pelo homem parado à minha frente. O homem encapuzado. Enfim pude ver seu rosto, e, devo-lhes dizer, era mais agradável ver o albatroz.
   Era como se ele não possuísse pele. Só consegui distinguir algumas saliências que pareciam cicatrizes, espalhadas pela carne exposta. Um de seus olhos me pareceu apenas uma órbita vazia, o que me fez sentir náusea.
   - Recomponha-se, Jhon! - gritou o homem, a mim. - Não posso acabar com essa maldição sozinho.
   Aquilo me pareceu estranho - muito mais do que já estava sendo até então. Ele sabia o meu nome, e me encarava sorridente - pelo menos tentava sorrir -. Era como se ele me conhecesse há anos.
   - Como sabe meu nome? - perguntei.
   - Jamais esqueço dos rostos que navegam comigo. Você estava aqui quando esta maldição começou. Era o meu imediato. Sobreviveu àquela ave até voltarmos ao continente, quando, em um último ataque, assim que atracamos, a ave o derrubou. Você caiu do navio, bateu a cabeça e perdeu a memória, mas sobreviveu.
   A voz rouca do capitão Hasting me trouxe muitas lembranças à mente. Em uma fração de segundo me lembrei de tudo: o motim, o surgimento do albatroz diabólico, o raio deformando o capitão, a volta para casa, as inúmeras tempestades em que fomos atacados, nossos companheiros morrendo um a um, e, por fim, lembrei-me da ave a me atacar assim que chegamos em terra firme. Chovia muito. Eu estava prestes a descer do navio quando o albatroz me surpreendeu e quase me tocou, me derrubando por falta de equilíbrio.
   - Não se preocupe, isso acaba hoje, eu prometo. - A voz do capitão me despertou do meu breve devaneio.
   Então, vi-o postando-se à frente de todos, erguendo sua espada acima, onde avistara o albatroz pela última vez, e proferiu as seguintes palavras:
    - "Venha, ave dos infernos, que arrancaste de mim minha tripulação, um a um, entre as intempéries que pairavam sobre os sete mares. Venha, ave demoníaca, procedente do hades, filha do traidor, cuja maldição irá cessar assim que a lâmina da minha espada atravessar seu corpo ora espectral ora carnal. Venha, ave de nascimento sobrenatural, que testemunhara as inúmeras cicatrizes que cobrem meu rosto, e que viste, ao clarão dos relâmpagos, minha carne queimar. Venha a mim! Faça seu último voo! Enuncie seu último agouro!"
   O maldito pássaro surgiu, intimidando-nos, seu canto lúgubre a ecoar em nossos ouvidos. A claridade dos frequentes raios nos permitia ver a ave deslizando no ar, sobre o navio, enquanto se encontrava visível. Mas não permaneceu nesse estado por muito tempo. Tornou-se translúcida ao som dos trovões ensurdecedores.
   - O arpão!!! - gritou o capitão, sem nem deixar de olhar para cima, como se tentasse adivinhar de que lado a ave viria.
   Logo, três homens trouxeram uma grande caixa com uma lança acoplada em cima, presa a uma longa corda. Ouviu-se, naquele momento, o pio obscuro sobre nós.
   - Lá! - O capitão apontou para cima, à esquerda, e o arpão foi apontado àquela direção. - Esperem...
   Não podia ver o albatroz, mas sabia que estava bem próxima.
   - Esperem... - insistiu. Ele parecia ter certeza de que a ave iria se mostrar antes de atacar.
   E ele estava certo. A poucos metros de nós, a ave tornou-se sólida, palpável e avistável, bem na direção em que o capitão ordenara apontar o arpão.
   - Agora! - Um dos homens acionou a arma e a lança cruzou o ar, cortando chuva e vento, parando apenas ao penetrar letalmente a ave assombrosa.
   Estava escuro para ver aonde ela havia caido, mas sabíamos que ainda estava no navio.  Prestamo-nos a correr à direção em que a lança fora atirada e lá, na madeira úmida do navio, jazia um belo albatroz, branco, natural e morto. A ave estava comum, do tamanho normal e sem os olhos vermelhos. A lança atravessava seu corpo, onde atingira o coração.
   - A maldição acabou - anunciou o capitão, ajoelhando-se perante a ave morta. Os relâmpagos, subitamente, sumiram, assim como os trovões. O vento soprou mais leve e a chuva, aos poucos, parou. Até o mar ficou mais calmo. As nuvens se espalharam, e frágeis raios do arrebol iluminaram o céu até então escuro.
    O capitão, ao se levantar, cravou sua espada no pássaro morto e veio até mim. Ficou a me encarar. Então eu perguntei a ele:
   - Por que me trouxe de volta aqui? Não fui de nenhuma ajuda. Quase morri, de novo.
   - Eu não o trouxe aqui para matar a ave, Jhon, e sim para vê-la. Achei que se o trouxesse aqui poderia recuperar sua memória e se lembrar do que esqueceu. Essas eram as duas coisas que eu queria fazer antes de morrer. Fico feliz de ter conseguido realizar ambas.
   Ele, depois de me contar isso, caiu no chão, ao lado do albatroz, ambos mortos. As cicatrizes desapareceram de seu corpo.


Notas Finais


Essa estória, que é de minha autoria, foi escrita como um conto, e que aqui a dividi em capítulos. Espero que tenham gostado.


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