Lauren Michelle Jauregui ON
Acelerei o passo quando vi Clara me aguardando no lado de fora do colégio. Lá estava eu novamente, em uma nova escola pela milésima vez. Essas mudanças não me agradavam nem um pouco, eu sempre tinha que me esforçar o triplo para poder entrar no ritmo do novo local. Parecia que eu já tinha passado por quase todos os colégios de Salvador.
- Deixou a educação em casa?- Perguntou irritada quando passei por ela e não a cumprimentei.
- Devo ter deixado na última escola em que estive...- Murmurei quando entrei no Audi A3 2017 de cor preta, pondo meu cinto em seguida.
- Você disse o que, Michelle?- Se sentou ao meu lado, também colocou seu cinto de segurança.
- Eu...Eu só não aguento mais esse troca troca...- Tornei minha voz mais calma com medo de sua reação.
- Você sabe que eu faço isso para o seu próprio bem...- Suspirei passando minhas mãos por meu rosto.- Eu não posso tolerar uma coisa como aquela, e você...- Escutei o telefone da mulher tocar e agradeci mentalmente por não ter que ouvir todo aquele discurso novamente.
Me debrucei na janela ao meu lado e observei com tédio o lado de fora, vários alunos encaravam o veículo mas nenhum nos via por conta da película fumê que revestia os vidros. Vi Camila se sentar com uma garota alta e loira, elas conversavam e a morena não parava de gesticular com suas mãos, fechei meus olhos e me proibi de continuar analisando o perfil da garota que havia sido muito gentil comigo. Despertar curiosidade por Camila poderia ser perigoso.
- Como foi o seu primeiro dia aqui?- Clara me despertou do meu transe.
- Hum...Foi a mesma coisa de sempre, entediante e solitário, até que...- Por um instante ponderei comentar sobre a garota de olhos castanhos tão atenciosos.- Foi exatamente a mesma coisa.
- Então vamos logo para casa.- Falou ligando o carro.
Eu já estava farta de tudo aquilo, eu não podia ser quem eu era na minha própria casa, o desejo de fugir daquele local se fazia presente cada vez que Clara começava a falar. Mas eu era fraca e até tola demais, me prendia as palavras de meu pai, "tudo vai melhorar".
Mexia em meu celular e o silêncio reinava, as vezes tudo o que eu mais queria era que ela agisse como mãe, eu via as pessoas considerarem suas mães fortalezas e quando chegava em casa a minha poderia ser considerada uma cabana de palha em pleno vendaval. Odiava pensar na minha relação com Clara, de início ela era minha confidente, nós sorríamos uma para a outra mas conforme eu fui me descobrindo sexualmente os sorrisos se apagaram e deram espaço ao desprezo. Uma lágrima teimou em deixar meus olhos, virei mais meu rosto em direção a janela para que ela não me visse chorar, passei minha mão discretamente por minha face enxugando minha bochecha em seguida. Lembrei das quantas vezes eu implorava mentalmente por seu abraço, por causa de uma nota baixa ou até mesmo uma briga com colegas no colégio, mas eu sentia medo de ir e pedir o teu afeto, então voltava para o meu quarto mais cabisbaixa do que quando tinha saído. Chegou o tempo em que eu parei de clamar por seus carinhos, afinal eu tinha um pai que me abraçava quando eu queria, mas mesmo assim no fundo eu ainda sentia sua falta. Não posso dizer que eu tinha fechado a ferida, só achei um meio de faze-la doer um pouco menos.
- Ah! Por que essa rotatória engarrafa tanto?- Ouvi a mulher ao meu lado reclamar irritada como sempre.- Céus!- Freou o carro abruptamente quando entrou na fila de automóveis parados.
Coloquei meus fones e dei play em uma música aleatória da Lana Del Rey, encarei meus dedos e comecei a brincar com os mesmos. Minha mente vagava no que eu faria quando chegasse me casa, as batidas lentas da música pareciam relaxar meus músculos sobre o banco revestido em couro. Ergui minha cabeça por um instante e meus olhos focaram na mesma garota de mais cedo. Camila. Ela estava caminhado no lado direito do carro, junto a sua amiga ou quem sabe...esquece. Minha respiração pareceu pesar quando vi suas mãos entrelaçadas.
- Que horror...- A mulher ao meu lado esquerdo sussurrou como quem tivesse visto um assassinato. Eu sabia que ela não se referia mais ao trânsito, e sim às garotas que sorriam uma para a outra.
- Clara...Por favor.- Pedi já cansada de seus comentários maldosos.
- Ah, Lauren, não as defenda.- A encarei com o cenho franzido.
- Quê? Só estou pedindo para respeita-las.- Eu nunca debatia com ela mas naquela dia algo não me deixou ficar calada.
- Chega garota! Acreditava que esses seus pensamentos já tinham se esvaído. Talvez eu tenha que tomar uma atitude mais enérgica...- Praticamente me ameaçou.
- Não! Me desculpe...mãe.- Fechei meus olhos e me encostei completamente no banco. Voltar a discutir com ela não me faria bem em muitos sentidos.
Já estava no final da tarde, me levantei da cadeira após ter ficado horas estudando, me joguei na cama completamente exausta, mais psicologicamente do que qualquer coisa. Me remexi sobre os lençóis quando escutei três batidas na porta tão distante.
- Quem é?- Perguntei na mesma posição.
- Sou eu, meu bebê.- Sorri com sua fala boba.
- Pode entrar.
Me virei para o observar, meu pai apareceu na porta sorrindo. O homem entrou no cômodo e fechou o objeto atrás de si.
- Seu bebê de dezessete anos?- Perguntei com graça.
- Óbvio! Você sempre será meu neném, sempre.
- E você sempre será o meu novinho favorito.- Ri e o homem me acompanhou.
- Como está?- Se sentou ao meu lado e fez um carinho em meus cabelos.
- Estaria melhor se eu não tivesse que mudar de colégio a todo instante.- Soltei um breve suspiro.
- Sua mãe que insiste nessa ideia, mas veja pelo lado bom! Você conhece gente nova.
- Conheço e depois as deixo.
- Lauren, meu amor, você sabe que tudo vai melhorar. Confie em mim.- Me encarou com calma e bateu em seu colo para que eu apoiasse minha cabeça.
- As vezes parece que eu vou explodir sabe?
- Eu não gosto de te ver assim...- Voltou a acariciar meus cabelos quando eu repousei minha nuca em sua perna.- Vou falar com sua mãe de novo.
- Pai...Você sabe que meu problema não é só essa troca de colégios.
- Filha...Eu...Eu vou dar um jeito. Ok?- Apenas concordei com um som nasal.
Clara era advogada e Michael arquiteto. Pelo o que me contaram, os dois se conheceram no carnaval de Salvador, eles eram bem novos e estavam com seus amigos. Depois da festa, eles começaram a sair até que meu pai a pediu em namoro e com o passar de um certo tempo eles se casaram. Bem sucedidos, eles conseguiram me dar uma vida confortável e sem problemas, financeiros ao menos. Durante toda a minha infância eu me comportei como todas as outras crianças, meus pais me olhavam com orgulho, já que eu era uma aluna prodígio. Nossa família era como as de comerciais de margarina, sorrisos e risadas tomavam conta do ambiente, mas nem tudo é eterno e infelizmente a harmonia na minha casa se adequou a essa regra.
- Lau...Vamos visitar os Mendes hoje.
- Eu tenho mesmo que ir?
- Claro, filha.
- Af...- Resmunguei me levantando da cama.- Vou me vestir.
- Não demore.
Muitas vezes Clara e meu pai me arrastavam para as reuniões dos amiguinhos deles, faziam isso na intenção de nos unir, mas desde quando irmos para a casa de outras pessoas une a NOSSA família?
Optei em vestir um cropped vermelho com um saião preto que possuía duas fendas enormes, uma na frente de cada coxa, calcei o meu tênis branco e joguei meus cabelos para o lado, fiz uma maquiagem básica para ressaltar meus olhos e saí do quarto com minha bolsa em mãos.
Entramos no carro, retirei meu celular da bolsa quando ouvi o bipe sinalizando que eu tinha recebido alguma mensagem. Desbloqueei a tela do aparelho e sorri ao ler o nome dele acima da frase "tu vem, certo?", mandei um emoji com cara de dúvida só para abusa-lo.
"Você está indecisa?! Lauren, não me faça ir até aí pra te buscar pelos cabelos", mordi meu lábio inferior prendendo o riso enquanto teclava com ele. Ir para a casa dos Mendes tinha um lado bom, Shawn. O garoto era meu amigo desde a nossa infância, quando eu ia para a casa dele. Bom, essa tradição não mudou muito. Ele sempre me fazia companhia nesses momentos mega entediantes.
- Porra, mano, tem uma garota lá no colégio que é muito gata.- Meu amigo disse quando entramos em um bar. Nós resolvemos sair para fazer algo interessante.
- Sabe o nome dela?- Questionei me sentando em um banco do local.
- Sei sim, é Diná.
- Ela é do seu colégio?- Procurei um garçom e avistei uma garçonete se aproximando.
- É sim.
- Ah! Eu entrei numa escola nova hoje, pra variar né? Qual é o nome da sua?
- Af...De novo isso.
- Pois é...
- Eu estudo no...
- Boa noite! Já querem fazer algum pedido?- A moça que veio nos atender o cortou.
- Boa! Eu quero pedir uma Heineken de 330 ml, por favor.- O garoto a minha frente disse à garçonete que prontamente anotou em um tablet.
- Eu vou querer uma limonada, por favor.- Sorri para ela quando a mesma me encarou mais do que deveria.- Somente isso por enquanto.
- Não sei o motivo de você não beber...Lauren, você tem cara de dezoito.- Comentou após a mulher se afastar.
- Mas eu não tenho dezoito que nem você, Shawn.
- Af...Você e essa sua linha certinha, hum?
- Ah, vá se foder.- Ri me ajeitando no assento.- Você já tentou chegar nela?- Retomei a conversa anterior.
- Eu fico com um certo receio, não sei explicar. Ela tem um ar imponente, porra isso é lindo nela.
- Tu tá apaixonado, cara.
- Óbvio que não! Eu só quero muito ficar com ela.
- Hum...- Espremi meus olhos em sua direção duvidando da sua fala.
- Não mete essa, tu sabe que eu gosto da Rafaela.
- E quer pegar outra?
- A vida continua, não?- Sorriu cafajeste erguendo as sobrancelhas rapidamente.
- Você não vale nada mesmo.- Ri das caras e bocas que ele fazia.
Entrei em casa cansada, muito cansada. Já era meia noite, depois do bar Shawn havia me segurado por um bom tempo em sua casa, até que não foi tão ruim, já se tinha um certo tempo que nós não conversávamos. Era bom ter um amigo como ele.
- Lauren, amanhã eu quero você de pé cedo.- Clara disse quando parou na frente da sua porta.- Não quero saber se estava na farra com o Shawn.
- Tá.- Respondi com preguiça enquanto caminhava para o meu quarto tentando manter meus olhos abertos.
Tomei um banho rápido e corri para pegar o meu pijama, apaguei as luzes do cômodo e suspirei aliviada ao finalmente me deitar e poder relaxar meu corpo.
- Porra...- Me virei de barriga pra baixo e tentei acalmar meus pensamentos. Por que a nossa mente tem que começar a reproduzir um filme do nosso dia bem na hora de dormir?
"Vai ser um prazer te ajudar no que precise."
"Como você está?"
Algumas frases rondavam minha mente, puxando com si o rosto da locutora das mesmas. Camila. Era inegável que ela tinha sido uma boa pessoa comigo, já que a mesma me defendeu e ainda se preocupou em saber se eu estava bem, realmente aquele ato não sairia da minha cabeça.
Ouvi o barulho irritante vindo do meu celular e me levantei para desativar o alarme, cocei meus olhos e virei meu corpo de costas a claridade que invadia todo o quarto, passei minhas mãos por meu rosto amassado e fiz um coque em meu cabelo.
- Acorda, Lauren!!- Clara gritou batendo na porra da porta.
- Eu já levantei!- Se tinha uma coisa que eu odiava do fundo do meu coração era pessoas gritarem comigo, ainda mais depois que eu acordo, isso fodia com o meu humor matinal.
Caminhei até o banheiro e tomei um banho frio, saí enrolada na toalha mas a larguei em cima da cama, entrei no imenso closet e peguei a mesma calça do dia anterior, vesti uma blusa tomara que caia de manga longa na cor vinho, calcei os mesmos sapatos do dia anterior e soltei o coque somente para ajeita-lo. Peguei minha mochila e saí do quarto
Acabei chegando cedo para o meu segundo dia de aula naquele novo colégio, resolvi me sentar na segunda cadeira da fila do meio, deixei minha mochila no local e comecei a andar para fora da sala com meu livro em mãos. Fui observando a movimentação nos corredores enquanto procurava a área verde, vi um rosto muito familiar e acelerei meus passos atrás da pessoa, sorri ao perceber quem era.
- Shawn!!- Gritei e o garoto me olhou surpreso.
- Porra eu não acredito!- Disse se aproximando.- Você estuda aqui!- Me abraçou sorrindo.
- Aqui é muito grande, ontem eu quase erro o caminho de volta.- Comentei enquanto analisava o espaço ao meu redor.
- Não se preocupe, comigo você não se perde.- Passou seu braço sobre meus ombros e começamos a andar.- Senhorita Lauren Michelle, vamos dar inicio em nosso tour.- Forçou uma voz mais fina que a dele me fazendo rir.
- Você está no segundo, né?
- Estou sim...Caralho Lauren! Diná pode ser da sua sala.
- Ela é do terceiro?
- Sim!
- Mas aqui tem dois terceiros, seu bestão.
- Mesmo assim, agora está mais fácil de poder ter algum contato com ela.
- Quê? Tu quer me usar de ponte?
- Mais ou menos isso.
- Nem vem com essa, por que você não pediu para os seus amigos?
- Eu...Eu não tinha pensado nisso...
- Aff, você é lerdo pra zorra.- Comecei a rir da cara que ele estava fazendo, era como se até ele não entendesse o motivo de ele não ter pensado naquilo.
Rodamos o colégio todo e meu amigo me mostrou cada cantinho com total paciência, ainda faltava alguns minutos para o sinal tocar.
- Ah! Você vai adorar a festa à fantasia que vai rolar esse sábado.- Falou animado enquanto nos sentávamos em um banco na maravilhosa área verde que aquele local possuía.
- Vai ser aqui?
- Sim.
- Não vou nem arrastada, a escola toda vai estar.
- Você vai sim, óbvio que vai! Porra vai ser irado! Você vai comigo, não vai ter nada demais.
- Você vai fantasiado de quê?
- Policial. Eu sei, vai ficar foda.
- Larga de ser convencido.
- Então você vai, né!?
- Não sei...
- Vamos, Lau. Vai ser mega divertido, pensa que é uma festa que nós estamos indo juntos. Aí você acrescenta que o ensino médio todo vai estar lá. Simples.
- Ah, muito simples, realmente.- Fui irônica.- Você sabe que eu não sou chegada em festas...
- Para de mentir, Lauren! Ano passado nós fomos em altas festas.
- Isso foi ano passado...
- Vamos lá! Amiga, vence essa timidez, é só uma festa, se você se sentir desconfortável nós vamos embora.- Me encarou com sinceridade.
- Bom...acho que eu posso pensar melhor então.
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