Assim que cheguei senti uma movimentação estranha atrás de umas latas de lixo.
- Quem ainda usa Pombo-Correio? – Perguntei sabendo exatamente quem responderia.
- Celulares são facilmente hackeados. – Disse a Detetive Neember, saindo de uma sombra perto de uma lata de lixo enferrujada. Usava um vestido azul curto e justo e seu cabelo estava preso em um coque no alto da cabeça - Ninguém pode saber que viemos aqui, não vai querer esse tipo de informação andando por aí.
Ela fez sinal para que eu a seguisse e o fiz. Caminhamos em silêncio pelo longo Beco do Jaguar e assim que chegamos ao final dele, nos deparamos com uma escada de incêndio que subia por um prédio.
- E agora? Subimos?
- Não, descemos. – Disse ela se agachando e tirando a tampa de um bueiro.
- O que vamos fazer no esgoto?
- Você vai ver. – E pulou.
Olhei em volta para me certificar de que não havia ninguém e falei:
- Você tem certeza de que é uma boa ideia?
- Está com medo? – Disse uma voz vinda do bueiro.
- É claro que não! – Respondi, mesmo que não fosse totalmente verdade. Mas pulei mesmo assim. Porém não caí no esgoto. Quando olhei ao redor vi um lugar apertado e escuro. Um corredor. – Que lugar é esse? Onde estamos? – Perguntei aflito.
- Acalme-se e só fale quando eu disser que pode, entendeu?
Concordei com a cabeça e a segui por outro longo corredor. Caminhamos por um longo tempo até que ela parou e disse:
- Estamos quase chegando. E escute, não importa o que aconteça essa note, se você contar a alguém, já pode se dar como morto.
Andamos mais um pouco e chegamos a um bar. As paredes eram pretas, as janelas estavam tão sujas que não era possível ver nada, a porta era de uma madeira velha e havia uma cabeça de jaguar empalada sobre ela.
- Que lugar é esse?
- Eu disse para ficar quieto. Essa é a Toca do Jaguar. – Sussurrou.
Assim que entramos observei o local todo. Era pequeno e abafado. Por conta da má iluminação mal podia-se ver os rostos das pessoas que cochichavam entre si tomando cerveja ou jogando baralho. Neember se sentou num banquinho em frente ao balcão e sussurrou para o barman:
- Língua de Gato.
Ele se virou para porta que estava as suas costas, abriu-a e sinalizou para que entrássemos. Andamos por um corredor tão escuro quanto o resto do bar até chegarmos num quarto apertado, cuja tinta das paredes estava descascando. No meio da sala havia uma mesa de madeira com uma única vela acessa. Numa poltrona atrás dela, um homem estava sentado com várias notas na mão contando-as uma a uma. Tinha cabelos ruivos arrepiados e olhos castanhos arregalados. Usava uma regata e um jeans rasgado. Reparei que em seu peito havia um medalhão circular com uma pedra azul clara no meio. Assim que nos viu entrar levantou-se e disse:
- Jeniffer! Que surpresa! – E abraçou-a.
- Ross! Já faz quanto tempo? Três anos?
- Acho que sim! Bom te ver! Continua linda como sempre.
- Obrigada. E você... Continua o mesmo. – Ele riu e se sentou novamente.
- Quem é seu amigo?
- Esse é o Detetive Johnson, da polícia. Detetive, esse é o Ross, o dono do bar.
- Belo medalhão. – Elogiei.
- É... – Disse ele com desdém e voltando os olhos à Detetive Neember- Trabalhando com a polícia agora, Jeniffer?
- Não, ele só esta me ajudando com um caso.
- Desculpe – comecei – mas de onde vocês se conhecem?
- Jennifer investigou alguns... casos para mim há alguns anos. Pois bem, creio que não veio aqui para matar a saudade ou veio?
- Não, precisamos da sua ajuda. Você sabe quem comprou essa arma recentemente? – Disse mostrando a foto de uma Glock 19.
- Hum... – Estudou a foto- Minha memória anda tão ruim ultimamente. Precisaria de algo para refrescá-la, se é que você me entende.
Neember bufou, porém pegou a carteira, tirou duas notas de 20 e colocou-as na mesa.
- É tudo o que eu tenho. – Ele pegou o dinheiro e disse:
- Eu vendi algumas armas para um cara estranho há alguns dias atrás, incluindo a Glock 19. Era alto, forte e estava todo de preto, não pude ver seu rosto, mas não parecia nada amigável.
- Você está vendendo armas ilegalmente? É isso o que quer dizer? Como ainda não te pegaram numa cidade pequena como essa? – Perguntei com um tom de nervosismo na voz. Ele se levantou com os olhos apertados.
- Acho que foi só sorte. – Falou com um sorriso malicioso.
- Bem, é só isso que você sabe? – Disse Neember me lançando um olhar de censura.
- Sim. – Respondeu se sentando calmamente.
- Então vamos, Johnson.
- Não! – Recusei – Eu só saio daqui com ele algemado.
- Quer me prender, policial? Pode tentar. – Desafiou.
Avancei contra ele, porém conseguiu se esquivar pulando para o canto do aposento. Era rápido. Os três minutos seguintes foram puramente de mim tentando atacá-lo, ele se desviando e Neember tentando desesperadamente nos parar. Até que ele parou e assobiou alto.
Depois de alguns momentos de silêncio uma figura entrou na sala por uma porta no canto de uma das paredes. Era grande e andava de quatro patas. Parecia ser amarela e preta, porém não era possível ver muito bem por conta da luz fraca.
- Teddy, pegue-os. – Rosnou o homem que voltava a sua poltrona.
- Corre! – Gritou Neember.
Nós dois disparamos em direção ao corredor, com o grande animal atrás, era muito veloz, porém não conseguiu nos pegar. Passamos correndo pelo bar e quando estávamos atravessando a porta, olhei para trás. Vi um enorme Jaguar rugindo em cima do balcão. Meu corpo estremeceu.
Corremos através do longo túnel e quando estávamos longe o bastante, olhei para trás para verificar se havia alguém. Paramos de correr, ofegantes.
- Você ficou maluco?! – Gritou. – Poderia ter nos matado!
- Eu só faço o meu trabalho. – Respondi irritado.
Ela parecia prestes a explodir, mas respirou e disse:
- Pelo menos descobrimos algumas informações sobre o assassino. Você pode dar uma olhada nos dados da delegacia para ver se acha alguém que bata com a descrição do Ross?
- Claro, porque não existem muitos homens altos e fortes que usam preto. – Respondi com sarcasmo.
- Eu só estou tentando te ajudar!
- EU NÃO QUERO A SUA AJUDA! – Explodi.
Ela recuou surpresa. Abriu a boca para responder, mas desistiu.
- Vamos, estamos quase chegando. – Virou-se continuou caminhando.
Os minutos seguintes foram marcados por absoluto silêncio. Nenhum dos dois ousava dizer nada.
Assim que cheguei ao meu apartamento, olhei o relógio. Já se passava da meia noite. Deitei-me, fechei os olhos e imediatamente dormi.
Acordei na manhã seguinte com o telefone tocando novamente. “Outro caso?” pensei rapidamente, mas então desconsiderei a ideia. Seria um recorde, mais de um mistério em um mês. Fui até a sala e atendi ao telefone. Era o Sr. Smut.
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