Ele se inclinou e pressionou seus lábios contra os dela, que grudou os dedos por entre seus cabelos. Prendeu seu lábio inferior por entre os dentes e ouviu um som grave e selvagem brotar de sua garganta. Quando abria a boca, ele imitava seus movimentos; suas respirações estavam entrelaçadas com o tão pouco espaço que havia entre eles...
O médico limpou sua garganta, chamando a atenção deles.
Ele ainda estava ali?
Leon e Violetta se afastaram rapidamente ao ouvir o som que o médico emitiu, constrangidos.
- Hum... eu... Eu vou dar um tempinho para que vocês possam conversar. - gaguejou o médico, com o rosto todo vermelho de vergonha.
Os dois se olharam e não puderam conter as risadas.
- Coitado! - falou Violetta, limpando algumas lágrimas dos olhos.
Depois de tanto gargalhar, Leon perguntou:
- Você está bem?
- Estou muito melhor do que antes.
Leon pegou-lhe a mão e ficou admirando as veias azuis visíveis nela.
- Me desculpe. - falou, a voz sendo um pouco mais que um sussurro.
- Pelo o quê?
- Por tudo isso. Se eu tivesse te deixado quieta, nada disso teria...
- Isso não foi culpa sua, Leon, foi apenas um acidente, pode acontecer com qualquer um.
Eles ficaram quietos; Leon ainda segurava a sua mão. Violetta recordou-se do momento do acidente... Se bem que... não fora um acidente, fora uma tentativa de homicídio. Ela pode sentir aquela mão agarrar seu tornozelo, que pulsava com a força que aquela mão lhe apertava. Lembrou da sensação de não poder respirar, de engolir água e mais água. Ela estremeceu à todas essas cenas que apareceram em sua cabeça.
- O que foi? - perguntou Leon, percebendo a sua mudança de humor.
Ela pensou em contar-lhe a verdade, mas notou que seus olhos estavam cansados, sua palidez dizia que ele não havia se alimentado direito nesta manhã. Não queria deixá-lo mais preocupado do que já estava, talvez... talvez aquilo não aconteça novamente, certo? Quando voltarem para casa tudo voltará a ser com antes.
- Nada, - respondeu-lhe, depois tocou seu rosto. - eu só percebi que você não dormiu nada bem, está pálido e parece cansado.
- Pois é, estive dois dias sem dormir me preocupando com a senhorita.
- Como assim dois dias?
- Na verdade, um dia e meio...
- Eu fiquei todo esse tempo inconsciente?! - perguntou ela, aflita.
- Pois é. - diz Leon, num tom irônico.
Ela não conseguia acreditar; como uma anestesia poderia durar tanto assim?
- Mas o importante é que você acordou e está bem.
Ela o encarou, impressionada com o seu otimismo. Talvez ela devesse pensar assim também, eu acordei e estou bem, pensou com sigo mesma. Agora é a sua vez de preocupar-se com Leon.
- Já que eu estou acordada e estou bem, você deveria ir dormir um pouco. Volte para o hotel e tome um banho.
- Não vou te deixar aqui sozinha.
- Deixe de ser bobo, Leon. Eu estou bem. E aqui não tem nada de se preocupar.
Ele hesitou por um momento e depois concordou.
- Ok. Mas eu só vou ir tomar um banho e comer, daqui a pouco estarei de volta.
- Tá bom. Mande trazerem comida para mim, tá? - ele assentiu.
Ele se despediu com um beijo em sua testa e ela com um sorriso. Ela o acompanhou com o olhos até a saída da sala.
Alguns minutos depois, a enfermeira Mariane entrou no quarto com uma bandeja cheia de comida. Havia sandwiches, maçãs, um cachinho de uvas, um copo cheio de suco de laranja e uma pequena barrinha de chocolate.
- Você deve estar faminta. - comentou a enfermeira, colocando a bandeja encima da mesinha que havia ao lado da cama.
Seu estômago roncou alto, confirmando o comentário da mulher. Elas riram.
- Mesmo estando com muita fome, não sei se vou conseguir comer tudo isso. - falou Violetta.
- Que isso menina! - brincou Mariane - Está tentando manter o corpitcho, é?
- Na verdade, não. - falou Violetta, rindo. Ela pegou um sandwich e começou a devorá-lo imediatamente.
- Se importa de eu me sentar aqui? - perguntou Mariane, puxando uma poltrona para perto da cama de Violetta.
Violetta fez que não. Mariane jogou-se na poltrona e respirou fundo.
Mariane era uma bonita mulher de olhos castanhos claros, seus cabelos eram lisos e pendiam sobre os ombros; ela aparentava ter uns 30 anos de idade.
- Ai, menina - falou ela - você não sabe o quanto estou cansada. Acabamos de fazer um transplante de rim... o bagulho é intenso, pode acreditar! O Wesley estava um pouco nervoso, ele é novo nessas coisas. Você lembra dele, não é? Um moreninho bonitinho. - Violetta vasculhou por suas memórias procurando por ele, mas só conseguiu reconhecer o nome, não lembrou do rosto do rapaz. Negou com a cabeça para a mulher. - Ah, que pena. Ele é adorável! Eu tenho meio que uma quedinha por ele, sabe? Mas ele namora uma loira azeda que um dia foi sua paciente; ela o hipnotizou com o seu olhar de cobra. Mas você vai ver, um dia vou conseguir separar aqueles dois...
Violetta se surpreendeu com a intimidade da mulher com ela. Mariane contou sobre seu louco amor por Wesley durante meia hora até que a chamaram para atender um outro paciente. Ela ficou aliviada por isso, finalmente um pouco de paz e silêncio.
Fechou os olhos e concentrou-se em sua respiração; não havia nada mais do que somente ela naquele quarto. Pegou num sono facilmente daquela maneira. Em seu sonho estava somente ela e Leon deitados na areia da praia em frente ao mar. Os dois se beijavam, trocavam carícias e palavras bonitas um para o outro. Leon tatuou com a mão da cintura até o ombro dela, massageando-o suavemente, depois escorregou as mãos para o seu pescoço, acariciando-o. Leon os envolveu, apertando-o mais e mais até chegar ao ponto de sufocá-la...
Ela abriu os olhos. Um homem apertava seu pescoço fortemente com as mãos. Violetta tentou livrar-se delas, mas não tinha forças o suficiente para isso. Tentou gritar, mas não encontrava fôlego para fazê-lo. Uma espuma branca corria pela boca do homem, seu rosto retorcido pela fúria.
- Está ficando difícil de te matar hein, amorzinho. - falou entre dentes.
Os olhos dela se arregalaram, seu rosto ficando cada vez mais pálido. Suas pernas foram perdendo as forças lentamente, parando de se debater. O homem afrouxou um pouco as mãos, mas apertou-as novamente empurrando-a para baixo. Ela sentiu uma ardência nas costas e um líquido quente começou a sair de lá. Alguns pontos da cirurgia se abriram. O homem deu uma risada de satisfação.
- Agora você não passa de hoje. - Ele soltou suas mãos do pescoço dela e tirou algo de seu bolso da calça. Um canivete. Ergueu-o e mirou-o direto para o pescoço dela - Boa noite, amorzinho.
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