James Rodríguez:
— Foi o Álvaro quem fez isso em seu rosto? — Pergunta Juan, referindo-se aos hematomas em meu rosto.
— Sim, mas não dê muita importância. Já estou acostumado a panhar assim.
Ele distância seu olhar de mim. Talvez eu não devesse ter falado isto, porém não pude perder essa oportunidade de ser irônico.
O piloto nos dá o sinal para irmos. Entramos eu e Sergio no helicóptero e sentamos em nossos respectivos lugares. Colocamos os fones de ouvido e apertamos os cintos.
Posso ver Juan um pouco cabisbaixo de fora do helicóptero. Espero ser a última vez a vê-lo.
***
Leva umas duas horas para finalmente chegarmos em Es Cargols, Mariorca.
— Não estamos muito longe do local — Fala Sergio olhando para o mapa.
— Melhor nos apressarmos.
Caminhamos pela areia da praia, já é noite, o que torna mais difícil a busca. Porém depois de um tempo caminhando finalmente encontramos o local, mas a imagem que vemos não é a mais agradável.
Chamas, há chamas por todos os lados. O desespero toma conta de mim e a tensão se espalha pelo meu sistema nervoso.
— Sergio, faz alguma coisa! — Eu grito, e o que ele pode e faz é me abraçar. O que mais ele poderia fazer?
Não, não pode ser verdade, isso não pode estar acontecendo. Alguém tem que ir lá e esse alguém sou eu.
Meu estômago embrulha, mas saio correndo em direção a casa. Sergio tenta me conter, mas não consegue, eu adentro no local. Caminho pela casa enquanto o calor das chamas faz minha pele arder. Tento ao máximo não ingerir muita fumaça e procuro por ele por cada canto que passo.
Meu corpo estremece quando o vejo deitado no chão, desacordado, imóvel; tão vulnerável ao perigo que o rodeia.
É inexplicável, mas ponho tudo de mim nisto. Forço-o a ficar sobre meus ombros e caminho rumo a porta. Quase sem forças para continuar, sinto minhas pernas ficarem bambas e ainda assim persisto mais alguns passos. E logo Sergio aparece e me ajuda a carregá-lo para fora da casa em chamas.
Nos atiramos na areia da praia quando saímos, e enquanto isso a casa é demolida pelo incêndio. Sinto vontade de chorar e agora me rendo as lágrimas, porque chorar por salvar alguém que amamos é realmente digno.
Cristiano Ronaldo:
A luz forte me faz piscar os olhos algumas vezes até me acostumar com a claridade. Me dá ânsia quando descubro que estou em um hospital. Mas fico feliz quando olho para à direita e encontro o meu colombiano maluco deitado em um leito.
Começo a me lembrar de todo o acontecido: de James ter sido sequestrado por Álvaro; de Álvaro ter me dopado; e até mesmo do momento em que Álvaro disse que preferiria me ver morrer do que me ver com o James. Sinto uma forte dor de cabeça ao lembrar das chamas provocadas por ele.
Logo Sergio irrompe na porta, seu braço está enfaixado, ele sorri para mim e retrebuo o gesto.
— Pensei que dormiria mais. — Diz ele.
Logo James começa a se mexer em seu leito, e seus olhos abrem lentamente, igual como quando estávamos na viagem em Miami.
Sorrio com a lembrança e me repreendo: como posso ter demorado tanto tempo para descobrir que o amo?
É neste exato momento que percebo que basta a presença de James para me sentir feliz, abobado, igualmente a um adolescente virgem apaixonado pela primeira vez. Tudo nele me atrai: seu olhar descontrolado, seu rosto vermelho de vergonha, sua mania de fingir algo que não consegue, seu sorriso e até mesmo suas lágrimas. Tudo nele me encanta e não posso pensar em mais ninguém, porque tudo o que mais quero é tê-lo ao meu lado.
— Bom dia, James! — Digo.
— Bom dia, Cris! — Ele responde sorrindo, mas logo se contorce. Algo deve tê-lo doído.
— James, o herói do momento! — Exclama Sergio, que logo vai até ele e sela sua testa com um beijo casto.
Ainda não gosto de ver isto, porém deixo passar em branco.
— Deixa disso, Sergio, você também ajudou. — James fala, com as bochechas coradas.
— Mas foi você quem foi louco o suficiente para entar naquela casa em chamas. E graças a sua loucura você está com queimaduras, mas o Cristiano está a salvo.
Sorrio em vê-lo falando tudo isso de uma vez.
— Éh… eu sou um ferrado mesmo. Só vivo apanhando, sofrendo acidentes de carro, me queimando… — Ele para e logo prossegue: — Bom herói sou eu.
Sergio sorri descontroladamente e não me limito a sorrir também. Um médico irrompe na sala.
— Gostaram de ter dormido por dois dias? — O médico fala.
— Quê? — Dizemos eu e James em uníssono.
— Acalmem-se, é brincadeira. Foi apenas um dia. — Diz ele.
— Não é como se isso fosse mais tranquilizante. — Fala James novamente, fazendo com que todos sorriam.
— Sou o dr. Hernandez e tenho duas notícias para vocês, uma boa e uma má. Qual delas querem ouvir primeiro?
— A má notícia. — Respondo rapidamente, impedindo que alguém diga uma outra coisa.
— Bem, a má notícia é que levará algum tempo para as queimaduras sararem e a boa é que vocês já estão de alta do hospital. Já podem voltar para Madrid.
Sorrio com a idéia, quero muito voltar para Madrid e rever meu filho.
— James, vamos para casa? — Pergunto.
— Vamos — responde ele.
— Aleluia! — Exclama Sergio e as risadas preenchem novamente o local.
***
— Pai! — Cristiano Ronaldo Junior exclama assim que me ver. Eu corro para os seus braços e o aperto como nunca fiz antes. — Por que não foi me resgatar?
— Eu posso responder isso depois? — Retruco.
— Só se prometer que vai mesmo responder. — Diz ele de forma tão fofa que me rendo a mais alguns abraços e beijos.
— Está bem, eu prometo. Nunca mais irei por algo, qualquer coisa que seja entre nós dois. Está bem para você?
Ele assente.
— Obrigado por cuidar dele, Cida. — Diz James à senhora em nossa frente.
— Disponha, David. — Ela fala e loga caminha em direção à cozinha.
Ela o chamou pelo segundo nome. É estranho ouvir alguém se referindo a ele como David.
Sergio foi para casa, ele estava cansado. Chega a ser inacreditável o que passamos juntos, tudo deve estar sendo traumatizante para ele assim como está sendo para mim.
— Junior, que tal ir na frente para o carro? — Falo, roçando os dedos em seus fios de cabelo.
— Está bem. Tchau James! — Fala o garoto.
— Até mais amigão! — James se despede e logo Junior atravessa a porta da saída.
James me encara com um olhar profundo, um tanto indecifrável, queria poder saber o que se passa naquela cabecinha, mas ao invés de esperar que diga algo, corto o espaço que há entre nós, entrelaço um de meus braços seu corpo, ponho uma mão em rosto e o beijo calmamente, apreciando o calor do momento. Nossos lábios roçam uns nos outros em um movimento calmo, e a passagem me é concebida. Agora posso sentir o seu gosto novamente, a sua vibração, a intensidade de seu beijo profundo. Oh, como James é delicioso.
Acho que fiz bem em não deixá-lo dizer algo, e também não dizer nada, tive medo de que qualquer palavra que algum de nós falasse estragasse tudo. Eu, provavelmente surtaria se não sentisse o prazer de beijá-lo novamente.
Infelizmente tenho que partir nosso contato, ainda permaneço abraçado a ele, só que agora beijo sua bochecha e cheiro seu pescoço. Sim, eu o amo, não há como negar, e quero ao máximo que ele saiba disso, que não pense mais que quero enganá-lo, porque agora tenho um sonho e ele é estar ao lado de James para sempre.
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