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História O anjo de vidro - Capítulo XIII - Luminositas


Escrita por: Greenselves

Notas do Autor


Ooi!

Como tive a coragem de aparecer depois de mais de um mês? Boa pergunta galere, mas é a vida, e eu tenho várias explicações pra isso. Antes de tudo, quero compartilhar uma teoria minha com vocês: eu acho que o universo começa a conspirar contra todas as pessoas que resolvem escrever fanfics, sério. Eu sempre me lembro de ler as notas de outros autores e pensar: nossa, como um computador pode estragar tanto? Como alguém consegue ficar doente tantas vezes? Ess@ escritor@ é filh@ de um milionário pra viajar tanto assim? O resultado de tudo isso é que, ou eu paguei a minha língua por falar tanta coisa, ou a minha teoria está certa. Só nesse mês que se passou eu viajei duas vezes (tudo pago pelas bolsas do colégio pq aq é na dureza mesmo viu) - gente, Minas Gerais é muito legal - , fiquei doente sim, fui pra ocupação, a licença do meu word venceu e eu tive que correr atrás de outro, e eu tive algumas crises existenciais no meio do caminho pra não perder o costume. Só quero deixar bem claro que não sofri de bloqueio loucos ou pensei em desistir da fic, foram só os contratempos somados às minhas dificuldades literárias de sempre.

Agora, vamos pra coisa séria, que é esse décimo terceiro capítulo, que tá grande pra compensar o tempo que lvei pra atualizar <3 Incrivelmente, ele tem só três cenas (a primeira e a segunda são meio que uma só), então espero que não seja tão cansativo pra vocês. Temos conversas longas que foram extremamente necessárias, sério.

AH, E EU QUERO AGRADECER PELOS FAVORITOS E PELOS COMENTÁRIOS MARAVILHOSOS DO ÚLTIMO CAP! VOCÊS SÃO INCRÍVEIS!

Boa leitura chuchus, até as notas finais <3

Capítulo 14 - Capítulo XIII - Luminositas


Fanfic / Fanfiction O anjo de vidro - Capítulo XIII - Luminositas

Capítulo XIII – Luminositas

<Luminosidade>

 

 

Casa nº 121.

 

Já estava escuro, e eu já tinha perambulado demais por aí desde que Baek tinha ido embora. Eu ainda estava meio atordoada quando cheguei em casa, sem nem ao menos ter esperado meu pai para voltarmos juntos. Ele provavelmente me perguntaria sobre a minha cara de quem tinha visto um fantasma, e eu teria que inventar alguma desculpa bem convincente para fazê-lo não insistir naquilo. Os anos passados entre os remédios e os laudos complicados o ensinaram a quase nunca confiar em uma primeira resposta, principalmente quando eu parecia ter levado algum susto. Fazia alguns meses que esse tipo de pergunta não aparecia, mas não era a hora de relaxar, principalmente com tudo o que estava acontecendo. Principalmente com um anjo falante na casa ao lado.

Fechei a porta da frente atrás de mim, e tirei as botas quentinhas, já colocando os pés na pantufa cor de rosa que estava me esperando. Estava tão frio que parecia que meus dedos tinham congelado. Me apressei em ligar o aquecedor e subi os degraus da escada em pequenos pulos, louca para tomar um banho quente e me enfiar debaixo das cobertas. Só de pensar que precisaria acordar cedo no outro dia eu já tinha arrepios ruins. A escola pela manhã deveria ser considerada um crime.

Acendi a luz do quarto, jogando a mochila no pufe branco que até tinha cheiro de Baekhyun, e peguei logo tudo o que precisava para ir para o banho.  Após a pequena tortura de esperar o aquecedor esquentar o banheiro e a banheira encher, consegui finalmente relaxar na água quente, deixando minha mente nublada. Havia tanta coisa em que pensar e tanta coisa que eu precisava resolver que minha cabeça parecia prestes a explodir. Já fazia algum tempo desde a última vez em que me vi tentada a tomar um daqueles comprimidos que ficavam guardados no armário do banheiro, mas ali eu me vi novamente naquela situação. Às vezes, a informação era tanta que tudo o que eu queria era dormir profundamente por um bom tempo, sem lembrar nem meu próprio nome. Contudo, eu sabia que nada iria melhorar daquela maneira. Os problemas continuariam ali, apenas esperando meus olhos se abrirem.

Afundei na banheira até a altura dos olhos e me encolhi, cansada. Era bizarro o fato de que, mesmo que nenhum daqueles problemas sendo definitivamente meu, eu me preocupava, passava mal por causa deles, queria resolver. Não era eu quem tinha perdido o namorado, muito menos quem tinha perdido o filho. Mas era eu quem estava exercendo um dos papéis mais importantes naquela confusão.

Sacudi a cabeça e me levantei, abrindo o ralo da banheira e puxando a toalha. Mesmo com o aquecedor ligado o choque da mudança de temperatura fez minha pele se arrepiar, me motivando a me vestir o mais rápido possível. Com remédio ou sem remédio, eu precisava dormir de uma vez.

Fui para meu quarto, ansiosa, já que eu não me lembrava da última vez que tinha ido dormir antes das onze da noite. Era um daqueles pequenos sonhos que mesmo sendo simples a gente nunca realiza por pura procrastinação. Procrastinação e problemas que não nos deixam cair no sono.

Sem me dar o trabalho de acender a luz ou o abajur, sacudi meus pés e me livrei das pantufas de uma só vez, puxando o celular do carregador e indo para a tão sonhada cama que estava ali me esperando, toda cobertores e travesseiros. Eu sempre reclamo da bagunça que Baekhyun faz, mas é só o inverno chegar que eu paro de arrumar a cama. O resultado é uma selva de cobertas felpudas que só fica ainda maior com o cobertor elétrico que ganhei no natal passado.

É, digamos que o aquecedor da minha casa não é tão bom quanto deveria ser.

Deixei o celular ao lado do travesseiro e fui me enfiando debaixo das cobertas aos poucos, tentando me esquentar. Foi quando minha perna esbarrou em algo que, assustada, olhei para o pé da cama. Estava muito escuro, e senti meu coração praticamente parar de bater, seguido por um arrepio que subiu pela minha espinha em alta velocidade. Perdida no susto, demorei a reconhecer quem estava embolado no outro canto da minha cama, praticamente escondido ao lado do enorme urso de pelúcia.

Os dentinhos afiados de Baekhyun apareceram em um sorriso sem vergonha, em contraste com a escuridão. Levei minha mão até meu peito e fechei meus olhos suspirando pesadamente. Meu coração estava batendo feito louco.

- Posso saber o que o senhor está fazendo aqui? – perguntei depois de ligar o abajur – Quer me matar do coração, Baekhyun?! – levantei a perna, ameaçando bater nele com meu pé.

- Yah! – ele desviou e tentou mordê-lo – Não é por que seus pés estão limpos que eu quero eles na minha cara!

- Então não tente mordê-los! – voltei à posição normal, esperando alguma explicação plausível – Você ainda não me explicou o que veio fazer aqui...

Sua expressão ficou realmente ofendida.

- Eu me lembro claramente de ter te dito “até mais tarde” antes de subir no ônibus! – falou com as sobrancelhas franzidas – Ou você já se esqueceu de mim? Está brava?

Revirei os olhos para o drama, me jogando contra o travesseiro. Eu não conseguia decidir se ter dado cópias das minhas chaves a Baek tinha sido uma boa ideia ou uma péssima ideia.

- Eu não pensei que o seu “mais tarde” queria dizer “mais tarde no seu quarto, mais precisamente na sua cama”! – resmunguei.

Mal terminei de falar e uma risadinha baixa pairou no quarto mal iluminado, me fazendo procurar ao redor. Encolhido no pequeno espaço entre o guarda-roupa e a escrivaninha, Sehun estava todo torto, com as asas espremidas contra o próprio corpo. Revirei os olhos, era só o que me faltava. Nunca pensei que iria desaprovar o fato de ele estar ali com Baekhyun, já que sempre brigava por ele por não estar, mas... hoje eu só queria descansar.

- Catheriiiiiine! – olhei novamente para o outro humano, que desencostou do urso de pelúcia e se jogou atrapalhadamente ao meu lado, se esticando até tomar o espaço da cama. Quando Baekhyun resolvia fazer manha, ninguém podia pará-lo – Não seja assim! – sua voz era abafada por conta do travesseiro – Eu quero me desculpar decentemente, mas você não está deixando!

Ergui as sobrancelhas enquanto me virava para ele, que ainda estava com o rosto no travesseiro.

- Mas você já fez isso. – respondi sem muita emoção.

- Você não se contentou só com aquilo que eu sei! – ergueu-se do travesseiro com uma expressão duvidosa – Pensa que eu não te conheço?

- Quando foi que eu disse que você não me conhece? – impliquei – Eu só quis dizer que eu entendi que você só estava tendo um colapso e precisava de um tempo. O idiota do Chanyeol te disse alguma coisa mais idiota que ele e não foi nada legal.

O olhar de Baekhyun fugiu do meu e um sorriso cálido se instalou em seu rosto, admitindo silenciosamente que eu tinha razão.

- Como é que você pode saber tanto assim? – me olhou curioso.

Olhei de relance para Sehun, que exibia uma expressão vitoriosa. Admitir não estava em meus planos, mas o anjo era realmente útil em algumas ocasiões.

- Tenho meus contatos. – assoprei seu rosto, fazendo-o se afastar.

- Assustadora. – disse com os olhos exageradamente arregalados – Por acaso você também sabe as senhas das minhas redes sociais?

- Puff. – revirei meus olhos – Eu falei que você logo voltaria ao normal...

- Hehe – ele sorriu daquele modo terrível. Era um garoto sem cura, claramente.

- Mas... – eu não sabia por onde começar – foi uma conversa tão desastrosa assim?

Baekhyun voltou a deitar-se, encarando o teto do meu quarto em silêncio. Ele sabia que eu perguntaria sobre aquilo mais cedo ou mais tarde. Não havia escapatória.

- Mais do que você provavelmente está imaginando. – sua mão tateou meu braço até encontrar com a minha – Não sei como foi a sua, mas acho que a sensação foi parecida.

Sorri cansada. Ele provavelmente estava certo, por mais infeliz que isso fosse.

- Deve ter sido. – concordei – Aposto que mesmo sabendo como ele estava você esperava mais, não é?

Ele riu soprado.

- Ele ainda era o mesmo na minha cabeça, apesar de tudo. – suspirou – E mesmo sabendo de tudo, eu ainda tinha alguma esperança sobre aquilo. Não que voltássemos, mas que pelo menos pudéssemos acabar bem.

Apertei sua mão, tentando passar compreensão.

- Você já fez a sua parte, e tenho certeza de que fez tudo direitinho. – falei docemente – Agora é hora de descansar.

Baekhyun me puxou mais para perto dele, se abraçando a mim como uma cola. Não importava o quanto eu e ele disséssemos que aquilo estava acabado e feito, a presença de Chanyeol ainda estava presente nas nossas vidas quase como um fantasma, uma cicatriz. Mais uma para a minha coleção e talvez a primeira que realmente incomodaria meu amigo.

- Queria saber o que eu fiz para merecer que você cuidasse tão bem assim de mim. – ele me segredou baixinho depois de um longo tempo em silêncio, com a voz repleta de sono.

- Quem sabe você não salvou o país na sua vida passada? – tentei fazer graça.

- Tsc. – ele se aconchegou melhor – Você anda assistindo dramas demais.

Não ouvi mais sua voz depois daquela frase, já que ele desmaiou uns minutos depois, acabando com toda a linda cena de amizade quando começou a se debater entre os cobertores, me impedindo de dormir. Baekhyun era tão espaçoso que quase me fez esquecer a adorável conversa que tivemos. Era impossível dormir com ele naqueles dias onde ele estava mais agitado que o normal.

Sentei-me na cama, sacudindo a cabeça ao notar que já era madrugada e que minha noite de sono estava sendo um desastre total. Levei as mãos até as têmporas, tentando imaginar como sobreviveria ao dia seguinte na escola. Em seguida, corri os olhos pelo quarto, sem encontrar Sehun em lugar nenhum. Eu tinha certeza que não tinha ouvido ou o visto sair daqui, mas ele era tão estranho que eu não duvidava de capacidades angelicais alternativas como teletransporte. Ele não fazia nenhum sentido.

Sem nada para fazer e com a minha cama ocupada, resolvi descer até a cozinha com a minha lanterna em busca de alguma coisa para comer. Fazia algum tempo que eu já não fazia aquilo, já que na maioria das madrugadas estava extremamente ocupada dormindo. Mas Baekhyun não tinha me deixado escolhas.

Mesmo com a luz do celular clareando o caminho, desci as escadas com cuidado e fui na ponta dos pés para o térreo tentando fazer o mínimo de barulho para não acordar meu pai. Ainda que as chances de isso acontecer fossem mínimas era mais sensato não dar sorte ao azar.

Abri a geladeira no escuro, procurando qualquer coisa para me distrair da fome e acabando com um pote de sorvete nas mãos. Uma centelha de felicidade se acendeu em me coração, já que eu tinha me esquecido que aquilo estava no congelador, nem tudo estava perdido afinal. Deixei o pote na pia e fui sorridente buscar uma colher na gaveta.

- Vai comer numa hora dessas? – a voz de Sehun soou divertida, me assustando quase a ponto de me fazer gritar.

Virei para trás com o pote de sorvete nas mãos e uma carranca no rosto, os olhos estreitos por ainda não ter me acostumado direito com a escuridão. Encontrar Sehun no meio do meu lanchinho da meia noite estava longe de estar nos meus planos.

Sentado sem cerimônia alguma no balcão de mármore, Sehun estampava um sorriso que deixava clara a diversão que sentia na situação. A camisa amassada estava com todos os botões abertos e os sapatos sociais estavam em qualquer lugar que não fosse seus pés. Se não fosse pelas asas brancas em suas costas ele pareceria tudo, menos um anjo. De alguma maneira eu ainda não tinha me acostumado com isso.

- Está brincando de assombração agora? – perguntei enquanto juntava do chão a colher que eu tinha derrubado por causa do susto.

- Tsc, tsc. Seu pai não te ensinou que não se deve responder uma pergunta com outra? – ele virou para o lado e se esticou no balcão que não era comprido o suficiente para todo o seu corpo, fazendo-o ficar com as pernas dobradas.

Sehun era um preguiçoso nato.

Ignorei o garoto e caminhei até o outro lado do balcão para me sentar na banqueta.

- Não vai me responder? – ele virou seu rosto para o meu lado, dando de cara com o pote de sorvete. Aquilo foi engraçado, mas me segurei para não rir. Ele estava em um daqueles climas onde tentaria se aproveitar de tudo para me importunar.

- Já é madrugada, Sehun. – falei, enchendo a colher de sorvete – Achei que já tínhamos passado dessa fase.

Ele encheu as bochechas de ar e o soltou devagar feito uma criança, deixando claro que o horário não importava muito pra ele. Depois levou a mão até o pote e o cutucou de leve.

- O que é isso que você está comendo? - ele indagou curioso, sem o tom malandro de antes. Suas mudanças de postura sempre me pegavam desprevenida. Era como se fossem muitos dentro de um ser só.

- Você sabe o que é isso, - olhei para ele sem entender o porquê da pergunta – é sorvete. De creme.

O anjo franziu as sobrancelhas e se aproximou mais, cheirando. Era estranho como ele podia saber tanto e não saber nada.

- Eu pensei que só vendessem isso em cima de casquinhas. – confessou de forma inocente, como se não entendesse como aquilo podia acontecer, os olhos escuros se estreitando ao analisar a comida.

- Dá pra vender sorvete de tudo quanto é jeito. – expliquei, aproveitando a mudança de humor.

- E como é esse sabor? – Sehun perguntou no momento em que levei a colher à boca, os olhos gritando de curiosidade.

Saboreei um pouco mais antes de responder.

- É bem suave. – concluí – A maioria das pessoas acha sem graça, mas eu gosto bastante.

Ele soltou um riso fraco.

- Isso parece ser bem a sua cara. – comentou.

- Por quê? - finquei a colher no sorvete e o olhei um pouco séria, já prevendo que ele diria algo sobre eu ser alguém sem graça. Porém, seu olhar não mudou.

- Você tem cara de gostar dessas coisas que os outros não gostam muito. – respondeu.

Ergui as sobrancelhas, um pouco confusa com aquela calmaria inesperada do anjo à minha frente. Sehun ia e voltava tão facilmente entre os humores que eu precisava estar sempre preparada para qualquer resposta, mas naquele momento ele parecia desligado da tomada. Bem, ninguém é de ferro, principalmente se esse alguém nunca dorme.

- Você quer um pouco? – indiquei o pote com a cabeça, tentando desviar do assunto.

Ele me encarou perdido por uns instantes, se sentando de pernas cruzadas. Nunca foi algo que passou pela minha cabeça antes, mas assim como ficavam sempre acordados, anjos também não se alimentavam. Me parecia um pouco cruel ser privado de tantas coisas boas, ainda que Sehun não fosse o anjo mais fácil do mundo.

- Comida humana? – passou a mão nos cabelos, desconfiado – Eu posso?

Revirei os olhos por conta da hesitação dele.

- Você não se fez essa pergunta em nenhuma das vezes em que largou o Baekhyun sozinho antes... – não perdi a oportunidade de cutucá-lo, recebendo um sorriso típico de volta. No fim das contas, quem o fez voltar ao comportamento de sempre fui eu.

- Você não perde uma, Catarina. Como foi que disse mesmo? Achei que tivéssemos passado dessa fase... – deslizou para a ponta do balcão e deixou uma das longas pernas dobradas, onde encostou a cabeça sorrindo ironicamente.

Empurrei o anjo de leve.

- Vai querer isso ou não? – insisti.

Sehun olhou para o pote de sorvete enquanto pensava mais um pouco, como se fosse uma decisão muito difícil de ser tomada, o que eu não sabia dizer se era ou não. Ao mesmo tempo que parecia algo bobo, ia totalmente contra o que era ser um anjo. Seres celestiais não precisavam de nada do que nós precisávamos para repor as energias e nos manter saudáveis. Inclusive, eu não fazia ideia sobre o que aconteceria com aquele sorvete depois de ser ingerido por Sehun. Achei melhor não perder meu tempo pensando muito nisso.

- Pode ser. – ele disse por fim, não parecendo tão certo assim.

Ele passou alguns segundos sem se mover, encarando o pote e em seguida meus olhos, como se estivesse esperando alguma coisa. Por fim, sem mais nem menos, ele abriu a boca.

- Sehun, o sorvete não costuma se teletransportar. – eu disse sarcástica.

O anjo franziu as sobrancelhas.

- Você não vai colocar isso na minha boca? – perguntou.

Olhei para ele para conferir que era uma brincadeira. Não era.

- Eu não vou colocar isso na sua boca, Sehun. – falei calmamente.

- Como não? – ele disse frustrado – Você sempre faz isso com o Baek quando tomam sorvete...

E em seguida, como se não tivesse ouvido minha negação, ele tornou a abrir a boca, resolvido que o assunto já estava decidido.

- Você tem mãos, Sehun. – repliquei mais uma vez.

- É tão grande assim a diferença entre colocar comida na boca do Baekhyun e colocar comida na minha? – reclamou.

- Ah, não me amole. – murmurei antes de encher a colher de sorvete e empurrá-la sem delicadeza para a boca do anjo.

- É gelado! – ele disse com uma pontada de desespero, abrindo a boca e a abanando com as mãos – Meu cérebro está queimando!

- Congelando, você quis dizer. – ri baixinho da minha vingança – Pare de ser tão escandaloso, Sehun. É só sorvete.

Ele me fitou carrancudo enquanto tentava terminar de engolir o sorvete, deixando claro que aquela estava longe de ser uma experiência agradável. Era engraçado vê-lo daquela maneira, tão natural.

- Como é que vocês podem gostar tanto disso? – ele ralhou – Quanto mau gosto...

- É bom quando você não come uma grande quantidade de uma só vez. – falei calmamente, como quem não tivesse feito nada de errado.

O olhar do anjo ficou desconfiado.

- Então você...

- Claro. É óbvio que eu fiz de propósito. – saltei da banqueta para guardar o sorvete no congelador.

Sehun me deu um peteleco enquanto eu passava pelo outro lado do balcão.

- Ei! – exclamei um pouco alto.

- Shhh! – sorriu sarcástico – Quer que seu pai te ouça? Ele não vai gostar de saber que a filha foi malvada com um anjo que ele não consegue ver...

- De qual inferno você veio mesmo? – atirei um pano de prato nele.

- Vim do céu, não sei se você se lembra. – ele jogou o pano e volta, mas eu o segurei.

- Difícil acreditar. – caminhei de volta até a banqueta. Eu definitivamente não estava mais com sono.

Sehun voltou a se deitar, dessa vez com o rosto e o corpo virados para mim, apenas a alguns palmos de distância. O sorriso impertinente fazendo a presença indispensável. Eu suspeitava que tentar tirar a pouca paciência que eu tinha era um de seus hobbies angelicais.

- Sempre me pergunto, mas... – seu semblante se acalmou um pouco – eu realmente não pareço ser um anjo?

A pergunta me pegou desprevenida. De algum modo ele parecia afetado pelas minhas palavras, incomodado com a imagem que estava passando. De fato, mesmo que a vestimenta padrão de anjo da guarda estivesse descaracterizada, ainda era possível ver que ele era um deles. Suas atitudes podiam ser alternativas, mas a natureza não mentia de jeito nenhum, ainda que ele tentasse lutar contra ela na maioria das vezes. Sehun não passava de um rebelde, e todo grupo tem os seus.

- Parece, - respondi – só não dá pra dizer de qual tipo.

Rapidamente ele olhou para si mesmo como podia, para as roupas e as mãos.

- O que você quer dizer?

- Bem, você está longe do seu humano, descalço, sem a gravata, e praticamente sem camisa. – listei – Se olharmos para o Tao, é óbvio que ele é um anjo da guarda. Quando você fica desse jeito, tudo o que eu consigo pensar é que você está tentando imitar aqueles seus amigos que vieram no hospital aquela vez.

Sehun limpou a garganta e desviou o olhar, incomodado. Pelo visto eu havia acertado em cheio sobre as roupas, e aquilo era algo que ele provavelmente não imaginava que eu descobriria.

- Nossa, você me observa tanto assim? – ergueu uma das sobrancelhas, tentando desviar a si mesmo do assunto.

- Como se você me deixasse em paz alguma vez.

O anjo voltou a se deitar de barriga para cima e sua camisa aberta caiu para os lados. A pouca luz da rua que entrava pela janela da cozinha fez suas inúmeras cicatrizes minúsculas cintilarem fraquinho, me fazendo dar atenção a elas. Já fazia um bom tempo desde a última vez em que eu as tinha visto por acaso, e as inúmeras dúvidas que eu tinha sobre aquilo voltaram a me assolar. Onde alguém como Sehun as tinha conseguido?

- Eu gosto de perturbar você. – o anjo disse sorrindo, interrompendo meus pensamentos.

Um sorriso engraçado brotou em meu rosto ao ouvi-lo admitir aquilo.

- Isso não é exatamente um segredo, Sehun. – informei – Mas é um passatempo um pouco triste.

Ele franziu a testa, demonstrando que não concordava.

- Pois eu acho muito divertido. – replicou – Brigar com você me faz sentir como se tudo ainda fosse como antes.

Ri soprado. Sehun e eu não éramos nada parecidos, mas eu pensava exatamente a mesma coisa sobre ele. Parecia que não importava o caos em que as nossas vidas estivessem metidas, ele sempre seria o mesmo, e discutir com ele, de alguma forma, fazia com que eu me sentisse a mesma também.

- Eu vivo na ilusão de que, quanto menos eu mudar, menos mudarão as pessoas com quem eu vivo. – sorri fraquinho – Mas é óbvio que isso é mentira, e eu já percebi.

- É tolice pensar assim. – ele falou sem repreensão – Vocês humanos são mutantes demais.

Encostei meu rosto no mármore gelado, me arrependendo no momento seguinte.

- Você praticamente acabou de dizer que eu ainda sou a mesma... – ri da contradição.

O anjo suspirou de modo mais sério.

- Só quando estamos discutindo, Catarina, - ele olhou de relance pra mim – fora isso eu percebo mudanças em você todos os dias.

Encarei minhas mãos em cima do balcão, será que eu havia mudado muito? Não era tão fácil assim me lembrar da Catherine de dois meses atrás, quando as coisas no meu pequeno círculo de amizades ainda estavam bem, quando Sehun ainda não havia aparecido e a minha maior preocupação no momento era me concentrar nas aulas. Eu sempre tive muitos problemas, mas eles tinham se multiplicado naquele intervalo de tempo de uma maneira quase sobrenatural.

- Se é você quem diz... – suspirei sem querer dar o braço a torcer, mas não adiantou.

- Não seja negligente com você mesma. – falou em um tom compreensivo que eu quase não ouvia dele – Eu sei que é difícil, mas você está dando atenção demais para os problemas do Baekhyun, e ele está preocupado com isso também.

Ergui minha cabeça, fitando-o totalmente confusa com a informação que ele havia me dado. Era estranho ouvi-lo me dar conselhos, e mais estranho ainda receber a confirmação de algo que estava me incomodando já fazia algum tempo. Admitir algo para si mesmo é sempre complicado, e eu sou a rainha da omissão própria. Contudo, não era fácil fugir quando eu estava atolada até o pescoço naquela confusão.

- Foi por isso que ele estava estranho nesses dias? – perguntei ao anjo sobre meu amigo. Por mais que eu conhecesse Baekhyun, Sehun era quem mais sabia sobre o que se passava em sua cabeça todos os dias.

O anjo voltou a se sentar, fazendo um contato visual mais direto.

- Ele não se sente bem sabendo que você está sendo atingida por isso tudo, e se sente pior ainda por entender que você faz parte disso. – seu tom de voz era baixo – Ele sabe que está depositando peso demais em você, e sabe também que você está segurando tudo. Isso é sério, Catarina, se você desabar agora, tudo desaba.

- Eu não vou desabar. – falei em seguida, tentando tanto convencê-lo quanto me convencer.

Sehun tocou meu ombro, apertando-o.

- Você tem todo o direito de fazer isso. – Sehun estava sério – Você é humana como todos os outros, no fim das contas.

Senti algo estranho naquele instante e um gosto amargo invadiu minha boca. Eu tinha consciência sim de tudo aquilo, e já suspeitava que Baek sentia alguma culpa por todo esse meu envolvimento, mas não tinha mais volta. Eu estava atolada até o pescoço em tudo aquilo, e Sehun precisava entender isso.

- Sehun, eu não posso não fazer nada. – respondi por fim, cansada de tanta coisa.

O anjo desviou o olhar para a janela, e depois voltou a me fitar com um olhar preocupado que não combinava nada com tudo o que eu conhecia sobre ele.

- Eu não estou dizendo para você desistir, Catarina, é só que... – fez uma pausa, pensando melhor no que iria dizer – você tem a escolha. Muitas, na verdade. O que eu estou tentando te dizer é que você pode pelo menos pensar nessa possibilidade.

- Não é algo que está nos meus planos, Sehun.

O aperto em meu ombro se intensificou, e o anjo comprimiu sua boca, como se estivesse decidindo internamente se deveria falar algo ou não. No fim das contas, ele falou:

- Eu não entendo vocês. – disse de olhos fechados, como quem desiste – Têm a opção de não fazer algo, mas continuam fazendo. Eu não posso desistir nem se quiser.

Se mais alguém além de mim estivesse na cozinha com ele, teria ouvido o quão doloroso o anjo soou e o quão cruel aquela declaração pareceu. De repente me senti mal, pensando no quanto deveria ser ruim uma existência voltada inteiramente para outra pessoa, abdicando totalmente a si mesmo. Não que Sehun não gostasse de Baekhyun, era óbvio que ele gostava, mais do que isso, ele o amava. A questão era que, diferente de todos os outros anjos da guarda que eu já tinha visto (até mesmo Tao), Sehun tinha uma vida pessoal que gritava para sair, que tentava existir a todo custo. Eu não sabia o porquê, mas era inegável. Ele era como um humano que tinha ficado no meio do caminho, perdido entre o Céu e a Terra.

- Eu sinto muito. – acabei dizendo por impulso,apertando seu ombro como ele fazia comigo.

Ele riu com um pouco de ironia.

- Você não precisa sentir muito. – sua voz já estava menos séria – A culpa não é sua, no fim das contas.

Era estranho saber que, mesmo ele tendo razão, eu ainda me sentia mal. Dentre tudo o que estava acontecendo, vi naquela hora que eu não gostaria de estar no lugar dele em hipótese alguma, mesmo que eu tivesse meus problemas também. Eu tinha Baekhyun, meu pai, e até Wu Yifan para conversar nos momentos de aperto, mas quem ele tinha? Perceber que, além de Tao que estava sempre longe, eu era a única pessoa com quem Sehun podia conversar me fez sentir um nó no estômago. Eu não estava facilitando nada a vida dele ignorando o acordo que fizemos sobre ajudar o Baek juntos, escondendo coisas importantes.

Coisas como o Sr.Park.

 - O que foi? Por que você está com essa cara? – ele perguntou ao perceber que eu estava incomodada.

- Tem uma coisa que eu preciso te contar. – suspirei – Alguém veio falar comigo hoje à tarde no píer.

Ao contrário de como eu pensei que ele reagiria, o anjo franziu as sobrancelhas irritado e não perdeu tempo com as palavras.

- Não me diga você está pretendendo trocar o Baekhyun por aquele garoto poste de novo...

- Você quer dizer o Kris? – ele confirmou mau humorado – Eu o encontrei sim, mas não é dele que eu estou falando.

Sehun cruzou os braços, visivelmente não muito contente por saber que eu tinha encontrado o “rival” de seu humano. A implicância do anjo e de meu amigo com o presidente do grêmio estudantil era quase uma piada pra mim.

- Quem mais poderia ser?

- Olha, você não vai acreditar... – eu ri com uma pitada de sarcasmo.

 Ele revirou os olhos.

- Quem sabe eu acredite se você me contar logo. – pediu sem muita paciência.

Ri sozinha, o efeito Wu Yifan tinha tanta eficácia no humano quanto no anjo pelo visto. Se não fosse por Baekhyun no meio dessa história, eu suspeitaria que Sehun estivesse com ciúmes.

- Na verdade, Kris veio falar comigo por que me disse que Chanyeol estava me observando. – minha voz foi ficando menos divertida – Eu não o vi, mas quem veio me procurar depois foi o pai dele.

A careta birrenta de Sehun se desmanchou ao ouvir a novidade, mudando totalmente sua postura. Ele ficou tenso, os olhos escuros se estreitaram e uma de suas mãos apertou forte o mármore do balcão, demonstrando que ele ainda se lembrava perfeitamente de quem era o Sr.Park e do que ele havia feito. Eu não duvidava que, em sua cabeça, as imagens daquela noite terrível e de todas as outras de tristeza estivessem passando em um loop, recordando o rancor que ele secretamente nutria por aquele homem. Sehun podia ser tão humano que me assustava.

- Ele te fez alguma coisa? – seu tom foi contigo, porém, muito sério.

- Não. – tratei de esclarecer – Ele só veio conversar.

Não era difícil ler em seus olhos que ouvir sobre aquela pessoa era complicado demais, mesmo já fazendo algum tempo. Manter aquela conversa não seria fácil, mas ele precisava saber sobre aquilo.

- Eu não faço ideia do que ele queria com você... – o anjo estava confuso.

Respirei fundo.

- Eu também não fazia, - concordei com ele – na verdade, eu nunca conversei com ele durante todos esses anos em que conheci o Chanyeol. Tenho quase certeza de que não passei de cumprimentos.

- Isso só me faz entender menos ainda ele te procurar. – admitiu.

- Tem um motivo. – deixei claro – Ele veio me pedir ajuda.

O lampejo de desconfiança no olhar de Sehun veio quase tão rápido quanto sua surpresa quando me ouviu contar o motivo da conversa. Nenhum de nós conhecia de fato o pai de Chanyeol, mas concordávamos que ele não parecia ser o tipo de pessoa que pedia ajuda a alguém, muito menos a uma adolescente. Não importava o ângulo que olhássemos essa situação, ela continuava a ser muito estranha.

- Ajuda? - Sehun inclinou a cabeça para o lado.

- Pelo que ele me contou as coisas não estão indo às mil maravilhas entre os dois como Chanyeol quer que pensemos. – soltei um riso forçado, sem saber como falar confortavelmente – Eles não estão se falando desde que... – nos encaramos antes de eu continuar – desde que tudo aquilo aconteceu.

Um sorriso estranho surgiu no rosto do anjo.

- Então agora ele está preocupado com o filho? – perguntou com escárnio – Depois de ter batido nele até fazê-lo perder os sentidos e humilhar os dois na frente de outras pessoas ele está preocupado?

Foi a minha vez de fechar os olhos e respirar profundamente buscando calma. Tinha começado.

- Sehun, me deixe terminar...

- Catarina, - ele me interrompeu – você realmente acha que ele está arrependido? Você mais do que eu sabe sobre as coisas que ele fez. – falou em um tom desconfiado.

- Você está certo. – não hesitei em concordar, pegando-o de surpresa – E é exatamente por isso que eu estou tão preocupada. Eu sei sobre muitas das coisas que ele fez no passado, e é isso que me deixa com o pé atrás. E também é o que me faz acreditar que ele quer se redimir.

A expressão do anjo deixava claro seu descontentamento em me ouvir falar sobre aquilo.

- Você mesma está dizendo que ele não é uma boa pessoa, como pode dar tanto crédito a isso? – disse frustrado – Não é preciso viver muito tempo por aqui para ouvir várias histórias sobre ele que não são muito simpáticas...

- Eu sei. – falei com convicção – E não acho que ele viria falar comigo se não estivesse realmente arrependido, Sehun. Ele fez muita coisa errada, mas nunca é tarde para enxergar isso. As pessoas erram.

O clima agradável que estava entre nós antes parecia estar escapando aos poucos entre as frestas das janelas e das portas da casa, correndo da tensão que estava se instalando. Era como naquela noite, há um tempo, quando discutimos sobre privilégios humanos em meu quarto. Sehun era tão sensível quanto a isso que toda aquela situação com o pai de Chanyeol só o fazia regredir em sua forma de nos encarar.

- Esse é o problema, - fez uma pausa – vocês erram demais.

Eu detestava quando ele me incluía naquilo, mesmo sabendo que eu também era humana. Ouvir as generalizações do anjo sempre me fazia sentir mal, como se eu não fosse ninguém. Eu não queria que ele continuasse a pensar daquela maneira tão ruim.

- Sehun, você sabe o que é um psicólogo? – perguntei aleatoriamente, tentando abordar o assunto de outro jeito.

A dúvida surgiu em seu rosto no segundo em que ouviu a minha pergunta. Era mais uma coisa que ele não sabia.

- Não.

- São pessoas que trabalham para ajudar outras pessoas a entender seus próprios pensamentos e problemas, a encontrar respostas. – expliquei.

Era óbvio que ele não estava entendendo aonde eu queria chegar com aquela conversa, mas mesmo assim pareceu interessado.

- Dando conselhos? Dicas? – chutou, curioso.

- Não exatamente, mas nessa linha. Eu frequentei um desses por muito tempo por conta de alguns problemas. – respondi sorrindo, encarando o retrato que ficava em cima da televisão.

O olhar do anjo não demorou a seguir o meu, se fixando na foto que havia congelado um momento onde a minha família estava completa, quando minha mãe ainda estava viva. Não precisei dizer para que ele entendesse do que eu estava falando.

- Vocês são muito parecidas. – ele disse depois de alguns segundos de silêncio – O olhar é exatamente o mesmo.

Me virei para ele sorrindo.

- Meu tio costuma dizer que me ver é quase o mesmo ver minha mãe quando ela tinha a minha idade. A única diferença é que ele é o mais velho agora. – comentei .

- Eu não sabia que você tinha parentes. – Sehun disse, impressionado.

- Aqui na Coreia só esse irmão da minha mãe. – desci da banqueta – Eu até tinha um avô no país do meu pai, mas ele morreu quando eu era bem pequena, então não me lembro. – falei enquanto ia me aproximando da sala, para ver melhor a foto – Esse meu tio vai vir para o natal, então você vai conhecê-lo.

- Espero que ele seja mais divertido que a sobrinha... – desejou zombeteiro, começando a caminhar até o meu lado.

Revirei os olhos.

- Ele é. – apoiei meus braços no sofá – É a pessoa mais incrível que eu conheço.

Ele riu soprado, se colocando ao meu lado do mesmo modo que eu fazia, jogando seu peso contra o sofá.

- Eles também são parecidos? – o anjo indicou a foto de minha mãe com a cabeça, curioso sobre um tio.

Sorri sozinha, a imagem de meu tio pairando na minha memória.

- Os olhos. – respondi – Meu tio tem exatamente o mesmo olhar quando sorri.

- Vocês também devem ser bem parecidos, então. – ele concluiu olhando para mim, como se me analisasse.

- Não tanto. – ri fraquinho – Ele e a minha mãe são bem mais bonitos.

Sehun abriu seus lábios para falar e hesitou algumas vezes, como se não confiasse muito no que iria dizer. Por fim, encarou mais uma vez o quadro, pensativo.

- Como é ter uma mãe? – perguntou com um pouco de timidez – Você sente muita falta dela?

Os lampejos da conversa que tive com Baekhyun sobre o assunto naquele mesmo lugar vieram como relâmpagos em minha cabeça, me fazendo recordar da resposta miserável que eu tinha para aquela pergunta. Sehun e Baek andavam tão juntos que eu me esquecia de que havia coisas que o humano sabia e o anjo não.

- Eu não sei, – suspirei longamente – eu não me lembro dela.

- Como você pode não se lembrar da sua mãe? – ele não me levou a sério.

- Não faço ideia. – respondi cansada, ainda encarando o retrato – Tudo o que eu sei é que, se eu não estiver olhando para alguma foto, não consigo ver seu rosto.

- Você não pode estar falando sério... - seu tom de voz foi diminuindo no decorrer da frase até sumir.

- Eu não mentiria sobre isso. – tentei sorrir para tranquilizá-lo, mesmo sabendo que eu não estava tão tranquila assim.

Nossos olhos se encontraram quando eu virei para olhá-lo, quieto como eu nunca tinha visto. No escuro da sala, o anjo e suas asas brancas estavam totalmente sem palavras para aquela situação em que ele mesmo havia se metido com aquela pergunta. Eu sempre detestava tocar naquele assunto, mas daquela vez eu me senti diferente. Não estava esperando qualquer resposta de consolo ou pena, muito menos algo mal educado. Eu não estava esperando nada de Sehun naquela noite. Seu olhar já me respondia muita coisa.

- Foi por causa desse problema que você frequentou o psicólogo, – ele chegou à conclusão – não foi?

- É. Eu não conseguia entender tudo o que estava acontecendo a minha volta, vocês, - apontei para as asas brancas de Sehun – as falhas na minha memória, o fato de que a minha mãe morreu no meu lugar... era tudo injusto demais, e ainda é.

- Existe mais coisa que você não se lembra? – ele perguntou baixo.

Era totalmente atípico ter que contar sobre meus maiores segredos – alguns dos quais nem Baekhyun conhecia – para alguém em quem até pouco tempo em colocava a culpa por minhas preocupações. Alguém que eu não fazia ideia que poderia ser um bom ouvinte. Eu não estava acostumada com aquilo, já que na maioria das vezes eu era a pessoa que costumava ouvir, mas... eu estava gostando do fato de que, naquele momento da madrugada, eu era o centro das atenções.

Atipicamente, aquele anjo estava sendo acolhedor. Desde as palavras até o olhar.

- Eu não me lembro da minha infância direito. Não faço ideia de como era a minha vida antes desse acidente. - soltei as palavras que estavam presas há anos dentro de mim – Tudo o que me restou foram alguns pesadelos e essa cicatriz. – completei, arregaçando a manga do pijama até a pele enrugada do meu antebraço esquerdo aparecer.

Antes que eu pudesse recolher meu braço, as mãos de Sehun o seguraram sem força, me fazendo virar de frente para ele. Ali, na penumbra da sala, o anjo encara fixamente o local da minha cicatriz, se esforçando para enxergá-la com a pouca luz, os olhos escuros estreitos com o esforço.

- Como você conseguiu isso? – seus dedos percorreram minha pele até alcançar a marca, me causando um arrepio.

- Foi a única coisa que aconteceu comigo no incêndio. – minha voz vacilou um pouco.

O toque quente da ponta dos dedos de Sehun em meu braço me deixou em um desconforto esquisito, como se eu estivesse sentindo duas vezes mais a sensação do que o normal. Meu coração começou a ficar mais agitado, e quando eu percebi, já estava nervosa. Mesmo que Baekhyun já tivesse feito aquilo uma porção de vezes, eu não entendia o porquê de sentir meu rosto esquentar a medida que aquilo se estendia.

- Não dói mais... – seus olhos subiram da cicatriz para os meus, me fazendo desviar o olhar para qualquer outro lugar que não fosse ele – certo, Catarina?

- Certo. – respondi, limpando minha garganta em seguida, sem saber se puxava meu braço de volta ou não.

Voltei a olhar para o anjo devagar, certa de que logo a sensação passaria. Sua expressão confusa só pareceu piorar as coisas.

- Ainda parece estar machucado...

- Impressão sua, - tentei sorrir, mas provavelmente não deu muito certo – só não é muito bonita, mas continua sendo uma cicatriz. O incômodo que ela causa é outro...

O indicador do anjo começou a fazer movimentos circulares na marca.

- Que outro incômodo? – perguntou, os olhos me atingindo em cheio.

Então me dei conta do que tinha falado, era aquele incômodo. Um pequeno nó se formou em minha garganta quando notei que no fim das contas eu ainda pensava mais naquilo do que imaginava ou queria. Era muito difícil não pensar, depois de tudo.

- Algo bem cruel que eu digo a mim mesma às vezes. – tentei não ser tão séria, mas a meus ouvidos isso só me fez soar sarcástica – Tem a ver com uma teoria que não pode mais ser testada, já que parte do experimento não está mais aqui. – suspirei – Essa parte não importa muito, então você não precisa saber.

Sua mão soltou meu braço devagar e pareceu se demorar um pouco mais do que o necessário entre meus dedos antes de finalmente largá-los. Sem saber o que fazer, apenas ajeitei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Já estava na hora de ir.

- Eu vou subir. – anunciei sem muita emoção, só então notando que estava com sono e me lembrando de que precisaria encontrar algum espaço sobrando na cama por conta de Baekhyun.

O anjo pareceu desapontado, mas acabou me seguindo mesmo assim. Subi as escadas muito mais rápido do que o normal, quase tropeçando algumas vezes nos degraus, sem fazer questão alguma de esconder que estava fugindo dele.

Eu mal havia encostado meus pés no assoalho do primeiro andar quando a porta do quarto do meu pai foi aberta pelo mesmo, descabelado e usando um pijama que eu suspeitava ser mais velho do que eu.

Ao meu lado, Sehun pareceu mais assustado, como se meu pai o tivesse pegado em flagrante ali comigo. Confesso que por um momento senti meu sangue gelar ao esquecer que eu era a única que podia vê-lo.

- Cathy, o que está fazendo acordada numa hora dessas? – perguntou com a voz sonolenta – Ouvi sua voz...

- Eu fui comer alguma coisa na cozinha. – fui rápida – Você deve ter me ouvido resmungar sobre o Baekhyun, - inventei – ele está ocupando a minha cama nesse exato instante.

Já acostumado com esse tipo de situação, meu pai não se incomodou com aquilo e apenas balançou a cabeça em compreensão. Descobrir que Baekhyun estava dormindo em meu quarto (mais precisamente na minha cama) tinha deixado de ser uma surpresa há muito tempo. Na verdade, para meu pai nunca nem havia sido um incômodo.

- Boa sorte. – ele me desejou antes de fechar a porta.

Não perdi muito tempo ali, rumando para meu quarto, Sehun como uma sombra atrás de mim. Precisei respirar fundo quando entrei no cômodo. O único espaço que estava sobrando era ao lado do grande urso de pelúcia no fim da cama, e digamos que era um pouco limitado.

Sem dizer uma palavra, passei pelo anjo e puxei sem tanto cuidado assim o cobertor elétrico que cobria Baekhyun, pegando o enorme urso logo em seguida. Depois disso, arrumei as coisas debaixo ao lado da cama, me sentando encostada no urso que estava apoiado na parede. Ou era ali, ou era lugar nenhum. Eu precisava ter uma conversinha bem séria com Baekhyun no dia seguinte.

Me enrolei no cobertor até ficar apenas com os olhos de fora, encarando os pés descalços de Sehun, que ainda estava em pé.

Eu havia falado de coisas estranhas pra ele.

Me esquivado de perguntas que eu mesmo tinha provocado.

E agora estava me escondendo também.

Eu só tinha me esquecido que daquela vez eu não tinha como fugir dele, já que Baekhyun estava ali.

Alguma coisa estava bem errada comigo. E eu não fui a única a perceber.

- Ah! – ele exclamou cansado depois de se sentar ao meu lado, perto o suficiente para que as penas de suas asas encostassem-se a meu rosto, me fazendo cócegas – Baekhyun sabe realmente como ser mau educado quando quer...

- É... – respondi mais baixo do que o planejado, continuando a olhar para pontos aleatórios.

O anjo dobrou uma das pernas e continuou com a outra esticada, balançando o pé descalço por um tempo que pareceu muito maior do que realmente foi.

- Ele não devia fazer essas coisas quando você não está bem. – falou por fim.

- Eu estou bem. – me apressei em negar o fato.

Sehun riu soprado.

- Não vou discutir então. – soltou um suspiro exagerado – Mas já que está tão bem, você poderia me contar o que é que eu preciso saber.

Me virei, olhando para ele com um pouco de dificuldade.

- O quê? – indaguei sem entender.

O anjo abriu um sorriso, aparentemente satisfeito por ter conseguido com que eu voltasse a interagir decentemente.

- Lá embaixo você me disse que não me contaria sobre o seu incômodo, já que eu não precisava saber. – seu tom de voz era mais parecido com o que ele usava na maioria das vezes – Existem coisas que eu preciso saber?

Apertei o cobertor, lembrando-me daquilo que estávamos conversando antes, o motivo pelo qual eu entrei naquele assunto tão pessoal. Havia realmente uma última coisa que eu precisava dizer a ele.

- Existe uma coisa sim. – respondi sussurrando para não acordar Baekhyun.

- Me conte então, Catarina. – ele pediu no mesmo tom.

- Você se lembra de quando me perguntou sobre a minha cicatriz? Se por acaso ela ainda doía?

Ele fez que sim.

- Há um motivo para que eu não tenha várias delas ou ainda sinta dor. – consegui, finalmente, encará-lo – Minha mãe teria tido muito mais chances de viver se não tivesse se preocupado comigo naquele dia, se tivesse me deixado de lado. Só que não foi isso que ela escolheu fazer, Sehun. Pais são capazes de fazer loucuras por causa de seus filhos, boas e ruins. Podem morrer no lugar deles ou se arrepender de algo.

Não precisei citar nomes para que ele entendesse onde eu estava tentando chegar.

- Eu sabia que você não tinha desistido desse assunto. – confessou com a voz um pouco cansada, contudo, não no mesmo tom usado na primeira vez em que o Sr. Park foi mencionado.

Sorri por conta da perceptível mudança de atitude dele.

- Como você disse, é algo que eu precisava te contar. – falei – Eu não acho que ele esteja mentindo, Sehun.

- Mas por que ele teria mudado de ideia? – franziu as sobrancelhas, ainda um pouco relutante.

Uma sensação um pouco ruim passou por mim quando me lembrei da resposta que o pai de Chanyeol tinha me dado.

- Ele viu Chanyeol chorar depois que você e o Baek foram embora naquele dia.

Sehun ficou em silêncio.

Eu não sei exatamente quanto tempo levei para cair no sono ao lado dele já que o soar das respirações misturado com o escuro fazia tudo parecer mais demorado. Contudo, me recordo de ter ouvido sua voz antes de finalmente dormir.

- Acho que, no fim, você acabou me contando qual era o seu incômodo.

                                                                                                                                            

E ele estava certo.

Eu contei.

 

 

~X~

 

 

Casa nº 87.

 

O sol contrastava com o frio que fazia naquela manhã, e seus raios faziam com que o resto da tinta azul que ainda existia no portão de ferro brilhassem, incomodando meus olhos. Dentro dos limites do terreno, o homem sobre o qual eu tinha passado a noite refletindo encarava o portão há pelo menos quinze minutos, o anjo em sua cola, preocupado.

Senti meu estômago embrulhar quando, de alguma maneira, os olhos do Sr.Park cruzaram com os meus por um mísero segundo. A imagem do dia onde tudo veio abaixo rodou repetidamente, parando em seguida em um sorriso repleto de dentes brancos que eu considerava maligno. Era como se eu pudesse ouvir a risada maliciosa do demônio que, segundo Kyungsoo, tinha sido responsável por grande parte daquilo.

- Quem é vivo sempre aparece. – a voz de Tao cortou meus pensamentos.

Caminhando em passos lentos, o outro anjo atravessou o quintal sorrindo calidamente, cansado como eu nunca o tinha visto. Não usava mais a gravata brega, e suas olheiras estavam mais fundas que a última vez. Ele parecia mais velho, ainda que isso fosse impossível, já que anjos não envelheciam. Contudo, ele não era o único cansado. Minha mente estava em frangalhos nos últimos tempos.

- Bom ver você também. – revirei os olhos para o drama – Vai me convidar pra entrar ou...

- Venha de uma vez. – ele me chamou com a mão – Você ia entrar de qualquer jeito mesmo. – fez um bico.

Ri antes de pular o muro, tentando ignorar a presença do humano adulto.

- Por que você está sozinho aqui fora? – perguntei passando meu braço por cima dos ombros de Tao.

- Chanyeol está tomando banho. – suspirou – Eu deveria estar lá com ele, mas digamos que você não é uma influência muito boa...  

Olhei para ele indignado.

- Agora a culpa é minha? Meu Deus do céu! – exclamei olhando para cima.

Tao me empurrou.

- Pare de ficar dizendo o nome Dele em vão! – fez uma careta – Eu só estou brincando com você.

Sorri, olhando para cima novamente. Não fazia muito tempo que eu estava aqui em baixo, mas já era o suficiente para esquecer várias vezes que estávamos sendo observados pelo “chefão”. Provavelmente era exatamente isso que ele queria, que esquecêssemos. Somente assim era possível ver quem cada um era de verdade. Mesmo que, em tese, anjos da guarda não devessem estar inclusos nisso.

- Eu sei. – confessei – Mas acho que você tem razão, no fim das contas, se eu não tivesse te acordado, você estaria lá dentro com o seu humano.

Tao abaixou a cabeça, desconfortável. Pelo visto, eu não era o único a pensar daquela maneira. Não importava o quanto eu olhasse para a situação dele, não conseguia ficar em paz ao entender que poderíamos ter um coração preocupado a menos.

Ele parecia extremamente pressionado.

- Eu... – ele começou a dizer, mas eu o interrompi.

Havia algo que eu precisava fazer.

- Eu nunca te pedi desculpas por isso. – comecei – Me desculpe por ser egoísta e causar esse caos todo na sua existência. Eu sei que isso não conserta nada, mas...

- Pare. – ele segurou meu braço com firmeza – Não é hora de ficar lamentando sobre coisas que já aconteceram. Você é meu único amigo aqui, Sehun. – falou sincero – Você fez besteira, mas o que eu seria sem você agora? Um alienado?

Engoli em seco ao ouvir suas palavras. Eu ainda me sentia muito culpado por tudo aquilo que estava causando a ele, ainda que fosse o menor dos nossos problemas, eu não queria esquecê-lo. Entretanto, seus olhos e sua voz não vacilaram enquanto ele se pronunciava. Tao, em si, não era do tipo que vacilava. Ele ainda estava em pé depois de tudo, dando seu jeito para continuar cuidando de seu humano.

De certa forma, ele conseguia ser assustador e incrível.

- Aigoo! – quebrei o clima pesado, levando minha mão até sua cabeça e bagunçando seus cabelos – Como nosso Tao está crescido! Não seja tão romântico, eu posso acabar me apaixonando e incomodando você pra sempre!

- Sehun! – ele exclamou irritado, afastando minha mão dele – Você está cada pior a cada dia que passa!

Eu estava prestes a respondê-lo com outra coisa que o tiraria do sério quando a porta da casa se abriu, dando passagem a seu humano. Seus cabelos estavam molhados e seus olhos inchados, o macacão jeans e a as botas indicavam que ele estava indo mexer nos barcos da oficina.

Assim como nós dois, o pai do garoto também se virou para olhá-lo, tentando um sorriso que foi prontamente ignorado. O adolescente alto desviou o olhar dele com se não tivesse visto nada e continuou seu caminho.

Tao soltou um suspiro desapontado ao meu lado.

- Eu não sei mais o que fazer com ele. – comentou enquanto acompanhava o trajeto de seu protegido com os olhos – Eu tenho medo que Chanyeol acabe fazendo alguma besteira grande a qualquer momento.

Assim como ele, também assisti o garoto mexer de forma barulhenta em algumas ferramentas que estavam em cima da bancada, procurando alguma coisa que não estava encontrando, não demorando muito para começar a bufar irritado.

- Que tipo de coisa você acha que ele pode fazer? – perguntei preocupado. Ainda que ele tivesse dito coisas horríveis para Baekhyun, ali, sozinho, eu não conseguia odiá-lo por completo. Afinal, apesar de todos os erros, ele também era uma vítima.

Tao sustentou um silêncio denso antes de me responder.

- Acho que ele pode acabar se machucando de propósito.

Ele mal tinha terminado de falar quando Chanyeol, sem mais nem menos, atirou com força uma chave de fenda no chão, fazendo com que ela ricocheteasse em seu braço e o arranhasse.

- Mas que merda! – praguejou entre dentes em seguida, segurando o braço machucado.

Também assustado com o barulho, seu pai saiu de perto do portão e passou correndo por nós com uma expressão preocupada.

- O que aconteceu? – sua voz era grossa, assim como a do garoto – Você está bem Yeol?

O homem esticou suas mãos, fazendo menção em segurar o braço do filho, que não acolheu muito bem o gesto. Chanyeol afastou o pai e se desviou de forma rude, parecendo furioso.

- NÃO TOCA EM MIM! – ele gritou com raiva, os olhos arregalados.

O pai e Chanyeol deu um passo para trás, com as mãos erguidas na frente do corpo como forma de defesa, assustado com a atitude dele.

- Channie... – Tao se aproximou do confronto com uma expressão desesperada, temendo pelo que poderia acontecer entre os dois humanos.

- Yeol, não seja assim, deixe-me olhar isso... – o pai replicou, mas o filho não deu chances para mais conversa.

Tudo o que Sr.Park teve como resposta foi uma risada cruel antes de ser deixado sozinho no quintal com seu anjo, observando o filho voltar para dentro de casa e fechar a porta com um estrondo atrás de si, deixando-nos para fora.

Tao me olhou com os olhos arregalados. Aquele não era um bom momento para deixar o humano sozinho.

- Vamos! – ele disse enquanto me puxava pela mão, me guiando até a janela aberta da sala.

Por mais que tivéssemos nos apressado em segui-lo, não conseguimos alcançar Chanyeol antes que ele trancasse a porta de seu quarto sem nenhuma delicadeza, assim como tinha feito com a porta da frente. Humanos definitivamente tinham alguma coisa com bater portas.

- Ah! – a voz de Tao soou esganiçada quando ele bateu na porta do quarto – Chanyeol! Chanyeol!

Apesar de todo o esforço dele, suas batidas na porta e sua voz não podiam ser ouvidas pelo humano que estava do lado de dentro.

- Tao... – chamei seu nome, depositando minha mão em seu ombro – ele não vai te ouvir assim...

- Chanyeol! – ele me ignorou, chamando seu protegido mais uma vez, quase como se pudesse ver o que ele estava fazendo do outro lado – Yeol! Não faça nada, está me ouvindo?! Não ouse fazer qualquer coisa!

De repente, notei que estava tentando consertar um problema alheio onde eu não tinha o direito de meter o bedelho. Tao era o anjo da guarda de Chanyeol, e Chanyeol era o humano protegido por Tao, era meu amigo quem deveria decidir o que era certo para se fazer em uma situação como aquela, era ele quem tinha que decidir o que falar e quando falar. O tamanho daquele desespero significava que ele tinha bem uma noção do que estava se passando na cabeça do humano que tinha se trancado dentro do quarto. Tudo o que restava agora era tentar persuadi-lo a não fazer nada de errado.

Depois de mais algum tempo gritando e batendo na porta com uma persistência invejável, Tao finalmente relaxou, o corpo apoiado na porta. Aquilo o tinha cansado mais do que o previsto.

- Ah! – exclamou com um sorriso quase assustador antes de se sentar no chão– Consegui!

 Eu ainda estava um pouco espantado.

- Ele está bem? – cheguei mais perto, sentando ao seu lado.

Tao fez que sim com a cabeça, aliviado.

- Sim... – começou – quero dizer, não de verdade, mas agora não está com ideias muito estranhas. Ele se deitou, acho que vai tentar dormir.

- Que bom. – respondi sem ter muita certeza do que falava. Nunca tinha me parecido muito agradável essa insistência que os humanos têm de dormir para esquecer os problemas, afinal, eles continuariam lá quando eles acordassem. Talvez até piores do que estavam antes do sono.

- Bom, é melhor do que nada. – ele deu de ombros – As coisas estão difíceis, mas pelo menos eu consigo fazê-lo dormir de vez em quando. Não sou um anjo tão miserável assim.

Tive vontade de rir. Eu ainda não conseguia ser muito influente na vida de Baekhyun como Tao fazia com Chanyeol. Eu me perguntava o quão grande era o laço que aqueles dois sustentavam para serem daquele jeito.

- Há quanto tempo você é anjo da guarda do Chanyeol? – resolvi perguntar.

Tao me olhou com aquele sorriso idiota que antes era bem comum em seu rosto.

- Acho que desde sempre! – respondeu animado – Eu me lembro dele desde que o garoto era um bebê, então fui o único, apesar de não ter tanta certeza assim.

- Como assim você não tem certeza? – ergui uma das sobrancelhas.

- Não é óbvio? Você e eu devemos ser os únicos anjos da guarda do mundo que têm consciência do que estão fazendo de verdade, e como antes eu não sabia de nada eu não sei se houve outro antes de mim.

- Faz sentido. – concordei – Deve ser bem estranho cuidar de uma pessoa por tanto tempo...

- Ah, é divertido! – ele sorriu – Eu realmente ficaria muito triste se precisasse ficar longe do Chanyeol, apesar de que isso significa que eu teria salvado a vida dele. As coisas estão difíceis, mas eu não gostaria que outro anjo estivesse no meu lugar.

Enquanto falava, Tao olhava para a parede do outro lado do corredor com uma expressão tranquila, como se nada de ruim tivesse acontecido antes de estarmos sentados ali. Ele amava Chanyeol de tal maneira que não se importava em passar por tudo aquilo ao lado do humano.

Senti que queria ser daquele jeito um dia com Baekhyun também, ser capaz de dizer a mim mesmo que estamos juntos há anos, que eu o vi crescer e que participei da vida dele. Mas a parte principal eu já tinha conseguido antes mesmo de pensar que precisava me preocupar com ela: eu já o amava.

- É cruel, não acha? – dobrei as pernas, apoiando minha cabeça sobre elas.

- O quê?

- Precisar ir embora. – respondi – Explodir em um milhão de grãos de areia dourada, quando tudo o que se quer é protegê-los. Deve ser pior ainda quando você nem sabe o que está fazendo. – me referi aos outros anjos.

Antes que Tao pudesse me responder, Sr.Park entrou na casa com o anjo ao seu lado, atravessando a sala na direção da cozinha, parando um pouco antes de adentrar no outro cômodo. De lá, ele ficou parado observando a porta trancada do quarto do único filho, como se estivesse refletindo sobre algo muito importante. Tanto a aura do humano quanto a do anjo não estavam muito iluminadas.

- É horrível. – Tao respondeu, ainda olhando para o espaço vazio onde antes o pai de Chanyeol estava – Eu já vi isso acontecer três vezes.

Olhei para ele sem entender.

- Como assim?

- O pai de Chanyeol. – ele indicou a cozinha com a cabeça – Desde que cuido do filho ele já perdeu dois anjos. Está no terceiro. Por algum motivo eu consigo me lembrar de tudo o que aconteceu enquanto eu não estava “acordado”.

Aquela informação que consegui por algum motivo me fez sentir estranho, como se fosse algo pessoal demais para que eu soubesse, algo que eu não tinha direito de ter conhecimento. Ali, então, me dei conta de que não sabia nada sobre a vida daquele homem.

- Que tipo de coisas ele fez para conseguir perder dois anjos? – indaguei espantado.

Tao deu um sorriso tímido enquanto abaixava a cabeça.

- Ele não teve uma vida muito fácil depois que a mãe do Chanyeol foi embora.

Respirei fundo ao ouvir aquilo, me lembrando da cicatriz que Catarina tinha no braço.

- Aparentemente esse problema da falta de mães é mais comum do que eu pensava. – comentei pensativo.

Tao riu sem muito entusiasmo.

- Em minha opinião, de tudo o que eles fazem, esse é o pior defeito. Muitos vão embora facilmente. – ele estava sério – Ao contrário da situação dessa família, geralmente são os pais que vão embora.

Ruídos de panelas vindo da cozinha ecoaram na casa quase silenciosa, o barulho do mar como música de fundo. Eu me perguntava por que aquele homem havia ficado aqui, com a criança. Eu não conseguia identificar quais eram os seus objetivos, se não deu ao filho todo o afeto e compreensão que precisava durante todo o tempo em que foram só os dois no mundo.

- Como você acha que estariam às coisas se tivesse sido assim por aqui? Se fosse o senhor Park quem tivesse ido embora? – não me contive em perguntar, imaginando que talvez Chanyeol pudesse ter sido mais feliz se crescesse só com a mãe.

Tao riu mais uma vez.

- Impossível. – me informou – Ele nunca deixaria aquela mulher, mesmo sendo o culpado por ela ter ido embora.

- Ele a amava? – hesitei antes de perguntar, confuso com a declaração de Tao.

- Sim, mas não era um amor muito saudável, entende? – ele tentou esticar as pernas, mas o corredor não era largo o suficiente. – Ele era muito possessivo.

Posse. Aí está algo que eu não conseguia compreender sobre os humanos, eles não possuíam apenas coisas materiais, mas queriam possuir também pessoas, mesmo que soubessem que não era permitido. Uma pessoa não é uma “coisa” para que se possa possuir, não é possível ter alguém em seu nome. Não que os homens não tenham tentado antes. Porém, há aquele lugar onde, por mais que te “possuam”, você ainda é seu. E é daí que nasce a chamada liberdade.

Aquilo pelo qual todos os homens lutam. Para ter a sua e para tirar a dos outros. Para chamá-los de “seus”.

- Então ele não a amava. – conclui abraçando minhas pernas – Tentar possuir alguém não é amor.

- Eu concordo em partes com você. – sua voz era tristonha – Deixou de ser amor a partir do momento em que ele a sufocou dentro do que ele queria que fosse o mundo dela. Mas ele nunca perguntou se ela queria aquele mundo.

Quanto mais vivo aqui embaixo, mais certeza eu tenho de uma coisa: a capacidade que alguém tem para cometer erros é infinita, tão infinita quanto a sua capacidade de esquecer que os cometeu. Errar repetidamente parecia ser muito mais divertido do que se lembrar do erro.

- Como tudo isso aconteceu? Digo, a mãe dele ir embora...

- Woohee era uma alma livre. – Tao se referiu à mãe do garoto – Não aguentou muito tempo quando o marido começou a acusá-la de traições e a vigiá-la por toda a parte. Na verdade, isso gerou algo engraçado se tentarmos olhar por esse lado mais superficial. A pressão foi tanta que, no fim das contas, ela acabou se envolvendo de verdade com alguém. – ele parecia calmo demais para a história que contava - Não faço ideia de como ou quando aconteceu, mas ela se apaixonou por um estrangeiro, não sei de qual país ele era. Ele a levou daqui antes que Chanyeol completasse seis anos e, no fim, ela acabou estabelecendo contato com Chansung, por mais incrível que pareça. – presumi que aquele fosse o nome do Sr.Park – Ela veio buscar o filho no ano seguinte, mas Chanyeol não quis partir.

Franzi as sobrancelhas, intrigado com o que ele disse. Eu não conseguia entender por que Chanyeol não tinha ido embora com sua mãe.

- Como assim? – era claro que eu não tinha concordado com a escolha que já tinha sido feita há tanto tempo – Por que ele não foi com ela, Tao?

Dessa vez, Tao soltou uma risada ainda mais alta e alegre, totalmente divergente do assunto complicado de que estávamos falando.

- Pergunte para o seu humano. – respondeu sorridente – Eu não brinco quando digo que eles se conhecem há muito tempo.

Olhei para ele em silêncio por alguns instantes.

- Isso é muito estranho. – eu disse com um ar duvidoso – Ele ainda era muito pequeno para tomar uma decisão tão drástica.

Aquele sorriso de Tao já estava começando a me assustar.

- Acho que você nunca conseguiu entender que, por mais que toda essa confusão tenha acontecido, Chanyeol sempre amou seu humano. – ele deu dois tapinhas em meu ombro – Algumas coisas estão previstas, Sehun, mesmo que existam pedras no meio do caminho.

- Você quer dizer que Chanyeol e Baekhyun foram destinados?

- E não é óbvio? – ele debochou da minha pergunta – Todos os seres humanos são destinados, só não sabem a quem e nem sempre dão sorte de encontrá-los.

Olhei para o pai de Chanyeol, Chansung, que atravessava a sala em direção à saída com a cabeça baixa. Eu me perguntava o quão ruim seria amar alguém que, na verdade, nunca foi seu. Ele e sua ex esposa provavelmente nunca estiveram destinados. Será que o homem com quem ela foi embora era seu destino?

- Não é justo. – suspirei – Não é nem um pouco justo que eles tenham sido separados por alguém que nem encontrou seu destino, um homem que nunca entendeu o que eles sentem.

Tao suspirou também, um suspiro longo e pesado, repleto de lamentações que eu não podia ver.

- Eu sei. – concordou – Só que, agora, Chansung também sabe.

- Você e a Catarina andaram conversando por acaso? – virei para ele – Por que ela me veio com a mesma história ontem...

- Como ela sabe disso? – ele perguntou espantado.

Era fácil me esquecer de que Tao não estava tão inserido assim em tudo que acontecia do outro lado da história. Se eu não viesse falar com ele, o anjo ficaria sem saber sobre várias coisas.

- O Sr.Park foi falar com ela ontem. – contei sobre a situação que tanto me incomodava – Ele foi pedir ajuda.

O semblante de Tao se tornou atento.

- Ele está tentando mais do que eu pensava, então.

- Tentando? – perguntei.

- Olha Sehun... ele está realmente querendo consertar as coisas. – massageou as têmporas, como se me explicar aquilo fosse um trabalho complicado – Chansung está arrependido de verdade.

Suspirei, sustentando o olhar dele. Ouvir isso de duas pessoas que eu realmente confio estava começando a deixar meu psicológico dividido, me fazendo desconfiar do que eu estava dizendo a mim mesmo. Estaria eu insistindo em algo por pura implicância com o pai de Chanyeol, ou realmente estava certo?

Fechei os olhos por um instante. Aquilo era informação demais para a minha cabeça, por que eles não se mantinham do mesmo jeito? Era isso que mais me irritava, humanos não eram previsíveis como a maioria de nós costumava pensar, eles eram extremamente mutáveis. Viver entre anjos por tanto tempo não me preparou em nada para toda essa confusão de ideias novas que eles apresentavam a cada dia.

- Eu estou com medo de acreditar nisso e não ser verdade. – confessei envergonhado.

Tao segurou a minha mão com delicadeza.

- Sehun... – disse sem olhar para mim – eu o conheço há muito tempo, e desde que posso me lembrar, ele nunca esteve em paz, não era preciso ser seu anjo para notar. Primeiro enchia a própria cabeça com ideias de que a esposa estava saindo com outro, depois se afogou no álcool quando ela o deixou e nunca conseguiu ser um pai exemplar. E agora, não consegue se perdoar por ter feito o filho sofrer, o psicológico dele está em frangalhos. – balançou a cabeça em negação – Ele não está mentindo, Chansung está disposto a fazer de tudo para que Chanyeol volte a ser quem era. Ele... não quer que o filho acabe como ele acabou.

Encostei minha cabeça na porta, desistindo. Eu não conseguia mais sustentar toda aquela amargura que me subia pela garganta toda vez que pensava naquele homem agora, não depois de ouvir sobre tudo aquilo. Não era mais tão fácil julgá-lo agora que eu sabia sobre as coisas que ele e Chanyeol tinham passado.

Esse era o meu problema. Eu fingia não ligar muito para tudo o que acontecia, mas meu coração era mais mole do que deveria ser.

E eu não sabia se gostava disso ou não.

- É bom que isso funcione! – falei fingindo estar irritado – Ou eu vou fazer com que você e Catarina nunca se esqueçam de que eu estava certo...

E, inesperadamente, ele me deu um tapa na cabeça, sem muita força, é claro.

- Chega de falar besteiras! Não precisa ficar se fazendo de durão toda hora! – resmungou e eu mostrei a língua pra ele, ato que foi prontamente ignorado – Se eu e a Catarina estamos falando sobre isso é por que você precisa prestar atenção!

Revirei os olhos teatralmente.

- Aquela garota precisa de um anjo que a coloque na linha...

Ele me deu mais um tapa.

- Não fale assim! – ralhou – Ela sabe muito bem o que faz, não precisa de ninguém mandando nela! Na verdade, ela dá de dez a zero em muito anjo que eu já vi por aí...

Virei para ele indignado.

- Isso foi uma indireta? – ri falsamente – Por acaso você está dizendo que eu não cuido direito do meu humano?

- O que eu posso fazer se a carapuça serviu? – ele deu de ombros com uma expressão engraçada.

- Você vai ver! – exclamei antes de pular nele, tentando segurar seus braços, mas falhando miseravelmente. Nunca tínhamos feito aquilo, mas eu já tinha visto Baekhyun e Catarina fingindo brigar tantas vezes que sempre me pareceu divertido demais. E era.

- Você não toma jeito, Sehun. – ele disse depois de me colocar no meu devido lugar – Não leva nada a sério por muito tempo.

Estalei a língua.

- Eu não sou tão ruim assim. – disse sem muita emoção – Pode perguntar pra Catarina, nós conversamos por um bom tempo ontem.

Ele ficou curioso após ouvir isso.

- Conversaram? Sobre o quê? Ela está bem? – me atirou as perguntas. Tao realmente tinha um apreço por ela, mesmo não a tendo visto tantas vezes assim depois de ficar consciente.

Uma sensação ruim passou por mim ao lembrar sobre os segredos que ela tinha me dito. A verdade é que toda aquela história ainda estava fresca na minha cabeça, me atormentando. Não parecia certo tanta coisa ruim acontecer com ela.

- Está, na medida do possível. Nenhum deles está realmente bem, você sabe. – respondi a última pergunta – Ela acabou me contando sobre a morte da mãe quando estávamos conversando sobre o pai do Chanyeol.

Tao suspirou profundamente.

- Isso me deixa triste. Catarina é uma pessoa muito preciosa para ficar triste desse jeito, sem nem ao menos um anjo para dividir o peso com ela.

- Você acha que ela é preciosa? – perguntei achando graça no termo.

- E você não? – ele pareceu irritado mais uma vez, como se aquela fosse mais uma coisa óbvia que eu não conseguia enxergar sozinho – Devia dar mais valor para o quanto ela cuida do seu humano! Você realmente estaria tão tranquilo se tivesse deixado o Baekhyun sozinho lá?

Pigarreei alto, desviando o olhar dele, me lembrando do semblante calmo da garota enquanto ela dormia encostada no meu ombro na noite anterior. Claro que Tao tinha razão, Catarina representava uma peça na minha existência que era muito mais importante do que eu gostava de dizer a mim mesmo.

- Ok, ela é preciosa. – admiti no fim, um pouco sem graça – Não foi agradável ver o quanto ela ficava triste enquanto me contava sobre a mãe.

Tao concordou, satisfeito com o que eu tinha dito.

- Foi como eu te disse, ela ajuda muito os nossos garotos. O fato de ela não ter uma mãe também serviu para que Chanyeol se aproximasse ainda mais dela. – ele sorriu – Ele se sentiu ainda mais acolhido ao ver que não era o único a não ter uma.

- Deve ser difícil perder uma mãe. – comentei pensativo, tentando imaginar o quão complicado foram as duas infâncias.

- É péssimo, mas eu não consigo decidir qual caso é mais desesperador. – ele disse fazendo uma careta, me lembrando que ele tinha sentido aquilo na pele por causa de Chanyeol – A mãe do meu humano foi embora, já a mãe de Catarina faleceu por conta de uma doença, se eu bem me lembro.

Olhei para ele sem entender, e quando estava prestes a contestar, parei. Tao não estava errado quando disse aquilo, não estava errado por que nunca soube que aquela não era a versão correta da história. Não estava errado por que aquela era a verdade que Catarina tinha escolhido contar para Chanyeol, e sabe-se para quem mais.

 

Entendi ali que eu e Baekhyun guardávamos um

segredo que era muito mais íntimo do que eu imaginava.

 

 

~X~


“Como se nada tivesse acontecido, você tenta.

Mesmo que esteja sorrindo para mim

Seus ombros brancos e finos

tremem levemente, e eu estou dizendo a você:

Está tudo bem se você deixar tudo ir e descansar ao meu lado

apenas por um tempo.

Quando o amanhecer vier, voe para a lua e

depois para longe.”

 

Moonlight, EXO-K.

 

~X~


Notas Finais


Obrigada pela leitura!

Agora, o famoso resumo que é pra não perder o costume! Tivemos Baek dando uma de criança demoníaca de filme de terror, brotando no quarto dos outros no escuro sem aviso prévio (nóis é cardíaca, pfvr não faz isso) e logo em seguida expulsando a dona da cama sem dó, sem piedade, e muito menos consciência, já que ele tava dormindo; TIVEMOS A TÃO ESPERADA INTERAÇÃO DO OTP DA NAÇÃO QUE NÃO INTERAGIA DECENTEMENTE DESDE O CAPÍTULO ONDE O HUNNIE CONHECEU O SUHOZINHO (AMÉM?); Muito drama na interação, Sehun cabeça dura, Cathy utilizando métodos pedagógicos alternativos pra convencer ele e se ferrando no final pq acabou ficando na bad, rolou aquele clima maneirasso (será?oi?) e teve até um contatinho de pele na cozinha kyekyekyekye; E por fim, tivemos a novela mexicana protagonizada por Park pai e Park filho na casa n°87, com direito a correria do Tao e papo cabeça dos anjinhos que ficam lindos juntos - parey; e no fim mais uma reflexãozinha do Sehun sobre a nossa Cathy hehe; Fim das 12 mil palavras.

Antes de tudo uma perguntinha aq sobre o OTP da nação: SeCathy ou SeThy? Me falem pelamor ashahshash! Não to lembrada em qual comentário disseram isso (isso, vai, fica eras sem postar sua desnaturada), mas obrigada, eu sou inútil criando nomes para shipps, meus amigos já me comprovaram sobre.

Também quero perguntar se vocês entendem que aquilo embaixo do nome do capítulo é a tradução dele, pq a minha prima que começou a ler (vc mesma Cole, é melhor estar lendo) e não tinha notado ahsahshsah! Bem, os nomes originais estão em latim, e mesmo que não pareça, todos eles se conectam com o capítulo. Esse por exemplo se refere ao Sehun enxergando mais a Catherine (vice e versa) e entendendo o arrependimento do pai do Channie. Qualquer dúvida é só me perguntar nos comentários <3

E aí, o que acharam da interação? Não foi fácil escrever uma conversa tão longa e tão cheia de vai e vêm, mas acho que deu tudo certo no final. Eles finalmente se notaram ahshshashashash, quero dizer, a Catherine até já tinha notado o Sehun antes, mas não como dessa vez. Espero que tenham gostado disso, eu me esforcei <3

Ah, tanto tempo se passou e VCS ASSISTIRAM MOON LOVERS? Cara, comecei a acompanhar no dia que a Baekhyun Brasil postou os três primeiros episódios legendados, e é claro que fiquei louca. Comecei como muitos por causa do Baek, mas no fim eu estava tão envolvida que tudo o que posso fazer é agradecer por ele ter me levado a ver isso. Nem preciso comentar que chorei horrores por causa de tudo, e que amei o final, mesmo que a maioria das pessoas não tenha gostado. To em choque ainda.
Última pergunta, juro: alguém conhece alguma fanfic boa do BTS? Não importa o gênero, desde que seja legal hehe. Digamos que arranjei mais uma coisa pra acabar com a minha vida, sério. Eu nunca nem tinha prestado atenção neles direito, agora juntei eles ao EXO e me ferrei mais do que deveria. Ainda bem que o coração é grande e cabe todo mundo. Só não sei se ele aguenta, pq como eu disse, nóis e cardíaca.

Por fim, obrigada por tudo! Eu adoraria saber o que vocês acharam, estou morrendo de saudades de ler os comentários incríveis! Ah, e se alguém quiser conversar comigo sobre qualquer coisa (to precisando interagir com o mundo) é só falar no comentário que a gente dá um jeito hehe!

Até o próximo, chuchus <3


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