História O antes do depois - Redenção

STEPH

Era uma manhã de segunda feira. O sol invadia a minha janela e iluminava as minhas madeixas vermelho sangue. Abri os olhos devagar e uma puta dor de cabeça me fez fechar os olhos de novo. Ok Steph calma...no 3. 1, 2, 3. Olhei em volta pelo meu alojamento vazio e não vi ninguém. Ótimo, ja é um começo, não acordar nua do lado de um homem desconhecido com quem eu tenha transado bêbada. As festas da fraternidade são de lei todo final de semana. Muita bebida, drogas, sexo e gente vomitando por todo canto. Cheio de pessoas fodidas e que tem uma vida tão vazia quanto a minha. Toda semana é a mesma coisa, como se fosse um ciclo vicioso: as aulas tediantes da faculdade durante a semana, sábado e domingo festa na fraternidade e segunda feira vem a ressaca e te dá um soco na cara logo de manhã.  É uma merda? Sim. Vou parar? Jamais. 
9 horas da manhã, hora da porra da aula de literatura. Pego minha bolsa e arrasto toda a minha existência, ou o que sobrou dela, pra aula do Sr. Fillegan. Um velho de uns 60 e poucos anos, sempre de suéter e sapatos sociais. A aula dele é muito útil, inclusive pra tirar um cochilo e me recuperar um pouco da ressaca devastadora que pairava sobre mim. 
Depois de aulas e mais aulas, cochilos e mais cochilos, finalmente chega a hora do almoço. Um momento em que posso pegar um pouco de ar fresco e fumar um cigarro. Entro no refeitório e de longe já reconheço minha melhor amiga Molly Samuels. Vou descreve-la um pouco. Cabelos cor de rosa, olhos azuis como piscinas, pele branca como nuvem e tatuagens multicoloridas espalhadas por todo o seu corpo, ao contrário das minhas, que são escuras e recobrem toda a metade esquerda do meu corpo do pescoço pra baixo. A Molly é uma vadia, mas eu também sou, então a gente meio que se encaixa. 
_E aí, piranha ruiva_ ela abre espaço do meu lado e morde a sua maçã. _Como foram as aulas?_ ela diz esfregando as têmporas, consequência da bela ressaca que também a tinha atingido. 
_Você sabe, um sonho diferente em cada uma_ digo me recostando na cadeira e roubando uma batata de seu prato. 
Minutos depois chega o resto do pessoal. Logan: cabelos castanhos claros, olhos verdes, alargadores e tatuagens. Nate: loiro, olhos azuis, branquelo e também repleto de tatuagens. Zed: moreno, olhos dourados e tatuagens (tá, vocês já entenderam que todos nós temos tatuagens né? Prosseguindo então). E por ultimo, Hardin: alto, cabelos longos até os ombros e mau humorado como sempre. Eu já tinha transado com todos eles, mas confesso que o Hardin foi bem mais divertido, sempre tento um "replay" nas festas da fraternidade. 
_Seus merdas_ os comprimento dando dois lindos dedos do meio e eles se sentam bufando e jogando as mochilas no chão. 
_Não vejo a hora de terminar esse caralho e vazar daqui_ Logan comenta.  _Não aguento mais olhar pra cara de vocês_ Zed adiciona e todos ficamos quietos, putos da vida por causa da merda da ressaca. 
Depois de comer toda a gororoba que eles chamam de almoço, saio do refeitório, sento na grama e puxo um cigarro e um isqueiro zippo do bolso. Dou uma tragada e solto a fumaça lentamente pela boca, como se estivesse expulsando tudo de ruim que se guardava dentro de mim. Pensei na minha família, que agora estava numa casa de cerca branca provavelmente rindo juntos e felizes pela "ovelha negra causadora de problemas" estar à milhas de distância. Mas quer saber? Eu não ligo. Eu odiava o jeito que me olhavam e tentavam me mudar, me transformar numa bonequinha de porcelana feita pra ser exibida. Aqui na WCU eu posso ligar o foda-se pra tudo e encher a cara sem ninguém me encher o saco. 

Porra, finalmente sábado. Depois de uma semana cheia de aulas e todas essas merdas irritantes vou poder respirar um pouco de ar puro...ou não tão puro assim. Me dou ao luxo de acordar um pouco mais tarde e tocar um pouco na Suzi. A Suzi? Não, não é uma garota. Vou apresentá-la a vocês. Suzi é a minha guitarra, uma Gibson les Paul preta, a minha companheira da vida inteira. Agora continuando...pego a Suzi e dedilho em suas cordas, começando com Kansas, uma das minhas bandas favoritas. Monto os acordes e toco carry on my wayward son, fecho os olhos sentindo a música entrar e os arrepios subirem pela minha espinha. Cara... se tem uma coisa que mexe comigo, essa coisa é uma boa musica.

Depois de tocar um belo repertório, tomo um banho e recebo um SMS da Molly ‘’vamos na cafeteria do campus, chego em 5 minutos’’. Seco meus cabelos, ponho uma regata de banda, um short jeans e o meu coturno preto de sempre. Abro a porta do alojamento e lá está minha amiga dos cabelos rosados, tragando um Gudang e soltando a fumaça lentamente pelos lábios. _Vaca rosa!_ bato em sua bunda, tomo o cigarro de suas mãos levando à boca. _Vamos logo porra, preciso de cafeína_ diz Molly andando em direção à cafeteria. Jogo o resto do cigarro no chão fazendo o mesmo apagar aos poucos. Assim que entro na cafeteria, bato os olhos numa figura morena, o corpo quase todo coberto de tatuagens, alargadores de provavelmente 20mm e uma expressão séria. Por um momento ele me encara e revela seus olhos negros como a noite, pairando sobre mim como se quisessem me desvendar inteira. Depois de uns segundos ele retorna atenção pra atendente da cafeteria e eu percebo que tava prendendo a respiração. Mas que porra acabou de acontecer? Steph, você não é disso.  _Terra chamando_ Molly estala os dedos próximo ao meu rosto e me resgata do transe.

_Quem é aquele?_ aponto com o queixo.

_Deve ser o aluno que veio transferido, os meninos me contaram _ Molly comenta.

_Ele é muito gostoso_ falo baixo pra ela.

_Você não muda nunca_ ela me dá um soquinho no ombro e eu sorrio com malícia.