O motivo ainda não lhe era tão claro, mas o ódio no olhar da irmã era a melhor coisa de todo o seu dia até então. Cersei o encarava com o mesmo olhar de. . . como ele diria, nojo? Raiva? Insatisfação? Tyrion sabia que a primeira opção era a certa, mas no fundo preferia acreditar nas duas últimas.
Depois de Bronn ter conseguido muito covenientemente salvá-lo das garras de águia da Senhora Lysa, Tyrion e seu novo Capitão de Guarda Pessoal tinham marchado pelas insuportavelmente altas montanhas do Vale até cruzarem com suas novas espadas: Shagga, dos Corvos de Pedra; Timett, dos Corvos Tormentosos; Chella, dos Orelhas Negras; e Crawn, dos Irmãos da Lua. Tyrion fazia questão de repetir os nomes e os títulos dos homens, e mulher, repassando mentalmente as imagens deles, não queria correr o risco de se confundir e sofrer as inimagináveis torturas que aqueles homens podiam propor.
Encontrara o pai com um surpreendente exército no Tridente, segundo soubera, Lorde Tywin tentava ter certeza que os Tully não se rebelariam após a lamentável morte do Rei Robert. Agora, depois de viajar de volta para Porto Real com Bronn e suas espadas selvagens das montanhas, Tyrion era a nova Mão do Rei interina de Joffrey. Aquele era o primeiro Pequeno Conselho após sua chegada, convocado por ele mesmo.
- Então – Meistre Pycelle disse depois que todos já se encontravam sentados à mesa do conselho – Acho que falo por todos quando pergunto o motivo de ter convocado esse conselho tão logo chegou à cidade, Lorde Tyrion.
- Mão do Rei. . .- Cersei corrigiu-o, quase em um sussurro. Seu tom declarava toda sua não concordância na atitude do pai.
- Como minha amada irmã pontuou – Tyrion começou no seu melhor tom – Agora que sou a nova Mão do Rei interina de Joffrey, desejaria saber qual a situação do reino. Creio que para fazer algo com meu cargo, devo saber o ritmo que anda a carruagem.
Um silêncio insuportável tomou conta da sala assim que se calou. Petyr e Arys Oakheart encaravam Cersei claramente, quase que pedindo permissão. Pycelle encarava o tampo da mesa com tal interesse que Tyrion se surpreendeu que o velho não beijasse a madeira. Varys continuava tão calmo como sempre, como se nada tivesse ocorrido. Joffrey, como Tyrion já esperava, não comparecera à reunião.
- Lorde Tywin e sua tropa estão cercando Correrrio, impedindo que Edmure Tully saia com seus homens do castelo – Petyr disse, com seu sorriso simpático.
- Se não se importarem – Tyrion disse – Desejaria saber algo que ainda não alcançou meus ouvidos.
- Como a fuga de Lorde Eddard? – Cersei disse com impaciência – Ele, suas filhas e seus homens embarcaram no primeiro navio que saiu de Porto Real para Pedra do Dragão assim que Robert faleceu. Está apoiando Stannis agora.
- Stannis? O que ele tem de novidades?
- Declarou-se o herdeiro por direito do trono, sendo irmão mais velho de Robert. O pai cerca os Tully para cancelar qualquer possibilidade deles também se rebelarem contra o trono.
- E vocês não tem nenhuma informante com Eddard? – Sete Infernos! Tyrion se repreendeu. Usara o feminino, e a Aranha notara.
- Sansa tem mandado cartas com algumas informações do que o pai e Stannis tem feito – Pycelle comentou.
- Algo relevante?
- Stannis já está em posse de Ponta Tempestade e seus navios agora incluem todos capitães da Baia da Água Negra.
- E quanto ao Rei do Sul? – Tyrion perguntou. Soubera do novo título de Renly assim que pusera os pés na cidade.
- Renly tem o apoio Tyrell e todos os seus vassalos – Cersei respondeu sem encará-lo.
- Se Renly tem os Tyrell, nós temos os Martell. Correto?
- Em partes – Petyr disse – Príncipe Doran ainda não declarou abertamente seu apoio ao Trono de Ferro. Mas é quase certo. Em contrapartida, a maioria dos Senhores da Tempestade nos enviou cartas afirmando sua lealdade.
- Quais senhores?
- Swann, Selmy, Trant.
Casas pequenas.
- Então temos as Terras Lannister e parte da Terras da Tempestade. Dorne ainda não se declarou, o Vale sei que não, as Terras Fluviais. . . – Depois das atitudes do pai, duvido que se declarem – o Norte marcha contra nós, e a Campina apoia Renly. As Ilhas de Ferro?
- Lorde Balon não respondeu à nossas cartas até então – Varys respondeu.
- E o que fizeram quanto a essa escassez de apoiantes?
O silencio que seguiu foi resposta mais que suficiente.
- Preocupados de mais com as cartas secretas de Sansa – ele não conseguiu se conter. Pelo menos não apontou a principal culpada – Se bem entendi, Stannis não moveu nenhuma peça contra o trono. Ponta Tempestade é um castelo em meio a milhares. Os Senhores da Tempestade que nos são leais não tem poder suficiente para combater Stannis, ou eles irão voltar atrás em suas palavras, ou irão morrer tentando defende-las – O que duvido muito – Quanto a Renly, esse é nosso verdadeiro inimigo. A Campina tem poderio suficiente para invadir Porto Real, e Renly imaturidade suficiente para tentar. Ele tem os Redwyne, que nem no maior dos devaneios conseguiríamos sobrepujar. Nossa única esperança quanto a isso, já que os homens Lannister estão focados nas Terra Fluviais contra o Norte, são os Martell.
- E o que propõe que façamos? – Cersei perguntou.
- Uma troca justa. Um refém, por lealdade.
- Doran nunca aceitaria alguém da corte de Joffrey pela sua lealdade ao trono – Varys disse, quase como numa peça ensaiada.
- Que tal alguém com um pouco mais de valor para o rei.
- Alguém da Família Real? – Varys perguntou. Que excelente ator esse homem é.
- Eu, Cersei e Joffrey estamos fora de cogitação, já que fazemos parte do comitê que rege o reino.
- Não enviarei meus filhos para os dorneses! – Cersei disse, elevando a voz.
- Vê outra saída?
- Por que precisamos dos dorneses?
Às vezes Tyrion se esquecia que a raiva cegava Cersei, mas ela fazia questão de lembra-lo.
- A menos que consiga tirar um exército capaz de vencer Renly e os navios Redwyne debaixo de suas saias, não temos opções.
- Tyrion. . . São seus sobrinhos!
Parece que ela se lembrou que também sou da família.
- Não estou enviando-os para a morte. Envio-os para Dorne – A rima entre as palavras era mera coincidência – Pois bem, se não há mais nada a ser discutido, o conselho está terminado. Veremos melhor os detalhes da troca no próximo encontro. Pycelle, mande de imediato as cartas necessárias para Doran e quero ser informado assim que houver resposta.
Tyrion se levantou, não mais rapidamente que Cersei, que deixou a sala quase correndo, e seguiu lentamente para a porta. Petyr, Pycelle e Arys, que entrara mudo e saia calado do conselho, se retiraram após a rainha, deixando Tyrion a sós com Varys, que nem bem se levantara.
- Obrigado por me receber quando cheguei a cidade, Lorde Varys – Tyrion encarou-o com um leve sorriso – As informações que me deu serão de muita utilidade. Gostaria de perguntar se sabe algo sobre Jaime. Não o vi desde que cheguei.
- Ele é quem comanda o cerco a Correrrio, Senhor. Sor Gregor Clegane e Lorde Tywin estão cuidando do Tridente e da Estrada do Rei, ou pelo menos foi isso que ouvi dizer. Por isso Sor Arys Oakheart se apresenta como representante da Guarda Real.
- Obrigado, Lorde Varys.
Tyrion saiu da sala, encontrou Bronn, que o esperava a porta, e seguiram pelo pátio da Fortaleza Vermelha. Seguiram até o meio do pátio, onde Tyrion tomou o rumo do portão de saída ao invés da Torre da Mão.
- Vai vê-la? – Bronn perguntou.
- O que mais faria na cidade? E quanto aos Homens das Montanhas?
- Shagga está num bordel, Chella saiu sem dar satisfações e os outros, perdidos pela cidade.
- Certifique-se de que não atravessem mais as muralhas da Fortaleza sem minha permissão prévia.
- Claro – A falta do devido respeito no tom de Bronn já era normal aos ouvidos de Tyrion, poderia esperar de tudo dele, menos respeito.
- Enquanto vou falar com Shae, quero que não deixe ninguém se aproximar da mansão ou da casa de Chataya. Faça o que quiser em seu tempo livre, mas não deixe que me incomodem.
- Providenciarei para que tenha uma conversa saudável e sem incômodos, meu Senhor – Bronn disse quando chegaram aos estábulos e pegaram dois cavalos para atravessarem a cidade.
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