Bem vindo ao lado dela
Segunda feira
Sétimo ano e os meninos só querem saber de “pegar, pegar, pegar”. Grande coisa em tudo isso.
Meu nome é Rebeca, tenho 13 anos e acho um SACO o machismo no ensino fundamental. Mas quem liga pra minha opinião?
Eu sou uma CDF comum, que se senta no fundo, mas que não faz a mínima questão de ser notada.
Ao contrário dos outros estudantes, que só estão focados em namoro, eu estou focada na minha missão na escola: Em minhas notas, em meu futuro, e a minha fé.
Amigos? Pra que? No máximo eu tenho a Maxine.
A Maxine é o tipo de melhor amiga maluca, que só aparece nos filmes. Ela é o contrário de mim, ela não liga pra escola, seu sonho? Ser popular. E ela está sempre por dentro de tudo o que acontece na escola. Ela é a minha revista de fofocas viva.
Fora ela? Também tenho o Jonathan. O Jonathan é um amor de pessoa, é jogador do time de futebol na escola. Ele tem uma grande fama, e ele é literalmente o único garoto popular da escola que não se acha. Ele me trata bem, e acho que posso considerar ele um amigo.
Bem, o resto? O resto é resto.
Lá estava eu, segunda feira de manhã, logo cedo e eu já podia escutar aquele “Filho da P*ta” básico.
-Logo cedo? Que patife. Resmunguei pra mim mesma enquanto tentava manejar a minha mala pesadíssima pra dentro da sala.
Entrei na sala de aula, e como todos os dias, eu vi as garotas rindo e gritando freneticamente.
Manejei a minha mala até o meu lugar: Última fileira, perto da janela. Eu pude ver os garotos da sala jogando futebol com a caixinha de suco estourada.
Eles estavam banhados de suor. Que legal, a sala logo cedo vai estar fedorenta.
Como num imã, as garotas grudaram na janela.
-É agora! Maxine gritou – É agora que ele tira a camisa!
As garotas gritaram ao ver nada mais nada menos do que Matt Robinson, o garoto mais popular da escola, sem camisa.
Grande coisa em tudo isso..
-Rápido Rebeca! Você está perdendo! Disse Maxine sem tirar os olhos da janela
-Pff. Fiz enquanto pegava o meu caderno de português.
-Essa garota é cega ou o que? Uma garota perguntou – Ela tá perdendo a cena raríssima de Matt Robinson sem camisa! Miga, ele tá na PISTA!
Bufei
-Eu não ligo pra isso.
As garotas ficaram me olhando como se eu fosse uma alienígena, mas eu agradeci a Deus que o sinal tocou logo depois, e as aulas passaram voando, para que assim eu voltasse pra casa, e pudesse descansar.
Bem vindo ao lado dele
Terça feira
Imagine que você está nos corredores da escola, numa plena terça feira e se deparar com gente rindo da sua cara.
Foi o que aconteceu comigo. Me aproximei de Tony, meu melhor amigo pra perguntar o que estava acontecendo.
-O que tá acontecendo? Perguntei
-Pois é campeão. Tony riu – Parece que não é toda garota da escola que gosta de você.
-Hein? Como assim? Perguntei indignado – A garota é cega ou o que?
-Não, a garota é difícil mesmo. Até por que pouco se sabe sobre ela. Ela não tem muitos amigos, e costuma faltar bastante na escola. Ela é tão invisível que está na sua sala, e você nunca percebeu. É aquela CDF que se senta no fundo da sala.
-Ok, mas como assim ela não liga pra mim? Perguntei
-Bem, o por quê exato eu não sei te explicar, só sei que ontem enquanto jogávamos bola e você tirou a camisa pra mostrar os gominhos, ela estava presente na hora, e ainda disse que não estava nem ligando que você está na pista . Enfim, as garotas acharam isso um absurdo, e espalharam isso na escola. Enfim , seus dias como gatão da escola acabaram.
-O que? Eu vou tirar satisfação com ela agora! Disse determinado
-Ela faltou hoje cara. Tony informou
-Droga ! Disse esmurrando a parede – Amanhã ela vai ver só!
Bem vindo ao lado dela
Quarta feira
Finalmente o primeiro turno de aulas acabou. Peguei minha Bíblia e meu caderno de anotações e subi até o terraço da escola, como fazia todos os dias durante os intervalos.
Fiquei meditando ali por um tempo, e me deixei levar pelo versículo que estava lendo. De repente, meu nariz farejou um perfume feminino exagerado. Seria a Maxine?
“Um perfume não vai roubar a minha concentração.” Afirmei pra mim mesma enquanto prosseguia a leitura sobre Elias.
Elias é um dos meus profetas preferidos do antigo testamento. Na verdade, ele é o meu preferido . Ele é completamente direito segundo as escrituras sagradas.
Ele apareceu de repente no palácio do rei Acabe , dizendo que não cairia mais uma gota de água em Israel. O curioso é que ninguém sabia da onde ele veio, muito menos quem eram os seus pais. É legal analisar o jeito que ele organizava as próprias palavras.
-Rebeca, tá me ouvindo? Ouvi a voz de Maxine do nada, como um despertador
-O que foi? Perguntei
-O Matt está querendo falar com você! Ela respondeu
-Eu estou ocupada agora. Disse a Maxine, que revirou os olhos.
-Ele vai vir aqui a qualquer momento! Maxine me deu uma bronca, mas antes dela terminar ela foi interrompida pelo próprio Matt entrando no terraço.
-Eu não sou fã de ficar esperando. Matt disse com um sorriso sarcástico, logo atrás dele, a escola toda.
-Agora eu quero ver ela falar na frente dele que ele é feio. Cochichou uma garota.
Suspirei abrindo minha Bíblia na página em que eu estava lendo:
-Eu sinto muito Sr Matt, mas eu não tenho tempo de conversar com você agora.
Matt segurou a risada, enquanto a multidão atrás dele soltava risadas abafadas e sincronizadas.
-Tá brincando né? Você não pode deixar o garoto mais popular da escola esperando!
Fechei a Bíblia e sorri:
-Eu não posso deixar o meu Deus esperando.
Bem vindo ao lado dele
Quinta Feira
Por céus, o que foi aquilo? Ela me dispensou, na frente da escola inteira, na frente de todo mundo!
Amanheceu o dia, e eu mal tinha conseguido dormir. Suspirei . Era só dizer que eu estava mal e inventar uma tosse. Eu não iria pra escola. Não suportaria que as pessoas me humilhassem pelo o que aconteceu ontem.
Desci as escadas do meu quarto e fui para a sala, liguei a TV , peguei uma tigela de cereal e fiquei assistindo o jogo de beisibol. Só não esperava a campainha tocando.
Será que eram aquelas garotas que vendiam biscoitinhos? Bem que eu estava com vontade de um.
Abri a porta e me espantei.
-O que você está fazendo aqui? Perguntei
A criatura simplesmente passou pela porta, desligou a TV e se sentou no sofá.
-Precisamos conversar. Ela começou
Fui responder, mas ela estendeu a mão, pedindo que eu esperasse.
-Estava meditando, e acabei percebendo que eu fui grossa de mais com você ontem. Peço minhas desculpas. Nós simplesmente não pertencemos ao mesmo mundo.
-Ok. Só isso? Perguntei
-Só. Ela respondeu fria
-Tudo bem, mas isso não vai mudar a minha decisão de que eu não vou mais aparecer na escola. Cruzei os braços
-Você o que? Por quê? Rebeca perguntou como se eu estivesse cometendo uma grande loucura
-Eu não quero ir para ser humilhado. Desabafei
-Você se importa com o que os outros dizem?
-É claro , como o garoto mais popular da escola....Mas não muda de assunto , nada tira a sua culpa.
-Minha...O que? Perguntou ela fechando a cara .
-A culpa é sua por ser como eu: me achar um patife ridículo .
Um silêncio se formou. Já era esperado. Porém ela o quebrou de uma maneira diferente, e me surpreendeu.
-Sim...Eu acho você um patife ridículo. Mas quem sabe a minha opinião não muda?
-O que quis dizer com isso?
-Vamos enfrentar aquelas pessoas! Não importa o que os outros dizem! Você é livre! Além disso, se você quiser evitar discussões desnecessárias, eu tenho um lugar perfeito pra te mostrar.
-...Obrigado Rebeca.
-Você tem três minutos pra colocar o uniforme .
-Sim senhora.
Alguns minutos depois, desci as escadas e Rebeca sorriu pra mim.
-Está pronto pra mas um dia na escola? Ela perguntou
-Nunca. Respondi abrindo a porta com o molho de chaves
Fomos conversando sobe diversos assuntos até que chegamos no portão da escola. As pessoas começaram a me encarar, e tudo o que Rebeca fez foi me oferecer um sorriso, que já me foi confortável o suficiente para seguir e em frente pela primeira vez, sem se importar com o que os outros dizem ou dizem.
Bem vindo ao lado dela
Sexta Feira
Finalmente aquela semana estava acabando. Eu e Matt em apenas um dia nos tornamos muito amigos, e eu já orei muito pedindo orientação, por que eu nunca senti nada parecido antes. Os meus sentimentos em relação ao Matt mudaram, e muito.
Não que eu goste de admitir isso, por exemplo, o único que sabe disso é o Jonathan, por que se eu abrir a boca para a Maxine é capaz dela me zoar pra sempre.
Agora eu estou jogada na cama do meu quarto, encarando o teto. Já tinha feito todas as minhas lições de casa, e a minha vida estava um tédio total, pós período escolar.
Levantei da cama e fui em direção ao banheiro. Tomei um banho fresco, pra refrescar as ideias. Enrolei minha toalha em meu corpo e sai do banheiro. Abri o guarda roupa em busca de algumas roupas quando de repente meu caderno de anotações cai no chão . Nele, alguns rabiscos e folhas sufites estavam guardados, o que resultou na queda de praticamente todos os papéis. Num deles, eu encontrei uma música desabafo que eu estava compondo sobre a minha vida.
[Branca De Neve]
Sorri com o título. Quando pequena eu sempre quis criar uma música para a minha princesa preferida da Disney.
[Algum dia meu príncipe virá para mim
Me salvar deste mal que me assombra
Quando estarei livre?
Me diga
Algum dia ele virá para mim? ]
Eu sempre ficava imaginando como seria o meu príncipe encantado, na época eu tinha 11 anos, e Maxine já estava no terceiro namorado.
[Deus, sinto que estou trancafiada Amarrada como uma fera que morde]
Já nesse ano, começou o grande furdúncio por conta do namoro, e eu me senti deslocada.
[ É, eu sabia que você era um erro, mas parecia tão certo
Ainda bem que não me deitei com você esta noite]
Não vou negar, eu já achei Matt Robinson bonito, mas eu nunca estava afim de conhecê-lo, principalmente pela conduta evangélica...É errado garotas como eu estarem se envolvendo com caras não cristãos...
[Pois eu queria me desculpar, mas você me contou mentiras
Agora eu acho que joguei com a sorte
Agora é tarde demais pra ter sua confiança
Controlar seu desejo
Não, querido, isso é perigoso ]
Eu não posso abrir mão da minha religião, mas ainda sim o que eu sinto por ele é mais forte do que eu...
[O que é necessário para eu achar o homem
Que não vai partir meu coração?]
Tantas garotas bonitas por aí....eu duvido que ele esteja gostando de mim...
[Há apenas um, e ele têm a chave
Mas somos totalmente diferentes]
Mas mesmo assim, o que eu sinto por ele é forte até demais, sinto que acabei dando a chave do meu coração pra pessoa errada.
[ Algum dia meu príncipe virá para mim
Me salvar deste mal que me assombra
Quando estarei livre?
Me diga!
Algum dia ele virá para mim? ]
Deveria ter te dito para correr daqui
Deveria ter recuado quando você veio com vontade ]
Ainda sei que a culpa é minha. Eu deveria ter ficado mais reclusa...
[Mas o tempo passou
Tentou voltar no passado mas percebeu que não é possível
Mas me apaixonei por seus olhos, me pegaram de surpresa....
Eu não devia ter me comprometido ]
E depois eu fui atrás de você....por quê eu me senti mal, sendo que eu só estava honrando a minha fé?
[Agora é tarde demais, Você me invadiu, sem aviso
E agora tudo que tenho é a batida do meu coração
O que é necessário para eu achar o homem
Que não vai partir meu coração?
Há apenas um, e ele têm a chave...
Mas somos totalmente diferentes
Algum dia meu príncipe virá para mim ?
Me salvar deste mal que me assombra Quando estarei livre, me diga Algum dia ele virá para mim
O que é necessário para eu achar o homem Que não vai partir meu coração? Há apenas um, e ele têm a chave
Mas somos totalmente diferentes...]
Naquele momento eu já estava de joelhos no chão, orando. Precisava urgentemente me concertar com Deus. Como pode, eu uma garota cristã estar me interessando por um garoto qualquer? Era um amor impossível, que estava colocando a minha fé a prova.
Me levantei do chão. Certo, eu vou esquecê-lo. Pra sempre.
De repente meu telefone vibrou. Fui ver o que era:
Matt: Me encontre na praça amanhã as 18h.
Ir ou não ir?
Bem vindo ao lado dela
Sábado
Eu fui. Mas só daquela vez. E você leitor pensando que eu sou vacilona, vou aproveitar e dizer pra ele não me procurar mais. Nunca mais.
Eu já pude ver Matt na praça de longe, e fiquei ensaiando mentalmente o que eu iria falar pra ele.
-Precisamos conversar. Falamos ao mesmo tempo.
-Pode falar primeiro. Matt autorizou
-Não, você me trouxe aqui, então pode falar primeiro. Discordei
-Certo....Matt disse olhando para os lados.
Um silêncio constrangedor se formou entre nós.
-Acredite. Isso é tão estranho pra mim quanto está sendo pra você. Mas...bem, durante um tempo eu a odiei. Odiei mais do que tudo nessa vida. Ficava me perguntando se eu tinha algum carrapato na cara ou algo assim pra você não me achar tão atraente. Mas aos poucos eu fui me apaixonando pelo seu jeito de ser, e eu sei que você é extremamente religiosa, e que você deve achar que não podemos ficar juntos por causa da religião. Mas Rebeca, por favor entenda: Eu amo você e eu nunca a senti nada igual antes. Eu não acredito no seu Deus, mas por favor me faça acreditar nele.
Abri um sorriso deixando algumas lágrimas escorrerem em meu rosto pálido.
-Domingo eu tenho igreja.
-Fechado então.
Bem vindo ao lado dela
Domingo
Acordei animada naquela manhã. Havia combinado com Matt de nós encontrarmos no ponto. Deus está no controle de tudo. Vai dar certo.
Eram 7:20 quando saí de casa. Carregava em minha bolsa a Bíblia , um bloco de notas com uma caneta, um pacote de balas de menta, meu celular e o meu bilhete único.
Enquanto me aproximava do ponto de ônibus , eu já podia ver Matt parado no ponto. Ele estava visivelmente nervoso.
-Bom dia . Disse me aproximando do mesmo.
-Bom dia . Ele me respondeu sorrindo-Eu estou feliz de estar aqui.
-E eu estou feliz por estar com você. Comentei sorrindo de volta.
A luta que Matt estava lutando era muito maior do que eu podia compreender . É difícil pra ele um caminho com obstáculos, principalmente quando se trata de garotas. Mas mesmo assim ele está disposto a acordar tão cedo por mim?
Ele precisa de uma recompensa pelo simples fato de tentar.
O ônibus chegou e as pessoas começaram a subir.
-Hey , Rebeca! Vamos subir se não vamos chegar atrasados no culto!
Abri um grande sorriso. É, acho que estamos no caminho certo. No caminho do amor.
~Fim~
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