História O caminho para uma alma perdida - Os olhos curiosos

"Eu sinto que o meu tempo está se esgotando
O fogo em meu coração vai me queimar até o chão"

Em uma paisagem suave e iluminada pela claridade do sol, uma cascata de fios castanhos de cabelo se balançava pelo ar. Não havia mais nada completando o ambiente, ou sons além dos que eram produzidos pelo ruído do vento, mas para um bom espectador, tudo aquilo estava mais do que satisfatório. A imagem da mulher parada e de costas sobre o esplendor do astro amarelo e quente remetia a algo tão puro e tranquilizador.

Claramente a curiosidade era mais forte e desejava-se muito poder ver o rosto daquela figura feminina presente ali, mas não importava-se quanto tempo teria de esperar para ver. Se pudesse ficar em sua companhia já estava satisfeita.

Kaori não podia explicar onde estava. Na verdade, não se preocupava com um detalhe como aquele, pois sem dúvidas, esse era o melhor lugar que já esteve em toda sua vida. Seu coração dizia-lhe isso, não precisava de memórias. Não tinha nada de especial ao seu redor. Só estavam ali ela e a mulher misteriosa, mas esta era dona de uma aura tão bela que realmente não era preciso mais nada. Kaori sentia-se tranquila perto da jovem e isso a deixava feliz.

Tinha tanta vontade de chamar a mulher e a perguntar diversas coisas. Sua língua coçava com tamanha ansiedade, porém se conteve quando notou que a desconhecida estava prestes a se virar. O coração de Kaori saltava no peito, querendo obter respostas que sentia que apenas aquela mulher poderia lhe dar. Os lábios da menina sem memória se alargaram em um sorriso quando a menina sem identificação estava quase visível…

E tudo se apagou como um interruptor, deixando a iluminação do sol para trás e o que parecia um borrão roxo foi a última visão que teve da jovem mulher.

Acordou aos poucos, recusando-se a aceitar a claridade que entrava pela janela. Kaori não sabia inicialmente onde estava, mas analisando sua situação sobre uma cama de lençóis brancos, a garota demorou segundos para adivinhar que estava na enfermaria. E não estava sozinha, pois Kakashi estava em pé ao seu lado, mas virado de costas para a menina e observando a paisagem que tinham da vila pelo vidro.

Então ela se lembrou do que havia acontecido no campo de treinamento, e seu corpo dolorido a ajudou a se recordar dos últimos acontecimentos antes de desmaiar.

    — Aconteceu outra vez? — perguntou para Kakashi enquanto se levantava com esforço e ajeitava-se na cama para ficar sentada. O sensei virou-se para a menina e sorriu gentilmente quando a viu acordada. Estavam naquele hospital há mais de oito horas.

    — Olha só, você finalmente acordou… — comentou, mas quando viu o semblante mais preocupado que Kaori tinha com a pergunta que ela havia feito, o sensei se apressou. — Não se preocupe, você só teve um gasto grande de chakra. Isso é bem comum de acontecer, ainda mais se você não conhece o seu próprio poder e não sabe como o controlar.

    — Obrigada. — agradeceu ela, sem animação, mas sincera no que dizia. — Por falar isso e por me trazer até aqui.

    Kakashi não podia ler mentes, por mais que fosse conhecido como um excelente ninja, aquela era uma habilidade que ele não possuía. Não precisava de muito esforço para saber que Kaori ainda sofria com suas dúvidas pessoais, mas o albino não se considerava a melhor e mais apta pessoa para tranquilizar aquela garota. Interações humanas não era bem o seu forte.

    — Não precisa agradecer. — disse, então ele levou até o bolso de sua calça e tirou de lá  um objeto que chamou a atenção de Kaori. Era um livro pequeno, diferente dos exemplares que ela estava acostumada ver com o Kakashi. Na capa não havia um aviso de restrição de idade como os “Icha Icha” possuíam. Seu sensei deixou-o sobre a cama, ao lado de onde Kaori estava deitada. — Já que você parecia tanto querer um livro quando estávamos treinando, eu trouxe esse para você. É mais adequado.

    As bochechas da morena ruborizaram instantaneamente quando recebeu o presente do homem. Estava se sentindo envergonhada pelo acesso de raiva que havia tido no campo de treino, querendo a todo custo roubar o livro do jounin. Será que Kakashi havia notado?

    Ela pegou a obra e analisou o título: “A arte do Ninjutsu para iniciantes”. Kaori riu baixinho quando se viu como uma iniciante, com aquela idade e com o poder que tinha soava ridículo. Adorou o presente e deixou isso claro pelo sorriso que abriu nos lábios, deixando de lado a feição abatida de antes. Kakashi particularmente sentiu-se orgulhoso por ter sido o causador daquele efeito positivo sobre a menina.

    — Esse livro vai ser ótimo para começar do zero. Obrigada, Kakashi-sensei. —  agradeceu, abraçando o livro mais junto ao corpo após folhear algumas páginas. Achava engraçado o fato do jounin a manter longe de seu pervertido livro para adultos, esquecendo que ela também já era uma.

    — Kaori… — ele a chamou, deixando nítido por seu tom de voz que a conversa a seguir não seria assim tão descontraída. Kaori sabia muito bem que não demoraria muito para as perguntas começarem, então ela quis se adiantar.

    — Kakashi-sensei você já viu alguém semelhante a mim? Você é um jounin, já fez tantas missões e enfrentou tantos outros ninjas… — Kaori praticamente implorava por respostas. Era tão terrível não conhecer nada de si mesmo, a sensação bagunçava sua cabeça.

    — Eu sei que você quer respostas, mas não posso lhe ajudar sobre isso, Kaori. — foi sincero e Kaori engoliu em seco por voltar à estaca zero. — Acredito que isso que você tenha seja uma espécie de doujutsu, como os do Hyuuga e Uchiha, mas no seu caso não conhecemos o clã que pertence ou se é apenas uma variação incomum desses que falei. Você pode se ocupar em descobrir de onde ele vem ou… Pode aprender como controlar esse jutsu.

    — A sensação e o ambiente foram totalmente diferentes dessa vez. Quando eu estava com Naruto e os garotos, tudo aconteceu automaticamente. — ao falar a menina olhava para Kakashi, reparando como os olhos do sensei pareciam caídos e com olheiras. — Dessa vez, fui eu quem escolhi onde queria chegar, mas não sei como ativei isso que você chamou de doujutsu e espera… Você reparou a mudança nos meus olhos? Conseguiu ver também?!

    — Quando você já tinha pegado o livro de mim seus olhos ainda estavam estranhos… Durou até você começar a desmaiar. Acho que até esse momento você ainda estava gastando seu chakra.

    — Como foi o momento? — indagou ela, mas ao notar que Kakashi não havia entendido bem  o que ela queria saber, a menina usou até mesmo gestos das mãos para explicar. — Sabe… Quando eu corri para você, uma hora eu estava lá e outra não? Foi como um flash?

    — Curiosamente sim. Uma hora você estava correndo para pegar o livro e depois você já tinha o tirado de mim… — disse. Kakashi cruzou os braços contra o peito, observando a menina de forma atenta. Ela notou o gesto dele e tombou a cabeça para o lado, confusa e aguardando que ele falasse o que estava pensando. — Falando nisso, porque queria tanto pegar aquele livro de mim?

    E outra vez as bochechas da garota ganharam um tom vermelho. Ela abriu um grande sorriso amarelo e envergonhado, até mesmo levando uma mão para atrás da cabeça e coçou o local para disfarçar. Depois que o treino já tinha passado, Kaori sentia-se boba por ter trocado o objetivo dos guizos pela tentativa de tirar o livro das mãos do grisalho.

    — Eu me senti com um pouco irritada com o seu livro. Parecia que você estava desdenhando minhas habilidades por estar lendo no meio do treino… Acho que fiquei um pouco obcecada demais com a ideia de arrancá-lo de você, desculpe sensei.

    — Ah… — mesmo com a máscara, Kaori pode ver que Kakashi estava tão sem jeito como ela.  — Eu preciso parar com essa mania. Naruto, Sakura e Sasuke também não ficaram felizes quando fiz isso no teste deles.

    Sasuke. Ali estava um nome novo associado a Naruto que a morena ainda não havia escutado. Sua curiosidade foi mais rápida do que sua boca.

    — Sasuke?

    Antes de Kakashi poder responder Kaori, a porta do quarto abriu-se de supetão e ali surgiu um loirinho pequeno e agitado, acompanhado de um garotinho mais novo que usava um lenço azul enrolado no pescoço. Kaori contou mentalmente quantos milésimos demoraria para Naruto berrar alguma cois-...

    — KAORI-CHAN!

    Ela não havia nem começado a contagem.

    — Naruto-kun, eu estou bem. — ela já se apressou em responder, rindo baixo pelo jeito do amigo. Naruto se aproximou da maca dela, sendo seguido de perto do outro menininho que olhava encantado para a morena. Kaori o fitou de sobrancelhas erguidas e com isso acabou deixando o mais novo vermelho. — E você, quem é?

    — Esse é o Konohamaru. — a resposta veio de Naruto, já que o menino parecia trancado para falar na frente de Kaori. Era quase possível ver dois chifres diabólicos surgindo na cabeça do loiro quando este se inclinou para fofocar algo para a amiga. — Ele está assim porque não tem coragem de falar como achou você bonita quando a viu andando por Konoha.

    — Eu? — a menina ainda não havia sido elogiada por beleza e achou aquilo algo curioso. Outro detalhe, não tão significante como os outros, que ela desconhecia sobre si mesma. Quantos olhares já havia atraído para si devido a sua beleza? Será que até mesmo já havia conquistado algum coração? Teria ela vivido um romance? Novos mistérios que a jovem não fazia ideia por onde começar para desvendar.

    — Kaori-chan? Você está me ouvindo? — o loiro balançava freneticamente a mão na frente do rosto da garota, que parecia ter se dispersado nos pensamentos por alguns segundos. Ela voltou sua atenção para Naruto e assentiu com a cabeça.

    — Bom, já que você agora acompanhada eu já posso ir. Vou conversar com Shikamaru e pedir que ele investigue sobre todos os doujutsus registrados em Konoha. Talvez ele possa até mesmo pedir uma ajuda para Temari para fazer o mesmo em Sunagakure. — Kakashi se pronunciou, descruzando os braços apenas para levar as mãos até o bolso da calça e as descansar ali como de costume. — E sobre a pergunta que você tinha me feito, Kaori… Naruto pode responder bem melhor do que eu. Até logo! — ele disse enquanto dava as costas, acenando em despedida. Konohamaru não demorou para seguir o albino e ir embora, ainda com as bochechas como dois tomates.

    Kaori acenou discretamente em despedida para os dois que se forma, agradecida por Kakashi estar lhe ajudando tanto. Ela mesma iria iniciar todas as pesquisas possíveis para obter respostas, assim que saísse daquele hospital. Naruto estava mais interessado em saber do que o sensei estava falando quando referiu-se a uma pergunta. Ele olhava para sua amiga atento, esperando que Kaori falasse algo para quebrar o silêncio.

    — Naruto-kun… Quem é Sasuke?